Resumo:
As questões do envelhecimento constituem cada vez mais um foco de estudo nas ciências sociais. No entanto, o tema da sexualidade associado a pessoas idosas permanece silenciado socialmente, na sequência de perspetivas idadistas dominantes. Em consequência, a realidade institucional força, muitas vezes, a uma adaptação do comportamento por parte das pessoas idosas, particularmente desafiante para pessoas idosas LGBTQIA+. Percebe-se, assim, que, na maioria dos casos, estas pessoas se sentem obrigadas a esconder a sua identidade. Neste sentido, o presente estudo objetivou compreender, através de entrevistas semiestruturadas a profissionais portuguesas de instituições residenciais para pessoas idosas, de que forma a orientação sexual, a identidade de género, a expressão de género e/ou caraterísticas sexuais influenciam a vida das pessoas idosas institucionalizadas.
Palavras-chave: LGBTQIA+; envelhecimento; sexualidade; institucionalização
Abstract:
Aging issues are increasingly becoming a focus of study in the social sciences field. However, the topic of older people’s sexuality remains socially silenced, due to the ageist dominant perspectives. As a result, institutional reality forces an adaptation of the behavior of older people, particularly challenging for LGBTQIA+ older people, realizing that, in most cases, they feel obliged to hide their identity. Therefore, this study is aimed at understanding, through semi-structured interviews with professionals from residential institutions for older people, how sexual orientation, gender identity, gender expression and/or sexual characteristics influence the lives of institutionalized older people.
Keywords: LGBTQIA+; Aging; Sexuality; Institutionalization
Resumen:
Las ciencias sociales estudian cada vez más las cuestiones relacionadas con el envejecimiento. Sin embargo, el tema de la sexualidad asociada a las personas mayores sigue siendo socialmente silencioso, debido a las opiniones idadistas imperantes sobre las personas mayores. En consecuencia, la realidad institucional suele obligar a las personas mayores a adaptar su comportamiento, lo que resulta especialmente difícil para las personas mayores LGBTQIA+. Por ello, se percibe que, en la mayoría de los casos, estas personas se sienten obligadas a ocultar su identidad. Por lo tanto, este estudio tuvo como objetivo comprender, a través de entrevistas semi-estructuradas con profesionales portugueses de instituciones residenciales para personas mayores, cómo la orientación sexual, la identidad de género, la expresión de género y/o las características sexuales influyen en la vida de las personas mayores institucionalizadas.
Palabras clave: LGBTQIA+; envejecimiento; sexualidad; institucionalización
Introdução
Devido ao crescimento substancial da população idosa em Portugal, o envelhecimento assume atualmente um papel de relevância na sociedade portuguesa (Cláudia MOURA, 2006; NETO, 2004), dando origem a novos desafios políticos, económicos e sociais (Soraia TELES et al., 2019). De acordo com os dados dos Censos de 2021, o INE aponta que, em termos percentuais, as pessoas idosas correspondiam a 23,4% da população residente em Portugal (INE, 2021). Na verdade, cada pessoa, com o passar do tempo, encontra-se sujeita a várias mudanças nos papéis que desempenha, mas também relativamente à autoidentidade1 e ao seu corpo. Na maioria das vezes, as alterações que marcam o processo de envelhecimento ocorrem na estrutura corporal e são as mais percetíveis; em simultâneo, argumentamos que as alterações identitárias e dos papéis sociais, ainda que menos visíveis, devem merecer a mesma atenção reflexiva (Vitor FRAGOSO, 2016).
Atendendo ao peso social atribuído a questões como a produtividade no paradigma capitalista (Guita DEBERT, 1994), as pessoas idosas ficam frequentemente remetidas para um lugar de menor agência, sendo alvo de estereótipos e diferentes preconceitos (Doris VASCONCELLOS et al., 2004) que acabam, em muitos casos, por reproduzir mensagens idadistas. Sendo que, o idadismo, de acordo com Félix Neto (2004, p. 280), carateriza-se por “atitudes negativas, estereótipos, discriminação e tentativas de evitar o contacto com pessoas idosas”. Com origem anglo-saxónica, o conceito idadismo, apresentado por Richard Butler (1969), foca-se na discriminação de uma pessoa ou grupo tendo em conta a idade cronológica, onde as pessoas idosas apresentam-se como mais suscetíveis a estes atos, sendo conotadas como pessoas incapazes, associadas à doença, à debilidade e à inutilidade.
Por conseguinte, estes estereótipos contribuem para que as pessoas idosas sejam compreendidas como incapacitadas no exercício da sua sexualidade, promovendo uma dificuldade no reconhecimento da identidade pessoal, bem como no desenvolvimento de papéis e da sua cidadania sexual (VASCONCELLOS et al., 2004; Adilson MOREIRA, 2016).
Importa, portanto, salientar que a ciência hegemônica não olha para a pessoa idosa tendo em conta a sua orientação sexual, a sua identidade e a sua expressão de género, ignorando também as suas caraterísticas sexuais (Carlos HENNING; DEBERT, 2015). Na ausência de maior reflexividade, as pessoas idosas são assim consideradas, por defeito e sem qualquer questionamento, heterossexuais e cisgénero.
Neste sentido, e perante este cenário, é possível apontar alguns obstáculos que condicionam a vida e o quotidiano individual e social das pessoas idosas LGBTQIA+. Segundo Meyer (2012), as pessoas idosas LGBTQIA+ experienciam isolamento social, depressão, ansiedade e, em muitos casos, pobreza, doenças crónicas, procura retardada de cuidados, má alimentação e até mesmo a mortalidade precoce - numa realidade que se apresenta puramente marcada por um duplo estigma, vítima de uma exclusão social socialmente discriminatória (Everaldo SANTOS FILHO, 2023).
Paralelamente, a institucionalização apresenta-se como um dos contextos sociais cada vez mais vividos pelas pessoas idosas, procurando dar resposta à impossibilidade de cuidados diários e continuados no domicílio (Ana CAMARANO; Solange KANSO, 2010). As teorias que refletem sobre a institucionalização reconhecem-na como um despojamento do papel do eu, seguindo-se de um duplo processo marcado pela resposta às necessidades básicas, assim como pela perda da autonomia, privacidade e da individualidade (Sandra CARDÃO, 2009; Erving GOFFMAN, 1974; Paulo LOURENÇO, 2014).
Desta maneira, compreende-se que, para uma pessoa idosa LGBTQIA+, o acesso e a integração institucional se traduzam num processo de maior dificuldade, constrangimentos e violências, em comparação com uma pessoa idosa heterossexual e/ou cisgénero, o que põe em causa (ainda mais) a identidade individual da pessoa idosa (Charles FURLOTTE et al., 2016; MEYER, 2012).
