Resumos
Este artigo pretende abordar um tema ainda pouco estudado nas ciências sociais brasileiras: as relações de parentesco e família dos militares, no caso, do Exército. A partir de uma etnografia realizada na Academia Militar das Agulhas Negras (instituição do Exército brasileiro) e em sua respectiva vila, entre 2007 e 2008, percebeu-se que entre os militares é recorrente o uso do termo "Família Militar", que indica ora o contingente militar da instituição, ora a família no seu sentido privado (cônjuge e filhos), ora todos esses elementos juntos. Tal uso da noção de família revelou uma concepção particular, que sugere sua ligação com aspectos sociológicos também específicos da vida militar. Com base nisso, este artigo tem como foco as noções e formas de família dos militares e busca analisar as relações e configurações estabelecidas entre exército e família.
militares; família; gênero; parentesco; antropologia
This article aims to address a topic with little research in Brazilian social sciences: family and kinship relations of military people, in this case, inside the Army. From an ethnography performed between 2007 and 2008 at the Agulhas Negras Military Academy (Brazilian Army institution) and inside its village, it was implied that the use of the term "Military Family" is frequent among the militaries, indicating either the military contingent of the institution, or the family in its private meaning (spouse and children) or both elements together. Such definition of family revealed a very particular conception of it, suggesting its connection to sociological aspects also specifics for the military life. Based on that, this article focuses on the concepts and forms of military families and seeks to investigate the relations and configurations established between Army and family.
Military; Family; Gender; Kinship; Anthropology
ARTIGOS
Famílias de militares: explorando a casa e a caserna no Exército brasileiro
Families of military people: the home and the barrack inside the Brazilian Army
Cristina Rodrigues da Silva
Universidade Federal de São Carlos
RESUMO
Este artigo pretende abordar um tema ainda pouco estudado nas ciências sociais brasileiras: as relações de parentesco e família dos militares, no caso, do Exército. A partir de uma etnografia realizada na Academia Militar das Agulhas Negras (instituição do Exército brasileiro) e em sua respectiva vila, entre 2007 e 2008, percebeu-se que entre os militares é recorrente o uso do termo "Família Militar", que indica ora o contingente militar da instituição, ora a família no seu sentido privado (cônjuge e filhos), ora todos esses elementos juntos. Tal uso da noção de família revelou uma concepção particular, que sugere sua ligação com aspectos sociológicos também específicos da vida militar. Com base nisso, este artigo tem como foco as noções e formas de família dos militares e busca analisar as relações e configurações estabelecidas entre exército e família.
Palavras-chave: militares; família; gênero; parentesco; antropologia.
ABSTRACT
This article aims to address a topic with little research in Brazilian social sciences: family and kinship relations of military people, in this case, inside the Army. From an ethnography performed between 2007 and 2008 at the Agulhas Negras Military Academy (Brazilian Army institution) and inside its village, it was implied that the use of the term "Military Family" is frequent among the militaries, indicating either the military contingent of the institution, or the family in its private meaning (spouse and children) or both elements together. Such definition of family revealed a very particular conception of it, suggesting its connection to sociological aspects also specifics for the military life. Based on that, this article focuses on the concepts and forms of military families and seeks to investigate the relations and configurations established between Army and family.
Key Words: Military; Family; Gender; Kinship; Anthropology.
Introdução
A pesquisa que será abordada neste artigo retoma um estudo antropológico sobre as famílias de militares no Exército brasileiro.1 O trabalho se baseia nas experiências de pesquisa de campo ocorridas na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) e em sua respectiva vila militar, ambas localizadas em Resende/Rio de Janeiro.
A AMAN é um estabelecimento de ensino de nível superior responsável pela formação básica dos oficiais combatentes da ativa do Exército brasileiro e, portanto, tem como função formar o aspirante a oficial do Exército,2 graduá-lo como bacharel em Ciências Militares e iniciá-lo na formação como chefe militar, durante quatro anos de curso. A vila militar de Resende, que faz parte do complexo da AMAN, é uma moradia mantida e organizada pelo Exército brasileiro. Possui 580 casas destinadas a oficiais e praças (cabos e sargentos), cujas vagas são destinadas ao militar que possui família (cônjuge e filhos/as, todos considerados seus dependentes) e que trabalha na Academia.
A pesquisa ocorreu entre 2007 e 2008 e, além da observação e convivência com famílias, contou com a realização de 19 entrevistas com casais (marido e mulher) que se configuram em três formas de família: casais em que só o marido é militar; em que ambos os cônjuges são militares ou em que só a esposa é militar. Para este artigo, em função de se buscar uma tipologia mais sintética das concepções de família entre os militares, privilegia-se uma análise dos discursos das famílias e dos militares a respeito do que entendiam e como se configuravam enquanto família.
De maneira geral, esse quadro parte da observação de uma concepção comum de que a família, em especial a esposa, configura-se como elemento importante (e, sobretudo, pertencente) ao mundo do quartel. E assim, no estilo de vida e sociabilidade das famílias de militares, verifica-se um "modelo de família" esperado, sendo operado (em alguma medida) pelo Exército, e que reflete, em particular, o caso das famílias em que só o marido é militar. As demais formas familiais apresentam algumas tensões em relação a esse modelo nativo, nas quais a principal fissura se dá na configuração de gênero3 da mulher. Mesmo assim, parece haver adaptações a esse modelo, e esses novos arranjos permanecem atrelados à vida militar.
O fato de a corporação entender que a família é uma extensão do quartel fez com que a minha presença em Resende e a apreensão dos dados como pesquisadora fossem conduzidas da mesma forma: de modo tutelado e institucional. Minha inserção ao campo foi marcada por certo "controle" da instituição, no sentido de que era necessário ter contato e negociar com a Academia para se chegar às famílias. A questão é que a proposta de meu estudo indicava que eu estava, de certo modo, entrando nas "fronteiras simbólicas" do mundo militar, e era preciso a "supervisão" da instituição sobre o conhecimento que eu pretendia adquirir com as famílias. Para a pesquisa, portanto, foi necessário um pedido de autorização do comando da Academia,4 e, depois de autorizada, pude frequentar a AMAN e a vila militar, quase sempre em companhia de uma oficial de ligação (militar encarregada pela instituição de acompanhar e prestar apoio ao pesquisador, isto é, responsável por ser meu "contato" propriamente dito no local).
