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Sobre a curva de Phillips: uma resposta

About the Phillips Curve: A Response

RESUMO

Esta é uma resposta ao trabalho de Vellutini (1985, publicado nessa edição) sobre o debate em andamento das políticas de controle da inflação no Brasil.

PALAVRAS-CHAVE:
Inflação; estabilização

ABSTRACT

This is a response to a piece by Vellutini (1985, published in this edition) in an ongoing debate on the inflation control policies in Brazil.

KEYWORDS:
Inflation; stabilization

No competente comentário de Roberto de Arnaldo Silva Vellutini ao nosso artigo “Política administrativa de controle de inflação”, o autor concorda basicamente com as teses substantivas ali desenvolvidas.

Os reparos referem-se a detalhes técnicos ou explicitam alguns aspectos analíticos. O primeiro ponto se refere ao fato de a curva de Phillips relacionar taxa de variação da taxa de salário e não variação absoluta de salário, com nível percentual de desemprego. Obviamente, este também foi sempre o nosso entendimento e utilizamos o ponto em cima de uma letra representando uma variável (no caso, w) como variação relativa no tempo e não variação absoluta. Assim, da mesma forma que w simboliza taxa de variação da taxa de salário nominal, p se refere à taxa de variação dos preços, ou seja, à taxa de inflação.

Se em algum momento a expressão “taxa de” não apareceu explicitamente acompanhando a palavra “variação”, ela estava subentendida.

O segundo comentário se refere ao formato da curva de Phillips. Concordamos plenamente que a inclinação da curva é uma questão empírica. As nossas observações de que uma política anti-inflacionária de administração da demanda agregada é mais eficiente quando o nível de desemprego é menor, ou seja, quando se está próximo à faixa de pleno emprego, representam um consenso entre inúmeros economistas que, desde o trabalho pioneiro de Phillips (1958PHILLIP S. A. W. “The relationship between unemployment and the rate of change of money wage rates in the United Kingdom, 1861-1957”, Económica, 25: 283-99, 1958.), têm-se debruçado sobre a questão. Em outras palavras, praticamente todos os estudos empíricos concordam que a relação entre taxa de variação da taxa de salário w (abcissa) e taxa de desemprego d (ordenada), mantidas constantes as demais variáveis, pode ser representada por uma curva que cai continuamente e com inclinação cada vez menor da esquerda para a direita. Além disso, a inclinação da curva de Phillips, quando não se inverte como acontece em certos casos (ver parágrafo seguinte), pode ser muito menor em determinadas economias do que em outras. Em uma economia com altas taxas de subemprego como a brasileira, é de esperar empiricamente uma baixa elasticidade da taxa de variação dos salários nominais (e de inflação) em relação ao aumento do desemprego. No Gráfico 1 temos duas curvas de Phillips. Ambas reduzem sua inclinação da esquerda para a direita, tornando menos eficiente o combate à inflação via recessão à medida que aumenta o desemprego. Além disso, como a curva B é menos inclinada que a A, se prevalecer B a política recessiva será ainda menos eficiente.

Gráfico 1
Curvas de Phillips

O terceiro ponto se refere à inexistência da inflexão da curva de Phillips que resultaria do aumento das margens de lucro das empresas oligopolistas a níveis elevados de desemprego. Aqui também, em princípio, não há discordância quanto à questão substantiva de que “não há razão em uma economia oligopolizada e com elevados índices de desemprego e capacidade ociosa, para manter a correlação direta entre variação de salários e variação de preços” (p. 109). A crítica se refere à nossa representação gráfica da relação entre p˙ e d. De fato, a palavra inflexão é inadequada, e o desenvolvimento apresentado pelo nosso comentarista em termos de deslocamentos da curva de Phillips modificada1 1 No texto usamos a expressão curva de Phillips no seu sentido original como a relação entre w e d e não entre p e d. explicita claramente todos os passos analíticos implícitos no nosso texto.

Ali afirmamos que “para simplificação” suporíamos que a correlação direta entre taxa de variação de salário e nível de desemprego existia até certo nível de desemprego e que, a partir desse ponto, ela deixaria de existir. No Gráfico I do artigo isso foi representado por uma linha pontilhada, pois estávamos cientes de que se tratava de uma simplificação. Não há nenhuma dúvida de que a representação adequada é a Figura I do comentário em que a curva de Phillips modificada (relação p˙-d) se desloca com a variação na margem de lucro.

O último comentário se refere ao deslocamento da curva de Phillips pelo fato de os trabalhadores lograrem a indexação dos salários devido ao seu poder político e sindical. Aqui, o nosso comentarista comete um equívoco, pois a curva de Phillips, no nosso texto, se refere à relação (6):

w ˙ = a + b d - 1 + c p ˙ + w ˙ a

onde c é o coeficiente de indexação e wa representa a taxa de variação autônoma dos salários devida ao poder de barganha dos sindicatos. Nessa equação, uma mudança no coeficiente de indexação provoca deslocamento na curva de Phillips.

O comentarista tem razão de que na sua equação (8), que relaciona a taxa de inflação com seus determinantes d e w˙a' a mudança no coeficiente de indexação provoca uma rotação dessa curva sobre si mesma.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

  • PHILLIP S. A. W. “The relationship between unemployment and the rate of change of money wage rates in the United Kingdom, 1861-1957”, Económica, 25: 283-99, 1958.
  • 1
    No texto usamos a expressão curva de Phillips no seu sentido original como a relação entre w e d e não entre p e d.
  • JEL Classification: E31.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Set 2024
  • Data do Fascículo
    Jul-Sep 1985
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