Assim, o presente artigo visa contribuir para a reflexão sobre o envelhecimento LGBTQIA+ no contexto institucional em Portugal, tendo como ponto de partida uma abordagem teórico-metodológica focada nas perspetivas de profissionais que atuam no âmbito institucional do contexto agora mencionado. De acrescentar, ainda, que este trabalho advém de uma investigação mais alargada que foi desenvolvida entre os anos de 2021 e de 2022 no âmbito do Mestrado em Ciências da Educação, da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto. O percurso investigativo seguiu-se pelo paradigma fenomenológico-interpretativo e pela metodologia qualitativa. Desta forma, toda a perspetiva metodológica sobre o objeto de estudo foi pautada pela compreensão e análise das perceções sublinhadas, na procura de descodificar as crenças, os valores, as perspetivas e as opiniões (João AMADO, 2014). Tendo-se, assim, desenvolvido um trabalho investigativo com consciência ética da investigação em Ciências da Educação, seguindo as diretrizes da Carta Ética da SPCE 2020 (Isabel BAPISTA, 2021), sendo aprovado pela Comissão de Ética da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto, em 2022.
Envelhecimento LGBTQIA+: Uma realidade ignorada
De acordo com Ana Salgado et al. (2017), podemos apontar várias diferenças entre o envelhecimento heterossexual e o envelhecimento LGBTQIA+, embora os/as autores/as reconheçam que a solidão surge como o fator que tem mas impacto na vida destas pessoas, independentemente das suas expressões ou identidades de género e de suas orientações e caraterísticas sexuais.
Não obstante a solidão ser reconhecida como um problema social emergente e transversal, intensifica-se quando falamos sobre pessoas idosas LGBTQIA+ (SALGADO et al., 2017). O receio da solidão na velhice LGBTQIA+ agrava-se devido à cultura heteronormativa dominante, no seio da qual as pessoas LGBTQIA+, como mecanismo de defesa, preferem isolar-se para reduzir o risco de preconceito (Maria LEAL; Márcia MENDES, 2017), acabando por decidir muitas vezes “regressar ao armário”. As mesmas autoras afirmam também que a pessoa idosa LGBTQIA+ que atravesse estas dificuldades pode “comprometer a sua saúde e gerar dúvidas quanto a um futuro bem-estar na velhice, e na verdade alguns relutam em pensar ou se preparar para uma etapa que não têm certeza que ocorrerá” (LEAL; MENDES, 2017, p. 33).
Concomitantemente, o trabalho reflexivo de Henning e Debert (2015) sobre este tema aponta para a forte dissociação entre “envelhecimento” e “homossexualidade” que surge das ideias pré-concebidas que, fruto de senso comum, pautam o envelhecimento como um processo ausente de sexualidade, bem como “pela associação entre homossexualidade, os estereótipos de promiscuidade e vida sexual abundante” (HENNING; DEBERT, 2015). Os autores alertam para um “panorama heteronormativo sobre a velhice que ainda tende a ser dominante na gerontologia mainstream” (HENNING, 2017, p. 287), caraterizado por referências normativas quanto ao género, identidades sexuais e sexualidade das pessoas idosas (HENNING, 2017).
Neste seguimento, os mesmos autores sublinham que as pessoas idosas LGBTQIA+ são duplamente ignoradas, isto devido ao escasso trabalho realizado até a data no campo das ciências sociais, mais propriamente no campo da Gerontologia Social, como também devido à ausência de visibilidade das pessoas idosas LGBTQIA+ por parte dos próprios movimentos LGBTQIA+ (HENNING; DEBERT, 2015).
Aliás, estes movimentos são fortemente centrados nas pessoas jovens adultas, o que, na perspetiva de Henning e Debert (2015), não deixa “de ser paradoxalmente triste quando consideramos que muitos desses velhos e velhas homossexuais, bissexuais, travestis e transexuais foram alguns dos pioneiros dos ‘movimentos de libertação gay’”. Isto reforça a ideia anterior de que, com a entrada no envelhecimento, esta faixa etária da população passa a ser ignorada pelo movimento social que, em muitos casos, ajudou a construir, como também pelos/as próprios profissionais do campo da Gerontologia Social.
Tendo em conta este fenómeno do envelhecimento LGBTQIA+, importa ainda salientar que, devido às alterações que ocorrem no corpo, pode falar-se do emergir de uma “ameaça” social, pois o corpo envelhecido não compete com a primazia social do corpo jovem, belo e forte (José SANTOS; Ludgleydson ARAÚJO; Fauston NEGREIROS, 2018).
Na verdade, a sociedade atual enfatiza de forma tão intensa o “juvenismo” (Daniel ALAPHILIPPE; Nathalie BAILY, 2013, p. 75), que leva as pessoas idosas a sentirem uma grande pressão normativa para se manterem jovens, transformando-se numa vontade de utilização de técnicas (como, por exemplo, as cirurgias estéticas e a pintura do cabelo) para o retardamento de perceções estereotipadas de corpo envelhecido (ALAPHILIPPE; BAILY, 2013). Em consequência destas alterações no corpo, devido ao foco da comunidade LGBTQIA+ nos/as jovens, há uma promoção da invisibilidade e até a invalidação das pessoas idosas (James MURRAY; Barry ADAM, 2001; Ana Cristina SANTOS, 2023).
Estes dois processos em particular - invisibilidade e invalidação - transformam-se em sentimentos de rejeição, preconceito associado à idade e até mesmo intolerância generalizada (Henrique PEREIRA et al., 2018). Assim, de acordo com Pereira et al. (2018), as próprias relações sexuais entre a comunidade LGBTQIA+ jovem são mais reconhecidas, havendo uma dissociação das pessoas idosas LGBTQIA+ em relação à sua capacidade sexual, devido, uma vez mais, ao preconceito e à associação negativa em relação à sexualidade na chamada terceira idade.
Importa ainda destacar que, em Portugal, na última década, em particular, um caminho de maior abertura de respostas, nomeadamente, sociais às pessoas idosas LGBTQIA+, tem sido trilhado. Aqui colocamos o enfoque na narrativa de investigação de um projeto em específico: o Best4older.2 Este foi desenvolvido entre os anos de 2018 e 2020, em seis Estados Membros (Portugal, Itália, Grécia, Irlanda, Holanda e Roménia), e teve como alguns dos seus objetivos:
Promover o direito à sexualidade das pessoas mais velhas; lutar contra a discriminação que tenha por base a idade, orientação sexual, identidade de género, expressão de género e características sexuais das pessoas mais velhas; e promover os direitos das pessoas (LGBTI) mais velhas [...].
