Contribuições da pedagogia freireana para o ensino da fenomenologia em enfermagem: relato de experiência

RESUMO

Objetivo:

Relatar a experiência de aprendizagem discente na disciplina “Fenomenologia, Formação e Pesquisa”, e analisar o planejamento pedagógico de sua problematização no processo de construção do conhecimento, em programa stricto sensu em Enfermagem e Saúde.

Método:

Relato descritivo-analítico do plano de ensino ofertado com enquadramento teórico dos dados sob a perspectiva freireana.

Resultados:

A disciplina foi ofertada a seis discentes na modalidade remota e organizada em três unidades: a primeira composta por cinco encontros síncronos e um assíncrono; a segunda por três encontros síncronos e a terceira com sete síncronos e um assíncrono. Destacaram-se como metodologias aplicadas: aula expositiva de convidados externos,sala de aula invertida e mapa conceitual. Foram abordadas as linhas de pensamento husserliana e heideggeriana. Conclusão: A construção do conhecimento da fenomenologia por pós-graduandos ocorreu de acordo com a estrutura pedagógica de Freire, tendo como destaque, o constructo da problematização.

Palavras-chave:
Filosofia em enfermagem; Hermenêutica; Educação de pós-graduação em enfermagem

ABSTRACT

Objective:

To report the learning experience of students in the discipline “Phenomenology, Formation and Research”, and to analyze the pedagogic planning of its problematization in the process of construction of knowledge, in a strict sensu program in Nursing and Health.

Method:

Descriptive-analytic report of the learning plan offered and of the theoretical framework of the data, from a Freirean perspective.

Results:

The discipline was offered in the form of distance-education classes to six students and organized in three units: the first included five synchronous meetings and one asynchronous meeting; the second, three synchronous meetings; and the third, seven synchronous meetings and one asynchronous meeting. The methodologies applied included: presentations from guest lecturers, inverted classroom, and conceptual map. Husserl’s and Heidegger’s lines of thought were discussed.

Conclusion:

The construction of knowledge in phenomenology by postgraduates took place according with Freire’s pedagogical structure, highlighting the concept of problematization.

Keywords:
Philosophy; nursing. Hermeneutics. Education; nursing; graduate

RESUMEN

Objetivo:

Relatar la experiencia de aprendizaje de los estudiantes en la disciplina “Fenomenología, Formación e Investigación”, y analizar la planificación pedagógica de su problematización en el proceso de construcción del conocimiento en un programa stricto sensu en Enfermería y Salud.

Método:

Informe descriptivo-analíticodel plan de enseñanza ofrecido y marco teórico de los datos desde la perspectiva freireana.

Resultados:

La disciplina se ofreció a seis estudiantes en la modalidad a distancia y se organizó en tres unidades: la primera consta de cinco encuentros sincrónicos y uno asincrónico; la segunda, de tres encuentros sincrónicos; y la tercera, de siete encuentros sincrónicos y un asincrónico. Se destacaron las siguientes metodologías: clase expositiva de participantes externos invitados, aula invertida y mapa conceptual. Se abordaron las líneas de pensamiento husserliana y heideggeriana.

Conclusión:

La construcción del conocimiento de la fenomenología por parte de los estudiantes en el postgrado ocurrió según la estructura pedagógica de Freire, con énfasis en el constructo“problematización”.

Palabras clave:
Filosofía en enfermería; Hermenéutica; Educación de postgrado en enfermería

INTRODUÇÃO

O estudo da fenomenologia compreende-se como uma abordagem e método na pesquisa qualitativa pertencente ao campo da filosofia. Caracteriza-se como uma ciência descritiva, rigorosa e concreta de um discurso esclarecedor sob a esfera existencial do ser humano, que utiliza como recurso o resgate da sua subjetividade para o alcance da sua essência no mundo1. O intuito é desvelar o oculto por caminhos qualitativos do sentido de existir no mundo, atribuindo sentido ao ser e em sua relação sujeito-objeto-mundo de uma maneira indissociável2.

