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Padrões alimentares de crianças moradoras de favelas e fatores associados: um estudo transversal, 2019-2022

RESUMO

Objetivo

Identificar padrões alimentares e analisar fatores associados ao perfil de consumo de crianças em vulnerabilidade social, Maceió, Alagoas, Brasil, agosto/2019-dezembro/2021.

Métodos

Estudo transversal; coletaram-se variáveis sociodemográficas, antropométricas e de consumo alimentar, identificaram-se padrões alimentares por análise fatorial; analisaram-se associações mediante regressão de Poisson.

Resultados

Das 567 crianças estudadas, identificaram-se dois padrões alimentares, saudável e não saudável; idade ≥ 24 meses (RP = 2,75; IC95% 1,83;4,14), sexo masculino (RP = 0,66; IC95% 0,49;0,87) e escolaridade materna ≤ 9 anos (RP = 0,61; IC95% 0,46;0,81) associaram-se ao padrão saudável; o padrão não saudável foi maior em idade ≥ 24 meses (RP = 1,02; IC95% 1,01;1,03) e sexo masculino (RP = 1,46; IC95% 1,08;1,98).

Conclusão

Padrão saudável mais frequente em crianças ≥ 24 meses, menos frequente no sexo masculino e em mães de menor escolaridade; crianças ≥ 24 meses e do sexo masculino apresentaram maior prevalência do padrão não saudável.

Palavras-chave
Padrões Alimentares; Consumo Alimentar; Saúde da Criança; Vulnerabilidade Social; Estudos Transversais

ABSTRACT

Objective

To identify dietary patterns and analyze factors associated with the consumption profile of socially vulnerable children, Maceió, state of Alagoas, Brazil, August 2019 to December 2021.

Methods

This was a cross-sectional study; sociodemographic, anthropometric and food consumption variables were collected, factor analysis was used to identify dietary patterns; associations were analyzed using Poisson regression.

Results

Among the 567 children studied, two dietary patterns were identified, healthy and unhealthy; age ≥ 24 months (PR = 2.75; 95%CI 1.83;4.14), male gender (PR = 0.66; 95%CI 0.49;0.87) and maternal schooling ≤ 9 years (PR = 0.61; 95%CI 0.46;0.81) was higher in the healthy pattern; the unhealthy pattern was associated with age ≥ 24 months (PR = 1.02; 95%CI 1.01;1.03) and male gender (PR = 1.46; 95%CI 1.08;1.98).

Conclusion

The healthy pattern was more frequent in children aged ≥ 24 months, less frequent in male children and mothers with low level of schooling; children aged ≥ 24 months and males showed a higher prevalence of the unhealthy pattern.

Keywords
Dietary Patterns; Food Consumption; Child Health; Social Vulnerability; Cross-sectional studies

RESUMEN

Objetivo

Identificar hábitos alimentarios de niños socialmente vulnerables y analizar su relación con factores vinculados al perfil de consumo de Maceió, Alagoas, Brasil.

Métodos

Estudio transversal de base poblacional llevado a cabo de agosto de 2019 a diciembre de 2021; se recogieron variables sociodemográficas, antropométricas y de consumo de alimentos, los patrones alimenticios se identificaron mediante análisis factorial; las asociaciones se analizaron mediante regresión de Poisson.

Resultados

De los 567 niños estudiados se identificaron dos hábitos de alimentación, “saludable” y “no saludable”; edad ≥ 24 meses (RP = 2,75; IC95% 1,83;4,14), sexo masculino (RP = 0,66; IC95% 0,49;0,87) y educación materna ≤ 9 años (RP = 0,61; IC95% 0,46;0,81) se asociaron al patrón “saludable”; el patrón “no saludable” se asoció con la edad ≥ 24 meses (RP = 1,02; IC95% 1,01;1,03) y el sexo masculino (RP = 1,46; IC95% 1,08;1,98).

Conclusión

El patrón “saludable” fue más frecuente en niños ≥ 24 meses y menos frecuente en niños varones y madres con menor educación; los niños de ≥ 24 meses y los varones tuvieron una mayor prevalencia del patrón “no saludable”.

Palabras clave
Patrones Alimentarios; Consumo de Alimentos; Salud de los Niños; Vulnerabilidad Social; Estudios Transversales

Contribuições do estudo

Principais resultados

Foram definidos dois padrões alimentares, saudável e não saudável, aos quais se associaram o sexo masculino, a idade ≥ 24 meses e a escolaridade da mãe ≤ 9 anos de estudo.

Implicações para os serviços

Os dados do estudo podem auxiliar profissionais de saúde dedicados aos serviços de atenção básica, como nutricionistas, no planejamento de intervenções para a promoção de hábitos alimentares infantis saudáveis.

Perspectivas

Estudos prospectivos com essas populações são necessários para avaliar a causalidade das associações encontradas neste estudo, visando ao planejamento de ações de saúde pública mais efetivas.