Sexualidade das pessoas idosas
No que diz respeito ao tema da sexualidade nas pessoas idosas, percebe-se que há um olhar estereotipado e generalizado focado na incompetência (VASCONCELLOS et al., 2004). Na perspetiva de Debert e Brigeiro (2012, p. 38), envelhecer é “um momento de declínio sexual inevitável e universal [que] representa um esquema interpretativo básico que marcou a história da reflexão sobre o envelhecimento”. Segundo esta perspetiva sobre o envelhecimento, as pessoas idosas passam por constrangimentos no reconhecimento da sua identidade pessoal e no desenvolvimento dos seus papéis e funções. Estes constrangimentos refletem-se num conjunto de imposições e mudanças inerentes ao processo de envelhecimento, especificamente quando se fala sobre sexualidade, um tema vigiado e muitas vezes punido socialmente (VASCONCELLOS et al., 2004). Esta visão sustentada em mitos que conota as pessoas idosas com pessoas assexuais e/ou hipersexualizadas tem um grande impacto na autoestima, na autoconfiança, e no desempenho físico e social (Thiago ALMEIDA; Maria LOURENÇO, 2009).
Desta forma, torna-se importante sublinhar que, hoje em dia, mesmo com o desenvolvimento do conhecimento e reconhecimento sobre a sexualidade no envelhecimento, a visibilidade de relações afetivo-sexuais na designada terceira idade ainda é diminuta (ALMEIDA; LOURENÇO, 2009; Sara ADÃO, 2022). Com efeito, a sexualidade e a relação afetivo-sexual no envelhecimento só muito recentemente passaram a ser discutidas (ALMEIDA; LOURENÇO, 2009). Aliás, deve ser sublinhado que ainda se registra uma reação social de alguma repulsa e pudor face à troca de afeto e carícias entre pessoas idosas no espaço público (ALMEIDA; LOURENÇO, 2009). Segundo os mesmos autores, a sociedade tende, assim, a minimizar os comportamentos sexuais num casal de pessoas idosas, o que pode provocar situações de conflito e mal-estar (ALMEIDA; LOURENÇO, 2009).
Assim sendo, a imagem sobre a pessoa idosa na sociedade surge conotada com uma ideia de dependência, pela suposta ausência de poder individual na tomada autónoma de decisões e na independência da sua vida diária. Em termos físicos, o envelhecimento pode ser mesmo associado a um processo de doença onde, por exemplo, fenómenos como o da medicalização são vistos como prova de precariedade da saúde do indivíduo (Chris GILLEARD; Paul HIGGS, 2011). De acordo com Gilleard e Higgs (2011, p. 138), “[…] a abjeção mais profunda da velhice não reside tanto na fuga de produtos corporais, nem no estigma físico de uma aparência de envelhecida, nem nas visíveis limitações de desempenho de uma pessoa inválida/deficiente […]”, mas sim no déficit de autoconsciência, de autocontrolo e da propriedade do corpo, numa ideia de que o corpo da pessoa idosa se torna órfão (GILLEARD; HIGGS, 2011).
Estas perspetivas fragilizam a cidadania sexual das pessoas idosas, no sentido em que se reconhece a existência de uma dificuldade acrescida à criação autónoma de projetos de vida em volta de relações íntimas “que só podem ser operacionalizadas por meio de acesso a direitos” (MOREIRA, 2016, p. 21). A sociedade e/ou as instituições sociais promovem a negação destes direitos, tornando-se expressiva a grande dificuldade na inclusão das minorias sexuais, como as pessoas idosas, pessoas LGBTQIA+, entre outras, na sociedade.
Institucionalização das pessoas idosas LGBTQIA+: Dificuldades e violências
A World Health Organization (WHO, 2002) reflete sobre os abusos a pessoas idosas, afirmando que estes podem surgir por via de familiares ou prestadores de cuidados institucionais, havendo fatores de risco acrescidos em situação de precariedade económica e social. Segundo a Rede Internacional para a Prevenção do Abuso de Idosos, o abuso contra pessoas idosas é “um acto único ou repetido, ou a falta de acção apropriada que ocorre dentro de qualquer relação onde existe uma expectativa de confiança que causa danos ou angústia a uma pessoa idosa” (Action on Elder Abuse, 1995 citado por WHO, 2002, p. 29). Desta forma, a World Organization Health (2002) compreende que o abuso de pessoas idosas pode surgir de 5 formas: abuso físico, sexual, psicológico, financeiro e, por fim, no ato da negligência em si mesma. Assim sendo, todo ou qualquer abuso contra pessoas idosas fragiliza os seus direitos humanos, suscetíveis a lesões, à perda de produtividade, ao isolamento e/ou ao desespero. Esta abordagem da WHO, apesar de procurar compreender o fenómeno de forma holística, torna-se insuficiente, pois ignora as questões da orientação sexual, da identidade de género, da expressão de género e das caraterísticas sexuais das pessoas idosas.
Tal como afirma Hilary Meyer (2012), as pessoas idosas encontram-se sujeitas a estereótipos e preconceitos, como o idadismo e a LGBTfobia, decorrentes de uma sociedade que pratica constantes violências sobre este grupo etário (MEYER, 2012). Como consequência, uma vez que as pessoas idosas, maioritariamente, são consideradas heterossexuais e/ou cisgénero, as pessoas idosas LGBTQIA+ deparam-se com constrangimentos particulares, passando por outros tipos de discriminação, stress físico/emocional e até mesmo violência.
De mencionar, ainda, e dentro deste alinhamento reflexivo, que as pessoas idosas trans são indicadas pela literatura como sendo as que sofrem de uma especificidade na discriminação e nos próprios atos de violência, uma vez que, na grande maioria dos casos, não há respeito pelo corpo, pela história, ou por outras questões relacionadas com o género destas pessoas, refletindo-se os atos dirigidos a estas como sendo discursivamente e fisicamente invasivos e ofensivos (MEYER, 2012).
Na área da saúde, as pessoas idosas LGBTQIA+ também experienciam diferentes dificuldades para que possam sentir-se incluídas e aceites. Aliás, tendo em conta o relatório Safe to be me: Meeting the needs of older lesbian, gay, bisexual and transgender people using health and social care services (Caroline ABRAHAMS, s.d.), desenvolvido pela Age UK e pela Open Doors London,3 consegue-se apontar que pessoas da comunidade LGBTQIA+ já viram recusados cuidados de saúde, pelo facto de pertencerem a este grupo específico - LGBTQIA+ - e, para além disso, já foram motivo de humilhação e críticas pela sua aparência ou comportamento. Neste seguimento, é possível compreender que a comunidade LGBTQIA+ sofreu, ao longo da sua vida, de preconceito e discriminação (SANTOS, 2013; 2018), o que pode provocar o contínuo reviver de sentimentos negativos nas mais diferentes fases das suas vidas.
