Explorando o metaverso na educação de estudantes da saúde: revisão de escopo Objetivo: mapear a literatura a respeito da incorporação do metaverso na educação de estudantes de graduação na área da saúde.
Método: revisão de escopo de acordo com as recomendações do JBI e Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses Extension for Scoping Reviews (PRISMA-ScR), conduzida na Web of Science , Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE) via PubMed, Embase, Scopus, Cumulative Index to Nursing and Allied Health (CINAHL), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e ProQuest.
Resultados: foram incluídos 23 registros publicados de 2020 a 2023 e desenvolvidos em 10 países. O metaverso destaca-se por permitir a simulação de casos hipotéticos, tornando a educação interativa e atrativa. Apesar disso, enfrenta limitações, incluindo possibilidade de despersonalização dos estudantes, preocupações com segurança de dados e privacidade, além do custo elevado de implementação e manutenção de sua infraestrutura.
Conclusão: o metaverso viabiliza o desenvolvimento de competências clínicas que subsidiam a construção da identidade profissional do estudante. Todavia, pode não ser equitativo, na medida em que demanda recursos e educadores com domínio para implementá-lo, contribuindo para acentuar a desigualdade na educação de estudantes.
Descritores: Educação; Ensino; Estudantes de Ciências da Saúde; Tecnologia; Tecnologias Educacionais; Realidade Virtual
Objective: to map the literature on the incorporation of the metaverse in the education of undergraduate healthcare students.
Method: scoping review following the recommendations of the JBI and Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses Extension for Scoping Reviews (PRISMA-ScR), performed on Web of Science, Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE) via PubMed, Embase, Scopus, Cumulative Index to Nursing and Allied Health (CINAHL), Latin American and Caribbean Health Sciences Literature (LILACS) and ProQuest.
Results: a total of 23 records were included, published between 2020 and 2023, and developed in 10 countries. The metaverse allows the simulation of hypothetical cases, making education interactive and attractive. However, it faces limitations, including the possibility of depersonalizing students, concerns about data security and privacy, and the high cost of implementing and maintaining its infrastructure.
Conclusion: the metaverse enables the development of clinical competencies that support the construction of students’ professional identity. However, it may not be equitable, as it requires resources and knowledge from educators to implement it, contributing to increasing inequality in the education of healthcare students.
Descriptors: Education; Teaching; Students, Health Occupations; Technology; Educational Technologies; Virtual Reality
Objetivo: mapear la literatura respecto de incorporar el metaverso a la educación de estudiantes de carreras del área de salud.
Método: revisión de alcance, acorde recomendaciones del JBI y Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses Extension for Scoping Reviews (PRISMA-ScR), realizada en Web of Science , Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE) vía PubMed, Embase, Scopus, Cumulative Index to Nursing and Allied Health (CINAHL), Latin American and Caribbean Health Sciences Literature (LILACS) y ProQuest.
Resultados: fueron incluidos 23 registros, publicados entre 2020 y 2023, desarrollados en 10 países. El metaverso destaca por permitir simular casos hipotéticos, haciendo que la educación resulte interactiva y atractiva. Sin embargo, enfrenta limitaciones, incluyendo la posible despersonalización de los estudiantes, preocupación por la seguridad y privacidad de los datos, además del elevado costo de implementación y mantenimiento de su infraestructura.
Conclusión: el metaverso posibilita el desarrollo de competencias clínicas que facilitan la construcción de identidad profesional del estudiante. No obstante, puede no ser equitativo, considerando que demanda recursos y educadores con conocimientos para implementarlo, contribuyendo a acentuar desigualdades en la educación de estudiantes.
Descriptores: Educación; Enseñanza; Estudiantes del Área de la Salud; Tecnología; Tecnología Educacional; Realidad Virtual
Destaques:
(1) O metaverso é promissor na educação de estudantes de graduação na área da saúde.
(2) O metaverso torna a educação interativa e atrativa.
(3) Promove o protagonismo dos estudantes no processo ensino-aprendizagem.
(4) Apresenta riscos relacionados à segurança e privacidade de dados.
(5) Custo elevado de implementação e manutenção de sua infraestrutura.
Introdução
O mundo está em constante evolução tecnológica, que não somente tem influenciado o modo como as pessoas se relacionam como também o processo ensino-aprendizagem, sobretudo na educação de estudantes de graduação na área da saúde ( 1 - 2 ) . Nesse campo, tem-se o metaverso como uma das mais recentes e promissoras inovações que oferece uma gama de possibilidades e recursos que transcendem as restrições físicas e geográficas ( 3 ) . Por essa razão, tratando-se de um tema de cunho inovador, ainda que os estudantes pertençam a uma geração com maior preparo tecnológico, é imprescindível o entendimento científico a respeito do uso desse ambiente na educação, haja vista as evidências científicas com desfechos positivos relacionados ao uso das tecnologias educativas na melhoria da qualidade da assistência e na qualidade de vida dos pacientes ( 4 ) .