INTRODUÇÃO

Padrão alimentar é definido como um conjunto de alimentos frequentemente consumidos, com base na alimentação habitual, haja vista as pessoas não consumirem apenas nutrientes ou alimentos isolados.11 Cunha CML, Canuto R, Rosa PBZ, Longarai LS, Schuch I. Associação entre padrões alimentares com fatores socioeconômicos e ambiente alimentar em uma cidade do Sul do Brasil. Cien & Saúde Colet. 2022; 27(2):687-700. DOI: 10.1590/1413-81232022272.37322020,22 Krieger JP, Pestoni G, Cabaset S, Brombach C, Sych J, Schader C, Faeh D, Rohrmann S. Dietary patterns and their sociodemographic and lifestyle determinants in Switzerland: results from the National Nutrition Survey menu CH. Nutrients 2018; 11(1):62. Durante a infância, além de fatores comportamentais, características maternas como idade, escolaridade, qualidade de vida, e outras, ademais das implicações do ambiente social em que a família se insere, podem estar associadas aos padrões alimentares, uma vez que a mãe e a família desempenham papel fundamental nos cuidados à criança.33 de Menezes LRD, e Souza RCV, Cardoso PC, dos Santos LC. Factors Associated with Dietary Patterns of Schoolchildren: A Systematic Review. Nutrients. 2023; 15(11):2450. https://doi.org/10.3390/nu15112450
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Países em desenvolvimento, como o Brasil, configuram a desigualdade social enquanto um dos fatores determinantes da insegurança alimentar, entendida como a ausência de acesso da população geral, ou de determinado segmento dela, a uma alimentação adequada.44 BRASIL. Pesquisa de orçamentos familiares 2017-2018: avaliação nutricional da disponibilidade domiciliar de alimentos no Brasil / IBGE, Coordenação de Trabalho e Rendimento. – Rio de Janeiro: IBGE, 2020. Disponível em: https://loja.ibge.gov.br/pof-2017-2018-avaliac-o-nutricional-da-disponibilidade-domiciliar-de-alimentos-no-brasil.html Acesso em: ago. 2020
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Grande parte dos brasileiros vive em vulnerabilidade social, principalmente nos municípios onde os índices de desenvolvimento humano (IDHs) são menores. No Nordeste do país, particularmente no estado de Alagoas, o IDH é de apenas 0,684 e 60,8% dos domicílios apresentam dificuldades de acesso à alimentação.44 BRASIL. Pesquisa de orçamentos familiares 2017-2018: avaliação nutricional da disponibilidade domiciliar de alimentos no Brasil / IBGE, Coordenação de Trabalho e Rendimento. – Rio de Janeiro: IBGE, 2020. Disponível em: https://loja.ibge.gov.br/pof-2017-2018-avaliac-o-nutricional-da-disponibilidade-domiciliar-de-alimentos-no-brasil.html Acesso em: ago. 2020
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O baixo poder aquisitivo das famílias e a baixa escolaridade materna contribuem para o compartilhamento de ambientes insalubres, menor poder de compra de alimentos com valor nutritivo adequado e oferta de itens não saudáveis às crianças.44 BRASIL. Pesquisa de orçamentos familiares 2017-2018: avaliação nutricional da disponibilidade domiciliar de alimentos no Brasil / IBGE, Coordenação de Trabalho e Rendimento. – Rio de Janeiro: IBGE, 2020. Disponível em: https://loja.ibge.gov.br/pof-2017-2018-avaliac-o-nutricional-da-disponibilidade-domiciliar-de-alimentos-no-brasil.html Acesso em: ago. 2020
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,55 Figueroa Pedraza D, Santos EES. Marcadores de consumo alimentar e contexto social de crianças menores de 5 anos de idade. Cad Saúde Colet, 2021;29(2):163-178. https://doi.org/10.1590/1414-462X202129020072
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Pessoas em vulnerabilidade social apresentam condições de pobreza e/ou falta de acesso a direitos básicos para sua sobrevivência, como a segurança alimentar.66 Carmo ME, Guizardi FL. O conceito de vulnerabilidade e seus sentidos para as políticas públicas de saúde e assistência social. Cad Saude Publica 2018; 34(4):1-14. Apesar da relevância do problema, estudos com crianças em vulnerabilidade social ainda são escassos na literatura.77 da Silva Melo, K; Kleres, LGDS; dos Santos, MMD. “Avaliação do estado nutricional e consumo alimentar de pré-escolares e escolares residentes em Caetés-PE.” RBONE-Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento. 2018; 12(76): 1039-1049.,88 Oliveira Brugger, D. “Fatores associados ao consumo alimentar de marcadores saudáveis e não saudáveis em crianças menores de cinco anos.” Rev Med Minas Gerais. 2019; 29: e-2034. Todavia, a avaliação da alimentação infantil e seus fatores associados é importante para o delineamento de uma intervenção precoce diante desse desafio, quando necessária, e para o subsídio de políticas públicas que visem a um desenvolvimento infantil adequado.

Hábitos formados na infância são determinantes para a saúde na vida adulta. Moradores de favelas vivem em vulnerabilidade social e insegurança alimentar, com maior probabilidade de terem uma alimentação não saudável e apresentarem doenças crônicas não transmissíveis na vida adulta.55 Figueroa Pedraza D, Santos EES. Marcadores de consumo alimentar e contexto social de crianças menores de 5 anos de idade. Cad Saúde Colet, 2021;29(2):163-178. https://doi.org/10.1590/1414-462X202129020072
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Estudar esse grupo pode contribuir para a diminuição dos gastos com a atenção primária à saúde e a oferta de um serviço de melhor qualidade, para a população como um todo.77 da Silva Melo, K; Kleres, LGDS; dos Santos, MMD. “Avaliação do estado nutricional e consumo alimentar de pré-escolares e escolares residentes em Caetés-PE.” RBONE-Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento. 2018; 12(76): 1039-1049.

O objetivo deste estudo foi identificar padrões alimentares de crianças em vulnerabilidade social e seus fatores associados.

MÉTODOS

Trata-se de um recorte de estudo transversal, conduzido em favelas de Maceió, capital do estado de Alagoas, Nordeste brasileiro, entre agosto de 2019 e dezembro de 2021, com o objetivo de avaliar o senso de coerência de mães em vulnerabilidade social e sua influência no crescimento linear dos filhos.

Favelas são constituídas de populações carentes de serviços públicos essenciais, e, por conta dessa condição, utilizam diversas estratégias para atender, geralmente de forma autônoma e coletiva, às suas necessidades de moradia e usos associados, diante da insuficiência e inadequação de recursos destinados à garantia do direito cidadão.99 BRASIL. CENSO Características da população e dos domicílios: resultados do universo demográfico, 2010. Rio de Janeiro: IBGE, 2011. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/index.php/biblioteca-catalogo?view=detalhes&id=793 Acesso em: ago. 2018.
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Foram incluídos no estudo 10% das 95 favelas identificadas no Censo Demográfico de 2010 (dados disponíveis no período do estudo), selecionadas aleatoriamente. Todas as mães residentes nessas favelas e que possuíssem pelo menos uma criança com idade entre 6 meses e 5 anos e 11 meses e 29 dias, foram elegíveis. Para minimizar o viés de memória relacionado às informações da criança, caso a mãe possuísse mais de um filho na faixa etária definida, selecionou-se o de menor idade. Foram excluídas do estudo gestantes, mães de filhos nascidos pré-termo ou portadores de deficiência motora, doenças crônicas ou síndromes genéticas que interferissem no crescimento e desenvolvimento.

Os dados foram coletados em visitas domiciliares, por entrevistadores treinados. A emergência da pandemia de covid-19 interrompeu a coleta de dados entre março e novembro de 2020.

Colheu-se a informação do peso da criança ao nascer, mediante consulta à caderneta de vacinação. As demais informações foram coletadas em entrevista com a mãe. Avaliou-se a qualidade de vida materna pelo World Health Organization Quality of Life.1010 Cruz LN, Polanczyk CA, Camey AS, Hoffmann JF, Fleck MP. Quality of life in Brazil: normative values for the Whoqol-bref in a southern general population sample. Qual. life res. 2011; 20(7): 1123–1129. doi: 10.1007/s11136-011-9845-3
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A segurança alimentar foi avaliada pela Escala Brasileira de Insegurança Alimentar,1111 Pérez-escamilla R, Segall-corrêa AM, Maranha LK, Sampaio MFA, Marín-León L, Panigassi G. An Adapted Version of the U.S. Department of Agriculture Food Insecurity Module Is a Valid Tool for Assessing Household Food Insecurity in Campinas. Br J Nutr, 2004; 134(3): 1923–1928. enquanto dados sobre o ambiente sanitário, por meio de questões previstas no protocolo Water, Sanitation and Health.1212 World Health Organization (WHO). Core questions and indicators for monitoring WASH in health care facilities in the Sustainable Development Goals. Joint WHO/UNICEF Expert Consultation. Geneva: WHO, 2018. O senso de coerência materno (SOC)1313 Bonanato K, Branco DBT, Mota JPT, Ramos-Jorge ML, Paiva SM, Pordeuset IA, al. Trans-Cultural Adaptation and Psychometric Properties of the ‘Sense of Coherence Scale’ in Mothers of Preschool Children. Rev Interam Psicol, 2009; 43(1):144-153. foi pontuado entre 13 e 65 pontos; valores acima da mediana indicaram forte SOC.

