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Fatores associados à não adesão ao tratamento farmacológico de pacientes com insuficiência cardíaca* * Artigo extraído da dissertação de mestrado “Adesão ao tratamento farmacológico e comportamento de autocuidado de pacientes com insuficiência cardíaca”, apresentada à Universidade Federal de São Paulo, Escola Paulista de Enfermagem, São Paulo, SP, Brasil. Apoio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), processo nº 309586/2021-6, Brasil.

Resumo

Objetivo:

identificar os fatores que contribuem para a não adesão ao tratamento farmacológico de pacientes com insuficiência cardíaca.

Método:

estudo transversal e analítico que utilizou a escala de Medida de Adesão ao Tratamento para avaliar a não adesão ao tratamento farmacológico. Variáveis independentes foram coletadas utilizando-se a European Heart Failure Self-care Behavior Scale e um instrumento elaborado pelos autores, baseado em estudo anterior. Foram utilizados testes estatísticos para análise dos dados, sendo considerados significativos os valores de p≤0,05.

Resultados:

a amostra foi composta por 340 pacientes. Desses, 9,4% foram classificados como não aderentes. Os resultados da análise múltipla mostraram que o aumento de uma unidade no escore de autocuidado leva a um aumento de 8% na prevalência de não adesão do indivíduo; pacientes com renda familiar superior a três salários mínimos têm prevalência de não adesão ao tratamento igual a 3,5% da prevalência entre aqueles com até um salário mínimo; indivíduos que ingerem bebida alcoólica e sofrem de depressão têm prevalências de não adesão 3,49 e 3,69 vezes maiores, respectivamente, do que aqueles que não têm tais antecedentes.

Conclusão:

a não adesão ao tratamento farmacológico relacionou-se com comportamento de autocuidado, renda familiar, depressão e ingestão de bebida alcoólica.

Descritores:
Adesão à Medicação; Cardiologia; Cooperação e Adesão ao Tratamento; Cuidados de Enfermagem; Enfermagem; Insuficiência Cardíaca

Abstract

Objective:

to identify the factors contributing to medication non-adherence among patients with heart failure.

Method:

cross-sectional and analytical study using the Medida de Adesão ao Tratamento [Treatment Adherence Measure] scale to assess medication non-adherence. Independent variables were collected using the European Heart Failure Self-care Behavior Scale and an instrument developed by the authors based on a previous study. Statistical tests were implemented to analyze data with p≤0.05 statistical significance.

Results:

the sample comprised 340 patients, with 9.4% considered non-adherent. The multiple analysis results showed that one unit increase in an individual’s self-care score led to an 8% increase in the prevalence of non-adherence; patients with a family income above three times the minimum wage presented a prevalence of non-adherence equal to 3.5% of the prevalence of those with up to one times the minimum wage; individuals consuming alcohol or with depression presented 3.49 and 3.69 times higher prevalence of non-adherence, respectively, than individuals not presenting such history.

Conclusion:

medication non-adherence was associated with self-care, family income, depression, and alcohol consumption.

Descriptors:
Adherence; Cardiology; Treatment Adherence and Compliance; Nursing Care; Nursing; Heart Failure

Resumen

Objetivo:

identificar los factores que contribuyen para la no adhesión al tratamiento farmacológico de pacientes con insuficiencia cardíaca.

Método:

estudio transversal y analítico que utilizó la escala de Medida de Adhesión al Tratamiento para evaluar la no adhesión al tratamiento farmacológico. Las variables independientes fueron recolectadas utilizando la European Heart Failure Self-care Behavior Scale y un instrumento elaborado por los autores, basado en estudio anterior. Fueron utilizadas pruebas estadísticas para el análisis de los datos, siendo considerados significativos los valores de p≤0,05.

Resultados:

la muestra estuvo compuesta por 340 pacientes; de esos, 9,4% fueron clasificados como no adherentes. Los resultados del análisis múltiple mostraron que el aumento de una unidad en el puntaje de autocuidado lleva a un aumento de 8% en la prevalencia de la no adhesión del individuo; pacientes con renta familiar superior a tres salarios mínimos tienen prevalencia de no adhesión al tratamiento igual a 3,5% de aquellos que reciben hasta un salario mínimo; individuos que ingieren bebida alcohólica y sufren de depresión, tienen prevalencias de no adhesión de 3,49 y 3,69 veces mayores, respectivamente, que aquellos que no tienen esos antecedentes.

Conclusión:

la no adhesión al tratamiento farmacológico se relacionó con comportamientos de autocuidado, renta familiar, depresión e ingestión de bebida alcohólica.

Descriptores:
Cumplimiento de la Medicación; Cardiología; Cumplimiento y Adherencia al Tratamento; Atención de Enfermeira; Enfermería; Insuficiencia Cardíaca

Destaques:

(1) A adesão ao tratamento farmacológico relacionou-se com o comportamento de autocuidado.

(2) Pacientes com renda familiar maior que três salários têm menor propensão à não adesão.

(3) Outra associação com a não adesão ao tratamento farmacológico foi a depressão.


