Resumo
OBJETIVO Reconhecer as tecnologias educacionais utilizadas no processo de atualização dos enfermeiros no cuidado à pessoa com ferida oncológica de cabeça e pescoço.
MÉTODOS Pesquisa qualitativa, exploratório-descritiva. Realizada com 12 enfermeiros, em um centro de referência oncológica do sul do país, em julho/2017. Por meio de uma entrevista semiestruturada e dados analisados pela Análise Temática de Minayo.
RESULTADOS Resultou-se em duas categorias: “As implicações da atualização do enfermeiro” e “O uso de tecnologias educacionais no cotidiano do enfermeiro”. Destaca-se neste contexto, a escassez da abordagem do conteúdo na formação dos enfermeiros, a importância da atualização dos profissionais por meio da educação permanente, evidenciando a pouca utilização de recursos tecnológicos para esta finalidade.
CONCLUSÃO Sugere-se a integração do uso de tecnologias com a educação permanente, a fim de alcançar os diversos benefícios reconhecidos na prática profissional.
Palavras-chave: Enfermagem oncológica; Educação continuada; Ferimentos e lesões; Aplicativos móveis
Resumen
OBJETIVO Reconocer cómo las tecnologías educativas no se actualizan y no se preocupan por la oncología de cabeza y cuello.
MÉTODOS Investigación cualitativa, exploratorio-descriptiva. Realizada con 12 enfermeros, en un centro de referencia oncológica del sur del país, en julio / 2017. Por medio de una entrevista semiestructurada y datos analizados por el Análisis Temático de Minayo.
RESULTADOS Resultados de dos categorías: "Las técnicas de la actualización del enfermero" y "El uso de tecnologías educativas en el cotidiano del enfermero". Se destaca en este contexto una versión del presente en la formación de los estudiantes, ya que los datos de la enseñanza media son permanentes, evidenciando una pequeña utilización de recursos tecnológicos para esta finalidad.
CONCLUSIÓN Se sugiere una integración del uso de tecnologías con la educación permanente, a fin de tornarse popular en la práctica profesional.
Palabras clave: Enfermería oncológica; Educación continua; Heridas y lesiones; Aplicaciones móviles
Abstract
OBJECTIVE To recognize how educational technologies are not up-to-date and do not care about head and neck oncology.
METHODS Qualitative, exploratory-descriptive research. Held with 12 nurses, at a cancer reference center in the south of the country, in July/2017. Through a semi-structured interview and data analyzed by Minayo Thematic Analysis.
RESULTS Results of two categories: "The techniques of updating the nurse" and "The use of educational technologies in the nurses' daily life". In this context, a version of the present in the training of students stands out, since the data of secondary education are permanent, evidencing a small use of technological resources for this purpose.
CONCLUSION It is suggested to integrate the use of technologies with lifelong education in order to become popular in professional practice.
Keywords: Nurses; Oncology nursing; Education; continuing; Wounds and injuries; Mobile applications
Introdução
O câncer é considerado um problema de saúde pública, por ser a segunda principal causa de morte no Brasil, com o surgimento de aproximadamente 600 mil novos casos no biênio 2016-2017. As estimativas mostram o aumento do número de casos a cada ano, principalmente nos países em desenvolvimento, como o Brasil1.
O diagnóstico em estágio inicial tem possibilidade de cura de até 80% dos casos, entretanto, 60% desses pacientes descobrem o diagnóstico no estágio tardio2. Dentre as complicações causadas pela proliferação exacerbada das células, principalmente, as ocasionadas pelo diagnóstico tardio, estão o desenvolvimento das feridas oncológicas que podem ser encontradas de 5 a 10% das pessoas com algum tipo de câncer3-4. Os cânceres de cabeça e pescoço são os que mais contribuem para esta complicação por apresentarem doença avançada resultado de um câncer agressivo ou metastático no diagnóstico tardio2.
As feridas oncológicas, principalmente as presentes na região de cabeça e pescoço, causam impacto na vida das pessoas devido às alterações da imagem, bem como, nos fatores socioeconômicos, biológicos e psicológicos. Assim, o cuidado de enfermagem deve ser realizado em conjunto a uma equipe multiprofissional, visando atenção individualizada e direcionada para a abordagem desses aspectos4.