Dados sobre o padrão alimentar da criança foram obtidos utilizando-se um formulário adaptado da Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde,1414 BRASIL. Ministério da Saúde. Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher. PNDS 2006: Banco de dados. Brasília, DF: Ministério da Saúde; 2009. Disponível em: Acesso em: ago. 2018. reunindo informações sobre a amamentação e a frequência de consumo de grupos de alimentos industrializados, verduras, legumes, frutas, doces e refrigerantes, entre outros. Os alimentos constantes nesse instrumento foram suco natural, frutas, folhas, legumes, embutidos, biscoito/bolacha, suco industrializado, refrigerante, macarrão instantâneo, café, ovos, arroz/macarrão, feijão e carnes. Com relação ao histórico da amamentação, perguntou-se à mãe se a criança foi amamentada e por quanto tempo (em meses).

Foram aferidos o peso e o comprimento/estatura das crianças e de suas mães, utilizando-se balança digital portátil Plenna (precisão de 100 g e capacidade de 150 kg) e estadiômetro móvel do fabricante Alturexata (precisão de 1 mm e capacidade até 2,13 m, podendo ser adaptado para infantômetro), conforme técnicas padronizadas por Lohman.1515 Lohman TG. Advances in Body Composition Assessment. Current Issues in Exercise Science. Champaing, Illinois: Editora Human Kinetics Publishers; 1992.

A avaliação antropométrica utilizou-se dos softwares Anthro (para crianças até 5 anos) e Anthro Plus (para crianças acima de 5 anos e mães adolescentes). Adotou-se o escore Z do índice de massa corporal por idade para a análise do estado nutricional: baixo peso (< -2); peso normal (≥ -2 e ≤ +1); sobrepeso (> +1 e ≤ +2) e obesidade (> +2).1414 BRASIL. Ministério da Saúde. Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher. PNDS 2006: Banco de dados. Brasília, DF: Ministério da Saúde; 2009. Disponível em: Acesso em: ago. 2018. Mães acima de 19 anos de idade tiveram seu índice de massa corporal classificado segundo o critério da Organização Mundial da Saúde (OMS).1616 World Health Organization. Physical status: the use of and interpretation of anthropometry, report of a WHO expert committee. World Health Organization; 1995. Denominou-se “excesso de peso” a junção das categorias “sobrepeso” e “obesidade”. Na aferição da circunferência da cintura das mães, usou-se fita métrica inelástica, identificando-se obesidade abdominal quando circunferência da cintura > 80 cm.1717 Ministério da Saúde do Brasil. Diretrizes para coleta e análise de dados antropométricos em serviços de saúde. 2011. Norma Técnica do Ministério da Saúde do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional. Brasília: MS.

As variáveis dependentes foram os dois padrões alimentares definidos pelos pesquisadores, saudável e não saudável, gerados pela análise fatorial por componentes principais, com base nos dados de consumo alimentar infantil informados pelas mães ao responderem ao questionário de frequência alimentar (QFA). A dicotomização das variáveis está descrita no item de processamento de dados.

As variáveis independentes foram:

  • Informações socioeconômicas e da família

  • renda familiar per capita (em salários mínimos, categorizada pela mediana: ≥ ¼ e < ¼ do salário mínimo);

  • nível de pobreza (pelo escore de Alvarez, categorizado segundo a pontuação obtida: 45 a 54 pontos, pobreza baixa superior; 20 a 44 pontos, pobreza baixa inferior e miséria);

  • número de pessoas no domicílio (categorizado pela mediana: ≤ 4 e > 4);

  • número de crianças no domicílio (categorizado pela mediana: 1 a 2; > 2);

  • tipo de água para consumo (adequada; inadequada);

  • presença de esgoto sanitário (adequado; inadequado);

  • manejo do lixo (adequado; inadequado);1212 World Health Organization (WHO). Core questions and indicators for monitoring WASH in health care facilities in the Sustainable Development Goals. Joint WHO/UNICEF Expert Consultation. Geneva: WHO, 2018.

  • segurança alimentar (segurança alimentar, 0 ponto; (in)segurança alimentar leve, 1 a 5 pontos; insegurança moderada/grave, 6 a 14 pontos).1111 Pérez-escamilla R, Segall-corrêa AM, Maranha LK, Sampaio MFA, Marín-León L, Panigassi G. An Adapted Version of the U.S. Department of Agriculture Food Insecurity Module Is a Valid Tool for Assessing Household Food Insecurity in Campinas. Br J Nutr, 2004; 134(3): 1923–1928.

  • Informações maternas

  • idade (em anos:14 a 18; 19 a 29; ≥ 30);

  • escolaridade (em anos de estudo: ≤ 9; >9).

  • Qualidade de vida, analisada de acordo com os seguintes parâmetros:

  • saúde física (adequada; inadequada);

  • comportamento psicológico (adequado; inadequado);

  • relações sociais (adequadas; inadequadas);

  • ambiente (adequado; inadequado);

  • SOC (forte; fraco);

  • excesso de peso (sim; não);

  • obesidade abdominal (sim; não);

  • altura (≤ 150 cm; > 150 cm);

  • acompanhamento pré-natal (sim; não);

  • Informações relacionadas à criança

  • idade (em meses: < 24; ≥ 24);

  • sexo (feminino; masculino);

  • peso ao nascer (baixo peso, < 2.500 g; peso adequado, 2.500 a 3.999 g; e peso elevado, ≥ 4.000 g);

  • excesso de peso (sim; não);

  • histórico de amamentação (sim; não); e

  • tempo de amamentação (em meses: ≥ 6; < 6).

Os dados foram digitados de forma independente, em dupla entrada, e analisados utilizando-se o software Stata/SE versão 14.1 (StataCorp LP. College Station, TX, EUA). A partir dos dados de frequência de consumo de grupos de alimentos, foram definidos os padrões alimentares pelo método estatístico de análise fatorial por componentes principais (ACP), seguido da rotação ortogonal Varimax. Esse método objetiva reduzir um grande número de variáveis a um número menor, agrupando aquelas fortemente correlacionadas, o que permite agrupar os alimentos contidos no QFA com base no grau de correlação entre eles. Como resultado dessa análise estatística, foram geradas cargas fatoriais, sendo consideradas aquelas com valores ≥ 0,20 ou ≤ -0,20.1818 Flores, ME; Rivera-Pasquel, M; Macías, N; Sánchez-Zamorano, LM; Rodríguez-Ramírez, S; Contreras-Manzano, A; Denova-Gutiérrez, E. Dietary patterns in Mexican preschool children are associated with stunting and overweight. Rev Saúde Púb. 2021; 55(53). https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2021055002350
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Foram excluídos da matriz de correlação os itens que não apresentaram saturação, por não atingirem o valor mínimo estabelecido para carga fatorial: 0,20 (exclusão do fígado). Os padrões alimentares foram definidos após avaliação de autovalores, com fatores de autovalor > 1,5. Foram nomeados os padrões formados de acordo com as características dos alimentos agrupados em cada fator.