Junto com a oficial de ligação, montei uma lista de famílias que pudessem ser entrevistadas e contatamos uma a uma para confirmar a viabilidade de interlocução. Essa lista baseou-se no quadro geral de todos os oficiais que residiam com seus dependentes na vila da AMAN e procurou atender a um dos meus objetivos de pesquisa: contemplar um universo de famílias de oficiais das mais variadas patentes e idades. A oficial de ligação tinha familiaridade apenas com alguns dos entrevistados, mas a aprovação do meu trabalho pelo comando foi a condição essencial para que as famílias permitissem o contato. A opção por fazer entrevistas foi uma forma de ter acesso ao campo, e algumas foram realizadas nas casas das próprias famílias na vila militar; outras, na biblioteca da Academia. A maioria das entrevistas contou com marido e esposa juntos; mas algumas, por indisponibilidade da agenda de ambos, foram realizadas separadamente. Dessa maneira, frequentei tanto o ambiente do quartel quanto o da vila militar, participei de eventos sociais e militares da Academia (formaturas e bailes comemorativos, churrasco de confraternização de cursos, reunião do grupo beneficente das esposas de militares5) e tive uma proximidade maior com a rotina e com a família da oficial de ligação designada para a minha pesquisa. Ressalta-se que algumas dessas atividades foram convites que recebi dos meus interlocutores ao longo do campo.6
Assim, nesse caso etnográfico específico, a ideia de que a instituição militar "engloba" a família dos militares é revelada até pelo próprio modo de acesso ao campo, porque, além de todo o "cuidado" que a corporação mostrou com relação ao tema, mesmo que eu só entrevistasse esposas "civis" (não militares) – como era um dos objetivos centrais do meu projeto na tentativa inicial de contato com o campo –, eu precisaria de um consentimento da Academia.
Vale dizer que a própria noção de "Família Militar" é um termo nativo que se refere a uma autorrepresentação da instituição militar e de seus membros, incluindo-se aí cônjuges e filhos de militares. Assim, quando estivermos nos referindo ao termo "Família Militar", esse estará em aspas e maiúsculas. A ideia nativa de "Família Militar" também evidencia um universo de relações dentro do Exército que pode ser caracterizado como segmentário, isto é, o termo pode indicar o todo (o Exército) e/ou suas partes (seções, Armas, quadros, as famílias, etc.) dependendo do contexto em que é evocado. De acordo com a fala de uma tenente da AMAN:
Quando o general fala em ‘Família Militar’, ele abrange toda a AMAN; senão todo o Exército. Ele entende a família como algo gigantesco. Quando é meu chefe de seção que fala a ‘Família Militar’, normalmente ele está se referindo aos militares da seção e aos seus dependentes.
Para explorar esses aspectos da "Família Militar", o texto seguirá a seguinte estrutura: num primeiro momento, apresentaremos de maneira sintética a bibliografia acerca dos estudos em antropologia sobre militares e, em particular, sobre a família militar. Num segundo momento, apontaremos as características das formas de família encontradas no estudo, sobretudo o "modelo de família militar", para, em seguida, tecermos algumas considerações finais a respeito da relação entre casa (aqui entendida como a família do militar – relação cônjuge e filhos/as, e parentes próximos) e caserna (relações do quartel).
Esclarece-se também que as noções de gênero, parentesco e família7 são compreendidas como relações e tratadas de forma dinâmica e contextual, seguindo assim a discussão iniciada por Claude Lévi-Strauss8 ao procurar desnaturalizar e colocar no plano sociológico a noção de família. A partir disso, procuraremos também levar em conta o debate e problematização que apareceu, sobretudo, a partir dos anos 70 (marcado em especial pela crítica dos estudos feministas) e que se preocupou com uma análise contextualizada das múltiplas formas familiais de modo a questionar visões eurocêntricas e buscar abordagens que interliguem família, raça, gênero, parentesco.9
No entanto, embora a atual preocupação teórica seja a de desnaturalização da família, temos que levar em consideração que os grupos sociais podem, e às vezes tentam, naturalizar uma ideia de família e que isso pode e deve ser analisado como dado nativo. Esse parece ser o caso das famílias de militares: o grupo estudado, fortemente marcado por uma ideologia holista, ao se autorreferir como "A Família Militar", concebe a família como unidade natural, homogênea. Assim, neste trabalho, de forma contextual, estamos lidando com a ideia de que a família é uma noção naturalizada pelos agentes estudados e procuraremos perceber que relações, posições e estratégias estão sendo construídas para que se reproduza essa imagem e, enfim, para tentar entender, através dos discursos das famílias, as características e o modelo que há de família militar.
Militares como objeto de estudo no Brasil: problematizando a análise da família militar
As Forças Armadas (FFAA) como objeto de estudo das ciências sociais brasileiras foram inicialmente estudadas pela ciência política e sociologia. O interesse por parte dessas grandes áreas geralmente decorreu a partir do advento do golpe militar no Brasil na década de 1960 e da sucessão, nessa mesma época, de governos militares em quase toda a América do Sul. A maioria da produção acadêmica nesse período tratou de estudos sobre o envolvimento militar na política, abordando as relações entre as Forças Armadas (em especial o Exército) e o Estado brasileiro (destacam-se discussões acerca dos golpes de Estado; da presença dos militares como atores políticos significativos em vários períodos de crise política no Brasil; da transição do regime militar para a democracia; e das relações civis-militares).10
Por volta dos anos 90, surgiram novas questões e uma outra perspectiva de análise, cujo foco incidia na visão interna da organização militar. Tratava-se de compreender a rotina cotidiana dos militares e a construção da sua identidade, a partir de uma perspectiva antropológica que partia de um recorte e uma análise proveniente da interação entre antropólogo e nativos. Nesse momento, portanto, buscava-se compreender como as categorias dos próprios militares estruturam sua visão de mundo de maneira relativamente autônoma a outros dados sociológicos, como ‘classe social de origem’ ou ‘função política’ dos militares.11
Celso Castro e Piero Leirner12 foram os primeiros a adotarem essa perspectiva. Castro buscou uma análise sobre a formação da identidade social do militar, o que chamou de "espírito militar", realizando uma etnografia na AMAN. Ao entrar na academia militar, o cadete13 vivencia, através de uma série de ritos expiatórios (formaturas, exercícios físicos, inspeções, manobras, etc.), um processo de socialização profissional: a apreensão de valores, atitudes e comportamentos adequados à vida militar, tais como disciplina, hierarquia, precisão, rapidez, vigor físico e solidez moral. Essas condutas e princípios acabam por condicionar tanto a vida profissional quanto a vida pessoal do cadete, num processo que ocorre em relativo isolamento ou autonomia (em regime de internato), proporcionando a passagem do cadete de uma "vida civil" para uma "vida militar". Assim, há uma distinção simbólica construída e vivenciada pelos militares entre "eles" (militares) e os "civis" (os não militares), que acaba sendo um passo primordial para a formação de uma identidade, de um "espírito militar" nos futuros oficiais de carreira.