A realidade portuguesa apresenta uma escassez de investigação sobre cuidados formais na saúde de pessoas idosas LGBTQIA+. No entanto, no trabalho de Pereira et al. (2018), é apontado o receio que as pessoas idosas LGBTQIA+ sentem no primeiro contacto com estes cuidados, devido à negligência e à violência verbal ou física (PEREIRA et al., 2018). Meyer (2012) também reflete sobre a dificuldade de acesso aos serviços de apoio ao envelhecimento, como as Estruturas Residenciais para Pessoas Idosas, Centros de Dia, entre outros de pessoas idosas LGBTQIA+, pelo receio da discriminação e preconceito face à exposição da sua orientação sexual, identidade de género, expressão de género e/ou caraterísticas sexuais.
Metodologia
O presente artigo resulta de uma tese de Mestrado que teve por objetivo fundamental perceber quais as perceções e conhecimentos que diferentes profissionais de instituições de apoio a pessoas idosas possuem sobre a orientação sexual, a identidade de género, a expressão de género e/ou caraterísticas sexuais e de como estas influenciam a vida das pessoas idosas institucionalizadas. Neste sentido, diferentes questões específicas foram definidas por forma a dar resposta ao objetivo fundamental, nomeadamente:
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As instituições para pessoas idosas reconhecem a sexualidade nos/nas seus/suas utentes? Se sim, de que forma?
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As equipas profissionais destas instituições estão dotadas de ferramentas formativas e técnicas para o trabalho relativamente à sexualidade das pessoas idosas?
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Que perceções sociais/pessoais/profissionais têm estas equipas em relação àquele que é o envelhecimento de pessoas LGBTQIA+?
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Existe algum trabalho específico que é feito no sentido de ir ao encontro deste público-alvo nestas instituições?
Com isto, procurando perceber os sentidos dos sujeitos investigados e os fenómenos presentes, reconhecendo e estabelecendo uma relação com o contexto e os seus significados (AMADO, 2014), desenvolveu-se um processo de pesquisa tendo em conta o paradigma fenomenológico-interpretativo. Considerou-se o qualitativo como o método mais adequado e coerente para este trabalho, uma vez que este se foca na oportunidade de “ouvir” as pessoas que colaboram, em diferentes modos ou graus, com o/a investigador/a (AMADO, 2014).
Na mesma perspetiva, percebe-se que “o grande instrumento neste tipo de investigação é o próprio investigador” (AMADO, 2014, p. 421), assumindo, assim, requisitos éticos e interpessoais para enaltecer “o individual e o coletivo, o local e o universal, o pessoal e o político” (AMADO, 2014, p. 421).
De sublinhar que uma investigação com base qualitativa não se desliga da dimensão quantitativa dos factos sociais, buscando as “interdependências entre os fenómenos objetivos e subjetivos” (Eugénio Alves da SILVA, 2013, p. 15). Por outras palavras, os métodos qualitativos de investigação “fornecem possibilidades epistemológicas e praxeológicas para investigar realidades sociais complexas num quadro em que se reconhecem as insuficiências das metodologias positivistas por tenderem a reduzir e a descontextualizar o social” (SILVA, 2013, p. 69).
A técnica de recolha de informação privilegiada para este processo foi a entrevista semiestruturada, considerada como “um dos mais poderosos meios para se chegar ao entendimento dos seres humanos e para a obtenção de informações nos mais diversos campos” (AMADO; Sónia FERREIRA, 2014, p. 207). Aliás, na linha de pensamento de Vítor Sérgio FERREIRA (2014), a entrevista surge como método de recolha de informação ao qual se deve reconhecer a sua não neutralidade e (im)pessoalidade, no sentido em que esta resulta da simbiose entre dois discursos, através de um “diálogo recíproco a partir das posições que os interlocutores ocupam na situação específica de entrevista (de interrogador e de respondente)” (FERREIRA, 2014, p. 171). Com isto, percebe-se que este é um método de excelência de recolha de informação (AMADO; FERREIRA, 2014).
Toda a análise de conteúdo das entrevistas foi desenvolvida através de um processo estruturado, procurando estabelecer uma regularidade nos fenómenos e nas caraterísticas presentes nas narrativas, havendo, assim, uma “análise taxionómica” (AMADO; António Pedro COSTA; Nilma CRUSOÉ, 2014, p. 306) que pretende categorizar e classificar os vários conteúdos em análise. Para tal, em primeiro lugar, foi necessário descrever as múltiplas caraterísticas das comunicações em análise, especificamente os temas, os subtemas, as palavras-chave, os pontos em comum, entre outros. De seguida, foi fundamental estabelecer a dinâmica de comparação entre várias mensagens que surgiram das entrevistas (AMADO; COSTA; CRUSOÉ, 2014).
O estudo do qual resulta o presente artigo fez uso do software de análise de dados de Nvivo, versão Release 1.6.1. No entanto, importa pautar que, mesmo com o uso de um software de apoio, ao longo da investigação, não excluíramos contributos teóricos de referência e dos vários procedimentos da análise de conteúdo, como o recorte e a categorização, “numa sequência de fases pré-estabelecidas que emprestam à técnica o rigor e a profundidade possível, ao mesmo tempo que exigem uma total explicitação de todos os seus passos” (AMADO; COSTA; CRUSOÉ, 2014, p. 306).
No que concerne aos testemunhos das entrevistas, devido à pandemia da Covid-19, houve a necessidade de pensar estrategicamente sobre as técnicas e instrumentos a serem utilizados. Desta forma, tendo em conta o elevado número de instituições para pessoas idosas em Portugal e o tempo previsto para o desenvolvimento da investigação - 10 meses -, foi fundamental assumir como critério a proximidade geográfica do investigador face aos recursos humanos e temporais disponíveis. Percebeu-se então que o Distrito do Porto apresentava as melhores condições para o trabalho em questão, focando-se especificamente na cidade de Vila Nova de Gaia.
O processo de contacto teve início em dezembro de 2021, através do convite, via e-mail, a 8 instituições da União de Freguesias de Mafamude e Vilar de Paraíso com um pedido de entrevista, sublinhando que esta poderia ser com um membro da direção técnica ou um/a auxiliar de ação-direta. Por conseguinte, nesta fase, foi possível entrevistar três instituições (via plataforma Zoom e presencial) a elementos da direção técnica das mesmas.