Foram calculados os escores de cada fator para cada uma das crianças. Esses escores foram categorizados dicotomicamente (consumo de grupos de alimentos dos padrões alimentares elevado: sim; não), considerando-se elevado o consumo de cada padrão alimentar quando o escore de consumo foi > percentil 75 (P75); e moderado/baixo, quando ≤ P75.1919 Giesta, JM; Zoche, E; Corrêa, RS; Bosa, VL. Fatores associados à introdução precoce de alimentos ultraprocessados na alimentação de crianças menores de dois anos. Ciênc Saúde Colet. 2019; 24(7): 2387-2397. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/1413-81232018247.24162017>.
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Sendo assim, um escore de consumo de determinado padrão alimentar > P75 indicou maior adesão ao padrão alimentar analisado.

A análise descritiva foi realizada, e os dados expressos em frequências absolutas e relativas e respectivos intervalos de confiança de 95% (IC95%).

As associações entre os padrões alimentares [“saudáveis” e “não saudáveis” (desfechos)] e as variáveis independentes foram verificadas por meio do cálculo das razões de prevalências (RPs) brutas e ajustadas e respectivos intervalos de confiança (IC95%), estimados pela regressão de Poisson com ajuste robusto de variância. As análises foram realizadas separadamente, para cada um dos padrões. Na análise bruta, as variáveis independentes ​​que apresentaram nível de significância até 20% (p < 0,2) foram incluídas na análise ajustada. A análise ajustada seguiu o modelo teórico proposto por Mendes et al.2020 Mendes MMe, Marçal Gde M, Rinaldi AEM, Bueno NB, Florêncio TMde MT, Clemente APG. Dietary patterns of children aged 6–24 months assisted by the Bolsa Família Program. Public Health Nutrition. 2022;25(10):2794-2804. doi:10.1017/S1368980021004110 – com adaptações –, organizado da seguinte forma: o modelo 1 incluiu as variáveis socioeconômicas da família que, na análise bruta, apresentaram p < 0,2; o modelo 2 incluiu as variáveis maternas com p < 0,2 na análise bruta e as variáveis do modelo 1 que apresentaram p < 0,05; e o modelo 3, modelo final, incluiu as variáveis relacionadas à criança com p < 0,2 na análise bruta e as variáveis dos modelos 1 e 2 que apresentaram p < 0,05 (Figura Suplementar 1 Figura Suplementar 1 Fluxograma referente aos dois modelos estatísticos de cada um dos desfechos, padrão alimentar "não saudável" e padrão alimentar saudável ). Em cada modelo, aplicou-se a técnica backward stepwise para eliminação de variáveis que não apresentaram associação estatisticamente significativa. Variáveis com p < 0,05 foram consideradas significantes no modelo final.

O projeto da pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Alagoas: protocolo do Certificado de Apresentação para Apreciação Ética no 06340218.7.0000.5013. As mães, após serem informadas sobre os aspectos da pesquisa, assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido nº parecer 3.375.586 e a data de aprovação foi 06/06/2019.

RESULTADOS

Foram coletados dados de 602 pares de mães/filhos elegíveis, dos quais foram excluídos 35 pares com dados discrepantes, percebidos durante a tabulação de dados e considerados perdas do estudo. A amostra final foi de 567 pares de mães/filhos. Identificou-se discreto predomínio de crianças do sexo masculino (51,3%) e idade ≥ 24 meses (57,1%). A idade média das mães foi de 28,3 anos (± 9,7 anos), com maioria na faixa etária de 19 a 29 anos (55,2%). Houve maior prevalência de mães com excesso de peso (57,0%) e menos de 9 anos de estudo (60,3%), renda mensal per capita da família menor que ¼ do salário mínimo (67,9%) e famílias em insegurança alimentar moderada/grave (61,4%) (Tabela 1).

Tabela 1
Caracterização da amostra do estudo quanto a variáveis socioeconômicas, maternas e das crianças residentes em favelas (N = 567), Maceió, Alagoas, agosto de 2019-dezembro de 2021

A ACP identificou dois padrões alimentares, não saudável e saudável, os quais explicaram 38% da variância total. O padrão alimentar não saudável constituiu-se de café, ovos, embutidos, biscoito/bolacha, suco industrializado, refrigerante e macarrão instantâneo; e o padrão alimentar saudável, suco natural, frutas, folhas, legumes, arroz/macarrão, feijão e carnes (Tabela 2). A Figura 1 apresenta a prevalência do consumo dos elementos constitutivos dos padrões não saudável e saudável.

Figura 1
Consumo de alimentos que compõem os padrões alimentares não saudável e saudável de crianças residentes em favelas (N = 567), Maceió, Alagoas, agosto de 2019-dezembro de 2021
Tabela 2
Cargas fatoriais e padrões alimentares identificados no consumo alimentar de crianças residentes em favelas (N = 567), Maceió, Alagoas, agosto de 2019-dezembro de 2021