Castro define a instituição militar como "totalizante":
[...] uma experiência singular e básica para a identidade militar, com a precedência da coletividade sobre os indivíduos. O resultado é a representação da carreira militar como uma ‘carreira total’ num mundo coerente, repleto de significação e onde as pessoas ‘têm vínculos’ entre si.14
O autor nota que a instituição detém certo controle e conhecimento da vida do indivíduo que nela está inserido. O "espírito militar", portanto, compreende valores de preeminência da coletividade, hierarquia, espírito de união e camaradagem entre os militares e acaba se estendendo para além das fronteiras profissionais do quartel, abarcando a vida pessoal e familiar, o círculo de amigos, etc. dos militares.
Seguindo essa problemática, Piero Leirner15 realizou uma pesquisa na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército e procurou mostrar que o registro central na vida militar é operado pela hierarquia, estabelecida como uma espécie de fato social total: ela representa um princípio formador de identidade coletiva que estabelece uma fronteira clara com o mundo "de fora" ("mundo civil"), ao passo que também estruturaria as relações internas aos próprios militares.
O modo de constituição da hierarquia militar16 partiria da articulação numa única forma hierárquica de dimensões ditas holistas e individualistas: uma "hierarquia específica", na qual há uma organização sociologicamente holista (reforçada pela existência de uma série de normas para o comportamento em todos os setores da vida militar, com regras prescritas para a entrada em recintos fechados e abertos, o estabelecimento de uniformes específicos para cada tipo de ocasião, uma maneira específica para agir em cada situação da vida militar) que se combina, ao mesmo tempo, a elementos individualistas, tais como a abertura a estratégias individuais de ascensão na cadeia de comando, a adesão a mecanismos universalistas como o mérito, e a aplicação de preceitos individualistas como a igualdade de direitos, entre outros.
Toda essa discussão sobre a organização e formação da identidade militar nos leva a uma primeira observação sobre as famílias de militares: se há uma relação particular entre indivíduo e instituição, traduzida pelo caráter totalizante da organização militar, também podemos falar que há uma relação peculiar entre FFAA e família.
Assim, de modo geral, enquanto no universo individualista a família é tomada como algo externo às carreiras, profissões e a uma dimensão pública da vida social, podemos notar que na vida militar a família é vista como interior à instituição. E daí o termo "Família Militar" ser frequentemente evocado pelos militares, para indicar ora o contingente militar da instituição (o elemento "profissional" – todos os militares); ora a família no seu sentido "privado" (cônjuge e filhos/as) e ora todos estes elementos juntos (a grande "Família Militar" – militares e seus dependentes).
Essa ideia também foi percebida em uma das primeiras conversas que tive com o subcomandante da AMAN, que na ocasião pronunciou: "Estudar a família militar é querer saber as entranhas da instituição". Essa frase apontava duas premissas da visão de mundo dos militares que acabaram por conduzir o meu trabalho, tanto analítica quanto metodologicamente:17 a concepção (deles) de que a família do militar é parte interna, central e emocional da instituição e, consequentemente, a ideia de que é preciso escondê-la, mantê-la sob controle, na sua privacidade.
Logo, nesse caso, falar de família é também falar da instituição, ou melhor, segundo a fala do subcomandante, é revelar intimidades que possam mostrar fragilidades (o "coração") de um corpo que se quer forte e guerreiro, ao passo também que é revelar que até as intimidades (a vida pessoal do militar – relações: casa, lazer, esposa e filhos/as) podem ser tuteladas pela instituição.
Desse modo, problematizar um estudo sobre as famílias de militares é importante para um maior entendimento e reflexão dessa conexão da instituição militar com as famílias. Um dos primeiros esforços para compreender essa temática no Brasil veio de um artigo de Celso Castro,18 que, preocupado com a origem social dos militares, buscava refletir sobre um "recrutamento endógeno" da instituição, ou seja, um número significativo de filhos de militares ingressados na AMAN que revelavam uma influência familiar – direta ou não – para a escolha de suas carreiras. Essa endogenia é compreendida pelas formas de socialização que se verificam entre o ambiente do quartel e as famílias de militares, isto é, pela inserção destas numa rede de sociabilidade específica (que a profissão militar possibilita ou até mesmo impõe a elas) que as identificam com o mundo da caserna.
Alexandre Barros,19 em um apêndice da sua tese de doutorado, também procura expor os padrões de relacionamento afetivo entre militares do Exército brasileiro, atentando para uma tendência de casamento de oficiais com filhas de seus superiores ou irmãs de colegas de profissão, bem como uma presença significativa de filhos de militares seguindo a mesma carreira que o pai nos anos de 1961 a 1972. Minha pesquisa também compreende, em partes, os padrões mencionados acima: dos 19 casais entrevistados, 35% são filhos de militares (dessa porcentagem, há cinco homens militares). Com relação aos casamentos, há dois em que a esposa é filha de oficial superior do marido; e com relação aos filhos/as desses entrevistados, há dois filhos que são militares e duas filhas que têm um relacionamento afetivo com oficiais subalternos dos pais.
O que observamos aqui, portanto, é que a família toda, de certa maneira, está envolvida com o Exército: vemos que não só os filhos estão seguindo carreira militar, como também as filhas estão se relacionando com militares. Há uma "produção" de militares e esposas em potencial que configura esse caráter de "fechamento" da instituição militar e de um envolvimento entre Exército e família.