Neste seguimento, conscientes da necessidade de convidar mais instituições a participar no estudo, repensou-se a estratégia de investigação. Tendo em conta a Carta Social (MINISTÉRIO DO TRABALHO E DA SOLIDARIEDADE SOCIAL, 2020), compreendeu-se que a segunda freguesia com um número considerável de instituições era a União de Freguesias de Santa Marinha e São Pedro da Afurada (7 instituições). Desta forma, em janeiro de 2022, foram contactadas, via e-mail e contacto telefónico, 7 instituições com um convite a colaborarem na investigação. Deste processo, apenas uma instituição respondeu, possibilitando uma entrevista a um membro da direção técnica, totalizando, assim, as 4 entrevistas a profissionais de direção técnica.
Seguidamente, procurando perspetivas de profissionais de ação-direta, foi necessário focar os contactos com instituições do concelho de Vila Nova de Gaia. Perante o exposto, e apontando novamente a Carta Social (MINISTÉRIO DO TRABALHO E DA SOLIDARIEDADE SOCIAL, 2020), que confere União de Freguesia de Gulpilhares e Valadares como detentora de 6 instituições residenciais para pessoas idosas, em fevereiro de 2022, entrou-se em contacto, via e-mail, com o pedido aos/às profissionais de ação-direta das instituições a participarem na investigação, o que possibilitou entrevistar 4 profissionais de ação-direta de 1 instituição. Com este conjunto de convites de participação enviados, foi possível ter resposta de uma instituição que possibilitou entrevistar 4 profissionais de ação-direta.
Deste modo, para a análise dos resultados que passamos a apresentar, considerou-se 8 entrevistas realizadas a profissionais de instituições para pessoas idosas (4 a elementos de direção técnica e outras 4 a elementos de equipas de ação-direta) de 4 instituições para pessoas idosas da União de Freguesias de Mafamude e Vilar do Paraíso, União de Freguesias de Santa Marinha e São Pedro da Afurada e da União de Freguesia de Gulpilhares e Valadares, que se refletiram nos dados recolhidos e analisados, bem como os resultados base da presente investigação. A realidade institucional da presente investigação reflete-se em 3 instituições privadas e 1 Instituição Particular de Solidariedade Social.
O conjunto de pessoas entrevistadas, a nível sociodemográfico (Quadro 1), é composto por mulheres com idades compreendidas entre os 23 e os 58 anos, cujos anos de experiência em contexto institucional se situa entre os 2 e os 12 anos. Importa salientar que todas as entrevistadas com cargos de equipa técnica apresentam uma licenciatura de grau de ensino superior (Licenciatura em Ciências da Educação (E1); Licenciatura em Ciências da Nutrição (E2); Licenciatura em Educação Social (E3); Licenciatura em Assistência Social (E4)), sendo que 3 das entrevistadas de ação-direta dispõem de formações profissionais e cursos de Auxiliar de Ação-Geriátrica e 1 entrevistada não reúne qualquer tipo de formação profissional.
Resultados e Discussão dos dados - As perspetivas das profissionais
Na investigação alargada surgiram três categorias principais: Institucionalização das pessoas idosas; Sexualidade das pessoas idosas; e Envelhecimento LGBTQIA+. No entanto, a análise de conteúdo utilizada no presente artigo irá focar-se apenas em duas categorias: Sexualidade das pessoas idosas, incluindo a subcategoria sobre as competências profissionais e formação académica na abordagem à sexualidade das pessoas idosas; e a categoria Envelhecimento LGBTQIA+, que integra a subcategoria Institucionalização das pessoas idosas LGBTQIA+ (Diagrama 1). Toda a análise terá como processo a relação entre a categoria/subcategoria e as perceções das participantes, procurando responder e concretizar a reflexão crítica face ao objeto de estudo.
Sexualidade das pessoas idosas
Tendo em conta os testemunhos recolhidos junto de profissionais, foi notória uma ausência de reflexão sobre o desejo sexual e direitos de expressão sexual das pessoas idosas nas instituições, o que constrange a prática da sexualidade, consequência da perda de autonomia e privacidade (Diane RICHARDSON, 2000; Kathine SILVA; Jamile MIRANDA; Jaciara SILVA, 2018). A visão das profissionais sobre a sexualidade é compreendida através do seu conceito abrangente, ou seja, é vista segundo os cinco sentidos que se podem expressar através do corpo, da mente, dos afetos, da ação e da compreensão (COSTA; NETO, 2010).
“Claramente que uma institucionalização é uma limitação ao exercício ou à prática da nossa sexualidade.” (E1); “[A Sexualidade] faz parte do ser humano em todas as fases da sua vida e, portanto, é extremamente importante, de acordo com as necessidades de cada residente.” (E2).
A pessoa idosa tem o direito de desfrutar da sua vida sexual, pois no processo de envelhecimento não perde o desejo sexual. Alguns discursos mais marcados por preconceitos sociais reprimem o exercício e a expressão da sua sexualidade (DEBERT; BRIGEIRO, 2012). Sendo este um tema tabu na maioria das sociedades (Marta COSTA; NETO, 2010), torna-se, em alguns casos, difícil para as pessoas idosas expressarem a sua opinião, devido à esfera sexual ser considerada um assunto íntimo.
“Os exercícios da prática da nossa sexualidade ficam obviamente mais limitados à medida que o envelhecimento ocorre. Não só pela forma como eu perceciono o meu corpo, o corpo do outro ou enfim, a viuvez que surge ou, sei lá, o isolamento social.” (E1).
“Eu não tenho muito que falar sobre isso, até mesmo porque eu não sou contra. Eu acho que se os dois são lúcidos e se darem bem então eu acho que não há problema.” (E6).
Outro ponto de reflexão sobre este tema realçado pelas profissionais entrevistadas centra-se nas grandes alterações físicas (Sara QUEIROGA; Sara Isabel MAGALHÃES; Conceição NOGUEIRA, 2018) e cognitivas das pessoas idosas no que se refere à sexualidade. De acordo com vários estudos, os problemas cognitivos nas pessoas idosas podem levar a uma alteração na expressão da sexualidade, sendo que, em alguns casos, confundem o espaço privado com o público, o que fomenta comportamentos inapropriados que, em muitos casos, se tornam difíceis de gerir (Lígia FERROS, 2005; Gabriele CIPRIANI et al., 2015; Ana SENRA, 2013).
“Em comportamentos, no dia a dia, em comportamentos, às vezes, que nós consideramos ou podemos considerar desajustados, pois elas ocorrem não só no âmbito da sua privacidade, mas perdem a noção e às vezes até em grupo, no salão.” (E1).
Tendo em conta a perspetiva de Meredith Wallace e Meredith Safer (2009), estes comportamentos sexuais disruptivos ocorrem de forma mais incisiva em instituições onde os/as profissionais não estão formados/as ou capacitados/as nesta área.