O cuidado acerca dessa especificidade ainda é conduzido de forma empírica e com o conhecimento do tratamento dos outros tipos de feridas, tanto por parte do enfermeiro quanto da equipe multiprofissional2. Nesse sentido, destaca-se a necessidade do enfermeiro atualizar seus conhecimentos por meio de capacitações contínuas frente a temática, visando conhecimento e competência técnica para avaliar e tratar essas feridas, levando em consideração os avanços tecnológicos e científicos para fornecer uma assistência integral e de qualidade ao paciente e família3.
Nesse sentido, a Educação Permanente em Saúde (EPS) vem como estratégia para promover o desenvolvimento pessoal, social e cultural situado nos processos de ensino-aprendizagem, centrado no sujeito que aprende, como agente ativo, autônomo e gestor de sua educação. Historicamente, a EPS no Brasil é recente, tornando-se política pública na área da saúde pela Portaria GM/MS nº 198/2004, a qual instituiu a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde (PNEPS) como estratégia em formação e desenvolvimento de trabalhadores de saúde5.
A PNEPS incorpora o aprender e o ensinar dentro da instituição, tendo como finalidade transformar as práticas profissionais para uma melhor qualidade no serviço, trazendo como perspectiva o aprender a partir dos problemas vivenciados pelos profissionais na prática e das necessidades dos pacientes5.
Dentre as diversas estratégias para realizar a EPS, o uso das tecnologias está cada vez mais favorável no mercado de trabalho para contribuir na formação e atualização desses profissionais, já que a atualização dos mesmos é indiscutivelmente necessária6. Dentre elas, as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) estão sendo regularmente utilizadas por empresas e instituições no processo de trabalho e educação, isso porque proporcionam empoderamento e permitem a reunião, distribuição e compartilhamento de informações7, sendo consideradas mais eficazes e acessíveis no acompanhamento da velocidade da produção do conhecimento8.
Ao utilizar a tecnologia a favor da educação permanente pode-se contribuir na promoção do desenvolvimento socioeducativo e influenciar diretamente na melhoria da qualificação e consequentemente da prática profissional, trazendo inovações e novas formas de prestar assistência, transformando a realidade da prática5,8.
Observa-se, no entanto, que nem sempre o avanço tecnológico é implementado imediatamente na assistência, havendo um descompasso entre a produção de TIC e a sua utilização na atualização dos enfermeiros. Sendo assim, para conhecer a realidade de um centro de referência no cuidado à pessoa com ferida oncológica, criou-se a seguinte pergunta de pesquisa: Quais tecnologias educacionais são utilizadas no processo de atualização dos enfermeiros no cuidado à pessoa com ferida oncológica de cabeça e pescoço?
Com o objetivo de reconhecer as tecnologias educacionais utilizadas no processo de atualização dos enfermeiros no cuidado à pessoa com ferida oncológica de cabeça e pescoço.
Métodos
A pesquisa consiste em uma das etapas do projeto referente a monografia para conclusão do curso de graduação em enfermagem, denominado “A Realização do Curativo no Cuidado à Pessoa com Ferida Oncológica de Cabeça e Pescoço: uma abordagem para a educação permanente dos enfermeiros”9, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos (CEPSH) da Universidade Federal de Santa Catarina e Comitê de Ética em Pesquisa do Centro de Pesquisas Oncológicas (CEPON), com o parecer número 2.098.737 (09/05/2017) e 2.054.577 (04/06/2017), respectivamente. A pesquisa seguiu o recomendado pela Resolução n.466, de 12 de dezembro de 2012, do Conselho Nacional de Saúde. Assim, os convidados tiveram a explicação sobre os aspectos da pesquisa e retiraram as dúvidas sobre a mesma, assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) apenas os que aceitaram participar do estudo. Estes foram identificados com a letra E, seguida do número ordinal (E1; E2; E3; [...]; E12), a fim de manter o anonimato e sigilo das informações.