As características da profissão militar como uma vida de risco, com transferências territoriais frequentes, separação temporária da família, treinamentos intensivos, disciplina severa, exposição a perigos, autorrepresentação de solidez moral e obediência acima de qualquer direito ou dever pessoal20 determinam e influenciam as condições de vida das famílias nesse meio. Assim como a mudança constante de residência marca uma dificuldade de adaptação a cada novo lugar e emprego para as esposas e a ausência do marido/pai no núcleo familiar. Há também uma série de constrangimentos que incidem sobre as famílias e definem seus papéis frente à comunidade militar, através de regras e condutas, formais ou informais, que visam a uma boa convivência entre essas famílias, a fim de evitar comportamentos tidos como "inadequados" e que possam vir a comprometer a carreira do marido militar.
Essas características são encontradas nas pesquisas de Fernanda Chinelli,21 sobre esposas de oficiais-alunos da Escola de Comando e Estado Maior do Exército – RJ, e de Juliana Cavilha,22 que, embora tenha um trabalho sobre os oficiais aposentados do Exército, anuncia alguns modos de vida das famílias de militares. Ambos os estudos só estão considerando famílias cujo marido é militar e, mesmo tratando de ambientes distintos (e idades diferentes dos informantes), apontam para uma permanência na configuração dessas famílias: a alta mobilidade geográfica, a solidariedade e união entre as famílias de militares e o papel da esposa como colaboradora da profissão do marido (desempenhando um papel doméstico como "distinta" mãe e esposa e também realizando um papel público enquanto responsável por reunir as pessoas da rede social da qual faz parte). As autoras também apontam que a configuração familiar no meio militar segue a tradicional divisão sexual do trabalho e que, embora a esposa identifique-se como colaboradora ativa do marido, o casal configura-se no esquema da "família nuclear".
A minha pesquisa também revelou essas características, principalmente nos casais em que só o marido é militar. Dessa maneira, é possível notar que os trabalhos brasileiros sobre famílias de militares tratam, sobretudo, de discursos coletados entre esposas e/ou maridos militares, que mostram um discurso "marcado" pela presença da instituição, revelandonos que, em alguma medida, as famílias de militares se pensam enquanto tais mais pelo discurso do que pelas práticas cotidianas. Há um intenso cuidado e preocupação dos membros da instituição militar e de seus dependentes ao se falar sobre família e ao se viver enquanto família. Assim, a princípio, a vida das mulheres e filhos de militares estaria vinculada à profissão de seus maridos de tal modo que, a meu ver, se verifica um "modelo de família militar" sendo operado (em alguma medida) pelo Exército e pelas famílias.
O "modelo de família militar" encontrado nos estudos supracitados (e que inclui minha pesquisa também) compreende: a) a ideia de que a mulher (esposa) deve "acompanhar o marido", pelo fato de que o militar (em especial o oficial de carreira) tem como característica o ethos nômade (movimentação pelo território brasileiro a cada dois ou três anos) e, portanto, a família viveria em trânsito constante; b) a ideia de que a mulher, mesmo que exerça uma profissão ou trabalho, deve ser uma "boa" mãe e esposa, deve manter a família unida, administrando quase que sozinha os cuidados com a casa e os filhos, para que o marido desenvolva a sua carreira; c) a esposa ter que, em determinados momentos da carreira do marido, assumir papéis "públicos", como organizar eventos para promover a integração da "Família Militar" e participar de organizações filantrópicas; d) a presença da esposa em todos esses eventos; e) uma convivência "cordial" e "solidária" com outras famílias de militares; f) um controle e comedimento de palavras e condutas, isto é, uma vida discreta e sempre "com muito cuidado" para que "não se fale demais" e não se comprometa a carreira do marido; g) uma vigilância das e entre as próprias esposas como forma de evitar posturas tidas como "inadequadas"; e h) uma conduta que deve seguir similitudes em relação ao modus operandi das relações profissionais do cônjuge, isto é, observando os protocolos e prescrições inerentes à hierarquia militar.23
O que se observa desses aspectos é que fazer parte do "mundo militar" – marcado por preceitos de hierarquia e disciplina, condutas ponderadas, linguajar e códigos próprios com gírias e insígnias, cerimoniais; enfim, com cosmologia, temporalidade e historicidade próprias24 – implica incorporar nas famílias um estilo de vida marcado por valores e comportamentos imprescindíveis aos militares, como a "distinção de caráter", a "retidão moral", a "solidariedade" e o "companheirismo", de modo a procurar reforçar o que se entende como um conjunto de características produtoras de coesão no Exército. Logo, esse modelo de família seria uma espécie de modelo ideal da instituição, que expressa e estende o padrão das relações e normas do quartel para o espaço da casa.
As relações entre família e Exército se intensificam dentro das vilas e prédios militares – moradias mantidas e organizadas pelas FFAA, que são destinadas a militares e seus dependentes. É nas vilas, principalmente, que as esposas passam a vivenciar a idealizada "Família Militar", que, nesse contexto, se refere ao fato de que o espaço da vila compreende famílias que compartilham os mesmos tipos de experiências, anseios e dificuldades e que acabam reconhecendo seus vizinhos (outras esposas e filhos de militares) como parentes circunstanciais, pessoas às quais se poderão procurar apoio no dia a dia. Essa ideia reflete características encontradas na caserna (a predominância da coletividade, o espírito de união e a camaradagem) e, portanto, num sentido mais geral, abrange o Exército como uma coletividade, procurando estabelecer uma forte identidade do grupo.
Assim, pode-se pensar que, uma vez que a instituição militar naturaliza a família, ela estimula um modelo de família para os militares e também para os seus dependentes. Essa idealização é criada e reforçada nas famílias no convívio nas vilas e organizações militares, de modo a "convertê-las" em famílias militares. Logo, pelo discurso das próprias famílias, elas parecem se representar por esse modelo, o que garantiria uma coesão no contexto geral da "Família Militar", e também nas famílias no sentido "privado". Desse modo, o Exército condiciona a família e a torna também uma justificativa para que os militares exerçam devidamente suas funções – como um oficial afirma, "a pátria é a sua família".
A seguir, evidenciaremos as formas familiais encontradas no meio militar, de modo a comparar e revelar características de como elas se compõem. Começaremos com a configuração familiar mais comum desse meio: as famílias em que o marido é militar e a esposa é "civil" – a família modelo.