Competências profissionais e formação académica na abordagem à sexualidade das pessoas idosas
As aparentes fragilidades na formação académica e na capacitação para as sexualidades por parte de profissionais que trabalham com pessoas idosas em contexto institucional foram percetíveis através dos discursos das profissionais entrevistadas. Em contrapartida, ainda que não exista uma abordagem contínua nas práticas profissionais das/os técnicas/os auxiliares, um dos testemunhos ressaltou que a sexualidade nas pessoas idosas é um tema esquecido nestas instituições, reconhecendo a necessidade e a pertinência para o trabalho de reflexão e de intervenção das/os profissionais desta área. Aqui, aponta-se para o facto de as formações desenvolvidas na área da Geriatria focarem-se muito nos cuidados primários: “Nós geralmente temos formações, mas enquanto estive cá, não houve nenhuma sobre esse âmbito... foi de primeiros-socorros, de saúde, manual de terceira idade, nenhuma nesse âmbito, por enquanto.” (E3).
Esta aparente lacuna de formação sobre o tema da sexualidade nos/as profissionais que trabalham em instituições para pessoas idosas pode desencadear baixos níveis de tolerância e compreensão que, em alguns casos, se transformam em atitudes agressivas ou punitivas com a expressão sexual das pessoas idosas (SENRA, 2013), reconhecendo, assim, a influência que esta fragilidade tem nas atitudes destes/as profissionais em relação à sexualidade das pessoas idosas.
É uma questão de sensibilização para essas questões que, às vezes, ficam esquecidas. Pensa-se que os idosos não têm sexualidade, não têm direito ao exercício de, ou não têm vontade ou não têm. [...] Tem que ser anulada e não, ela tem que ser trabalhada. Não é anulada, porque ela está lá. (E1).
Com isto, compreende-se a relevância de desenvolver um plano formativo para profissionais em contexto institucional para pessoas idosas, no sentido de que o trabalho desenvolvido com as mesmas tenha em conta todas as suas necessidades.
Envelhecimento LGBTQIA+
Como defendido amplamente em estudos sobre envelhecimento e diversidade sexual (SANTOS, 2023), o envelhecimento LGBTQIA+ apresenta diferenças em relação ao envelhecimento heterossexual. Neste ponto, a maioria dos discursos das entrevistadas em causa revela uma falta de consciência das diferenças e, mesmo quando têm, não conseguem posicionar-se em relação aos possíveis constrangimentos vividos por uma pessoa idosa LGBTQIA+.
Esta dimensão leva-nos a reconhecer, através dos discursos recolhidos e analisados, que na prática profissional há uma grave ausência de reflexão sobre a realidade LGBTQIA+ no envelhecimento, estando este setor profissional muito permeável a preconceitos pré-estabelecidos associados à idade que invisibilizam a diversidade sexual e de género no envelhecimento. Estas perceções levam também a identificar fragilidades acentuadas na formação nas áreas da Geriatria e Gerontologia, o que potencia o risco de exclusão social das pessoas idosas LGBTQIA+: “Não, é tudo igual. Somos todos iguais? Cada um tem a sua opção. É tudo igual.” (E4); “Não, não. Eu nunca pensei sobre isso. Aliás eu nem sou preconceituosa nesse aspeto. Mas por acaso, nunca pensei e nunca falamos disso.” (E5).
Por conseguinte, num dos discursos obtidos em entrevista, a profissional da direção técnica admite a ausência de investimento sobre a reflexão neste tema. Assim, compreende-se que as pessoas idosas LGBTQIA+ são confrontadas com um duplo estigma interseccional, composto pelo facto de a pessoa envelhecer e pela sua orientação sexual, identidade de género, expressão de género e/ou características sexuais ser/serem fora do padrão social.
O que pode ser ou não diferente é que ser idoso já é um estigma, infelizmente. Envelhecer é ficar fora do padrão. E então eu acho que, embora envelheçamos todos da mesma maneira possivelmente alguém com uma orientação sexual diferente pode se sentir duplamente fora, colocada de parte, duplamente colocada. (E1).
Não se assumem por isso mesmo, porque o passado foi tão mau para se assumirem... (E4).
... quando chegaram ao envelhecimento voltaram-se a esconder? (I).
Não, se calhar nunca se assumiram e por isso também não vai ser no envelhecimento que se vão assumir, porque a situação foi má e não vão achar que, não vai ser por estarem velhinhos que vão ser mais agradáveis com eles por eles virem-se assumir nessa altura. Se sempre se assumiram acho que têm uma vida normalíssima como têm os outros. (E4).
Esta realidade de duplo preconceito para com as pessoas idosas LGBTQIA+ leva a que, em alguns casos, haja a necessidade de esconder a idade e a sua orientação sexual, identidade de género, expressão de género e/ou caraterísticas sexuais, de maneira a não serem vítimas de atitudes preconceituosas (marcadas pelo idadismo e LGBTfobia) e aos vários tipos de violências (SANTOS, 2023; SANTOS, 2021a; 2021b; José SANTOS; Ludgleydson ARAÚJO; Fauston NEGREIROS, 2018).
Institucionalização das pessoas idosas LGBTQIA+
Na sequência do ponto anterior, foi possível compreender que as profissionais de ação-direta apresentam uma maior dificuldade de reflexão e interpretação, seguindo-se de contributos e perspetivas de senso comum, o que aparenta ser resultado do escasso conhecimento teórico e científico sobre a realidade LGBTQIA+ no envelhecimento. Já as profissionais de direção técnica demonstraram uma maior conscientização sobre o tema e, consequentemente, dos constrangimentos das pessoas idosas de assumirem a sua orientação sexual, identidade de género, expressão de género e/ou caraterísticas sexuais.
Sim, mas a nível de interesse. Imaginemos, um senhor gostar de um senhor, nunca... (I).
Nunca falamos sobre isso. (E5).
Nunca houve essa perceção de que pode haver um idoso a gostar de um idoso... (I).
Nunca se falou sobre isso. (E5).
E porque acha que nunca se falou sobre isso? (I).
Aí, eu não sei te responder a isso. Eu acho que não. Eu não sei. Eu acho que não. Eu acho que ele não vai ter essa dificuldade. Eu acho que não. (E6).
Neste seguimento, de forma a compreender, tendo em conta as perceções das profissionais, quais os possíveis desafios vividos por uma pessoa LGBTQIA+ numa instituição residencial para pessoas idosas, foi fundamental criar um cenário de possibilidade de uma pessoa LGBTQIA+ residir na instituição para qual cada profissional trabalhava. Com este exercício, emergiu uma fragilidade por parte dos/as profissionais no processo de integração de residentes LGBTQIA+, decorrente da pouca informação e formação sobre a realidade LGBTQIA+ no envelhecimento. Para além disto, no processo de integração de pessoas idosas salienta-se, também, a possível dificuldade no desenvolvimento da relação entre pares (ou seja, com outras pessoas residentes).