Na análise bruta, associaram-se ao padrão alimentar não saudável a baixa escolaridade materna, SOC fraco, excesso de peso materno, obesidade abdominal, idade da criança ≥ 24 meses, sexo masculino da criança e histórico de amamentação. Ao padrão saudável, mostraram-se associados baixa escolaridade materna, sexo masculino da criança, idade da criança ≥ 24 meses, baixo peso ao nascer, excesso de peso infantil e histórico de amamentação; nenhuma variável socioeconômica esteve associada a esse padrão (Tabela Suplementar 1 Tabela Suplementar 1 Análise bruta entre o padrão alimentar não saudável e o padrão alimentar saudável de crianças residentes em favelas (n = 567), variáveis socioeconômicas da família e maternas relacionadas, Maceió, Alagoas, agosto de 2019-dezembro de 2021 Variáveis Padrão não saudável(consumo > P75) Padrão saudável(consumo > P75) N (%) RPa bruta (IC95%b) p-valor N (%) RPa bruta (IC95%b) p-valor Variáveis socioeconômicas da família Renda familiar per capitac c(salários mínimos) ≥ 0,25 36 (19,8) 1,00 44 (52,2) 1,00 < 0,25 105 (27,3) 1,38 (0,99;1,93) 0,060 97 (25,2) 1,04 (0,76;1,42) 0,794 Nível de pobreza (escore de Alvarez pontos) Pobreza baixa superior (45 - 54) 36 (22,6) 1,00 48 (30,2) 1,00 Pobreza baixa inferior e miséria (20 - 44) 105 (25,7) 1,14 (0,82;1,58) 0,449 93 (22,8) 0,76 (0,56;1,01) 0,063 Esgoto sanitário Adequado 59 (21,4) 1,00 73 (26,5) 1,00 Inadequado 82 (28,2) 1,32 (0,98;1,76) 0,063 68 (23,4) 0,8 (0,66;1,18) 0,397 Segurança alimentar Segurança leve 45 (20,5) 1,00 60 (27,4) 1,00 Insegurança moderada/grave 96 (27,6) 1,34 (0,98;1,83) 0,064 81 (23,3) 0,85(0,64;1,13) 0,267 Variáveis maternas Idade (anos) 14 - 18 8 (19,5) 0,77 (0,40;1,48) 0,438 5 (12,2) 0,50 (0,21;1,17) 0,110 19 - 29 79 (25,2) 1,00 76 (24,3) 1,00 ≥ 30 54 (25,4) 1,00 (0,74;1,36) 0,977 60 (28,2) 1,16 (0,87;1,55) 0,316 Escolaridade (anos) > 9 44 (19,6) 1,00 74 (32,9) 1,00 ≤ 9 97 (28,4) 1,45 (1,06;1,99) 0,02 67 (19,6) 0,60 (0,45;0,79) <0,001 Qualidade de vida Comportamento psicológico Adequado 83 (22,9) 1,00 98 (27,1) 1,00 Inadequado 58 (28,3) 1,23 (0,92;165) 0,153 43 (21,0) 0,77(0,57;1,06) 0,113 Senso de coerência Forte 48 (20,4) 1,00 66 (28,1) 1,00 Fraco 93 (28,0) 1,37 (1,01;1,86) 0,043 75 (22,6) 0,80 (0,60;1,07) 0,135 Excesso de peso Não 49 (20,1) 1,00 60 (24,6) 1,00 Sim 92 (28,5) 1,42 (1,05;1,92) 0,024 81 (25,1) 1,02 (0,76;1,36) 0,894 Obesidade abdominal Não 37 (18,5) 1,00 51 (25,5) 1,00 Sim 96 (27,3) 1,48 (1,05;2,07) 0,023 86 (24,5) 0,96(0,71;1,30) 0,794 Variáveis relacionadas à criança Idade (meses) < 24 18 (7,4) 1,00 31 (12,8) 1,00 ≥ 24 123 (38,0) 5,12 (3,21;8,17) 0,000 110 (33,9) 2,66 (1,85;3,82) <0,001 Sexo Feminino 56 (20,3) 1,00 79 (28,6) 1,00 Masculino 85 (29,2) 1,44 (1,07;1,93) 0,015 62 (21,3) 0,74 (0,56;0,99) 0,045 Peso ao nascer Adequado 104 (23,4) 1,00 110 (24,7) 1,00 Baixo peso 12 (27,3) 1,17 (0,70;1,93) 0,554 17 (38,6) 1,56 (1,04;2,35) 0,031 Elevado 11 (34,4) 1,47 (0,89;2,44) 0,137 4 (12,5) 0,51 (0,20;1,28) 0,152 Excesso de peso Não 117 (26) 1,00 121 (26,1) 1,00 Sim 24 (20,5) 0,79 (0,53;1,16) 0,233 20 (17,1) 0,64(0,41;0,97) 0,038 Histórico de amamentação Sim 38 (17,8) 1,00 42(19,7) 1,00 Não 103 (29,1) 1,63 (1,17;2,27) 0,004 99 (28,0) 1,42 (1,03;1,95) 0,032 a) RP: Razão de prevalências; b) IC95%: Intervalo de confiança de 95%; c) Ponto de corte de 0,25 equivale a ¼ do salário mínimo. )

No modelo final da análise ajustada (Tabela 3), o padrão não saudável esteve mais presente em crianças com idade ≥ 24 meses (RP = 1,02; IC95% 1,01;1,03) e do sexo masculino (RP = 1,46; IC95% 1,08;1,98). Quanto ao padrão saudável, identificou-se a frequência deste padrão foi maior em crianças com idade ≥ 24 meses (RP = 2,75; IC95% 1,83;4,14) e menor no sexo masculino (RP = 0,66; IC95% 0,49;0,87), e quando as mães tinham baixa escolaridade (RP = 0,61; IC95% 0,46;0,81).

Tabela 3
Análise ajustada entre os padrões alimentares não saudável e saudável de crianças residentes em favelas (n = 567), variáveis socioeconômicas da família e maternas relacionadas, Maceió, Alagoas, agosto de 2019-dezembro de 2021

DISCUSSÃO

No presente estudo, identificaram-se dois padrões alimentares: saudável e não saudável. O maior consumo do padrão alimentar saudável associou-se à idade da criança ser ≥ 24 meses, enquanto o menor consumo, a crianças do sexo masculino e mães com menor escolaridade, resultados a reforçar a hipótese de baixo nível de escolaridade associado a escolhas alimentares menos saudáveis.2121 Bogea EG, Martins MLB, Carvalho WRC, Arruda SPM, França AKTC, Silva AAM. Padrões alimentares de crianças de 13 a 35 meses de idade e associação com características maternas. Cad. Saúde Pública 2019; 35(4):e00072618. doi: 10.1590/0102-311X00072618
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O padrão não saudável teve seu menor consumo associado à idade da criança ≥ 24 meses e a crianças do sexo masculino.

O número de padrões alimentares identificados assemelhou-se ao encontrado em um estudo que analisou o padrão alimentar de crianças brasileiras.2222 Carvalho RBN de, Louzada ML da C, Rauber F, Levy RB. Characteristics associated with dietary patterns in Brazilian children under two years of age. Rev Saúde Pública. 2022;56:118. Available from: https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2022056003757
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O número de padrões possíveis de identificar em uma dada população é variável, depende da diversidade de grupos alimentares, do tamanho da amostra e das técnicas de extração dos padrões utilizadas nos estudos.33 de Menezes LRD, e Souza RCV, Cardoso PC, dos Santos LC. Factors Associated with Dietary Patterns of Schoolchildren: A Systematic Review. Nutrients. 2023; 15(11):2450. https://doi.org/10.3390/nu15112450
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Uma revisão sistemática, conduzida para identificar padrões alimentares em crianças de 7 a 10 anos e fatores associados, encontrou número de padrões alimentares variável, de dois a cinco, com predomínio de três.33 de Menezes LRD, e Souza RCV, Cardoso PC, dos Santos LC. Factors Associated with Dietary Patterns of Schoolchildren: A Systematic Review. Nutrients. 2023; 15(11):2450. https://doi.org/10.3390/nu15112450
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Em estudos de pesquisadores brasileiros2323 Barbosa, LB; Gama, IRS; Vasconcelos, NBR; Santos, EA; Ataide-Silva, T; Ferreira, HS. Dietary patterns according to gender and ethnicity associated with metabolic syndrome: a systematic review and meta-analysis. Cien Saude Colet 2023; Está disponível em: http://cienciaesaudecoletiva.com.br/artigos/dietary-patterns-according-to-gender-and-ethnicity-associated-with-metabolic-syndrome-a-systematic-review-and-metaanalysis/18910
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e americanos,2424 Lara KM, Levitan EB, Gutierrez OM, Shikany JM, Safford MM, Judd SE et al. Dietary Patterns and Incident Heart Failure in U.S. Adults Without Known Coronary Disease. J Am Coll Cardiol. 2019;73(16):2036-2045. buscando relacionar padrões alimentares à síndrome metabólica e a problemas cardiovasculares, e identificar padrões alimentares derivados de análise a posteriori, como se decidiu na presente pesquisa, foram incluídos ovos nos padrões alimentares “não saudáveis”. A inclusão dessa fonte de proteínas de alto valor biológico nesse padrão, possivelmente, aconteceu pelo alto grau de vulnerabilidade social da população analisada, que utiliza embutidos e ovos como principais fontes proteicas em suas refeições, enquanto alternativas menos onerosas. A alta frequência de consumo de ovos pelas crianças influenciou as análises estatísticas, fazendo com que os ovos apresentassem maior correlação com alimentos não saudáveis.

