A hemorragia intracraniana constituí uma grave complicação na evolução dos recém-nascidos de muito baixo peso (RN-MBP) no período neonatal. Realizou-se este estudo, incluindo os recém-nascidos de muito baixo peso admitidos no Berçário Anexo à Maternidade do Hospital das Clínicas da FMUSP, com o objetivo de determinar a incidência de hemorragia intracraniana (HIC), os fatores de risco associados e sua evolução no período neonatal. Foram analisados o peso de nascimento, idade gestacional, presença de asfixia neonatal, uso de ventilação mecânica, tempo de internação, presença de episódios de apnéia, hidrocefalia e leucoencefalomalácia. O diagnóstico de HIC baseou-se no exame ultra-sonográfico realizado até o décimo dia de vida, de acordo com a classificação de Papille. Foram admitidos no período 101 RN-MBP, dos quais 67 preencheram aos critérios de inclusão. A taxa de mortalidade do período foi de 30,6% (31/101) e a incidência de HIC foi de 29,8% (20/67), sendo 70% grau I, 20 grau II e 10% grau IV. A incidência de HIC em recém-nascidos com peso de nascimento menos do que 1000g foi de 53,8% (p=0,04) naqueles com idade gestacional menor do que 30 semanas, considerando-se ambos como fatores de risco para o seu desenvolvimento. Os recém-nascidos que evoluíram com HIC permaneceram mais tempo sob ventilação mecânica (p=0,038) e apresentaram um risco relativo de 2,3 de desenvolver episódios de apnéia (p=0,02), 3,7 de hidrocefalia (p=0,0007) e 7,7 de leucoencefalomalácia (p<0,00001). É importante o reconhecimento dos fatores de risco associados à HIC para o estabelecimento de esquemas de prevenção, objetivando a redução da sua incidência com melhora do prognóstico desses recém-nascidos.
Hemorragia intracraniana; Período neonatal