Introdução

As doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) são responsáveis por elevadas taxas de morbidade e de mortalidade em todo o mundo11. Domingo C, Aros F, Otxandategi A, Beistegui I, Besga A, Latorre PM. Eficácia de un programa multidisciplinar de gestión de cuidados en pacientes que ingresan por insuficiencia cardiaca (ProMIC). Aten Primaria. 2019;51(3):142-52. https://doi.org/10.1016/j.aprim.2017.09.011
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. Dentre essas doenças, inclui-se a insuficiência cardíaca (IC), definida como uma síndrome clínica complexa de caráter sistêmico, ocasionando disfunção cardíaca e inadequado suprimento sanguíneo para atender às necessidades metabólicas do organismo22. McDonagh TA, Metra M, Adamo M, Gardner RS, Baumbach A, Böhm M, et al. ESC Scientific Document Group. 2021 ESC Guidelines for the diagnosis and treatment of acute and chronic heart failure. Eur Heart J. 2021;42(36):3599-726. https://doi.org/10.1093/eurheartj/ehab368
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.

No Brasil, no ano de 2021, foi constatado que 31.336 indivíduos morreram em decorrência da IC33. Ministério da Saúde (BR). Sistema de Informações sobre Mortalidade - SIM. Consolidação da base de dados de 2021 - Brasil [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2021 [cited 2023 Jul 17]. Available from: Available from: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?sim/cnv/obt10uf.def
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e que essa doença foi responsável por um custo de 1,5 bilhão de reais entre janeiro de 2017 e dezembro daquele ano, tornando-se um problema de saúde pública44. Ministério da Saúde (BR), Departamento de Informações do Sistema Único de Saúde (DATASUS). Morbidade hospitalar do SUS. Insuficiência cardíaca [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde ; 2021 [cited 2023 Aug 10]. Available from: Available from: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?sih/cnv/nruf.def
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. Por sua vez, nos Estados Unidos da América, aproximadamente seis milhões de habitantes com idade maior ou igual a 20 anos tinham IC entre 2015 e 201855. Tsao CW, Aday AW, Almarzooq ZI, Alonso A, Beaton AZ, Bittencourt MS, et al. Heart disease and stroke statistics-2022 Update: a report from the American Heart Association. Circulation. 2022;145(8):e153-e639. https://doi.org/10.1161/CIR.0000000000001052
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, com um aumento estimado em aproximadamente 46% de casos nos 15 anos seguintes, perfazendo mais de oito milhões de indivíduos com IC até 203066. Sokos GG, Raina A. Understanding the early mortality benefit observed in the PARADIGM-HF trial: considerations for the management of heart failure with sacubitril/valsartan. Vasc Health Risk Manag. 2020;16:41-51. https://doi.org/10.2147/VHRM.S197291
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.

O tratamento da IC é composto por medidas farmacológicas e não farmacológicas. Em muitos casos, esse tratamento é complexo77. Heidenreich PA, Bozkurt B, Aguilar D, Allen LA, Byun JJ, Colvin MM, et al. Correction to: 2022 AHA/ACC/HFSA Guideline for the management of heart failure: a report of the American College of Cardiology/American Heart Association Joint Committee on Clinical Practice Guidelines. Circulation. 2022;145(18):e1033. https://doi.org/10.1161/CIR.0000000000001073
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. O tratamento farmacológico tem como finalidade amenizar os sintomas e reduzir a morbidade e as taxas de readmissões e de óbitos decorrentes da IC77. Heidenreich PA, Bozkurt B, Aguilar D, Allen LA, Byun JJ, Colvin MM, et al. Correction to: 2022 AHA/ACC/HFSA Guideline for the management of heart failure: a report of the American College of Cardiology/American Heart Association Joint Committee on Clinical Practice Guidelines. Circulation. 2022;145(18):e1033. https://doi.org/10.1161/CIR.0000000000001073
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. Por sua vez, o tratamento não farmacológico enfoca atividade física, adesão ao controle da ingestão de líquidos e sódio, cuidados com a alimentação, cessação do tabaco, interrupção do uso de álcool, vacinação e monitorização do peso e dos sinais e sintomas da IC22. McDonagh TA, Metra M, Adamo M, Gardner RS, Baumbach A, Böhm M, et al. ESC Scientific Document Group. 2021 ESC Guidelines for the diagnosis and treatment of acute and chronic heart failure. Eur Heart J. 2021;42(36):3599-726. https://doi.org/10.1093/eurheartj/ehab368
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.