Tem-se o metaverso como ambiente educacional tecnológico constituído de forma virtual e real, com limites quase indistinguíveis ( 3 ) . Embora versado como tema emergente, o termo “metaverso” foi introduzido em 1992 em uma reconhecida obra de ficção científica proposta por Neal Stephenson ( 5 ) . Na educação, reitera-se o metaverso como ambiente educacional tecnológico com potencial para revolucionar o processo ensino-aprendizagem, criando ambientes virtuais imersivos e interativos que promovem motivação e engajamento dos estudantes, favorecendo, assim, uma aprendizagem personalizada ( 6 ) .
Enquanto ambiente tecnológico tridimensional, interativo e imersivo, o metaverso oferece uma gama de possibilidades com as quais as pessoas podem se conectar, colaborar e vivenciar experiências educacionais envolventes ( 7 - 9 ) . No contexto de formação do profissional em saúde, evidências mostram a efetividade dessa realidade para a proposição do processo ensino-aprendizagem, na medida em que possibilita a transição da teoria para a prática ( 10 - 11 ) . Não obstante, algumas repercussões éticas relativas à aplicação do metaverso são referidas em diversas áreas do conhecimento, além de limitações relacionadas à escassez de recursos para sua implementação e sustentabilidade ( 8 , 12 ) .
Nesse sentido, ainda que estudos de revisão de literatura tenham sido desenvolvidos evidenciando a aplicação e o uso do metaverso como ambiente educacional ( 13 - 14 ) , não sintetizam as evidências no contexto da educação de estudantes de graduação na área da saúde. Tais estudos mostraram que, em virtude de sua capacidade de facilitar interações sociais inovadoras e proporcionar experiências imersivas ( 13 ) , o metaverso foi adaptado para o uso no contexto da educação, ao longo do tempo ( 14 ) . Por essa razão, este estudo teve como objetivo mapear a literatura a respeito da incorporação do metaverso na educação de estudantes de graduação na área da saúde.
Método
Esta revisão de escopo foi conduzida de acordo com as recomendações do JBI ( 15 ) e reportada de acordo com as diretrizes do Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses Extension for Scoping Reviews (PRISMA-ScR) ( 16 ) .
Protocolo
Buscas preliminares foram realizadas na literatura e nenhum protocolo ou estudo referente à incorporação do metaverso na educação de estudantes de graduação na área da saúde foi identificado. Em seguida, o protocolo deste estudo foi registrado no Open Science Framework (OSF) ( 17 ) , de acordo com as recomendações do JBI ( 15 ) .
Pergunta de pesquisa
O acrônimo PCC (População, Conceito e Contexto) ( 15 ) foi utilizado para estabelecer a questão norteadora, de modo que “P” se refere aos estudantes de graduação, “C” ao metaverso e “C” à educação na área da saúde.
Destaca-se que os cursos de educação superior compreendidos na área da saúde foram definidos a partir da classificação proposta pela Organização Mundial da Saúde (OMS) (2019) ( 18 ) , que possui como objetivo mapear as ocupações dos trabalhadores de saúde a partir das diferenças assumidas no nível de competências necessárias para a atuação profissional em escala global. Assim, foram considerados como cursos da área da saúde: enfermagem, farmácia, fisioterapia, fonoaudiologia, medicina (alternativa e generalista), midwifery , nutrição, odontologia e terapia ocupacional.
A definição de metaverso seguiu o conceito descrito na revisão de Zhang X, Chen Y, Hu L e Wang Y ( 3 ) , que destaca tal realidade como um ambiente educacional constituído por tecnologias atualizadas, as quais são fundamentais para assegurar os componentes no mundo real e fictício, com vista a uma experiência educacional exitosa aos estudantes. Com isso, dado o progresso científico e consequente implementação contínua de estratégias digitais no contexto da educação, emerge a necessidade de compreender não somente a aplicabilidade do metaverso mas ainda suas limitações para que possa ser incorporado à educação de estudantes de graduação na área da saúde.
Assim, a seguinte questão norteadora foi estabelecida: “Qual o estado do conhecimento a respeito da incorporação do metaverso na educação de estudantes de graduação na área da saúde?”. Tal questão foi subdividida em subquestões:
Qual a aplicabilidade do metaverso na educação de estudantes de graduação na área da saúde?