Trata-se de uma pesquisa qualitativa de caráter exploratório e descritivo, realizado em um centro de referência para o tratamento do câncer em Santa Cataria e centro de referência da OMS para medicina paliativa no Brasil, conhecido como CEPON.
O CEPON possui 41 enfermeiros que atuam na assistência junto a pacientes oncológicos, destes, foram selecionados 12 enfermeiros pelo método de conveniência. Este é geralmente utilizado quando os pesquisadores precisam que potenciais participantes se apresentem e identifiquem-se, não estando interessados em formar uma amostra representativa de pessoas, mas sim, obter um grupo diversificado, tendo como objetivo extrair a maior quantidade possível de informações de um número pequeno de informantes10.
Como critérios de inclusão estão os profissionais que trabalham diretamente com o cuidado à pessoa com ferida oncológica de cabeça e pescoço, realizando a avaliação clínica da pessoa com ferida oncológica e a escolha terapêutica do curativo. E os critérios de exclusão envolvem ser enfermeiro há menos de seis meses na instituição, considerando um tempo razoável para que se inteire das rotinas do serviço ou estar afastado por motivos de licença, atestado e/ou férias no momento da coleta de dados.
A coleta de dados ocorreu no mês de julho de 2017, por meio de entrevistas individuais, em local e horário previamente combinados, seguindo um roteiro semiestruturado, organizado em duas partes. A primeira parte do roteiro obtém informações sobre a identificação (Ex: E1, E2), tempo de serviço, grau e tempo de formação; já a segunda parte é relacionada ao reconhecimento do processo de atualização dos enfermeiros e o uso das tecnologias educacionais no processo de trabalho. Essas entrevistas foram áudio-gravadas, seguidas de posterior transcrição das informações obtidas.
Os dados foram organizados em tabelas no programa Microsoft Word ®. As respostas referentes a primeira etapa do roteiro de perguntas, foram divididas nos tópicos “Categoria”, “Quantidade” e “Detalhes”. Já as informações referentes a segunda etapa do roteiro, foram separadas de acordo com cada pergunta nos tópicos “Identificação”, “Resposta”, “Núcleo de Sentido” e “Palavra (s) Síntese”.
Após configurado o corpus teórico por meio da organização dos dados, a análise ocorreu por meio da Análise Temática de Minayo, passando pelas três etapas que consistem em uma pré-análise das informações obtidas por meio de uma leitura flutuante das informações, para em seguida, ser realizada a análise e a interpretação das mesmas.
Resultados e Discussão
Na pesquisa foram entrevistados 12 enfermeiros, dentre os quais, a maioria era do sexo feminino e com formação em cursos de pós-graduação, incluindo especializações e uma com mestrado concluído. A idade variou de 29 a 46 anos, o tempo de conclusão da graduação de 5 a 22 anos e o tempo de serviço na instituição de 1 a 14 anos. Destes enfermeiros, quatro atuam no ambulatório e oito atuam nas unidades de internação.
Os dados analisados resultaram em duas categorias. A primeira categoria denominada: “As implicações da atualização do enfermeiro para o cuidado à pessoa com ferida oncológica de cabeça e pescoço” tratou sobre o processo de atualização realizado por meio da educação permanente da instituição e os conhecimentos adquiridos pelos profissionais. A segunda categoria “O uso de tecnologias educacionais no cotidiano do enfermeiro no cuidado à pessoa com ferida oncológica de cabeça e pescoço” buscou mostrar o uso das tecnologias educacionais no cotidiano dos enfermeiros, juntamente com a opinião dos profissionais sobre o seu uso na rotina do processo de trabalho.
As implicações da atualização do enfermeiro no cuidado à pessoa com ferida oncológica de cabeça e pescoço
O acelerado processo de modernização científica e tecnológica tem gerado novas formas de construir o conhecimento e estabelecer relações com o mundo do trabalho. Neste contexto, as ações da EPS visam a atualização dos profissionais no ambiente de trabalho, a fim de aprimorar a prática clínica, e ainda, preencher as lacunas do processo de formação5. Esta lacuna foi identificada no estudo, onde o contato com a temática sobre ferida oncológica de cabeça e pescoço foi incipiente na graduação, ocorrendo o aprofundamento após o ingresso dos enfermeiros na instituição estudada, assim como, o identificado no estudo realizado na Atenção Básica de Saúde3.
