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Penicilina na fase avançada da leptospirose: um ensaio clínico randomizado

Existe evidência de que o início precoce do tratamento com penicilina reduz a letalidade da leptospirose e de que a quimioprofilaxia é eficaz em pessoas expostas às fontes de infecção. Os dados existentes, contudo, são inconsistentes quanto ao benefício de iniciar penicilina na fase tardia da leptospirose. O presente estudo foi desenvolvido para avaliar se a introdução de penicilina após mais de quatro dias de sintomas reduz a letalidade da leptospirose. Um total de 253 pacientes entre 15 e 76 anos de idade, com leptospirose avançada, i.e., mais de quatro dias de sintomas, admitidos em um hospital de doenças infecciosas localizado em Salvador, Brasil, foram selecionados para o estudo. Os pacientes foram randomizados para um dos seguintes grupos de tratamento: com penicilina intravenosa, 6 milhões de unidades/dia (um milhão de unidades cada quatro horas) por 7 dias (n = 125) e sem penicilina (n = 128). O evento principal foi morte durante o período de internamento. A letalidade foi aproximadamente duas vezes maior no grupo tratado com penicilina (12%; 15/125) do que no grupo de comparação (6,3%; 8/128). Esta diferença seguiu direção oposta a da hipótese do estudo, porém não alcançou significância estatística (p = 0,112). A duração do internamento foi similar entre os grupos de tratamento. De acordo com os resultados do presente ensaio clínico randomizado o uso de penicilina não é benéfico em paciente com leptospirose quando iniciado com pelo menos quatro dias após o início dos sintomas. Portanto, maior atenção deve ser dada à prevenção e ao inicio mais precoce do tratamento da leptospirose.


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