1 A família modelo
Neste tópico, apresento como se configuram as famílias cujo marido é oficial de carreira do Exército brasileiro. Trato-as como a "família modelo", pois é a formação familiar mais encontrada na instituição militar, pelo fato de que, substancialmente, há um número maior de homens servindo o Exército do que de mulheres, bem como por ser a formação que reflete e pela qual se baseia o modelo descrito anteriormente. Foram analisadas 11 entrevistas, divididas entre seis casais mais antigos (casados há mais de 17 anos) e cinco casais mais novos (casados há menos de 11 anos).25 Essas duas gerações de famílias de militares apontam para muitas similitudes nos estilos de vida e mostram que podemos falar num modelo nativo da família militar.
A maioria dos casais se conheceu na época de formação inicial dos militares, principalmente na fase dos maridos enquanto cadetes (alunos da AMAN). Houve dois casos em que o casal se relacionou depois de alguns anos da formação do marido. O casamento indicava, para as mulheres, o distanciamento de suas famílias de origem e a valorização do que eles (o casal entrevistado) concebem como família nuclear (marido, esposa e filhos).
Com relação aos casais antigos, os filhos eram adolescentes ou já "quase" adultos e estavam começando a vivenciar seus projetos e aspirações individuais: saindo de casa para cursarem faculdades ou, no caso de algumas filhas, saindo de casa quando se casam. Nota-se que, das seis histórias referentes aos casais mais velhos, há dois casos em que os filhos estão seguindo a carreira militar (e um terceiro que está preparando-se para segui-la) e há dois casos em que a filha tem um envolvimento afetivo com um militar (uma é casada e outra é noiva, ambas com militares recém-formados da AMAN). A opção dos filhos/as pela carreira ou pelo casamento com militares, segundo os pais, não teve uma "pressão direta" da família e foi vista como uma escolha marcada pelo convívio que seus filhos tiveram com o meio militar e, enfim, com militares. Já com relação aos casais novos, das cinco histórias, apenas um casal não possui filhos, e o restante apresenta uma grande preocupação, principalmente por parte das esposas, com o cuidado dos filhos pequenos.
As famílias mais antigas passaram, em média, por cerca de dez transferências e, exceto o caso de uma família que passou somente por uma transferência (e que, por isso, consideram-se um "caso raro"), todas as outras passaram por mudanças pelas várias regiões do Brasil. Segundo as famílias, as transferências passaram a ser um problema para os filhos à medida que eles cresciam e apresentavam certa resistência em deixar colégios e amigos para uma "nova vida" em outro lugar. Pelo que me foi relatado, em dois casos nos quais esse problema parecia ocasionar maiores transtornos, decidiu-se que a esposa permaneceria com os filhos num local separado do marido, enquanto ele cumpriria as exigências da carreira no local delimitado pela profissão.
As famílias novas passaram por poucas transferências, e as esposas pareciam que ainda estavam se adaptando a este constante aspecto da vida militar. As esposas, em sua maioria, indicaram a primeira mudança como a mais difícil, pois era normalmente a primeira vez em que elas iam morar longe dos pais e em regiões que não conheciam anteriormente. Com relação à questão do emprego para as esposas e da dificuldade em exercê-lo mediante as constantes transferências, a profissão mais recorrida das esposas dos casais antigos era a de professora, porque, segundo elas, permitia a opção de trabalhar em alguns lugares sem um vínculo exclusivo. Algumas esposas tiveram uma formação profissional antes do casamento, outras aperfeiçoaram ou começaram uma formação recentemente. Em um caso, houve um processo de se voltar exclusivamente aos filhos e à família, fazendo com que a esposa optasse por ser "mãe" em tempo integral.
De modo geral, trabalhando ou não, essas esposas priorizavam, e ainda priorizam, o cuidado com a família (pai, mãe e filhos) e foram responsáveis pela manutenção desse núcleo, referido como "doméstico" por elas, enquanto os maridos seguiam suas carreiras como militares no meio "público". As que trabalharam ou trabalham, portanto, deixaram o exercício de uma profissão para segundo plano, em prol de uma constituição "estruturada" da família nuclear. Assim, elas viveram suas vidas "acompanhando" as carreiras militares dos maridos em função das suas constantes transferências territoriais, priorizando o cuidado com os filhos e a manutenção da família unida.
As esposas dos casais mais novos aparentavam uma apreensão com relação à formação profissional: há três casos em que elas se graduaram antes de se casarem e um caso em que, mesmo casada, houve uma preferência por terminar a faculdade para depois ter filhos. No entanto, todas, mesmo formadas, não estavam trabalhando na época das entrevistas, pois a maioria estava atenta à formação e educação dos filhos pequenos. Mesmo assim, todas tinham a intenção de começar e/ou voltar a trabalhar em breve.
De modo geral, as trajetórias dos casais novos parecem indicar uma estrutura de família nuclear semelhante à encontrada nos casais antigos. Apesar de as esposas ainda estarem vivenciando alguns dilemas e adaptações com relação à mudanças e ao trabalho, todas compreendem que o casamento com um oficial de carreira do Exército implica ter "sempre que se estruturar em função da carreira deles" e, por consequência, ter que exercer um trabalho (caso queiram) de forma limitada.
Logo, a ideia de que é preciso "acompanhar o marido", presente em todos os 11 casos, configura, de certa forma, uma relação entre marido e mulher na qual o emprego do marido (oficial de carreira do Exército brasileiro) seria o ponto de convergência da família: é preciso adaptar a família às exigências impostas ao marido pelo Exército, visto que estas são condições para que a família seja formada. As dificuldades com as mudanças, com o emprego e a solidão que muitas esposas sentem pelo fato de que os maridos militares quase sempre estão cumprindo atividades em lugares distantes são consideradas características próprias da vida militar, pelas quais essas famílias precisam passar e, sobretudo, às quais precisam se adaptar.
Essas famílias, na maior parte de suas trajetórias, moraram em vilas militares, e o próprio círculo de amizades delas também é composto por outras famílias de militares, que normalmente são os seus vizinhos de vila. Sobre isso, é importante ressaltar alguns dados sobre a vida nas vilas militares. Como moradia militar, a vila está sujeita às regras impostas pelo Exército, e as famílias também estão expostas a essas imposições. Assim, há regulamentos formais para manter o bom convívio e a padronização das casas, como o caso de não ser permitido barulho das 22 às 7 horas no local, não poder ser alterada a arquitetura da casa (para realizar melhorias no lar é necessária autorização da Academia) e de os jardins e quintais da moradia terem que ser mantidos sempre bem cuidados. O fato de a vila estar localizada no território da AMAN e ser organizada pela instituição faz com que o marido (militar) não consiga se desprender do trabalho, e isso é visto como uma desvantagem tanto por ele quanto por seus familiares.