Independentemente do número de padrões alimentares obtidos e alimentos componentes, cumpre identificar fatores associados a cada padrão. Estudo com crianças de 13 a 35 meses, em São Luís, Maranhão, concluiu que multiparidade, menor escolaridade materna e idade materna menor que 20 anos associaram-se ao menor consumo de alimentos saudáveis.2121 Bogea EG, Martins MLB, Carvalho WRC, Arruda SPM, França AKTC, Silva AAM. Padrões alimentares de crianças de 13 a 35 meses de idade e associação com características maternas. Cad. Saúde Pública 2019; 35(4):e00072618. doi: 10.1590/0102-311X00072618
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Dados semelhantes encontram-se em pesquisa com 300 crianças de 4 a 24 meses, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, onde menor escolaridade materna associou-se a maior número de produtos ultraprocessados consumidos por crianças,1919 Giesta, JM; Zoche, E; Corrêa, RS; Bosa, VL. Fatores associados à introdução precoce de alimentos ultraprocessados na alimentação de crianças menores de dois anos. Ciênc Saúde Colet. 2019; 24(7): 2387-2397. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/1413-81232018247.24162017>.
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corroborando esta casuística: menor escolaridade materna associou-se a redução do padrão alimentar saudável. Uma possível explicação para esse achado é o fato de mães com maior escolaridade apresentarem maior acesso às informações sobre práticas alimentares saudáveis. A escolaridade materna influencia o estilo de vida das crianças.44 BRASIL. Pesquisa de orçamentos familiares 2017-2018: avaliação nutricional da disponibilidade domiciliar de alimentos no Brasil / IBGE, Coordenação de Trabalho e Rendimento. – Rio de Janeiro: IBGE, 2020. Disponível em: https://loja.ibge.gov.br/pof-2017-2018-avaliac-o-nutricional-da-disponibilidade-domiciliar-de-alimentos-no-brasil.html Acesso em: ago. 2020
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Embora não tenham apresentado associação, sabe-se que fatores ambientais, nutricionais, psicológicos, sociais e culturais podem-se relacionar com comportamento alimentar.2525 Silva GP, Almeida SS, Costa TMB. Family influence on the nutritional status and eating habits of six to nine year-old children. Rev Nutr,2021;34:e200165. Crianças dependem dos pais/responsáveis para comprar/preparar suas refeições, seus hábitos alimentares são influenciados diretamente pelas crenças e cultura alimentar dos familiares.2525 Silva GP, Almeida SS, Costa TMB. Family influence on the nutritional status and eating habits of six to nine year-old children. Rev Nutr,2021;34:e200165. Nas famílias que não praticam uma dieta diversificada e se observa baixa frequência de consumo de alimentos saudáveis, há maiores chances de retardo no crescimento de suas crianças.2626 Freitas LG, Cortés MAP, Sten C, Cousin E, Faustino-Silva DD, Hilgert JB. Qualidade do consumo alimentar e fatores associados em crianças de um ano de vida na Atenção Primária à Saúde. Ciênc Saúde Colet, 2020; 25(7): 2561-2570.

Um dos achados da análise múltipla apontou associação da idade das crianças ≥ 24 meses com maior frequência de consumo de ambos os padrões, saudável e não saudável, semelhantemente a uma pesquisa realizada no Sul brasileiro, onde se observou associação entre padrões alimentares de crianças maiores que 12 meses;2727 Guedes, J. R. D., Höfelmann, D. A., Madruga, F. P., de Oliveira, E. C. V., de Cerqueira, M. M. O., Lobo, A. C. S., et al. Associated factors with dietary patterns among children under 2 years of age: a study in childcare centres and homes of South Brazil. J nutr sci. 2021;10:e37. doi:10.1017/jns.2021.26 este achado baseou-se na maior independência dessas crianças para escolher alimentos e no acesso a maior variedade deles, quando comparadas às crianças de menor idade2828 Godinho APK, Conceição A de O da, Rodrigues EL, Siqueira IMBJ, Taconeli CA, Crispim SP, et al. Dietary patterns and associated factors of children under two years of age born prematurely. Rev paul pediatr [Internet]. 2022;40:e2021177. Available from: https://doi.org/10.1590/1984-0462/2022/40/2021177IN
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– embora, cumpre salientar, o público estudado foi de crianças de famílias em vulnerabilidade social, e principalmente, sem acesso a uma alimentação diversificada; ao alcançarem uma idade mais elevada, adquiririam aptidão fisiológica e autonomia nas escolhas alimentares, dentro das possibilidades existentes em seu ambiente.

Não se encontrar associação do sexo masculino com maior frequência de consumo do padrão alimentar não saudável no público infantil não é consenso na literatura. Estudos demonstraram que o sexo masculino se associa aos padrões saudável2929 Antunes ABS, Cunha DB, Baltar VT, Steluti J, Pereira RA, Yoko EM, et al. Padrões alimentares de adultos brasileiros em 2008–2009 e 2017–2018. Rev Saude Publica. 2021;55 Supl 1:8s. https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2021055003437
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e não saudável;11 Cunha CML, Canuto R, Rosa PBZ, Longarai LS, Schuch I. Associação entre padrões alimentares com fatores socioeconômicos e ambiente alimentar em uma cidade do Sul do Brasil. Cien & Saúde Colet. 2022; 27(2):687-700. DOI: 10.1590/1413-81232022272.37322020 entretanto, pode-se hipotetizar que, em comunidades sob vulnerabilidade social, meninos apresentam maior independência e autonomia, inclusive para suas escolhas alimentares.