Quais são as limitações do metaverso na educação de estudantes de graduação na área da saúde?
Estratégia de busca
Uma busca preliminar foi realizada na Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE) via PubMed, em julho de 2023, com o objetivo de identificar descritores habituais adotados pela comunidade científica relacionados ao tema, considerando que, no momento de realização das buscas na literatura, “metaverso” não se tratava de um descritor. Em seguida, reuniões entre a equipe de pesquisa e uma bibliotecária com experiência foram realizadas para o estabelecimento da estratégia de busca, ajustada e padronizada de acordo com as diferentes bases de dados consultadas.
As buscas foram realizadas em 20 de julho de 2023, na ISI Web of Science , MEDLINE via PubMed, Embase, Scopus, EBSCOhost Cumulative Index to Nursing and Allied Health (CINAHL), BVShost Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e ProQuest. Os termos de busca incluíram: “metaverse*, metaverse environment, metaverse experience, metaverse for learning, metaverse healthcare, metaverse in education, metaverse technolog*” , “educa*, workshop*, training program*, educational activit*, literacy program*, education service, intellectual training, training support” e “health” . Descritores e/ou palavras-chave foram combinados de acordo com os termos de índice do Medical Subject Headings (MeSH), CINAHL Titles , Emtree, e Descritores em Ciências da Saúde (DeCS), disponíveis em cada banco de dados.
Critério de seleção
Foram incluídos registros que mapearam a aplicabilidade e as limitações do metaverso na educação de estudantes de graduação na área da saúde publicados em português, inglês e/ou espanhol (línguas de proficiência dos autores). Registros relacionados estritamente à Realidade Virtual (RV) e Realidade Aumentada (RA) para educação de estudantes de graduação na área da saúde foram excluídos. Destaca-se que não foi adotado recorte temporal.
Seleção de fontes de evidências
Os registros identificados foram exportados para o EndNote ® Web, para a remoção de duplicatas. Posteriormente, os arquivos foram transferidos para o Rayyan ( 19 ) , para triagem, de maneira simultânea e independente por dois revisores, de modo a aprimorar a confiabilidade e a precisão metodológica. Destaca-se que um terceiro revisor com expertise no tema foi consultado para resolução de discordâncias no processo de definição da amostra. O processo de triagem dos textos completos seguiu os mesmos procedimentos. Em seguida, realizou-se busca manual, e demais registros compuseram a amostra final.
Extração e análise de dados
Os registros incluídos foram analisados e tiveram seus dados extraídos por um revisor e validados por um segundo, considerando: (1) características do registro: autor, ano de publicação e país (origem do primeiro autor); (2) publicação: tipo (discussão ou estudo científico), delineamento metodológico, população (caracterização e número de participantes, se aplicável) e principais achados; (3) aplicabilidade do metaverso na educação de estudantes de graduação na área da saúde; e (4) limitações do metaverso na educação de estudantes de graduação na área da saúde. Os dados foram analisados por meio de análise descritiva e de conteúdo que contemplou informações a respeito da aplicabilidade e das limitações do metaverso na educação de estudantes de graduação na área da saúde.
Resultados
Os resultados deste estudo foram guiados pelo PRISMA-ScR ( 16 ) , cujo processo de revisão foi descrito na Figura 1 .
Dos 278 registros mapeados, 23 foram incluídos nesta revisão ( 20 - 42 ) . Tais produções foram publicadas entre os anos de 2020 e 2023, em 10 países, distribuídos em quatro continentes: Ásia (11, ~48%) ( 23 - 26 , 39 , 42 ) , Europa (5, ~22%) ( 27 - 29 , 40 - 41 ) , América (4, ~17%) ( 30 - 33 ) e Oceania (3, ~13%) ( 20 - 22 ) . Majoritariamente, os registros incluídos corresponderam a estudos científicos (17, ~74%) ( 23 - 29 , 33 - 42 ) . Dentre os métodos empregados, foram prevalentes estudos de revisão de literatura (16, ~70%) ( 23 , 25 , 27 - 28 , 33 - 42 ) . Ainda que o tipo de revisão não tenha sido caracterizado pelos autores em sua maioria (10, ~44%) ( 23 , 25 , 28 , 34 - 38 , 41 - 42 ) , as revisões de escopo (2, ~9%) ( 39 - 40 ) , sistemática (1, ~4%) ( 27 ) e umbrella review (1, ~4%) ( 33 ) compuseram a amostra final.