Apesar de sua importância, a adesão às recomendações de autogerenciamento da saúde está abaixo do ideal, o que aumenta o risco de mortalidade e hospitalizações88. Goldgrab D, Balakumaran K, Kim MJ, Tabtabai SR. Updates in heart failure 30-day readmission prevention. Heart Fail Rev. 2019;24:177-87. https://doi.org/10.1007/s10741-018-9754-4
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. Estudo multicêntrico realizado em três centros brasileiros, denominado EMBRACE, mostrou que a má adesão ao tratamento foi o principal motivo de descompensação da doença, representando 55% dos casos. Por sua vez, os que referiram uso irregular na última semana apresentaram um risco 22% maior de internação por má adesão99. Rabelo-Silva ER, Saffi MAL, Aliti GB, Feijó MK, Linch GFC, Sauer JM, et al. Precipitating factors of descompensation of heart failure related to treatment adhrecnce: multicentre study-EMBRACE. Rev Gaúcha Enferm. 2018;39:e20170292. https://doi.org/10.1590/1983-1447.2018.20170292
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. Pesquisa desenvolvida na Itália analisou o efeito da adesão ao tratamento medicamentoso na mortalidade e na readmissão de pacientes com IC. Os dados dessa pesquisa foram extraídos de um banco de dados que analisou 100.785 pacientes, que foram agrupados com base no número de classes medicamentosas prescritas (uma, duas ou três). Os resultados mostraram que houve redução de 15% de readmissões (OR=0,851; IC95%=0,821-0,882; p<0,0000) em pacientes aderentes a uma classe medicamentosa e de 29% em pacientes aderentes a três classes (OR=0,706; IC95%=0,651-0,767; p<0,0000). Ainda, houve redução de 28% na mortalidade (OR=0,722; IC95%=0,691-0,755) de participantes aderentes a uma classe medicamentosa e de 18% nos pacientes aderentes a três classes (OR=0,818; IC95%=0,742-0,9; p<0,0000)1010. Scalvini S, Bernocchi P, Villa S, Paganoni AM, La Rovere MT, Frigerio M. Treatment prescription, adherence, and persistence after the first hospitalization for heart failure: A population-based retrospective study on 100785 patients. Int J Cardiol. 2021;330:106-11. https://doi.org/10.1016/j.ijcard.2021.02.016
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. Outro estudo conduzido em 47 hospitais de sete países do Oriente Médio teve como objetivo identificar os fatores que contribuem para a readmissão e a mortalidade de pacientes com IC. Os resultados encontrados apontaram que a não adesão à dieta e a não adesão aos medicamentos são fatores precipitantes e significativos na readmissão e na mortalidade (p<0,001)1111. Shehab A, Sulaiman K, Barder F, Amin H, Salam AM. Precipitating factors leading to hospitalization and mortality in heart failure patients: findings from Gulf CARE. Heart Views. 2021;22(4):240-8. https://doi.org/10.4103/HEARTVIEWS.HEARTVIEWS_32_21
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.

Diante desse contexto, a implementação de programas de manejo da doença é de extrema importância1212. Inácio H, Carvalho A, Carvalho JG, Maia A, Durão-Carvalho G, Duarte J, et al. Real-Life Data on Readmissions of Worsening Heart Failure Outpatients in a Heart Failure Clinic. Cureus. 2023;15(2):e35611. https://doi.org/10.7759/cureus.35611
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. Uma revisão sistemática com meta-análise evidenciou que intervenções educativas, consulta telefônica e visita domiciliar contribuem para a melhora do desfecho dos pacientes com IC1313. Tinoco JMVP, Figueiredo LS, Flores PVP, Pádua BLR, Mesquita ET, Cavalcanti ACD. Effectiveness of health education in the self-care and adherence of patients with heart failure: a meta-analysis. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2021;29:e3389. https://doi.org/10.1590/1518-8345.4281.3389
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. Entretanto, torna-se necessário identificar os fatores que contribuem para a não adesão, de modo que os enfermeiros possam direcionar as suas intervenções.

Há diversos fatores que podem impactar a adesão ao tratamento. Pesquisa brasileira realizada no Rio Grande do Sul, cujo objetivo era analisar quais os fatores associados à má adesão ao tratamento, apresentou, em seus resultados, que a não adesão estava relacionada à idade avançada, ter três ou mais morbidades, possuir incapacidade instrumental para vida diária, tomar três ou mais medicamentos, não ter plano de saúde e ter que comprar todos ou parte dos medicamentos1414. Tavares NU, Bertoldi AD, Thumé E, Facchini LA, França GVA, Mengue SS. Factors associated with low adherence to medication in older adults. Rev Saúde Pública 2013;47(6):1092-101. https://doi.org/10.1590/S0034-8910.2013047004834
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. Outro estudo nacional realizado em João Pessoa (Paraíba), com 50 pacientes, evidenciou que aqueles do sexo masculino, com classe funcional III e com mais de uma comorbidade associada à IC demonstraram menores escores de adesão1515. Sousa MM, Campos RP, Oliveira JS, Oliveira SHS. Adesão de pacientes com insuficiência cardíaca à terapêutica instituída. Rev Baiana Enferm. 2019;(33):e30442. https://doi.org/10.18471/rbe.v33.30442
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.

Considerando a importância da identificação dos fatores associados à não adesão ao tratamento medicamentoso dos pacientes com IC para o planejamento da assistência e a implementação de intervenções, bem como a escassez de publicações no Brasil, surgiu a seguinte questão de pesquisa: quais são os fatores que se relacionam com a não adesão ao tratamento farmacológico de pacientes com IC? Dessa forma, o objetivo deste estudo foi identificar os fatores que contribuem para a não adesão ao tratamento farmacológico de pacientes com insuficiência cardíaca.

Método

Tipo do estudo

Trata-se de um estudo transversal e analítico. Para o desenvolvimento desta seção, utilizamos as diretrizes recomendadas pelo Strengthening the Reporting of Observational Studies in Epidemiology (STROBE)1616. Cuschieri S. The STROBE guidelines. Saudi J Anaesth. 2019;13(Suppl 1):S31-S34. https://doi.org/10.4103/sja.SJA_543_18
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.

Local

O estudo foi realizado no Ambulatório de Miocardiopatia de um hospital público do Estado de São Paulo.

Período

A coleta de dados ocorreu no período de 2018 a 2020.

População

Os participantes da pesquisa foram pacientes com diagnóstico médico de IC atendidos no Ambulatório de Miocardiopatia de um hospital público do estado de São Paulo.