A abordagem fenomenológica permeia várias linhas de pensamentos. Historiadores filósofos como Martin Heidegger, Edmund Gustav Albrecht Husserl e Maurice Merleau-Ponty se destacaram pelo desenvolvimento de pesquisas fenomenológicas ao redor do mundo, o que também contribuiu para a síntese de conhecimento em Enfermagem3. Uma primeira relação entre a enfermagem e a fenomenologia foi observada nos anos 80, em busca de compreender a perspectiva do sujeito receptor do cuidado. Desde então, segue-se uma linha interpretativa composta por aspectos de intersubjetividade, que podem levar a um novo conhecimento de entes que vivenciam experiências de dor, sofrimento, perdas, relações empáticas, rejeições e conflitos2.

Nesse sentido, o estudo fenomenológico torna-se essencial para que enfermeiros pesquisadores utilizem ferramentas auxiliares para a interpretação da subjetividade de seus pacientes4⁾ em uma dimensão existencial e hermenêutica, englobando, dessa forma, constructos da intencionalidade. Como reflexo, torna-se possível desvelar as dimensões ônticas e ontológicas do ente e do ser do ente, ressurtindo em políticas públicas de desenvolvimento humano e de proteção social5. Evidências2⁾ demonstram uma redução de estudos fenomenológicos em um recorte temporal de 2003 a 2013, o que reitera a necessidade do desenvolvimento de mais investigações nessa linha filosófica, por enfermeiros pesquisadores e, por conseguinte, aumento da oferta da disciplina de fenomenologia em programas de pós-graduação. Seu conteúdo favorece a aquisição de habilidades técnicas e científicas por processos de aprendizagem que percorrem caminhos pedagógicos estruturados, fornecidos por docentes, cujo papel é o de mediador do conhecimento, tal como recomendado por algumas teorias pedagógicas mais contemporâneas que focam a problematização, como a “Pedagogia da Autonomia”, proposta por Paulo Freire6^,7.

Com isso, o objeto investigado volta-se ao estudo da modalidade em que a disciplina “Fenomenologia, Formação e Pesquisa” foi ofertada, e como os seus responsáveis desenharam o seu desenvolvimento focalizado na construção do conhecimento por diferentes corretes de pensamentos e tendências fenomenológicas, que diante a pandemia, se mostrou acessível aos interessados, pela modalidade remota, mesclando-se com encontros ao vivo e com estudos individuais livres.

Tal modelo de aprendizagem conectada7⁾ propõe aos docentes, uma sensibilização por determinados paradigmas metodológicos educacionais inovadores, de caráter descentralizado e autônomo, e torna necessário também, que o discente compreenda a relevância em atuar com protagonismo e se corresponsabilizarem dirigir a construção do seu próprio conhecimento através da problematização, o que tem levado ao repensar da aplicabilidade dos ideais da Pedagogia da Autonomia em um cenário de hibridização do ensino. Vale ressaltar que os programas de pós-graduação têm refletido aptidões em relação às aulas conectadas, como a criatividade, parcerias, empatia e lideranças, todas em prol da mudança que exigiu readaptações8.

Nesse contexto, o estudo em tela se fundamenta na seguinte questão: como ocorre a construção do conhecimento da fenomenologia por pós-graduandos em cursos de mestrado e doutorado? Como objetivos: relatar a experiência de aprendizagem discente na disciplina “Fenomenologia, Formação e Pesquisa” e analisar o planejamento pedagógico da sua problematização no processo de construção do conhecimento, em um programa stricto sensu em Enfermagem e Saúde.

MÉTODO

Estudo descritivo-analítico, do tipo relato de experiência, com foco na análise do planejamento pedagógico da problematização no processo de construção do conhecimento, sob a percepção de um discente e orientação de dois docentes do doutorado em Enfermagem e Saúde, entre agosto e dezembro de 2021. Sabe-se que relatos de experiência são criações narrativas científicas de grande potencial de generalização, pois englobam os resultados das vivências de processos e produções subjetivas que causam determinado impacto no relator9.

A experiência em questão ocorreu em um programa de pós-graduação em Enfermagem e Saúde na região nordeste do Brasil, por meio do componente curricular “Fenomenologia, Formação e Pesquisa”. Em 2021, o ensino foi adaptado à modalidade remota em razão da pandemia da COVID-19.