Ao considerar que esta revisão integrou diversos cursos da área da saúde em âmbito multidisciplinar, nota-se que, para a maioria das produções (18, ~78%) ( 20 - 21 , 23 , 25 , 27 - 28 , 30 - 33 , 35 - 42 ) , a definição da população por curso não se aplica, considerando que foram prevalentes estudos de revisão de literatura. No mais, em uma análise descritiva, observa-se que o curso de medicina é predominante (14, ~61%) ( 21 , 25 , 28 - 32 , 34 - 36 , 38 - 41 ) em comparação com a enfermagem (3, ~13%) ( 20 , 24 , 33 ) e odontologia (1, ~4%) ( 42 ) . A Figura 2 apresenta as características dos registros incluídos nesta revisão.
- Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses Extension for Scoping Reviews ( PRISMA-ScR ) ( 16 ) . Ribeirão Preto, SP, Brasil, 2023
A Figura 3 apresenta o quadro-síntese dos registros incluídos na amostra final. Os resultados elucidam a aplicabilidade e as limitações do metaverso na educação de estudantes de graduação da área da saúde. Ainda que alguns estudos detalhem somente um dos eixos observados, a maioria (15, ~65%) ( 21 - 25 , 29 , 31 - 32 , 34 - 35 , 37 - 40 , 42 ) descreve tanto a aplicabilidade quanto as limitações em sua totalidade.
Discussão
Os resultados deste estudo revelam que apenas três dos nove cursos compreendidos na classificação dos cursos de educação superior da área da saúde retrataram a incorporação do metaverso na educação de estudantes, cenário em que a medicina assume protagonismo. Constata-se, portanto, que a incorporação do metaverso na educação é incipiente e, com isso, investimentos são necessários para que a educação nos cursos de graduação da área da saúde seja equitativa. As evidências sintetizadas destacam aplicabilidade e limitações do metaverso no ensino superior na área da saúde, evidenciando uma realidade que perpassa a teoria e a prática.
Aplicabilidade do metaverso na educação de estudantes da graduação na área da saúde
De fato, o metaverso corrobora a educação por meio da simulação de casos hipotéticos que se assemelham à realidade ( 21 , 23 , 27 - 28 , 34 - 35 , 37 , 41 ) , contribuindo, com isso, para o desenvolvimento de competências dos estudantes. Dentre as principais aplicabilidades do metaverso, o ensino de anatomia ( 22 , 28 - 30 , 32 , 35 - 36 , 38 , 40 - 42 ) foi, em grande parte, explorado pelos registros incluídos, dada sua capacidade de facilitar a compreensão das dimensões do corpo humano por meio da visualização anatômica em diferentes ângulos. Tal estratégia corresponde a um avanço no ensino tradicional com cadáveres, sobretudo ao possibilitar a observação de estruturas microscópicas ( 22 , 43 ) .
Ainda em uma perspectiva teórica, tem-se que o metaverso contribui para que o processo ensino-aprendizagem seja não apenas interativo mas também atrativo. Assim, é fundamental que a intuição e a imaginação dos estudantes sejam despertadas e estimuladas para que possam estar motivados ao aprendizado, na medida em que, enquanto ambiente educacional tecnológico, o metaverso muito tem a contribuir para o desempenho acadêmico. Entretanto, para que isso ocorra, faz-se necessária a aceitação do metaverso pelos estudantes.
Ainda que a aplicabilidade do metaverso esteja relacionada ao ensino teórico, corrobora o desenvolvimento de competências clínicas ( 20 , 23 - 24 , 28 - 32 , 34 - 35 , 38 , 40 , 42 ) , a exemplo do treinamento cirúrgico (independentemente da especialidade) ( 25 , 28 - 32 , 34 - 36 , 38 , 40 , 42 ) e do treinamento de situações de urgência com múltiplas vítimas ( 31 ) . Ao permitir a repetição de procedimentos ( 21 ) sem ocasionar riscos ao paciente e ao estudante ( 20 , 28 , 31 ) , é possível, por meio do metaverso, acompanhar a dinâmica do cenário clínico, oportunizando a compreensão dos procedimentos e da dimensão da equipe de trabalho e contribuindo, até mesmo, para o ensino da segurança do paciente.
Estabelecido em 2011 pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o Multi-Professional Patient Safety Curriculum Guide ressalta que a segurança do paciente deve ser incorporada às propostas pedagógicas da educação interprofissional em saúde ( 44 ) . Desse modo, torna-se possível a formação de profissionais aptos para atuar em conformidade com as melhores práticas, não somente oportunizando o oferecimento de um cuidado seguro e qualificado ao paciente mas ainda contribuindo para o fortalecimento dos sistemas de saúde. À vista disso, reitera-se a imprescindibilidade do investimento para a incorporação da segurança do paciente no processo ensino-aprendizagem ( 45 - 47 ) , sendo o metaverso uma possível estratégia.