Critérios de inclusão e exclusão

Pacientes com IC, maiores de 18 anos, sem déficit visual, auditivo e/ou cognitivo, diagnosticados pela equipe médica.

Definição da amostra

O tamanho da amostra foi determinado por um estudo-piloto com 21 pacientes, realizado no período de 5 a 26 de abril de 2018. A amostra do teste-piloto foi por conveniência, inserindo os pacientes que apareceram no serviço naquele período. O cálculo do tamanho amostral foi baseado no Coeficiente de Correlação de Spearman entre a adesão ao tratamento medicamentoso e o tempo de doença (r= -0,162), com nível de significância de 5% e poder de teste de 80%. A escolha do tempo de doença para o cálculo deve-se ao fato de que estudos mostram que o tempo de doença é um importante fator que contribui para a adesão ao tratamento1717. Cocchieri A, Riegel B, D’Agostino F, Rocco G, Fida R, Alvaro R, et al. Describing self-care in Italian adults with heart failure and identifying determinants of poor selfcare. Eur J Cardiovasc Nurs. 2015;14(2):126-36. https://doi.org/10.1177/1474515113518443
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)-(1818. Cunha DCPT, Rossi LA, Dessote CAM, Bolela F, Dantas RAS. Evolution of self-care in patients with heart failure at the first outpatient return and three months after hospital discharge. Rev. Latino-Am. Enfermagem . 2021;29:e3440. https://doi.org/10.1590/1518-8345.4364.3440
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. A partir desse cálculo, obteve-se uma amostra mínima de 297 participantes. Entretanto, devido a possíveis desistências, foi aumentado o tamanho da amostra em 10%, ou seja, 340 pacientes. Para a realização desse cálculo, utilizamos a seguinte fórmula: N=Zα+Zβ+C2+3, onde: C=0.5×ln1+r/1-r, r = coeficiente de correlação esperado, N = Número total de sujeitos necessários, α = Nível de significância e β = 1 - Poder do teste1919. Hulley SB, Cummings SR. Designing Clinical Research. Baltimore, MD: Lippincott Williams & Wilkins; 1988. 218 p..

Variáveis do estudo

A variável dependente do estudo foi a adesão ao tratamento medicamentoso, obtida pela escala de Medida de Adesão ao Tratamento (MAT)2020. Delgado AB, Lima ML. Contributo para a validação concorrente de uma medida de adesão aos tratamentos. Psic Saude Doenças [Internet]. 2001 [cited 2021 Sept 14];2(2):81-100. Available from: Available from: http://www.scielo.gpeari.mctes.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1645-00862001000200006&lng=pt
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. As variáveis independentes foram selecionadas de acordo com estudos da literatura e pesquisa anterior2121. Carneiro CS, Lopes CT, Lopes JL, Santos VB, Bachion MM, Barros ALBL. Ineffective health management in people with heart failure: a pilot study. Int J Nurs Knowl. 2018;29(1):11-7. https://doi.org/10.1111/2047-3095.12142
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. Em seguida, foram divididas em sociodemográficas (idade, raça, sexo, religião, estado civil, renda familiar e individual, número de pessoas dependentes da renda, vínculo empregatício e escolaridade) e clínicas (tempo da doença, número e nome dos medicamentos prescritos, número de tomadas dos medicamentos, presença de outras comorbidades, tabagismo, sedentarismo, ingestão de bebida alcoólica, classe funcional da New York Heart Association e estadiamento da doença). Outra variável independente investigada foi o comportamento de autocuidado, obtido por meio da versão brasileira da European Heart Failure Self-care Behavior Scale - EHFScBS2222. Feijó MK, Ávila CW, Souza EN, Jaarsma T, Rabelo ER. Cross-cultural adaptation and validation of the European Heart Failure Self-care Behavior Scale for Brazilian Portuguese. Rev. Latino-Am. Enfermagem . 2012;20:988-96. https://doi.org/10.1590/S0104-11692012000500022
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. Essas variáveis foram obtidas por meio de entrevista e/ou consulta ao prontuário do paciente.

Procedimentos para a coleta de dados

Os potenciais participantes do estudo foram identificados a partir da agenda de consultas do Ambulatório de Miocardiopatia. Os pacientes que atenderam aos critérios de inclusão foram consultados pessoalmente quanto ao desejo em participar da pesquisa voluntariamente. Aqueles que concordaram assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Posteriormente, foi preenchido o instrumento que continha as variáveis sociodemográficas e clínicas. A adesão ao tratamento medicamentoso foi avaliada por meio da escala da MAT2020. Delgado AB, Lima ML. Contributo para a validação concorrente de uma medida de adesão aos tratamentos. Psic Saude Doenças [Internet]. 2001 [cited 2021 Sept 14];2(2):81-100. Available from: Available from: http://www.scielo.gpeari.mctes.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1645-00862001000200006&lng=pt
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. O comportamento de autocuidado foi obtido por meio da versão brasileira da EHFScBS2222. Feijó MK, Ávila CW, Souza EN, Jaarsma T, Rabelo ER. Cross-cultural adaptation and validation of the European Heart Failure Self-care Behavior Scale for Brazilian Portuguese. Rev. Latino-Am. Enfermagem . 2012;20:988-96. https://doi.org/10.1590/S0104-11692012000500022
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.