Esse caráter da moradia como uma espécie de extensão do quartel acaba gerando um ambiente de vigilância na vila da Academia. Há, de acordo com os entrevistados, uma constante afirmação de que o oficial tem que ser, durante vinte e quatro horas, o "exemplo" para o cadete, visto que a função primordial da AMAN é formar o oficial combatente do Exército brasileiro. "Ser o exemplo", segundo os interlocutores, é ser um "militar ideal", adotar uma conduta "ética e correta", sempre calcada na disciplina e na hierarquia e reproduzida também no modo de o oficial se vestir e se apresentar publicamente fora do seu horário de serviço, isto é, mesmo quando não estiver fardado. Assim, se quiser sair de casa num fim de semana, o oficial homem "não deve estar com a barba por fazer, usar camisa regata ou chinelo", e a oficial mulher "não deve usar chinelo, blusa de alcinha, shorts muito curto ou blusa muito decotada." No limite, parece haver na vila um dever institucional de que não se deve ser o exemplo só para os cadetes, mas mostrar que está sendo o exemplo para os demais oficiais.
Esse discurso da instituição acaba, em alguma medida, incorporado pelos familiares dos oficiais, "criando" um mecanismo de vigilância sobre todas as pessoas que residem na vila, sejam militares ou não.26 Há, segundo os entrevistados, algumas condutas que serão impostas aos familiares, de maneira informal ou através de regras, mas que são reflexos do próprio comportamento que a instituição espera do oficial: "ser discreto em suas atitudes e maneiras e em sua linguagem falada."27 Portanto, há toda uma postura, modo de vestir e comportamentos semelhantes aos que os oficiais são submetidos, que às vezes os cônjuges têm que adotar para manter os padrões de boa conduta que são esperados pelo Exército. Essas posturas acabam sendo mecanismos de coerção social da instituição para e com a família do militar; logo, há um controle social/constrangimento a que os familiares são submetidos. O uso da fofoca é uma das ferramentas que garante a prática dessas condutas.
Outro dado interessante é que esse envolvimento da família com a instituição pode estabelecer relações entre as esposas pautadas pelas hierarquias dos maridos militares. No caso, criam-se constrangimentos entre as esposas de oficiais mais novos com as esposas de oficiais mais antigos, e a amizade entre elas é marcada por condutas ponderadas.
Com relação às esposas, como já indicam Chinelli e Cavilha,28 elas acabam tornando-se uma personagem ativa e relevante no desenvolvimento da profissão do marido. Esse papel de colaboradoras faz com que elas também assumam funções externas ao ambiente da casa e de sua vida particular, para que seja reforçado o caráter totalizante da "Família Militar"; é o caso, principalmente, das esposas cujos maridos exercem algum cargo de comando na Academia. É esperado que essas mulheres se voltem a atividades assistenciais, organizem eventos e reuniões para integrar as outras esposas e, enfim, transmitam conselhos e experiências às mulheres recém-casadas para que, num sentido mais amplo, seja cultivado e valorizado o espírito de união e solidariedade entre as famílias.
Por fim, a vida na vila – com o convívio entre as famílias de militares e os papéis e posturas que a esposa do militar assume –, em conjunto com a experiência das constantes transferências que marcam a configuração dessas famílias cujo marido é militar, garante a formação do que chamamos de "modelo de família militar". A seguir, mostramos algumas variações desse modelo ideal, com a presença de casais em que a mulher também é militar.
2 Uma nova família militar?
Neste tópico apresento características de famílias em que a esposa é oficial do Exército. Foram analisados oito casos, dos quais cinco se referem a casais em que ambos são militares e três a casais em que só a mulher é militar.29
2.1 Casais militares
Das cinco entrevistas, podemos destacar três arranjos dos casais: a) dois casos em que a esposa se tornou militar por causa do marido militar, isto é, a escolha pela carreira teve como influência o marido e o modo de vida militar, e houve a identificação da esposa com esse mundo, ao mesmo passo que a opção pela carreira foi vista como um meio de "facilitar" e "complementar" a vida da família; b) outros dois casos em que o casal se conheceu durante o curso da Escola de Administração do Exército (ESAEx) e se casaram logo após a formação como oficiais; e c) um caso em que o casal se conheceu dentro do Exército, ou seja, os dois já eram oficiais e se conheceram no ambiente de trabalho.
Esses casais se ‘movimentaram’30 pouco pelo país e isso se deve ao fato de a maioria ser oficial do QCO31 ou de saúde,32 quadros que não exigem uma alta mobilidade territorial. Diferente dos casais em que o marido é oficial combatente (formado pela AMAN), os casais militares puderam "fixar-se" mais numa região.
Há, nessas trajetórias, um caso que diverge dos demais: um casal em que ambos estão no segundo casamento. Nesse caso, a esposa (uma major) indica que o rompimento do seu primeiro matrimônio partiu do ex-marido que era civil. Ele parecia não ter se adaptado à carga absorvente de trabalho da mulher militar e não suportou as constantes ausências, desmanchando o casamento. A major ficou quatro anos divorciada e relata que, nessa época, o "estranho" era ir aos eventos sociais dos militares em que todos tinham os seus "pares" (cônjuges) e ela ia solteira. Por conta disso, acabava ficando mais na "rodinha dos homens" e escutava comentários das esposas civis de militares de que ela "não gostava de conversar sobre coisas de mulher". Esse fato nos leva a pensar na questão das masculinidades e feminilidades da mulher no meio militar; nesse momento relatado, a mulher era vista pelas esposas civis dos militares como "mais masculinizada", principalmente por não ter marido e por se socializar mais com os homens militares.33
Mas em todas as histórias configuram-se rotinas de vida parecidas: o casal, na maior parte dos casos, está em tempo integral na AMAN realizando o serviço e dispõe de pouco tempo para administrar a casa e o cuidado com os filhos (nota-se que todos têm filhos/as). Essas tarefas ficam destinadas aos parentes de um dos cônjuges, empregadas ou babás, mas os casais também procuram dividir entre eles algumas tarefas relacionadas ao âmbito "privado", como buscar e levar os filhos para a escola, fazer compras e ajudar as crianças nas tarefas escolares.