Quanto ao padrão saudável, filhos de mães com baixa escolaridade possuíam menor frequência de consumo dos alimentos desse padrão, fato também observado no estudo de coorte de São Luís, Maranhão.2121 Bogea EG, Martins MLB, Carvalho WRC, Arruda SPM, França AKTC, Silva AAM. Padrões alimentares de crianças de 13 a 35 meses de idade e associação com características maternas. Cad. Saúde Pública 2019; 35(4):e00072618. doi: 10.1590/0102-311X00072618
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Baixa escolaridade dos pais pode indicar ausência de letramento nutricional adequado, que promova autocuidado satisfatório, em questões relacionadas à alimentação e nutrição das crianças.1919 Giesta, JM; Zoche, E; Corrêa, RS; Bosa, VL. Fatores associados à introdução precoce de alimentos ultraprocessados na alimentação de crianças menores de dois anos. Ciênc Saúde Colet. 2019; 24(7): 2387-2397. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/1413-81232018247.24162017>.
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Segundo estudo realizado em Araraquara, São Paulo, no período 2015-2016, ao avaliar famílias beneficiárias ou não do Programa Bolsa Família, aquelas não contempladas pelo Programa estavam mais propensas a apresentar um padrão alimentar restrito, menos propensas a uma dieta saudável, independentemente da idade de seus membros.3030 Cardozo DR, Rossato SL, Costa VMHM, Oliveira MRM, Almeida LMMC, Ferrante VLCB. Padrões alimentares e (in)segurança alimentar e nutricional no Programa Bolsa Família. INTERAÇÕES. 2020; 21(2):363-377. Pesquisa realizada no estado da Paraíba também verificou que crianças sob diferentes tipos de vulnerabilidade social possuíam maior probabilidade de apresentar um padrão alimentar não saudável.55 Figueroa Pedraza D, Santos EES. Marcadores de consumo alimentar e contexto social de crianças menores de 5 anos de idade. Cad Saúde Colet, 2021;29(2):163-178. https://doi.org/10.1590/1414-462X202129020072
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Esses dados reforçam o já esperado: entre crianças de famílias em vulnerabilidade social, menor escolaridade materna repercutiria negativamente em seu padrão alimentar. Hábitos alimentares adequados são extremamente importantes na infância porque, longitudinalmente, podem influenciar no estado nutricional e no desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis.55 Figueroa Pedraza D, Santos EES. Marcadores de consumo alimentar e contexto social de crianças menores de 5 anos de idade. Cad Saúde Colet, 2021;29(2):163-178. https://doi.org/10.1590/1414-462X202129020072
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,2929 Antunes ABS, Cunha DB, Baltar VT, Steluti J, Pereira RA, Yoko EM, et al. Padrões alimentares de adultos brasileiros em 2008–2009 e 2017–2018. Rev Saude Publica. 2021;55 Supl 1:8s. https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2021055003437
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A formulação de políticas públicas voltadas à promoção da alimentação saudável para crianças em vulnerabilidade social, principalmente aquelas residentes em favelas, constitui desafio para governantes. Crucial ao desenvolvimento dessas políticas, a melhora na alimentação das crianças vivendo em ambientes desfavorecidos pode contribuir com a redução de desfechos desfavoráveis à saúde, como a obesidade.44 BRASIL. Pesquisa de orçamentos familiares 2017-2018: avaliação nutricional da disponibilidade domiciliar de alimentos no Brasil / IBGE, Coordenação de Trabalho e Rendimento. – Rio de Janeiro: IBGE, 2020. Disponível em: https://loja.ibge.gov.br/pof-2017-2018-avaliac-o-nutricional-da-disponibilidade-domiciliar-de-alimentos-no-brasil.html Acesso em: ago. 2020
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O estudo apresenta limitações: o uso de questionários extensos, cuja compreensão pode ser prejudicada pela baixa escolaridade materna; e o viés do entrevistador, conhecedor do público abordado, que pode influenciar no modo de as peguntas serem feitas, induzindo as respostas. Ambas as limitações implicam viés de informação, todavia minimizado ao se utilizar em questionários de instrumentos adotados para grandes inquéritos nacionais e aplicados por pesquisadores treinados. Outra limitação encontra-se no desenho transversal, que tanto impossibilita estabelecer relações de causalidade como propicia causalidade reversa, quando a associação entre as variáveis se apresenta de maneira diferente da expectável. O uso da análise múltipla atenuou esse viés. Utilizar um método retrospectivo na avaliação do consumo alimentar pode levar a erros nas respostas sobre alimentos consumidos, porque depende da memória do entrevistado. Contudo, trata-se de método amplamente utilizado em pesquisas populacionais33 de Menezes LRD, e Souza RCV, Cardoso PC, dos Santos LC. Factors Associated with Dietary Patterns of Schoolchildren: A Systematic Review. Nutrients. 2023; 15(11):2450. https://doi.org/10.3390/nu15112450
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,2323 Barbosa, LB; Gama, IRS; Vasconcelos, NBR; Santos, EA; Ataide-Silva, T; Ferreira, HS. Dietary patterns according to gender and ethnicity associated with metabolic syndrome: a systematic review and meta-analysis. Cien Saude Colet 2023; Está disponível em: http://cienciaesaudecoletiva.com.br/artigos/dietary-patterns-according-to-gender-and-ethnicity-associated-with-metabolic-syndrome-a-systematic-review-and-metaanalysis/18910
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para avaliação do consumo alimentar habitual de grupos, e a limitação do seu uso foi atenuada pela curta frequência adotada (última semana). Mais um entrave nos métodos do estudo, a lacuna temporal na coleta de dados não comprometeu a homogeneidade da amostra: indivíduos inseridos no estudo antes da pandemia não apresentaram diferenças estatisticamente significantes nas condições socioeconômicas e ambientais, comparados àqueles incluídos após o surto pandêmico (Tabela Suplementar 2 Tabela Suplementar 2 Características socioeconômicas e ambientais das famílias na coleta de dados no período pré-pandemia e após o surto pandêmico Variáveis Total Pré-pandemia Após surto pandêmico p-valor N = 567 % N = 354 % N = 213 % Renda familiar per capitaa (salários mínimos) ≥ 0,25 172 30,3 107 30,3 64 30,1 0,518 < 0,25 395 69,7 247 69,7 149 69,9 Nível de pobreza (escore de Alvarez pontos) Superior (45 - 54) 152 26,8 103 29,0 60 28,0 0,313 Inferior e miséria (20 - 44) 415 73,2 251 71,0 153 72,0 Água de consumo Adequada 174 30,7 110 31,0 65 30,5 0,893 Inadequado 393 69,3 244 69,0 148 69,5 Esgoto sanitário Adequado 183 32,3 110 31,1 66 31,0 0,985 Inadequada 384 67,7 244 68,9 147 69,0 Manejo do lixo Adequado 193 34,0 121 34,2 71 33,5 0,644 Inadequado 374 66,0 233 65,8 142 66,5 Segurança alimentar e nutricional Segurança leve 218 38,4 134 38,0 83 39,0 0,658 Insegurança moderada/grave 349 61,6 220 62,0 130 61,0 a) Ponto de corte de 0,25 equivale a ¼ do salário mínimo. ).

Como ponto positivo desta pesquisa, encontra-se o cuidado metodológico na seleção dos participantes: foram recrutados todos os moradores das comunidades selecionadas e que atenderam aos critérios de elegibilidade, minimizando o risco do viés de seleção. Outro ponto forte foi o uso de instrumentos validados, na coleta de dados. Tais características demonstram a validade do estudo, interna e externa; seus resultados podem ser extrapolados para populações semelhantes no Brasil.

Conclui-se que a alimentação de crianças em vulnerabilidade social relacionou-se a fatores intrínsecos e extrínsecos à criança, a maior frequência do padrão saudável associou-se à idade ≥ 24 meses; e a menor frequência desse padrão, à baixa escolaridade materna e à criança do sexo masculino. O aumento da frequência do padrão não saudável foi prevalente em crianças ≥ 24 meses e do sexo masculino. Visando elucidar a causalidade das variáveis associadas à alimentação nessa população, fazem-se necessários estudos prospectivos.