Instrumentos para a coleta de dados

O instrumento contendo as variáveis sociodemográficas e clínicas foi elaborado pelos autores do presente estudo e baseado em estudo anterior2121. Carneiro CS, Lopes CT, Lopes JL, Santos VB, Bachion MM, Barros ALBL. Ineffective health management in people with heart failure: a pilot study. Int J Nurs Knowl. 2018;29(1):11-7. https://doi.org/10.1111/2047-3095.12142
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.

A adesão ao tratamento medicamentoso foi avaliada por meio da escala MAT2020. Delgado AB, Lima ML. Contributo para a validação concorrente de uma medida de adesão aos tratamentos. Psic Saude Doenças [Internet]. 2001 [cited 2021 Sept 14];2(2):81-100. Available from: Available from: http://www.scielo.gpeari.mctes.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1645-00862001000200006&lng=pt
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, após autorização dos autores da escala original. A escala original foi desenvolvida em Portugal e apresenta um valor de alfa de Cronbach de 0,732020. Delgado AB, Lima ML. Contributo para a validação concorrente de uma medida de adesão aos tratamentos. Psic Saude Doenças [Internet]. 2001 [cited 2021 Sept 14];2(2):81-100. Available from: Available from: http://www.scielo.gpeari.mctes.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1645-00862001000200006&lng=pt
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. No Brasil, essa escala foi traduzida e validada para a língua portuguesa em indivíduos com transtorno mental2323. Borba LO, Capistrano FC, Ferreira ACZ, Kalinke LP, Mantovani MF, Maftum MA. Adaptation and validation of the Measuring of Treatment Adherence for mental health. Rev Bras Enferm. 2018;71(Suppl 5):2243-50. https://doi.org/10.1590/0034-7167-2017-0796
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e com diabetes mellitus2424. Gimenes HT, Zanetti ML, Haas VJ. Factors related to patient adherence to antidiabetic drug therapy. Rev. Latino-Am. Enfermagem . 2009;17(1):46-51. https://doi.org/10.1590/s0104-11692009000100008
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.

Esse questionário é formado por sete itens e por uma escala do tipo Likert de seis pontos que varia de 1 (sempre) a 6 (nunca). O nível de adesão é obtido somando-se o valor de cada item e dividindo-se pelo número total de itens. Assim, os indivíduos que obtiverem escores igual ou superior a 5 são considerados como aderentes2020. Delgado AB, Lima ML. Contributo para a validação concorrente de uma medida de adesão aos tratamentos. Psic Saude Doenças [Internet]. 2001 [cited 2021 Sept 14];2(2):81-100. Available from: Available from: http://www.scielo.gpeari.mctes.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1645-00862001000200006&lng=pt
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),(2323. Borba LO, Capistrano FC, Ferreira ACZ, Kalinke LP, Mantovani MF, Maftum MA. Adaptation and validation of the Measuring of Treatment Adherence for mental health. Rev Bras Enferm. 2018;71(Suppl 5):2243-50. https://doi.org/10.1590/0034-7167-2017-0796
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)-(2424. Gimenes HT, Zanetti ML, Haas VJ. Factors related to patient adherence to antidiabetic drug therapy. Rev. Latino-Am. Enfermagem . 2009;17(1):46-51. https://doi.org/10.1590/s0104-11692009000100008
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.

O comportamento de autocuidado foi obtido por meio da versão brasileira da EHFScBS2222. Feijó MK, Ávila CW, Souza EN, Jaarsma T, Rabelo ER. Cross-cultural adaptation and validation of the European Heart Failure Self-care Behavior Scale for Brazilian Portuguese. Rev. Latino-Am. Enfermagem . 2012;20:988-96. https://doi.org/10.1590/S0104-11692012000500022
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. A escala original foi desenvolvida e validada em 2003 por um grupo de pesquisadores da Holanda. O alfa de Cronbach variou de 0,79 a 0,922525. Jaarsma T, Strömberg A, Mårtensson J, Dracup K. Development and testing of the European Heart Failure Self-Care Behaviour Scale. Eur J Heart Fail. 2003;5:363-70. https://doi.org/10.1016/S1388-9842(02)00253-2
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. Foi traduzida e validada no Brasil em 2012, quando foram realizadas as etapas de tradução, síntese, retrotradução, revisão por Comitê de Especialistas, pré-teste, avaliação de consistência interna (alfa de Cronbach) e reprodutibilidade por meio do pré- e pós-teste. O alfa de Cronbach variou de 0,61 a 0,702222. Feijó MK, Ávila CW, Souza EN, Jaarsma T, Rabelo ER. Cross-cultural adaptation and validation of the European Heart Failure Self-care Behavior Scale for Brazilian Portuguese. Rev. Latino-Am. Enfermagem . 2012;20:988-96. https://doi.org/10.1590/S0104-11692012000500022
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. A EHFScBS possui cinco domínios e doze questões relacionadas ao comportamento de autocuidado. As respostas para cada item variam de 1 (eu concordo plenamente) a 5 (eu discordo plenamente). A pontuação varia de 12 a 60 pontos, em que 12 é o melhor autocuidado possível e 60 é o pior autocuidado2222. Feijó MK, Ávila CW, Souza EN, Jaarsma T, Rabelo ER. Cross-cultural adaptation and validation of the European Heart Failure Self-care Behavior Scale for Brazilian Portuguese. Rev. Latino-Am. Enfermagem . 2012;20:988-96. https://doi.org/10.1590/S0104-11692012000500022
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),(2525. Jaarsma T, Strömberg A, Mårtensson J, Dracup K. Development and testing of the European Heart Failure Self-Care Behaviour Scale. Eur J Heart Fail. 2003;5:363-70. https://doi.org/10.1016/S1388-9842(02)00253-2
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.