Na graduação não teve nada específica, a gente tinha sobre os curativos, mas era tudo no geral, não específico de oncologia. Aprendi através de cursos aqui dentro mesmo, e também através da nossa estomaterapeuta que ela sempre orienta. (E4)
Pouco na graduação. A graduação te mostra o caminho, e tu tem que pesquisar, tem que estudar. Para aprenderes realmente, é o dia a dia que te faz, mas se não te dedicares, não sentares, não leres e não trocares ideia ou conhecimento com pessoas que sabem mais do que você, tu não consegues ser um bom profissional. Tu consegues ser um bom profissional, a partir do momento que o teu conhecimento é aprendido e eu posso te passar o meu conhecimento. Porque todo dia é artigo novo, todo dia é uma experiência nova, todos os dias são coberturas novas que estão no mercado, se não, a gente não consegue ir para frente. (E9)
A EPS traz vários benefícios, permitindo em curto prazo proporcionar condições de melhorias do desempenho técnico dos enfermeiros, prevenindo falhas e valorizando a ciência como fonte de conhecimento. A médio e longo prazo, pode favorecer a reflexão crítica do trabalho, articulando o arcabouço teórico com a prática profissional11.
A instituição estudada, como centro de referência para o tratamento oncológico em Santa Catarina, adota ações de EPS focadas em conhecimento atualizado na área de oncologia, preparando estes profissionais para atuação na prática. Este modelo educacional é um dos métodos mais apropriados para o contexto, capaz de gerar mudanças nos modelos assistenciais da prática, no processo de trabalho e na forma de aplicar as atividades educativas em serviço, por meio da identificação das necessidades do cotidiano e do desenvolvimento dos profissionais5.
Nesta instituição, a EPS oferece aos profissionais atividades de capacitação e atualização que permitem a aquisição de conhecimento específico, qualificando para o cuidado às pessoas com feridas oncológicas12. Destaca-se entre estas atividades educacionais, os cursos e capacitações, como também, os grupos de estudos, nos quais permitem a discussão de casos, troca de experiências e aperfeiçoamento do conhecimento, demostrando que o aprendizado é consolidado a partir do momento que se faz a reflexão do conteúdo teórico com a vivência na prática. Deve-se ainda ressaltar que o saber não é apenas o resultado da obtenção de conhecimentos teóricos, mas sim, da construção deste conhecimento aliado aos saberes da prática adquiridos pela experiência profissional13.
A gente tem cursos periódicos de curativo, de estomaterapia, de vários assuntos e vamos aprendendo, junto com o dia a dia. (E1)
As atualizações que fazemos diariamente aqui faz termos um melhor parâmetro. E aqui temos bastante capacitações e muitas aulas, a gente acaba discutindo e trocando experiência entre nós também, então, isso eu acho que é o que deixa o nosso trabalho redondo. (E9)
A educação permanente na instituição acaba estimulando os profissionais a buscarem outros tipos de conhecimentos, [...] estar fazendo esse tipo de atividade no dia a dia, faz conseguirmos prestar um melhor serviço. (E9)
A forma estabelecida para a realização da EPS pela instituição da pesquisa, permite a triangulação de métodos de ensino com a inclusão de recursos midiáticos, tanto para manter a atualização de seus profissionais quanto para incluir aqueles que recém foram contratados5.
Apesar do grande potencial da EPS, foi possível perceber que a maioria dos profissionais dependem exclusivamente dessas atualizações e conhecimentos ofertados pelo serviço, havendo pouca procura de conhecimento fora do ambiente de trabalho.
