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Recuperar a capacidade de investimento da economia brasileira para garantir o desenvolvimento

Resume the investment capacity of the economy to guarantee the development

Resumo

A gradual abertura da economia brasileira com a consequente maior exposição ao mercado internacional, a revisão do papel do Estado, assim como o processo de desregulamentação exigem uma nova postura em face desses aspectos. A necessidade de propiciar as condições mínimas necessárias para a recuperação dos investimentos na economia brasileira se mostra crucial num cenário de modernização e competitividade. Isso exige a combinação de políticas macroeconômicas que incentivem esse processo assim como a ação individual dos agentes no sentido da busca de melhora do padrão de qualidade e produtividade.

Palavras-chave:
Taxa de investimento; crescimento econômico

Abstract

The gradual opening of the Brazilian economy with the consequent greater exposure to the international market, the review of the role of the State, as well as the deregulation process require a new stance in face of these aspects. The need to provide the minimum conditions necessary for the recovery of investments in the Brazilian economy is crucial in a scenario of modernization and competitiveness. This requires the combination of macroeconomic policies that encourage this process as well as the individual action of the agents in the sense of seeking to improve the standard of quality and productivity.

Keywords:
Investment rate; economic growth

Uma das consequências mais evidentes do quadro de instabilidade macroeconômica presente na economia brasileira nos últimos anos é a substancial queda observada nas taxas de investimento agregado.

A preços de 1980, a participação dos investimentos no PIB, medida pela Formação Bruta de Capital Fixo, caiu da média de 23,3% nos anos 70, para 17,6% nos anos 80. Em 1990 e 1991, houve nova queda, para o patamar de 16%, e os resultados preliminares de 1992 mostram que essa taxa dificilmente superará os 15%, significando o nível mais baixo dos últimos anos (Gráfico 1).

As razões da queda na taxa de investimentos estão diretamente relacionadas à instabilidade gerada pelos desequilíbrios macroeconômicos da nossa economia. A crise dos anos 80 significou um ponto substancial, destacando-se os seguintes aspectos:

  1. a crise de financiamento, gerada pelos desequilíbrios do setor público;

  2. o aumento da inflação, dificultando o cálculo econômico;

  3. a escassez de canais de financiamento e a elevação dos juros reais;

  4. a consequente elevação do risco na atividade econômica.

Paralelamente a esses fatores ocorreram outros diretamente a eles relacionados, como por exemplo o aumento dos preços dos bens de capital relativamente à inflação média, encarecendo os investimentos. A questão da tributação não só penalizou os investimentos, como encareceu o custo de oportunidade, através da sua incorporação aos juros.

Consequentemente, em razão da combinação desses fatores, houve uma generalizada redução de investimentos públicos e privados. Os investimentos das estatais federais, por exemplo, que tradicionalmente representaram papel importante na economia brasileira e respondiam por cerca de 5% do PIB no final dos anos 70 e começo dos 80, foram se reduzindo no decorrer dos anos, representando apenas 1,5% do PIB em 1990 e em 1991.

Na área privada, os investimentos estrangeiros que apresentavam um fluxo positivo ao longo das últimas décadas, também se reduziram, principalmente a partir da segunda metade dos anos 80. Isso, fruto não só dos desequilíbrios macroeconômicos já citados, mas também das políticas protecionistas adotadas como a reserva de mercado na informática, por exemplo.

Outro aspecto muito importante aliado a essa questão é que, além da queda quantitativa observada nos investimentos, verificou-se uma deterioração qualitativa no processo. Esse fato pode ser detectado pelo aumento da participação dos investimentos em construção civil, em detrimento do item máquinas e equipamentos, particularmente os importados.

A participação do item máquinas e equipamentos que chegou a representar quase 40% do total na média dos anos 70, foi se reduzindo ao longo dos anos: 31% na média do período 81/86, e apenas 27% na média do período 87/91 (Gráfico 2).

Da mesma forma, reduziu-se a participação dos itens importados, de 5,7% na média de 76/80, para 3% do total nos últimos três anos.

Como consequência desse quadro de redução quantitativa e qualitativa dos investimentos, temos uma séria restrição à retomada do desenvolvimento econômico. A insuficiência da infraestrutura e o atraso do parque industrial representam entraves ao processo, não obstante a existência de relativo grau de ociosidade na indústria. A obsolescência técnica dos equipamentos minimiza a produtividade da capacidade hoje não utilizada.

Adicionalmente aos fatores já apontados, a condição de mercado também representou um aspecto desencorajador de investimentos em atualização tecnológica nas últimas décadas: a combinação de um quadro inflacionário crescente com a possibilidade de um mercado cativo, devido à pouca exposição internacional, representou um cenário pouco propício à busca de produtividade e ao seu repasse ao consumidor final.

A gradual abertura da economia brasileira com a consequente maior exposição ao mercado internacional, a revisão do papel do Estado, assim como o processo de desregulamentação exigem uma nova postura em face desses aspectos. A necessidade de propiciar as condições mínimas necessárias para a recuperação dos investimentos na economia brasileira se mostra crucial num cenário de modernização e competitividade. Isso exige a combinação de políticas macroeconômicas que incentivem esse processo assim como a ação individual dos agentes no sentido da busca de melhora do padrão de qualidade e produtividade.

Gráfico 1
Investimentos em FBKF (em % do PIB)

Gráfico 2
Composição dos investimentos em FBKF

  • 1
    JEL Classification: E22; O40.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    26 Maio 2023
  • Data do Fascículo
    Jan-Mar 1994
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