A organização do material para análise contou com auxílio do recurso “planilhas” disponível no Google Drive, que permitiu o monitoramento docente em tempo real e o processamento dos dados manuais de um diário acadêmico10. Além disso, possibilitou mensurar a porcentagem das linhas e pensamentos fenomenológicos e das temáticas de maior e de menor prevalência nas discussões remotas, bem como sua diversidade. Durante esse processo, dividiu-se o conteúdo proposto no plano de ensino em duas etapas, contendo as colunas das planilhas, informações sobre fundamentos e estruturação de estudos fenomenológicos, autores, linhas de pensamento, constructos teóricos e especialidades da enfermagem que abordam o método em pesquisas científicas, conteúdos esses presentes no plano de ensino e desenvolvidos durante as aulas. Como produto gráfico, dois pictogramas em formato de mapas conceituais11⁾ foram construídos, tendo como base teórica o conteúdo proposto e as obras científicas recomendadas como leituras introdutórias e fundamentais em fenomenologia12^,13.

O processo de análise do planejamento do plano de ensino seguiu um roteiro em forma de checklist com itens pautados na pedagogia e elaborado pelos próprios autores, contendo: Quais abordagens pedagógicas foram usadas? A disciplina aplicou alguma metodologia ativa? A disciplina mesclou realidades de pesquisadores regionais, nacionais e internacionais?

Após o processamento dos dados, foram utilizadas abordagens de questões ontológicas do ser-ensinado, com base nos constructos teóricos de Paulo Freire, a partir dos escritos em Pedagogia da autonomia6^,7, para a estruturação interpretativa e analítica do componente curricular. Isso permitiu o entendimento da concepção pedagógica do processo de construção de conhecimento.

Por se tratar de um relato de experiência realizado por estudante e docentes, para fins pedagógicos e educacionais, a aprovação da pesquisa pelo Comitê de Ética em Pesquisa foi dispensada, porém, o anonimato e a confidencialidade dos dados exclusivamente para fins de pesquisa foram acordados por meio de um termo de anuência, tal como preconizado pelas Resoluções 466/12 e 510/16 do Conselho Nacional de Saúde.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

No ano de 2021, a disciplina “Fenomenologia, Formação e Pesquisa” foi ofertada na modalidade remota, por dois docentes com formação no curso de doutoramento, com experiência e expertise na temática, para alunos regulares de cursos de mestrado ou doutorado, e de alunos especiais, que cursam disciplinas separadas, ambos, mediante aprovação em processo seletivo. Participaram seis discentes: quatro alunos especiais do doutorado e dois alunos regulares do mestrado em Enfermagem e Saúde. No grupo, havia discentes dos estados da Bahia, Espírito Santo, Rio Grande do Norte e Pará. O componente curricular possuía carga horária de 51 horas, diluídas em encontros semanais, com duração de três horas por aula, de maneira síncrona e assíncrona. A disciplina foi ofertada em três unidades de ensino: 1 (UN1), composta por cinco encontros síncronos e um assíncrono; 2 (UN2), com três encontros síncronos; e 3 (UN3), com sete síncronos e um assíncrono. Na modalidade síncrona, atividades foram propostas ao grupo: aula expositiva dos docentes e de convidados externos, nacionais e internacionais, que apresentaram os resultados das produções oriundas das suas respectivas teses; exposição dialogada no formato de sala de aula invertida; e apresentação de um mapa conceitual que englobou a primeira parte conteudista da disciplina. Tais conteúdos estão detalhados na Figura 1.

Figura 1 -
Pictograma da estrutura e organização pedagógica da disciplina Fenomenologia, Educação e Saúde. Vitória, Espírito Santo, Brasil, 2021

Na modalidade assíncrona, algumas atividades pré-aula foram orientadas, tais como recomendação de filmes, leitura prévia das obras que seriam apresentadas no encontro seguinte pelos professores doutores convidados, elaboração de atividades como o mapa conceitual - de modo individual - e de seminários em dupla.

Dentre as temáticas apresentadas pelos convidados externos, prevaleceu a abordagem existencial e hermenêutica heideggeriana com cinco temas: idosos residentes em instituições de longa permanência; gravidez de risco por cardiopatia; experiências vividas no programa de extensão de massagem e estimulação com bebês; vividos da reprodução do casal heterossexual sorodiscordante para o HIV e experiências de vida que favorecem a plenitude e transcendência do ser idoso; e a abordagem existencial e de intercorporeidade merleau-pontyana com duas produções no mesmo tema referentes aos familiares cuidadores de idosos internados em hospitais.