Aprendemos aqui, tudo aqui. (E1)
[...] eu tento me atualizar aqui dentro da instituição. Então, o programa de educação permanente oferece os cursos internos aqui [...] quando tem uma atualização, ou algum representante de empresas que vem trazer algum material e chamam a gente para avaliar um produto, ou realizar pareceres técnicos e ver como o produto está reagindo no paciente. A instituição oferece espaço para os representantes mostrarem o que tem de atual e melhor no mercado. [...] o mercado atuando junto conosco. E também, a nossa enfermeira que é especialista em Estomaterapia, ela sempre busca trazer atualizações aqui para a instituição, através de palestras e cursos. (E10)
Esta situação pode se relacionar ao fato de que nem todos os enfermeiros buscam formação especializada e atualizada, necessitando assim, que a instituição tenha estratégias para estimular os profissionais no progresso teórico e prático12. Como também, pode ser explicada pela falta de tempo dos profissionais, os quais passam a maior parte do dia na instituição, aproveitando para participar das atualizações neste ambiente, fato pelo qual não buscam outras alternativas de atualização fora do trabalho.
Levando em consideração um ambiente hospitalar especializado em oncologia, o fácil acesso às informações e a rápida produção de novas evidências científicas, aumenta a exigência e faz com que se passe a exigir profissionais cada vez mais capacitados para a atuação na área12. Neste sentido, os conhecimentos e o desenvolvimento de habilidades pelo enfermeiro devem ser aprimorados após a graduação por meio de cursos de pós-graduação, capacitações, qualificações, atualizações, cursos e congressos3).
Evidenciou-se, assim, a escassa abordagem sobre a temática na formação profissional, ressaltando a necessidade da busca de novos conhecimentos e atualizações de modo constante. Este aprendizado encontra-se fortalecido devido ao processo de EPS oferecido pela instituição, complementado com a prática e a troca de experiência com outros profissionais.
O uso de tecnologias educacionais no cotidiano do enfermeiro no cuidado à pessoa com ferida oncológica de cabeça e pescoço.
Os meios de atualização de conhecimento em enfermagem oncológica pode ser realizados de distintas maneiras, contudo, as TIC estão cada vez mais presentes na vida dos profissionais10. Na área da saúde e também na enfermagem, este campo encontra-se em crescente expansão nos últimos anos, tendo como benefícios a facilidade, auxílio e melhorias na qualidade dos serviços; melhorias na eficácia, efetividade e segurança do cuidado; favorecendo a troca de experiências e interlocução de informações; auxílio na administração do tempo de trabalho; ajuda na avaliação de parâmetros clínicos, além de contribuir para solução de problemas e tomadas de decisões14-15. No entanto, o estudo demonstrou que a maioria dos profissionais não utiliza essas tecnologias no cotidiano, mesmo reconhecendo que podem ajudar de forma positiva na prática.
Dentre as diferentes ferramentas citadas como formas de auxiliar o enfermeiro na prática clínica, destacam-se algumas tecnologias educacionais. Levando em consideração as diferentes TICs disponíveis, os profissionais relataram o uso regular da internet, além dos grupos online nas redes sociais e registros fotográficos.
A educação permanente é uma ferramenta que auxilia nosso trabalho. Temos um grupo de feridas, a estomaterapeuta é a coordenadora do grupo e todas as dúvidas conversamos com ela. Também, colocamos as dúvidas no grupo do WhatsApp, e às vezes, a gente tira uma foto, pegamos autorização do paciente, arquivamos no prontuário a autorização e discutimos qual o melhor produto para aquela ferida. (E10)
Hoje em dia mesmo, a internet. Na internet que tu vais procurar novos conhecimentos. Rever e até mesmo, se tu quiseres procurar figuras e artigos. (E4)
A internet é uma ferramenta que permite a socialização de informações, sendo essencial para o uso de muitas TIC e também, sendo base para inovações práticas de ensino, diminuindo a restrição do acesso e facilitando a busca de informações confiáveis6.
Internet é uma boa ferramenta, dependendo do que tu vai pesquisar, das fontes que vais usar, mas é uma boa ferramenta. O Whatsapp é uma ferramenta de comunicação muito boa, a gente usa muito aqui no setor, quando tem dúvida, coloca no grupo, uma outra pessoa, com um outro olhar sugere alguma coisa.(E3)
O registro fotográfico é outra tecnologia bastante conhecida, utilizada como forma de documentação que auxilia no cuidado de pessoas com feridas oncológicas. A facilidade e agilidade deste tipo de registro o torna indispensável para o acompanhamento e tratamento do paciente com feridas oncológicas. Por meio deste, a avaliação pode ser realizada por vários profissionais, discutindo e favorecendo a melhor conduta diagnóstica e terapêutica. Além disso, a tecnologia permite a comparação com o quadro anterior, facilitando a avaliação da evolução e da percepção de uma melhor conduta, podendo também, ser utilizada no ensino e pesquisa16.
