QUAN - Perfil sóciolaboral
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qual - Categoria 1: Reestruturação das equipes de trabalho
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Resultado misto: Há diferenças na composição das equipes de enfermagem que atuavam nas unidades dedicadas e não dedicadas à COVID-19 |
Trabalhadores homens (p=0,004), de cor preta/parda/outra (p=0,015), com vínculo temporário (p<0,001), com menor tempo de trabalho na área (p<0,001), na instituição (p<0,001) e no setor (p<0,001) e que possuíam outro emprego (p<0,001) prevaleceram nas unidades dedicadas. |
Unidades Dedicadas |
Unidades Não Dedicadas |
Trabalhadores com doenças crônicas (p<0,001) e autodeclarados do grupo de risco (p<0,001) prevaleceram nas unidades não dedicadas |
A outra questão foi que mudou muito, dos meus colegas que trabalhavam comigo de tarde, não tem nenhum, são todos novos, são muitos colegas de contratos temporários, emergenciais, de outras unidades, a nossa chefia [...] (TE 1 - COVID)
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[...] todos eles [pacientes] seguiram tratando, mas com muitas restrições, então demandou muito da nossa equipe [...] nós precisamos fazer várias adaptações [...] colegas adoeceram e nós tivemos que reorganizar a nossa escala de trabalho, o fluxo dos pacientes também [...] (ENF 2 - Não COVID)
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Foi bem difícil quando eu cheguei lá, funcionários que eram considerados grupo de risco foram realocados para outras unidades, então alguns funcionários que eram da unidade tiveram que sair e para cobrir esses funcionários tiveram que trazer de outras unidades, como eu [...] direcionaram as pessoas que eram do grupo de risco, idosos, gestantes, lactantes e eu fui para unidade dedicada à COVID. (TE 5-COVID) |
Nós ficávamos com bastante pacientes de outra área [especialidade da unidade]. Ficávamos em quadro reduzido, nós deveríamos ficar em seis profissionais só que ficávamos em cinco, às vezes aconteceu de ficarmos em quatro uma noite, quatro pessoas cuidando de toda a unidade e dando conta. (TE 2 - Não COVID) |
QUAN - Percepção de risco e exigências laborais
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qual - Categoria 2: Compreensão do risco e das demandas laborais
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Resultado misto: Há diferenças nas percepções de risco e dos níveis de exigência das equipes de enfermagem que atuavam nas unidades dedicadas e não dedicadas à COVID-19 |
O aumento nas exigências do trabalho durante a pandemia (p<0,001) foi maior entre trabalhadores que atuaram nas unidades dedicadas. |
Unidades Dedicadas |
Unidades Não Dedicadas |
Trabalhadores das unidades não dedicadas experienciaram maior medo da exposição ao risco de contaminação (p=0,028). |
[...] além do cuidado com as comorbidades de cada um, nós tínhamos pacientes que eram internados no hospital por problemas clínicos, pacientes pós-operatório, tudo junto, mais a descompensação pela doença COVID; então nos exigiu bastante adaptação, buscar conhecimento atrás do que podíamos fazer [...] (TE 10 - COVID)
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Depois de uns dois dias que ele saiu da cirurgia, ele positivou e toda a equipe foi contaminada, só os anestesistas que não porque eles estavam tomando mais cuidado, com face-shield e tudo. Está complicado lidar com essa situação. É tudo muito novo, não tem tratamento e quando menos esperamos o paciente é COVID. (TE 3 - Não COVID)
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Eu estava sempre muito cansado, fazendo muito plantão de 12h, manhã e tarde ou tarde e noite. E cansa muito, a saúde mental é extrema, não é só fazer o meu serviço sabendo que estou me colocando em risco, é tudo. Vou trabalhar sabendo que tem que fazer tudo minuciosamente, paramentação e desparamentação e as coisas dentro do quarto, para não me contaminar, então começo a ficar nervoso, entro no quarto com uma carga emocional muito apreensiva, não consigo entrar tranquilamente. (TE 4 - COVID)
