Resumo:
Solaris, de Tarkovsky, converte a ficção científica de Stanislaw Lem em um drama trágico: um problema da consciência, mas um dilema também da ação. Se há um anti-herói dramático, Kris Kelvin, há também uma heroína trágica, Hary, e ambos são formas antagônicas e complementares de uma mesma consciência. Alguns efeitos se desdobram de tal hipótese, na ordem sucessiva da experiência do estranho: o pavor, a sedução e a familiaridade na relação com o duplo. Mas há um grau superior no caráter fantástico dessa história: a autonomia da mulher duplicada, seu discurso e sua decisão no desfecho, atitudes a partir das quais é possível fazer uma interpretação feminista do filme. O discurso de Hary representa uma crítica da condição histórica e existencial da mulher, e Hary, em contrapartida, encarna o drama de uma subjetividade inautêntica, conforme o pensamento de Simone de Beauvoir.
Palavras-chave:
mulher; consciência trágica; estranho; Tarkovsky; Solaris