Tratamento e análises de dados

As variáveis quantitativas foram descritas por média e desvio-padrão ou mediana e quartis, enquanto as qualitativas o foram por frequência absoluta e porcentagem. A adesão ao tratamento farmacológico foi avaliada considerando duas categorias: aderente e não aderente. Para verificar a associação da adesão ao tratamento farmacológico com as variáveis independentes quantitativas, foi utilizado o teste de Mann-Whitney. Para a associação com as variáveis independentes categóricas, utilizou-se o teste exato de Fisher e a medida de Razão de Prevalência (RP). Para avaliar a associação conjunta entre diferentes variáveis independentes e o desfecho adesão ao tratamento farmacológico, foi utilizado o modelo múltiplo de Cox, com tempos constantes e variância robusta.

As variáveis que obtiveram um p-valor menor do que 0,10 na análise bivariada e as de interesse clínico para os pesquisadores foram incluídas na análise múltipla. Para avaliar se havia problemas de multicolinearidade entre as variáveis preditoras, foi calculada a métrica Variance Inflation Factor (VIF), a qual indicou que não havia forte correlação entre tais variáveis. Valores de VIF inferiores a 5 foram considerados como corte para classificação da existência ou não de multicolinearidade2626. James G, Witten D, Hastie T, Tibshirani R. An Introduction to Statistical Learning: With Applications in R. 1st ed. New York, NY: Springer; 2013.. Foi utilizado o software estatístico R, versão 4.02727. The R Project for Statistical Computing [Software]. [s.l.]: The R Foundation; c2019 [cited 2023 Aug 10]. Available from: Available from: https://www.R-project.org
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, para as análises estatísticas, sendo consideradas estatisticamente relevantes as que obtiveram valor de p≤0,05. A consistência interna do instrumento foi medida pelo coeficiente alfa de Cronbach, sendo considerados aceitáveis valores acima de 0,602828. Konting MM. Research Methods in Psychology: Investigating Human Behavior. New York, NY: Springer Publishing Company; 2009..

Aspectos éticos

O projeto de pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital São Paulo, sendo aprovado no dia 21 de março de 2018, sob o Parecer nº 2.555.873. Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, atendendo à Resolução n.º 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde2929. Brasil. Resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012. Dispõe sobre diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. Diário Oficial da União [Internet]. 2013 Jun 13 [cited 2023 Mar 06]; seção 1:59. Available from: Available from: https://conselho.saude.gov.br/resolucoes/2012/Reso466.pdf
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.

Resultados

Foram coletados os dados de 340 pacientes, com idade média de 58,1±12,9 anos, os quais possuíam, em média, 7,6±4,4 anos de estudos. Ao analisar o tempo de doença e a quantidade de medicamentos utilizados, observou-se que os participantes apresentavam, em média, 11,8±10,3 anos de tempo da doença e utilizavam, em média, 6±2,2 medicamentos. A maioria consistia em indivíduos do sexo masculino (51,8%), casados ou amasiados (56,8%) e da religião católica (58,6%), sendo predominantemente pardos (43,78%) e brancos (43,2%). Observou-se que a maioria não possuía vínculo empregatício (63,2%), com renda familiar entre um e três salários mínimos (75,6%), seguida de mais de três até cinco salários mínimos (11,8%).

Os medicamentos mais utilizados foram os betabloqueadores (n=298; 87,6%), diuréticos (n=269; 79,1%), antagonistas dos receptores do mineralocorticosteroide (n=236; 69,4%), estatina (n= 183; 53,8%) e inibidor da enzima conversora da angiotensina ou bloqueador da angiotensina 2 (n=180; 52,9%).

Os resultados do alfa de Cronbach indicaram uma confiabilidade aceitável do instrumento (α=0,65).

Na análise bivariada, as variáveis que se relacionaram com a adesão ao tratamento foram: comportamento de autocuidado (Tabela 1), renda familiar (Tabela 2), depressão (Tabela 2) e uso de antagonistas dos receptores de mineralocorticoides (Tabela 2).

Tabela 1
Relação das variáveis quantitativas com a adesão ao tratamento farmacológico de acordo com o teste de Mann-Whitney (n = 340). São Paulo, SP, Brasil, 2018-2020
Tabela 2
Relação das variáveis sociodemográficas qualitativas com a adesão ao tratamento farmacológico de acordo com o teste exato de Fisher (n = 340). São Paulo, SP, Brasil, 2018-2020

Na Tabela 3, são apresentados os resultados do modelo de Cox, sendo possível observar que o aumento de uma unidade no escore do comportamento de autocuidado leva a um aumento de 8% na prevalência de não adesão do indivíduo; aqueles com renda familiar superior a três salários mínimos têm prevalência de não adesão ao tratamento igual a 3,5% da prevalência entre aqueles com até um salário mínimo e indivíduos que ingerem bebida alcoólica e que possuem depressão têm prevalências de não adesão 3,493 e 3,695 vezes maiores, respectivamente, do que aqueles que não apresentam tais antecedentes.