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No começo foi bem difícil, eu lembro de um paciente que eu cuidei, um senhor que estava com conjuntivite, bastante secreção ocular e nós estávamos sem EPI. Eu fiz a higiene ocular, fiquei bem perto dele; no outro dia: COVID! O paciente da frente também positivou e depois de uns dias ele morreu. Eu fiquei pensando: ‘meu Senhor! onde é que eu estou, meu Senhor?!’ Depois de uma semana em contato com o paciente que íamos descobrir que era COVID e isolávamos todo o quarto, trocávamos todos os pacientes para outro setor, levava para o isolamento, era uma confusão, meu Deus do céu e nós no meio. Porque nós nos sentimos desamparados, porque nós que estamos cuidando, e o cuidado conosco? Não tem. Demorou bastante para se ter algum cuidado conosco, pelo menos onde eu estava, de fornecer EPI, mas era racionado. (TE 2 - Não COVID) |
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[...] minha última semana foi de ter que escolher quem que vai morrer e nós não estudamos para isso. Eu tento, estou muito abalada por esta última semana [chorando] e ainda bem que eu estou de férias, porque realmente ninguém está pronto para lidar com essas situações. Essa semana nós estávamos com 4 pacientes e 1 foi escolhido e os outros 3 estavam cientes que não tinham sido escolhidos e nós do lado desesperados, vendo eles, jovens, mas não tinha respirador e não tinha leito de UTI [Unidade de Terapia Intensiva]. (TE 5 - COVID) |
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QUAN - Implicações da pandemia sobre a saúde dos trabalhadores
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qual - Categoria 3: Impacto na saúde do trabalhador
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Resultado misto: A pandemia impactou de forma similar a saúde dos trabalhadores de enfermagem que atuavam nas unidades dedicadas e não dedicadas à COVID-19 |
O início do uso de medicamentos durante a pandemia (p=0,340), o afastamento do trabalho por saúde durante a pandemia (p=0,218), o afastamento do trabalho por suspeita de COVID-19 (p=0,351) e pelo diagnóstico de COVID-19 (p=0,221), a autoavaliação de impacto sobre a saúde física (p=0,597) e os Distúrbios Psíquicos Menores (p=0,535) foram igualmente presentes entre os trabalhadores que atuaram nas unidades dedicadas e não dedicadas. |
Unidades Dedicadas |
Unidades Não Dedicadas |
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Nós presenciamos cenas de crises de ansiedade e pânico de profissionais, apagões, paralisias e isso jamais vai sair da nossa memória. Foram momentos extremamente chocantes porque vimos esses comportamentos em profissionais antigos, seguros, capazes, experts na área. [...] e essas cenas de medo, de paralisação, de pânico ainda vêm na nossa cabeça. [...] num primeiro momento trouxe impactos negativos, porque vieram à tona sentimentos, frustrações, medo, ansiedade, sentimento de impotência mesmo. [...] houve bastante somatização, medo, ansiedade. Crises de ansiedade, às vezes veladas. (ENF 3 - COVID) |
O primeiro paciente que eu recebi que positivou eu fiquei com medo, naquela semana eu fiquei bem ansiosa, até passar uns 10 dias eu fiquei bem ansiosa. Pensando, será que eu acabei encostando a roupa na paciente, não tinha a proteção devida. (ENF 1 - Não COVID) |
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Foi muito angustiante para nós todos. Eu estive muito ansiosa, observei que eu tive uma espécie de síndrome de pânico, porque era muita informação, era muita mudança. Tiveram plantões que a cada noite nós levávamos um paciente para UTI, então gera muita ansiedade no grupo. [...] E aquela ansiedade, aquele medo, uma coisa muito de não saber o que vai acontecer mesmo. Achei que afetou bastante, eu estava vendo que eu estava com síndrome do pânico. E os colegas também estavam se sentindo assim. (ENF 5 - COVID) |
Dor de cabeça, nesses últimos meses eu tenho quase todos os dias, tive problema gastrointestinal devido ao estresse, à ansiedade e eu não consegui dormir de noite, eu perdi o sono às 2h da manhã pensando “eu vou ter que trabalhar”, perdi o sono e começou a dor de cabeça. [...] estou bem esgotada, bem cansada, porque tem muito paciente pós COVID e esses pacientes são todos acamados e sobrecarregam. [...] é um somatório da sobrecarga da pandemia, de termos familiares, termos vida fora daqui, termos problemas. O meu marido saiu do isolamento semana passada, ele teve COVID, meu filho pequeno teve bronquite, e eu fico com toda aquela pressão pensando “será que eu estou trazendo pra casa o COVID?”, eu morro de medo de contaminar meu filho. Eu vivo nessa pressão. (TE 8 - Não COVID) |