REFERENCES

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Figura Suplementar 1 Fluxograma referente aos dois modelos estatísticos de cada um dos desfechos, padrão alimentar "não saudável" e padrão alimentar saudável

Tabela Suplementar 1

Análise bruta entre o padrão alimentar não saudável e o padrão alimentar saudável de crianças residentes em favelas (n = 567), variáveis socioeconômicas da família e maternas relacionadas, Maceió, Alagoas, agosto de 2019-dezembro de 2021
Variáveis Padrão não saudável(consumo > P75) Padrão saudável(consumo > P75)
N (%) RPa bruta (IC95%b) p-valor N (%) RPa bruta (IC95%b) p-valor
Variáveis socioeconômicas da família
Renda familiar per capitac c(salários mínimos)
≥ 0,25 36 (19,8) 1,00 44 (52,2) 1,00
< 0,25 105 (27,3) 1,38 (0,99;1,93) 0,060 97 (25,2) 1,04 (0,76;1,42) 0,794
Nível de pobreza (escore de Alvarez pontos)
Pobreza baixa superior (45 - 54) 36 (22,6) 1,00 48 (30,2) 1,00
Pobreza baixa inferior e miséria (20 - 44) 105 (25,7) 1,14 (0,82;1,58) 0,449 93 (22,8) 0,76 (0,56;1,01) 0,063
Esgoto sanitário
Adequado 59 (21,4) 1,00 73 (26,5) 1,00
Inadequado 82 (28,2) 1,32 (0,98;1,76) 0,063 68 (23,4) 0,8 (0,66;1,18) 0,397
Segurança alimentar
Segurança leve 45 (20,5) 1,00 60 (27,4) 1,00
Insegurança moderada/grave 96 (27,6) 1,34 (0,98;1,83) 0,064 81 (23,3) 0,85(0,64;1,13) 0,267
Variáveis maternas
Idade (anos)
14 - 18 8 (19,5) 0,77 (0,40;1,48) 0,438 5 (12,2) 0,50 (0,21;1,17) 0,110
19 - 29 79 (25,2) 1,00 76 (24,3) 1,00
≥ 30 54 (25,4) 1,00 (0,74;1,36) 0,977 60 (28,2) 1,16 (0,87;1,55) 0,316
Escolaridade (anos)
> 9 44 (19,6) 1,00 74 (32,9) 1,00
≤ 9 97 (28,4) 1,45 (1,06;1,99) 0,02 67 (19,6) 0,60 (0,45;0,79) <0,001
Qualidade de vida
Comportamento psicológico
Adequado 83 (22,9) 1,00 98 (27,1) 1,00
Inadequado 58 (28,3) 1,23 (0,92;165) 0,153 43 (21,0) 0,77(0,57;1,06) 0,113
Senso de coerência
Forte 48 (20,4) 1,00 66 (28,1) 1,00
Fraco 93 (28,0) 1,37 (1,01;1,86) 0,043 75 (22,6) 0,80 (0,60;1,07) 0,135
Excesso de peso
Não 49 (20,1) 1,00 60 (24,6) 1,00
Sim 92 (28,5) 1,42 (1,05;1,92) 0,024 81 (25,1) 1,02 (0,76;1,36) 0,894
Obesidade abdominal
Não 37 (18,5) 1,00 51 (25,5) 1,00
Sim 96 (27,3) 1,48 (1,05;2,07) 0,023 86 (24,5) 0,96(0,71;1,30) 0,794
Variáveis relacionadas à criança
Idade (meses)
< 24 18 (7,4) 1,00 31 (12,8) 1,00
≥ 24 123 (38,0) 5,12 (3,21;8,17) 0,000 110 (33,9) 2,66 (1,85;3,82) <0,001
Sexo
Feminino 56 (20,3) 1,00 79 (28,6) 1,00
Masculino 85 (29,2) 1,44 (1,07;1,93) 0,015 62 (21,3) 0,74 (0,56;0,99) 0,045
Peso ao nascer
Adequado 104 (23,4) 1,00 110 (24,7) 1,00
Baixo peso 12 (27,3) 1,17 (0,70;1,93) 0,554 17 (38,6) 1,56 (1,04;2,35) 0,031
Elevado 11 (34,4) 1,47 (0,89;2,44) 0,137 4 (12,5) 0,51 (0,20;1,28) 0,152
Excesso de peso
Não 117 (26) 1,00 121 (26,1) 1,00
Sim 24 (20,5) 0,79 (0,53;1,16) 0,233 20 (17,1) 0,64(0,41;0,97) 0,038
Histórico de amamentação
Sim 38 (17,8) 1,00 42(19,7) 1,00
Não 103 (29,1) 1,63 (1,17;2,27) 0,004 99 (28,0) 1,42 (1,03;1,95) 0,032
  • a) RP: Razão de prevalências; b) IC95%: Intervalo de confiança de 95%; c) Ponto de corte de 0,25 equivale a ¼ do salário mínimo.
  • Tabela Suplementar 2

    Características socioeconômicas e ambientais das famílias na coleta de dados no período pré-pandemia e após o surto pandêmico
    Variáveis Total Pré-pandemia Após surto pandêmico p-valor
    N = 567 % N = 354 % N = 213 %
    Renda familiar per capitaa (salários mínimos)
    ≥ 0,25 172 30,3 107 30,3 64 30,1 0,518
    < 0,25 395 69,7 247 69,7 149 69,9
    Nível de pobreza (escore de Alvarez pontos)
    Superior (45 - 54) 152 26,8 103 29,0 60 28,0 0,313
    Inferior e miséria (20 - 44) 415 73,2 251 71,0 153 72,0
    Água de consumo
    Adequada 174 30,7 110 31,0 65 30,5 0,893
    Inadequado 393 69,3 244 69,0 148 69,5
    Esgoto sanitário
    Adequado 183 32,3 110 31,1 66 31,0 0,985
    Inadequada 384 67,7 244 68,9 147 69,0
    Manejo do lixo
    Adequado 193 34,0 121 34,2 71 33,5 0,644
    Inadequado 374 66,0 233 65,8 142 66,5
    Segurança alimentar e nutricional
    Segurança leve 218 38,4 134 38,0 83 39,0 0,658
    Insegurança moderada/grave 349 61,6 220 62,0 130 61,0
  • a) Ponto de corte de 0,25 equivale a ¼ do salário mínimo.
    • TRABALHO ACADÊMICO ASSOCIADO

      Trabalho originário da tese de doutorado de Gabriela Rossiter Stux Veiga, intitulada Senso de coerência de mães em vulnerabilidade social e o crescimento linear de seus filhos moradores de aglomerados subnormais em Maceió/AL, defendida no Programa Pós-Graduação em Saúde da Criança e do Adolescente da Universidade Federal de Pernambuco em maio de 2022.

    Editado por

    Editor associado:

    Thaynã Ramos Flores

    Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      23 Ago 2024
    • Data do Fascículo
      2024

    Histórico

    • Recebido
      25 Dez 2023
    • Aceito
      14 Mar 2024
    Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente - Ministério da Saúde do Brasil SRTVN Quadra 701, Via W5 Norte, Lote D, Edifício P0700, CEP: 70719-040, +55 (61) 3315-3464 - Brasília - DF - Brazil
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