Cada vez que a gente vai fazer um curativo, fazemos uma foto e encaminhamos para a estomaterapeuta para ter uma concordância. A gente acompanha a evolução diariamente, isso é importante. O tamanho, se progrediu, regrediu. [...] E a gente consegue ver se teve uma evolução boa ou não. [...]. Então, serve como comparativo bem interessante para a nossa área. (E9)
Apesar da EPS ter sido citado como ferramenta que auxilia no cotidiano do enfermeiro, a maioria dos participantes não associaram a facilidade do uso das tecnologias atrelado ao processo de educação. Levando em consideração que esta interligação gera a melhoria da comunicação e difusão de conhecimento em diferentes espaços e tempos17.
Neste sentido, apenas um dos enfermeiros reconheceu a importância dos aplicativos na educação permanente em enfermagem oncológica, indo de encontro à literatura, afirmando ser uma ferramenta importante para acessar, coletar e documentar informações sobre o paciente em seu próprio leito, realizar etapas do processo de enfermagem e acompanhar a necessidade de mobilidade dos profissionais nas ações de assistência ao paciente18.
Acho que os aplicativos são ferramentas boas. Hoje, sobre a questão de segurança do paciente e qualidade do serviço; os aplicativos, materiais educativos, a educação em saúde, educação permanente, tem que possuir na instituição. Porque é isso que acaba estimulando os profissionais a buscarem outros tipos de conhecimentos [...]. (E9)
Na enfermagem, os dispositivos móveis podem ser aplicados de diferentes formas (monitoramento remoto, apoio diagnóstico e auxílio na tomada de decisões), sendo uma ferramenta que pode auxiliar na prática desses profissionais, em especial, pela ausência de barreiras de tempo e espaço para sua utilização14,19. Mas para isso, este dispositivo deve ser baseado em conhecimento científico e elaborados de forma dinâmica, de fácil acesso e associado à realidade da instituição. Além disso, devem ter imagens, alertas informativos, contato direto com a equipe para discussões, espaço para o registro fotográfico e comparação das evoluções.
O aplicativo não é a nossa vivência, mas, acho que facilita muito o trabalho. É uma ferramenta que vai ser positiva. Acho que favorece no dia a dia, igual como a qualquer outro aplicativo voltado à saúde ou para outro assunto. Acho que tem que ser um aplicativo de fácil acesso, com palavras simples [...], ter conceitos, ter links, categorias ou subcategorias que te leve a determinados alertas, qual tipo de material e o porquê. E também, se tiver sangramento, o que fazer com o sangramento, quais são as indicações, para onde levar ou, para onde encaminhar. (E9)
Deve conter o contato com outro profissional para tirar dúvidas, ou então, [...] mandar as fotos do curativo direto para a nossa equipe quando estiver fazendo. Claro! Sempre com a autorização do familiar e paciente. Encaminhando a foto e avaliando em grupo. Isso já facilitaria bastante. (E4)
O aplicativo é bem-vindo. Sendo uma ferramenta não muito extensa, não cansativa, mais objetiva e dinâmica, fácil de tu poder preencher, direcionando, acho que é viável. Hoje em dia, a tecnologia, já é comprovado que vem para facilitar, para diminuir o tempo, para agilizar o serviço. Pode ter um Check Box, onde possa ir marcando quais características o paciente está apresentando e no final, direcionar o que tu podes utilizar. Sendo atualizado pela própria TI (Tecnologia da Informação) da instituição, e conforme os produtos que a gente tem de estoque, lincando com a realidade. (E10)
Percebe-se que ainda existe pouca utilização das tecnologias como ferramentas educacionais no cotidiano dos enfermeiros. Esse resultado pode ser reflexo da resistência de alguns enfermeiros quanto ao seu uso na prática clínica, sendo este perceptível nos questionamentos da pesquisa, podendo partir do pressuposto de que alguns profissionais possam utilizá-lo de forma incorreta, sem aplicar os conhecimentos científicos adquiridos ao longo de sua carreira.