Eu acredito que a maior parte dos residentes que nós temos pela idade que têm, possivelmente não era tão comum assumir ainda a diferença. Portanto a diferença, os seus gostos ou a sua identidade. Se ocorreu, houve uma tentativa ao longo da vida de esconder e de manterem uma fachada ou casando, tomando opções mais consideradas no padrão. […]. (E1).
Judite Silva (2018) reconhece que, em muitos casos, devido à fragilidade das instituições no que concerne a esta realidade, as pessoas idosas na sua integração na instituição têm a necessidade de “voltar ao armário”, escondendo a sua orientação sexual, identidade de género, expressão de género e/ou caraterísticas sexuais. Estas circunstâncias surgem da desinformação e da ausência de capacitação de profissionais nas instituições, que, não estando sensibilizados/as para esta realidade, podem promover práticas de marginalização através de discursos ou atitudes LGBTfóbicas para com as pessoas idosas institucionalizadas (FURLOTTE et al., 2016).
Espero bem que não, daí a necessidade de estar informada e de... porque efetivamente do serviço que prestamos a personalização também passa um bocadinho por conhecermos bem a pessoa e perceber as suas necessidades e nesse contexto, faz todo o sentido estarmos bastante informados. (E2).
Para terminar esta reflexão, partindo do discurso das entrevistas recolhidas, percebe-se que as profissionais têm consciência de que as pessoas idosas LGBTQIA+ podem sofrer de vários tipos de violências nas instituições, nomeadamente a negligência, a discriminação, o stress físico/emocional e violência (física e emocional). Esta realidade vem sendo confirmada por estudos anteriores (José Alberto GONÇALVES; Pedro COSTA; Isabel LEAL, 2018; MEYER, 2012).
Considerações finais
Há um conjunto de reflexões resultantes deste trabalho que demonstram a necessidade de um olhar atualizado por parte das ciências sociais que reconheça a heterogeneidade do envelhecimento (Constança PAÚL; Óscar RIBEIRO, 2012). O envelhecimento apresenta-se como uma realidade específica, com dinâmicas que exigem uma análise mais holística, sobretudo nas questões da orientação sexual, identidade de género, expressão de género e caraterísticas sexuais de cada pessoa, sendo fundamental criar um espaço de ferramentas e contributos que ultrapassem os constrangimentos do conhecimento hegemónico sobre esta área (HENNING, 2017).
O estudo que desenvolvemos primou pelo olhar sobre o envelhecimento LGBTQIA+ sob o contexto profissional institucional em Portugal, sendo esta uma resposta social antiga, que surge desde os asilos ao cuidado da igreja (Luís JACOB, 2017), e que se tem vindo a alterar ao longo dos anos. De acordo com Jacob (2017), a nível nacional, a institucionalização é vista como uma resposta social de apoio ao nível de infraestruturas e serviços, através da prestação de serviços de acolhimento e/ou tratamento em instituições especializadas para o efeito (JACOB, 2017). Importa perceber que durante o processo de institucionalização ocorrem, portanto, vários fatores que podem potenciar uma relação positiva e de qualidade da pessoa idosa com este contexto social, tendo em conta o envolvimento da família, o processo de integração, as relações sociais com pares, a qualidade de serviços e a relação com os/as profissionais da instituição (Fernando PEREIRA, 2017; Hélder FERNANDES, 2013).
Partindo destas premissas conceptuais, esta investigação procurou analisar perspetivas profissionais no âmbito da institucionalização de pessoas idosas, ao mesmo tempo que perspetivou compreender que perceções e abordagens, por parte de instituições e profissionais, existem no que concerne à sexualidade nas pessoas idosas e às questões LGBTQIA+ no envelhecimento.
Assim sendo, os discursos teóricos analisados confirmam o tabu em relação à sexualidade das pessoas idosas, promotor de exclusão social, ainda ligado a uma ideia sobre as pessoas idosas como sendo assexuais e/ou hipersexualizadas (ALMEIDA; LOURENÇO, 2009; Daniela SEMANAS, 2014). Para além disto, a literatura específica alerta para a conceção social de que as pessoas idosas, só pelo fator da idade, são alvo de discursos idadistas e gerontofóbicos (Carla SERRÃO, 2008), vendo-se assim limitadas na sua autodeterminação e agência, o que, consequentemente, influencia negativamente a autoestima, a autoconfiança ou até o seu desempenho físico e social (ALMEIDA; LOURENÇO, 2009).
O foco principal da investigação centrou-se nas questões LGBTQIA+ no envelhecimento em contexto institucional à luz das competências profissionais em Portugal. Deste modo, percebeu-se que, sendo esta uma realidade estereotipada e preconceituosa vivida pelas pessoas idosas (SERRÃO, 2008), tem uma influência ainda mais acentuada nas pessoas idosas LGBTQIA+ (SALGADO et al., 2017). Por outras palavras, trata-se de uma realidade afetada por um duplo estigma, mediante o qual as pessoas idosas veem como necessário manter ou regressar ao armário que esconde a sua orientação sexual (MEYER, 2012; SANTOS; ARAÚJO; NEGREIROS, 2018).
Na realidade institucional portuguesa, um dos maiores constrangimentos das pessoas idosas LGBTQIA+ é a dificuldade de integração que, consequentemente, influencia todo o processo de relação com a instituição. A formação das equipas profissionais neste âmbito apresenta uma fragilidade na formação, tanto por parte dos membros da direção técnica, como das auxiliares de ação-direta, o que parece influenciar a abordagem à sexualidade durante a prática profissional. Com esta investigação, tornou-se visível uma evidente lacuna na formação destas profissionais que, na maioria das vezes, parece potenciar comportamentos de incompreensão sobre as atitudes e práticas sexuais das pessoas idosas, podendo até promover momentos de desconforto e stress para os/as vários/as atores/atrizes sociais.
Nesta perspetiva, procurando refletir sobre caminhos futuros visando dar resposta às fragilidades no contexto profissional português em torno do envelhecimento LGBTQIA+, sugerem-se seguidamente algumas linhas de intervenção.
Assim sendo, proporcionando a reflexão e a conscientização sobre a realidade sexual das pessoas idosas e esperando, portanto, contribuir para o conhecimento da expressão do comportamento sexual em geral e, em particular, das pessoas idosas, considera-se fundamental pensar sobre a elaboração de um plano de desenvolvimento de competências formativas profissionais em torno do tema.