As estratégias avaliativas foram baseadas nas atividades guiadas pelos docentes (construção e apresentação do mapa conceitual e do seminário), na participação assídua dos encontros síncronos e na produção de conteúdo científico com o incentivo à construção de resumos apresentados em um congresso de fenomenologia. A Figura 2 sintetiza o conteúdo ofertado na primeira e na segunda etapa da disciplina, de acordo com a análise descritiva do componente curricular.

Figura 2 -
Pictograma do conteúdo programático do componente curricular Fenomenologia, Educação e Saúde. Vitória, Espírito Santo, Brasil, 2021

A análise quantitativa dos estudos abordados por enfermeiros pesquisadores convidados da disciplina evidenciou predomínio da linha de pensamento de Martin Heidegger, seguida dos constructos de Merleau-Ponty. Os pensamentos heideggeriano e merleau-pontyano possuem maior usabilidade nas temáticas de cuidado em saúde, saúde da mulher, do adulto, do idoso, do adolescente, saúde mental e na saúde coletiva2. Dentre as temáticas apresentadas pelos convidados do componente curricular, a saúde da mulher se destacou com maior número de estudos fenomenológicos em ambas as linhas de pensamento. Embora o pensamento socioexistencial de Alfred Schütz seja o mais utilizado nas produções de pós-graduação, nenhum dos trabalhos apresentados na unidade dois (UN2) fundamentou-se nesta linha. De menor prevalência, tem-se a temática saúde do adolescente. Acerca do número de produções entre 2003 e 2013, nos cursos de mestrado e doutorado, destacou-se Alfred Schutz (M:30; D: 15), seguido de Heidegger (M:18; D: 11) e de Merleau-Ponty (M:6; D: 5)2.

O ensino do cuidado, de acordo com a filosofia heideggeriana, deve ser baseado em prestar assistência de enfermagem destacando o sentido existencial da experiência do adoecimento, físico ou mental,conforme o conceito ampliado de saúde. Já na linha de pensamento filosófica husserliana, o cuidado deve ser ensinado sob um ponto de vista da consciência humana, de modo que o pesquisador deve se distanciar de suas essências e verdades, evitando estereótipos e pressupostos acerca do fenômeno14. Para os autores, surge, então, a necessidade de ensinar sobre o Epoché13⁾ na fase da coleta de dados, prática importante de ser descrita no projeto de pesquisa.

Os dados obtidos nesta pesquisa se aproximam dos constructos da problematização de Paulo Freire6^,15, atendendo, dessa maneira, a uma série de exigências acerca do rigor metodológico para o ensino do desenvolvimento de pesquisas científicas, seus aspectos de criticidade e de reflexões sobre a prática, visto que ensinar não é apenas um ato de transferir conteúdo sob uma lógica unidirecional6^,7. Nesse sentido, o discente vivenciou, no decorrer da disciplina, o planejamento irrigado pela diversidade de atividades pedagógicas que focaram o ensino da fenomenologia mediante a problematização.

O fato de a disciplina ter sido ofertada na modalidade remota possibilitou um intercâmbio de conhecimento e uma internacionalização da pós-graduação brasileira9, mediados por uma equipe de pesquisadores em fenomenologia de diversas regiões do Brasil e de países da América Central,em prol da consolidação e do aprimoramento da qualidade do ensino ofertado pela universalidade dos significados. Paralelamente, destaca-se a importância do alinhamento dos atuais paradigmas pedagógicos universitários ao novo perfil do estudante da era digital, incluindo a aplicabilidade consciente de metodologias ativas que auxiliarão no processo de absorção de novos conhecimentos.

Metodologias ativas, portanto, podem ser entendidas como uma ressignificação das abordagens pedagógicas tradicionais por meio da personalização da educação com o desenvolvimento de práticas dialógicas, gamificadas e de autocomunicação digital, que vão gerar um ser-discente-protagonista e altamente interativo7. Neste estudo, vale destacar a sala de aula invertida, considerada um tipo de metodologia ativa de abordagem híbrida para a aprendizagem, que se redesenha em uma sala de aula interativa, aliada ao fornecimento de experiências pedagógicas tradicionais guiadas pelo docente em uma sequência de pré-aula, sala de aula e pós-aula16.