Então, eu não tenho muito contato. Eu acho bem interessante, só que continuo achando que a pessoa tem que estudar e ter conhecimento. Porque acaba é que as pessoas não querem pensar, elas querem que esteja escrito na caixa: esse aqui é usado para isso e esse para isso. E, na ferida nunca vai ser de uma maneira só. (E8)
Esta situação pode se relacionar à falta de conhecimento, inexperiência com o uso destas ferramentas, ou até mesmo, pelo desgaste da rotina do trabalho. Todavia, o uso dessas tecnologias na enfermagem deve levar em conta o ser humano, não sendo possível generalizar condutas, mas sim adaptar de acordo com a situação e individualidade do cuidado ao cada indivíduo20.
A utilização correta das tecnologias, associada ao conhecimento previamente adquirido dos profissionais poderá auxiliar na prática clínica, sendo necessário a conscientização destes quanto a inserção das tecnologias no processo de educação em saúde, a fim de mostrar as diferentes formas de utilizá-las como fonte benéfica no seu cotidiano.
Conclusão
O objetivo da pesquisa foi contemplado, uma vez que permitiu reconhecer a realidade dos enfermeiros de uma instituição referência em oncologia no estado de Santa Catarina, voltado para o uso das tecnologias educacionais no processo de atualização desses profissionais sobre o cuidado à pessoa com ferida oncológica de cabeça e pescoço.
O estudo evidencia que os cuidados de enfermagem à pessoa com ferida oncológica de cabeça e pescoço são pouco abordados na graduação, mostrando um déficit na formação acadêmica desses enfermeiros. A maior parte do conhecimento desses profissionais é adquirida na prática, por meio da EPS oferecida na instituição, destacando-se como essencial para a atualização dos profissionais e qualidade do serviço prestado.
A instituição disponibiliza diferentes formas de acesso a atualização dos profissionais no serviço, sendo estas vistas como ferramentas importantes e auxiliadoras do processo de trabalho, entretanto, a instituição não demonstra vincular os métodos tecnológicos à educação permanente, apesar dos enfermeiros reconhecerem os benefícios trazidos na prática profissional. Sugere-se então, que a instituição busque a integração do uso de tecnologias educacionais na prática profissional para tal finalidade.
Este estudo é um pequeno passo na construção de conhecimento sobre a temática, já que esta, foi realizada em um único centro de referência oncológica, abrangendo uma quantidade significativamente pequena de enfermeiros, o que pode limitar os resultados do mesmo. Desta forma, mostra-se a necessidade de mais estudos que comprovem a temática, a fim de incentivar os profissionais e instituições a adotarem fontes de tecnologias como meio de educação permanente na saúde, auxiliando na prática profissional.
O trabalho serviu para reconhecer a realidade sobre as atualizações e tecnologias educacionais utilizadas pelo enfermeiro no cuidado à pessoa com ferida oncológica de cabeça e pescoço. E a partir dessa análise, sugerir a integração da tecnologia ao programa de educação permanente já existente, levando em consideração todos os benefícios que esta fornece ao profissional, principalmente, associado a existência de um sistema de informação na instituição.
Esse manuscrito auxiliou nessa aplicabilidade, por meio do delineamento de um aplicativo, iniciado pela elaboração da estrutura de um software em forma de fluxograma que apresenta as etapas desse instrumento e também, a elaboração de um manual prático que auxiliarão na avaliação, escolha terapêutica e raciocínio clínico na prática profissional. Além disso, a submissão desse artigo é um meio de divulgação e incentivo para realização de mais pesquisas e aprofundamento sobre a temática que pela profissão ainda é escassa.
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Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
05 Ago 2019 -
Data do Fascículo
2019
Histórico
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Recebido
24 Dez 2018 -
Aceito
16 Abr 2019