Para além disto, compreende-se também a necessidade de as instituições desenvolverem um plano de intervenção educativo com profissionais e com as pessoas idosas residentes, desenvolvendo competências de inclusão e prevenindo e reduzindo o risco de exclusão social das pessoas idosas LGBTQIA+, num trabalho que vise combater o duplo estigma vivido pelas pessoas idosas LGBTQIA+.
Dada a centralidade do envelhecimento nas sociedades contemporâneas, este torna-se um tema emergente nas ciências sociais e, mais especificamente, nas Ciências da Educação enquanto campo de investigação que se deve destacar por intenções e pelas estratégias em prática (Raquel RODRIGUES MONTEIRO, 2010). Nesta perspetiva, sugere-se que este tema constitua um foco de trabalho de investigação no campo das Ciências da Educação e das Ciências Sociais em geral, nas suas diversas disciplinas, como a Gerontologia Social, a Sociologia, a Psicologia, entre outras, para que novos discursos, perspetivas e contributos ajudem a criar um quadro teórico sustentado, interdisciplinar e interseccional.
Como procurámos recordar no presente artigo, o processo de integração de uma pessoa idosa acarreta impactos assinaláveis na sua vida. Com o objetivo de garantir que este processo é feito de forma gradual e positiva, sublinha-se a necessidade de um acompanhamento individual especializado por parte de técnicos/as capacitados/as para o efeito, principalmente na integração das pessoas idosas LGBTQIA+.
Nesta investigação deu-se conta de outra lacuna, neste caso, face aos conteúdos programáticos em torno deste tema, o que se reflete na necessidade de consultar os planos de formação dos cursos de Geriatria e Gerontologia em Portugal, reconhecendo quais as suas fragilidades, desenhando e propondo conteúdos que promovam a cidadania sexual e a conscientização da diversidade no âmbito da orientação sexual, identidade de género, expressão de género e caraterísticas sexuais. Tudo isto para que, na prática, os/as profissionais possam prevenir e combater situações de violência, repulsa e discriminação dentro das instituições.
Noutra perspetiva, compreende-se a necessidade de trabalhar em prol da diminuição dos preconceitos e violências estruturais para com pessoas idosas LGBTQIA+. Sendo assim, sugere-se o desenvolvimento de programas e projetos de prevenção primária de violências para com as pessoas idosas LGBTQIA+, tornando o tema visível em contextos de educação e educativos, tanto em espaços formais (escolas), como em espaços não formais (projetos comunitários, entre outros). Como exemplo de projeto de prevenção primária da violência de género nas escolas, pode-se mencionar o projeto Art’themis+, que tem como objetivos a Promoção de Direitos Humanos e a Igualdade de Género em jardins de infância, escolas ou agrupamentos do 1º, 2º, 3º ciclo e ensino secundário.
Numa reflexão sobre o percurso desenvolvido, reconhece-se a necessidade de pautar que as 8 entrevistas realizadas para o estudo não explanam a realidade geral dos contextos das instituições das pessoas idosas em Portugal, percebendo-se que estas apenas permitiram demonstrar quais as conceções e considerações daquelas realidades, partindo do objeto de estudo. Para além disto, o contributo das pessoas idosas institucionalizadas sobre o objeto de estudo permitiria perspetivar a realidade LGBTQIA+ nas pessoas idosas, tendo em conta as vozes da faixa etária que a presente investigação envolve. A falta de envolvimento das pessoas idosas nesta investigação decorre do período de tempo disponibilizado para o desenvolvimento do estudo em causa, sendo nossa intenção aprofundar futuramente o estudo desta realidade a partir da perspetiva das pessoas idosas LGBTQIA+.
Para finalizar, queremos ainda sublinhar a necessidade de proceder a um levantamento e análise sobre sexualidade e temas LGBTQIA+ à escala nacional nos planos de estudos dos cursos de Gerontologia e Geriatria e cursos afins, nos diferentes níveis de formação do ensino superior, como também o levantamento dos diferentes conteúdos programáticos das formações profissionais no âmbito da Geriatria em particular. A investigação nesta área assume-se, portanto, como um passo fundamental na tarefa urgente de desenhar conteúdos de formação direcionados para os vários espaços educativos, nomeadamente escolas profissionais, ensino superior, empresas e centros de formação.
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1
Como refere Anthony Giddens, “A identidade de uma pessoa não se encontra no comportamento - por mais importante que seja - na relação dos outros, mas na capacidade de manter em andamento uma narrativa particular” (GIDDENS, Anthony. Modernidade e Identidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003. p. 55-56).
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2
Informação disponível em https://www.best4older-lgbti.org/ (Consultada a 6 de junho de 2022).
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3
Segundo o site oficial da Opening Doors London (ODL), esta “é a maior instituição de caridade britânica que fornece actividades, eventos, informação e serviços de apoio especificamente para lésbicas, gays, bissexuais, trans, queer, não binários ou fluidos de género (LGBTQ+) com mais de 50 anos”. Disponível em https://www.openingdoorslondon.org.uk/. Acesso em 22/12/2020.
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4
Este quadro integra a tese de Luís Maia (2010) (LGBTQIA+ e Envelhecimento: Perspetivas e Conceções de Profissionais em Contexto Institucional. Mestrado em Ciências da Educação (Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação) - Universidade do Porto, Porto, Portugal.
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Como citar esse artigo de acordo com as normas da revista:
MAIA, Luís; RODRIGUES, Raquel; SANTOS, Ana Cristina. “Envelhecimento LGBTQIA+: auscultando profissionais em contexto institucional”. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 32 n. 2, e93169, 2024
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Financiamento:
Luís Maia: Fundação para a Ciência e Tecnologia (ref. nº PTDC/SOC-ASO/31027/2017). Raquel Rodrigues: Programa estratégico do Centro de Estudos Filosóficos e Humanísticos (CEFH), da Faculdade de Filosofia e de Ciências Sociais (UID/FIL/00683/2022). Ana Cristina Santos: Fundação para a Ciência e Tecnologia ao projeto REMEMBER: Vivências de Pessoas LGBTQ Idosas no Portugal Democrático (referência nº PTDC/SOCASO/4911/2021). Esta publicação beneficiou ainda da reflexão possível a partir do projeto TRACE, financiado pelo European Research Council (ERC-2021-COG, TRACE, 101044915)
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Consentimento de uso de imagem:
Não se aplica
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Aprovação de comitê de ética em pesquisa:
Aprovado pela Comissão de Ética da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
05 Ago 2024 -
Data do Fascículo
2024
Histórico
-
Recebido
28 Fev 2023 -
Revisado
12 Set 2023 -
Aceito
28 Mar 2024