O dia a dia de trabalho é absorvente, mas os casais também "priorizam" estar com a família e procuram reuni-la (cônjuges e filhos) em horários de refeições (almoço e jantar, por exemplo) e aproveitar os horários "livres" para fazerem atividades com os filhos, como forma de "compensar" a ausência cotidiana. A ideia de não estar sempre disponível para os filhos é uma das constantes preocupações das mulheres militares que veem o papel de "mãe" como importante, mas nem sempre conciliável com a rotina rígida do quartel. "É uma luta diária", como define uma das esposas.
Além de ter que conciliar o papel de mãe, as mulheres militares, em algumas situações, têm que desempenhar a função de "esposa de militar", como por exemplo, no caso de uma capitão. O marido dela obteve um cargo de chefia na instituição militar, e ela tinha que assumir o papel de esposa de militar em determinados eventos, como no cerimonial de passagem de comando do marido e na organização de atividades que reunissem as esposas dos militares da guarnição. Nessa perspectiva, vemos que o Exército tem dificuldades em lidar com a mulher no ambiente de trabalho e, em determinados contextos, "resgata-a" para "assumir" funções tradicionais das esposas "civis" de militares, como meio de evitar possíveis tensões desses dois arranjos da família militar. Parece que há circunstâncias, como as vivenciadas por essa capitão, que a mulher como militar se torna incompatível com a estrutura, organização e previsibilidade do Exército. Como forma de resolver esses impasses, o Exército "feminiliza" a militar.
Voltando aos casais, apesar da dificuldade de estarem sempre disponíveis para a casa e os filhos, eles veem uma grande vantagem em ambos serem militares: "a compreensão mútua" que há pelo trabalho e responsabilidades profissionais. Eles consideram que o fato de compartilhar o mesmo universo de trabalho melhora o entendimento do casal.
Todas as famílias já tiveram alguma experiência em morar nas vilas militares, o que reforça o fato do círculo de amizades ser composto por militares, principalmente os colegas da seção em que trabalham na Academia. As esposas, em especial, têm maior amizade com as colegas de seção e alegam isso pelo fato de conviverem mais com o pessoal do trabalho e de terem pouco tempo para atividades sociais das quais as esposas civis participam.
Destaca-se, de modo geral, que, com respeito a esses casais militares, ambos têm um entendimento e importância da carreira um do outro, e isso seria um fator de coesão da família. Os casais exercem uma profissão e também dividem tarefas relativas ao âmbito privado da família, bem como compartilham de todas as esferas individuais de cada um (mesmo ambiente de trabalho, mesmo ambiente de lazer, mesma casa), ao passo que também estão lidando no dia a dia com uma ausência no lar e na criação dos filhos – cuidados que passam, em partes, a serem administrados por terceiras pessoas: parentes, babás ou empregadas. E, no caso de serem parentes, não deixam de ser uma extensão da própria família.
2.2 Casais em que a esposa é militar e o marido é civil
Nos casos em questão, todas as mulheres militares são do QCO e, portanto, pouco ‘movimentadas’ durante a carreira militar. No entanto, mesmo com poucas transferências, a vida da família é pautada em torno da profissão militar da esposa. Em todos os casos, o marido deslocou-se para "acompanhar a esposa", seja no processo dela de formação como oficial, seja na transferência para a cidade da organização militar que ela foi designada a servir. Inclusive, nota-se que marido e mulher já tinham alguma relação afetiva ou eram casados antes de a esposa tornar-se militar.
Há um casal, por exemplo, que chegou a fazer uma mudança de cidade para que seu filho ficasse mais perto da família de origem da esposa, e isso acabou também promovendo uma facilidade para o trabalho do marido (proximidade da universidade em que trabalha). No entanto, essa situação acabou prejudicando o modo como a mulher conduzia a rotina do dia a dia: como o quartel em que trabalhava ficava distante da casa, ela passou a ficar muito "ausente" da família, tendo pouco tempo disponível para passar com o marido, filho e outros parentes. Assim, o casal repensou a mudança e voltou para a cidade onde a esposa trabalhava.
Todos os maridos trabalham, mas a carga de trabalho das esposas é maior. Para administrar a casa, há, em dois casos, uma empregada, mas o marido também parece assumir mais funções domésticas do que a esposa. Nos dois casos em que as famílias possuem filhos, há (como nas histórias dos casais militares) uma preocupação da esposa militar em não ter maior disponibilidade no processo de formação e criação das crianças. Nessas famílias, as crianças ficam na creche ou em berçários particulares em tempo integral durante a semana, mas dormem em casa.
O círculo de amizades dos casais se efetiva mais com militares; no caso das esposas, a amizade é maior entre as/os colegas de trabalho e, no caso dos maridos, a amizade pode expandir para militares que eles conheçam por frequentarem o clube militar da vila ou devido à convivência com outros militares por conta do trabalho que exercem, como no caso de um marido que é técnico em informática e tem uma clientela de militares.
De modo geral, podemos dizer que essa configuração da família inverte, em parte, a tradicional divisão sexual do trabalho: vemos a rotina da família adaptada à profissão militar da mulher, em que a mulher é dedicada à profissão, e o marido, mesmo que trabalhe, executa parte das tarefas domésticas e apoia o trabalho da esposa.
As duas formas familiares vistas neste tópico destoam, em parte, do modelo padrão das famílias de militares, alterando os arranjos dos casais, sobretudo, nas percepções de masculinidades e feminilidades dos indivíduos (em especial das mulheres). Assim, podem-se gerar desconfortos e tensões entre o que é "tradicional" no Exército e o que é "novidade" (como o caso do casal militar); todavia, como estratégia, o Exército constrói relações que se adéquam, em alguma medida, às regras e normas da instituição. Logo, apesar de estes casais (em que os dois ou só a mulher é militar) serem arranjos novos para o Exército, ainda se procura manter o "modelo de família militar" em evidência.
Casa e caserna: considerações finais
Com o intuito de investigar mais a respeito de um objeto de estudo ainda não muito explorado nas ciências sociais brasileiras – as famílias de militares –, mostramos neste texto as trajetórias de três formas familiais que se situam no universo militar: a) casais em que só o marido é militar; b) casais em que ambos os cônjuges são militares e c) casais em que só a esposa é militar.