Tabela 3
Resultados do modelo de Cox para adesão ao tratamento medicamentoso (n = 340). São Paulo, SP, Brasil, 2018-2020

Discussão

A adesão ao tratamento farmacológico pode ser influenciada por diversos fatores comportamentais, sociais e econômicos. Esses fatores precisam ser monitorados para o sucesso do tratamento3030. Gast A, Mathes T. Medication adherence influencing factors-an (updated) overview of systematic reviews. Syst Rev. 2019;8(1):112. https://doi.org/10.1186/s13643-019-1014-8
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.

Nesta pesquisa, observou-se que a maioria dos participantes era aderente ao tratamento medicamentoso, o que corrobora os achados da literatura. Estudo transversal realizado em São Paulo, com 100 pacientes com IC, mostrou que mais da metade dos participantes era aderente ou tinha moderada adesão3131. Oscalices MIL, Okuno MFP, Lopes MCBT, Batista REA, Campanharo CRV. Health literacy and adherence to treatment of patients with heart failure. Rev Esc Enferm USP. 2019;53:e03447. https://doi.org/10.1590/S1980-220X2017039803447
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. Resultados de outro estudo realizado na Tailândia, que analisou 180 pacientes com IC, evidenciaram que 11,7% dos participantes apresentavam baixa adesão ao tratamento medicamentoso3232. Silavanich V, Nathisuwan S, Phrommintikul A, Permsuwan U. Relationship of medication adherence and quality of life among heart failure patients. Heart Lung. 2019;48(2):105-10. https://doi.org/10.1016/j.hrtlng.2018.09.009
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.

O resultado da adesão ao tratamento medicamentoso da maior parte dos participantes pode estar relacionado ao fato de que a IC é uma doença crônica, em que o indivíduo precisa se adequar aos novos hábitos de vida, assim como ao uso de muitos medicamentos de maneira contínua, para evitar a descompensação da doença e, consequentemente, não prejudicar sua rotina e sua qualidade de vida3232. Silavanich V, Nathisuwan S, Phrommintikul A, Permsuwan U. Relationship of medication adherence and quality of life among heart failure patients. Heart Lung. 2019;48(2):105-10. https://doi.org/10.1016/j.hrtlng.2018.09.009
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Apesar de a maioria dos pacientes ser aderente ao tratamento farmacológico, foi possível identificar, no presente estudo, quatro fatores que se relacionaram à não adesão. A associação de um pior comportamento de autocuidado com a não adesão já era esperada, uma vez que, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o autocuidado é definido como “a capacidade de indivíduos, famílias e comunidades de promover a saúde, prevenir doenças, manter-se saudável e lidar com doenças e deficiências com ou sem o apoio de um profissional de saúde”3333. World Health Organization. Self-care for health and well-being [Internet]. Geneva: WHO; c2024 [cited 2023 Aug 10]. Available from: Available from: https://www.who.int/health-topics/self-care#tab=tab_1
https://www.who.int/health-topics/self-c...
. Ainda, o uso correto dos medicamentos é um dos componentes do autocuidado3030. Gast A, Mathes T. Medication adherence influencing factors-an (updated) overview of systematic reviews. Syst Rev. 2019;8(1):112. https://doi.org/10.1186/s13643-019-1014-8
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. A literatura reporta o autocuidado como um cardioprotetor, sendo complementar aos tratamentos farmacológicos e clínicos que podem retardar a progressão da IC e de seus resultados indesejáveis, como a descompensação clínica e readmissões3434. Jaarsma T, Hill L, Bayes-Genis A, La Rocca HB, Castiello T, Čelutkienė J, et al. Self-care of heart failure patients: practical management recommendations from the Heart Failure Association of the European Society of Cardiology. Eur J Heart Fail . 2021;23(1):157-74. https://doi.org/10.1002/ejhf.2008
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. Corroborando os achados do presente estudo, os resultados de uma pesquisa realizada no oeste da Etiópia, com 424 participantes com insuficiência cardíaca crônica, evidenciaram que mais da metade dos participantes aderia ao tratamento medicamentoso, além do fato de que os que apresentavam adequada adesão eram mais propensos a ter melhores comportamentos de autocuidado (OR=4,214; IC95%=2,725-6,515; p<0,001)3535. Fetensa G, Yadecha B, Tolossa T, Bekuma TT. Medication adherence and associated factors among chronic heart failure clients on follow up Oromia Region, West Ethiopia. Cardiovasc Hematol Agents Med Chem. 2019;17(2):104-14. https://doi.org/10.2174/1871525717666191019162254
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.

Baixa renda familiar também tem sido apontada na literatura como um dos fatores para a não adesão ao tratamento medicamentoso. Estudo realizado com 142.577 indivíduos com doenças cardiovasculares crônicas, cujo objetivo foi identificar os fatores sociodemográficos associados à não adesão ao tratamento medicamentoso, verificou que a baixa renda relacionou-se com a não adesão ao tratamento medicamentoso (OR=3,57; IC 95%=2,11-6,02)3636. Kherallah R, Al Rifai M, Kamat I, Krittanawong C, Mahtta D, Lee MT, et al. Prevalence and predictors of cost-related medication nonadherence in individuals with cardiovascular disease: Results from the Behavioral Risk Factor Surveillance System (BRFSS) survey. Prev Med. 2021;153:106715. https://doi.org/10.1016/j.ypmed.2021.106715
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. Um dos motivos dessa relação é a falta de dinheiro para adquirir os medicamentos não disponíveis no Sistema Único de Saúde, bem como para lidar com os custos relacionados ao acesso aos serviços de saúde.