Em se tratando de formas inovadoras de ensinar, surge uma necessidade constante de discutir novas alternativas para a construção pedagógica de um componente curricular, até mesmo pela velocidade com que a ciência tem trazido abordagens aplicáveis em sala de aula, não somente na fenomenologia. Dessa forma, o trabalho desenvolvido por professores e estudantes deve ser baseado em dinâmicas avaliativas acerca da construção do conhecimento, levando em consideração a prática de ensinar e o processo de aprendizado, com vistas à autonomia do ser-aluno, considerado um ser singular, um ser-com-pessoas-e-com-coisas, reflexivo, temporal, que coexiste no mundo da escola e das salas de aulas, aqui remotas, com o auxílio pedagógico do ser-professor. Tal contexto, vale ressaltar, viabiliza a operacionalização da transformação de uma realidade15^,16.

Nota-se, mediante leitura interpretativa dos constructos da pedagogia da autonomia6^,7, que tais aspectos históricos de Freire se aplicam a este relato, por exemplo, na didática utilizada para a construção do mapa conceitual, que evidenciou uma síntese de todo o conteúdo abordado nas três unidades de ensino. Ressalta-se que a ontologia aborda um quem desconhecido5⁾ e o ser-aluno, nesse momento, pode ser considerado um ser ontológico dentro do seu processo de aprendizagem pelo olhar do ser-professor, que necessitará desvelar suas peculiaridades existenciais.

Com isso, identificou-se a busca pela sustentação de ideias sobre o que se conhece do processo prático-educativo individual, exigindo uma participação ativa do ser-aluno no processo formativo, gerando um conhecimento sistematizado7. O fato de os seres-professores proporem leituras prévias das obras publicadas dos convidados externos para uma discussão coletiva envolvendo os seres-alunos, bem como a construção de seminários em dupla, evidencia que uma pedagogia da autonomia6^,7⁾ segue enraizada em seus planejamentos pedagógicos avaliativos.

Diante o exposto, apreendeu-se que a estrutura proposta para o componente curricular “Fenomenologia, Formação e Saúde” se perfez pelo conceito de consciência do inacabamento estabelecido por Paulo Freire6⁾ e abordou a eticidade e a humanização no processo de conhecimento. Nesse sentido, houve consonância com os constructos teóricos da fenomenologia husserliana, dada a subjetividade das interpretações consideradas, ao analisar os dados e os processos que possibilitam o estreitamento das relações no caminho da construção dialética do conhecimento15.

Portanto, este relato traz como potencialidades uma análise descritiva robusta acerca da estrutura pedagógica do ensino da fenomenologia na enfermagem, de modo que diferentes programas poderão usá-la como um guia laboral para a oferta de disciplinas similares futuras. Suas limitações voltam-se à dificuldade de reproduzir o método empregado no relato de experiência por possuir difícil generalização, pois é uma experiência particular na produção de conhecimento em fenomenologia por enfermeiros, em um contexto acadêmico e pedagógico vivenciado de maneira específica pelos próprios experienciados. Além disso, há uma exiguidade de descritores específicos de fenomenologia na plataforma DeCS/MeSH.

CONCLUSÃO

A construção do conhecimento da fenomenologia por enfermeiros pós-graduandos ocorreu de acordo com a estrutura pedagógica de Freire, tendo como destaque o constructo da problematização. Uma sugestão aos docentes é a inserção da linha de pensamento de Alfred Schütz no componente curricular, pois foi observada sua prevalência em dissertações e teses. Este relato, por fim, contribui na construção de uma disciplina orientada sob os preceitos fenomenológicos em enfermagem e ainda conduz uma estrutura para a construção de projetos de pesquisa fenomenológica.

Como contribuições do estudo, destaca-se a oportunidade para que profissionais enfermeiros cursem disciplinas de pós-graduação acerca do método científico da fenomenologia, que os direcionem ao desenvolvimento de pesquisas fenomenológicas capazes de interpretar aspectos com alto grau de subjetividade do ser-aí-no-mundo, em seus diversos contextos sociais, históricos e existenciais. Tais aspectos poderão contribuir com a compreensão ampliada acerca da relação “Fenomenologia-Enfermagem-Cuidado”, de forma a favorecer a melhoria da qualidade assistencial em diversos contextos.

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Editado por

Editor associado:

Helena Becker Issi

Editor-chefe:

Maria da Graça Oliveira Crossetti

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  02 Dez 2022
• Data do Fascículo
  2022

Histórico

• Recebido
  30 Maio 2022
• Aceito
  12 Set 2022