No primeiro caso, para além do fato de que as famílias se arranjam no modelo "clássico" de família nuclear moderna (a mulher como "dona de casa" e o marido como "provedor"), a esposa vivencia uma feminilização de suas ações e relações: temos a esposa como a produtora da casa (relações no âmbito privado), a que faz a comida, que cria os filhos, e que, enfim, cuida de tudo na família para que o marido possa exercer a profissão. Ela é a peça-chave para a vida emocional e para a estruturação da vida do militar; portanto, a esposa também não deixa de reproduzir a vida militar, pois compartilha e está envolvida numa série de atividades que acontecem no quartel, ao mesmo tempo que "sustenta" a casa.
As duas outras formas de família configuram algumas variações a esse modelo. A principal fissura se dá na configuração de gênero da mulher: é como se a esposa se masculinizasse em muitas de suas ações pelo fato de ser militar, uma profissão que demanda uma alta carga horária de trabalho e que tem como prioridade o "dever pela pátria", elemento externo e envolvente da casa. Assim, o papel de "tradicional mulher de militar" é transfigurado numa babá, faxineira, em algum parente próximo (mãe ou irmã) ou passa a ser, em alguma medida, realizado pelo marido não militar. Quando, por exemplo, é a irmã ou mãe que assumem essas funções, elas aparecem como substitutas femininas "legítimas" da esposa militar, pois operam como uma extensão da família, sendo, de alguma forma, substância/sangue da esposa. Mas esses novos arranjos não significam que a família, enquanto relação esposa/marido/filhos, deixe de existir, pois essa relação é constantemente atualizada no compartilhar refeições e em momentos como buscar e levar os filhos na escola.
Observa-se que, em todos os casos trabalhados nesse texto, o Exército centraliza grande parte das relações da família, ou melhor, além de ser exigida grande dedicação à corporação por parte do cônjuge militar e relativo "apoio" e acompanhamento do cônjuge não militar, as amizades, de ambos, acabam pautadas pelo ambiente da caserna, e a própria estrutura da família é condicionada ao modo de vida e rotina de trabalho do cônjuge militar, ao passo que também é demonstrado que a família é garantia de uma carreira promissora no Exército e que ela também é valorizada e evocada diversas vezes para que se mantenha a coesão no ambiente militar.
Assim, no que diz respeito à relação entre Exército e Família, num primeiro momento do texto, mostramos que o Exército engloba as famílias, pelo fato de que há a construção de uma rede de relações no primeiro que definem os papéis, obrigações e benefícios das segundas, fazendo com que os membros da família se pensem/identifiquem como uma família militar, e isso parece ser garantido através das relações de troca (princípios de união e solidariedade entre as famílias), dos constrangimentos sociais (a vigilância e a fofoca) e dos eventos e cotidiano das vilas e organizações militares.
O "modelo de família militar", que opera com todo o seu potencial nas famílias em que só o marido é militar, nos mostra essa intenção da instituição, em estimular, de certo modo, nas famílias, uma série de condutas e valores próprios da vida militar (hierarquia, disciplina, retidão moral). Dessa forma, é possível concordar com o que Castro e Leirner34 já diziam sobre a dinâmica da instituição militar (sobretudo, a precedência da coletividade sobre os indivíduos e a incorporação de valores como honra e solidariedade) se estender à vida pessoal de seu efetivo – Cavilha e Chinelli35 também já afirmavam isso.
No entanto, há também um duplo movimento entre casa (aqui entendida como a família do militar – relação cônjuge e filhos/as, e parentes próximos36) e caserna (relações do quartel). Não só a caserna determina relações na casa, como a casa determina relações na caserna; por exemplo, há no Exército a ideia de sempre querer "se familiarizar", isto é, de recorrer a um linguajar e valores encontrados na família (confiança, apoio), como o fato de se autointitular como "Família Militar" – em que se espera que tanto militares como seus dependentes passem a se ver enquanto parentes circunstanciais, pessoas das quais se busca suporte e com as quais se pretende conviver. Esse exemplo nos mostra que o idioma do parentesco é aberto a manipulações e transformações,37 de modo que os militares reconhecem seus vizinhos (outras famílias de militares) como parentes.
Outra situação que vai ao encontro dessas observações é o uso que os militares atribuem à ideia de moradia e Brasil. Como uma das metas da profissão militar é a "vivência nacional" (circulação por várias regiões do país), em suas constantes transferências geográficas os militares e suas famílias circulam pelas vilas militares (denominadas por eles de PNRs – Próprios Nacionais Residenciais). Essas vilas são padronizadas e, tanto física quando administrativamente, seguem uma estrutura prevista pelo Exército. Assim, a circulação por essas PNRs e pelo Brasil produz a ideia de que a casa (moradia) no fim é o Brasil, da mesma forma que também estabelece que, em qualquer lugar do país, você pode encontrar a "Família Militar", sendo comum, ao longo da trajetória de vida dessas famílias, elas se reencontrarem em uma nova localidade.
Desse modo, casa e caserna estão intimamente relacionadas a tal ponto que, em certos momentos, elas se mesclam, não havendo fronteiras fixas entre a família e o quartel (entre o "privado" e o "público"). No limite, podemos falar que o Exército é produtor de parentesco/família, mesmo em configurações familiares diferentes. Vimos no texto que há uma "militarização" da família (esposa e filhos/as), ao passo que alguns se tornam militares e outros/as se casam com militares. Assim, no interior da família, o Exército produz não só militares como casamentos: filhas que podem se tornar esposas de militares em potencial e também militares que se casam entre si. Inclusive, até irmãs de militares que passam a conviver na casa cuidando dos/as filhos/as dos oficiais também podem "arranjar" casamento com militares – como encontrei em duas histórias por mim analisadas.
Dessa maneira, a ideia do Exército como uma família, para além do seu uso metafórico, também nos revela que pode se transformar numa realidade muito literal. Nesse sentido, e com relação aos dados explorados neste texto, podemos pensar o Exército enquanto relação e, no caso específico, pela lógica da família.
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[Recebido em 8 de maio de 2012, reapresentado em 15 de outubro de 2012 e aceito para publicação em 5 de dezembro de 2012]
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
28 Jan 2014 -
Data do Fascículo
Dez 2013
Histórico
-
Recebido
08 Maio 2012 -
Aceito
05 Dez 2012 -
Revisado
15 Out 2012