Ainda no presente estudo, outras duas variáveis relacionaram-se com a não adesão ao tratamento farmacológico: presença de depressão e uso de bebida alcoólica. A depressão tem sido associada à diminuição da adesão ao tratamento medicamentoso e da capacidade e/ou interesse em realizar o autocuidado, implicando a redução da qualidade de vida, maiores gastos relacionados aos serviços de saúde e respectivos aumentos das taxas de mortalidade3737. Jha MK, Qamar A, Vaduganathan M, Charney DS, Murrough JW. Screening and management of depression in patients with cardiovascular disease. J Am Coll Cardiol. 2019;73(14):1827-45. https://doi.org/10.1016/j.jacc.2019.01.041
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)-(3838. Poletti V, Pagnini F, Banfi P, Volpato E. The role of depression on treatment adherence in patients with heart failure: a Systematic Review of the Literature. Curr Cardiol Rep. 2022;24(12):1995-2008. https://doi.org/10.1007/s11886-022-01815-0
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. Quanto ao uso de bebida alcoólica, estudo sugere que o álcool pode não estar diretamente relacionado à não adesão ao tratamento farmacológico, mas sim ao fato de que o seu uso desencadeia outros problemas de saúde física e mental que pioram a qualidade de sono e constituem fatores associados à não adesão3939. Reading SR, Black MH, Singer DE, Go AS, Fang MC, Udaltsova N, et al. Risk factors for medication non-adherence among atrial fibrillation patients. BMC Cardiovasc Disord. 2019;19(1):38. https://doi.org/10.1186/s12872-019-1019-1
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. Outras hipóteses dessa relação são: os pacientes podem se esquecer de tomar os medicamentos em razão dos efeitos do álcool4040. Tola HH, Garmaroudi G, Shojaeizadeh D, Tol A, Yekaninejad MS, Ejeta LT, et al. The effect of psychosocial factors and patients’ perception of tuberculosis treatment non-adherence in Addis Ababa, Ethiopia. Ethiop J Health Sci. 2017;27(5):447-8. https://doi.org/10.4314/ejhs.v27i5.2
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; eles têm medo de possíveis efeitos colaterais dos medicamentos, devido ao uso concomitante de bebida alcoólica; há falta de dinheiro para adquirir os medicamentos em razão do consumo do álcool4040. Tola HH, Garmaroudi G, Shojaeizadeh D, Tol A, Yekaninejad MS, Ejeta LT, et al. The effect of psychosocial factors and patients’ perception of tuberculosis treatment non-adherence in Addis Ababa, Ethiopia. Ethiop J Health Sci. 2017;27(5):447-8. https://doi.org/10.4314/ejhs.v27i5.2
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.

Este estudo tem limitações que precisam ser levadas em consideração: por ser um estudo de corte transversal, não há a possibilidade de estabelecimento de relações causais; por ter sido realizado em um ambulatório de um único centro, os resultados encontrados não podem ser generalizados para indivíduos com características distintas da nossa amostra e/ou hospitalizados; o instrumento utilizado não foi submetido à análise das propriedades psicométricas em estudos anteriores para esta amostra e, neste estudo, a consistência interna do instrumento utilizado para analisar a adesão ao tratamento foi aceitável. Dessa forma, estudos com amostras maiores que avaliem o desempenho e as propriedades psicométricas da MAT em indivíduos com IC ainda são necessários.

Apesar das limitações apontadas, os resultados obtidos no presente estudo têm implicações relevantes para a prática clínica. Torna-se importante reconhecer que indivíduos com IC que apresentam pior comportamento de autocuidado, menor renda familiar, depressão e que ingerem bebida alcoólica são mais propensos a apresentar não adesão ao tratamento medicamentoso. Portanto, indivíduos com essas características necessitam ser mais bem gerenciados em sua trajetória clínica. Sendo assim, o enfermeiro deve conhecer esses fatores para planejar as suas ações. Ressalta-se que o enfermeiro é um dos profissionais que mais contribuem para a educação em saúde, principalmente em indivíduos com doenças crônicas, como a IC. Dessa forma, os achados deste estudo poderão contribuir substancialmente para o direcionamento de intervenções, a fim de se alcançarem os melhores resultados de indivíduos que poderão apresentar as mesmas características clínicas e sociodemográficas que as encontradas.

Portanto, considerando a escassez de literatura nacional, reforça-se a necessidade de estudos que analisem e identifiquem intervenções eficazes para a melhora da adesão ao tratamento medicamentoso, a fim de implementá-las na prática clínica, com o intuito de melhorar a qualidade de vida de pacientes com IC e reduzir readmissões e óbitos.

Conclusão

A maioria dos participantes foi aderente ao tratamento farmacológico. Os fatores relacionados à não adesão ao tratamento farmacológico foram: comportamento de autocuidado inadequado, menor renda familiar, depressão e ingestão de bebida alcoólica.

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Editado por

Editora Associada: Maria Lucia do Carmo Cruz Robazzi

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    30 Ago 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    06 Mar 2023
  • Aceito
    25 Abr 2024
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