No contexto da pandemia COVID-19, a necessidade iminente da educação não presencial subvencionou, de certa forma, reflexões sobre o processo ensino-aprendizagem ( 39 ) . Com a vertiginosa busca por meios para facilitar a interação e colaboração entre educadores e estudantes em diferentes localidades ( 25 ) , o metaverso foi impulsionado. Com isso, os limites entre o universo real e virtual se tornaram, por vezes, quase indistinguíveis, potencializando a educação e o networking ( 34 ) entre estudantes e educadores ao redor do mundo, por meio do ensino remoto emergencial ( 22 ) .
É notório que a síntese das evidências contemplou três de quatro aplicabilidades possíveis do metaverso, sendo elas: aprendizagem combinada, educação baseada em competências e educação inclusiva ( 3 ) . No que diz respeito à aplicabilidade teórica, o metaverso pode se constituir como ambiente educacional tecnológico direcionado à promoção do protagonismo dos estudantes no processo ensino-aprendizagem. Para além disso, com relação à aplicabilidade prática, viabiliza o desenvolvimento de competências clínicas que subsidiam a construção da identidade profissional, reiterando o seu compromisso com o profissionalismo.
Limitações do metaverso na educação de estudantes da graduação na área da saúde
Certamente, ainda há muito a se avançar para a incorporação do metaverso na educação de estudantes de graduação na área da saúde. Desvencilha-se, portanto, da ideia que ressalta apenas a infraestrutura como fator necessário para que o metaverso possa de fato ser empreendido na educação. Antagonicamente, é fundamental que os educadores possuam domínio para utilizar esse ambiente educacional tecnológico como recurso pedagógico, especialmente ao considerar a possibilidade de fragilização do relacionamento interpessoal no que concerne à díade educador-estudante. Por isso, é indispensável o desenvolvimento de competências básicas pelos educadores que devem estar imbuídos de conhecimentos pedagógicos ( 48 ) .
Embora o Multi-Professional Patient Safety Curriculum Guide não mencione especificamente a respeito do metaverso, tal documento ressalta a dificuldade em discernir a realidade virtual da física por parte dos estudantes como uma preocupação que deve ser considerada pelos educadores ( 44 ) . O uso do metaverso por educadores que não apresentem o conhecimento específico pode culminar em um processo de despersonalização dos estudantes ( 21 - 23 , 32 , 40 ) . Com isso, os estudantes podem ser afastados da realidade ao se sentirem desconectados de seu próprio corpo e seus pensamentos, visto que o ambiente e as atividades inerentes ao metaverso se “assemelham” aos da vida real (ainda que ele apresente limitações) ( 24 , 29 , 33 , 37 ) , tornando difícil equiparar o que é real ao que é virtual.
Não obstante, tratando-se das limitações do metaverso na formação de estudantes de graduação na área da saúde, vale ressaltar a segurança e a privacidade dos dados ( 22 - 23 , 25 , 31 - 32 , 34 - 35 , 38 , 42 ) como fator restritivo. Na medida em que o mundo real é reproduzido no metaverso, riscos relativos a cibercrimes, como o roubo de identidade e violação dos dados, bem como cyberbullying e assédio ( 25 , 38 ) , podem ser acarretados. Por essa razão, para que a implementação do metaverso ocorra, é imprescindível que recursos de manutenção e proteção sejam ponderados. No cenário global, sabe-se que a educação superior não é igualitária, na medida em que está relacionada com o desenvolvimento econômico ( 49 ) . Nesse sentido, ao considerar o metaverso como ambiente educacional tecnológico, destacam-se como fatores limitantes não somente o seu alto custo de implementação ( 22 , 25 , 32 , 34 - 35 , 38 - 39 ) mas também a manutenção da tecnologia.
Reitera-se que, apesar de sua aplicabilidade, o metaverso apresenta limitações que devem ser consideradas. Para que sua adoção seja efetiva, os educadores devem ser habilitados e instruídos para o uso da tecnologia, a fim de minimizar possíveis repercussões negativas aos estudantes. Não somente para o uso desse ambiente, medidas de implementação devem ser tomadas juntamente com estratégias de manutenção, para que a segurança e privacidade dos dados possam ser garantidas. Por fim, o uso do metaverso pode não ser equitativo, na medida em que nem todas as Instituições de Ensino Superior (IES) apresentam recursos, condições e educadores com domínio para implementá-lo, o que pode contribuir para acentuar a desigualdade da educação de estudantes de graduação na área da saúde.
Este estudo não contemplou análise por cursos compreendidos na área da saúde bem como aspectos físicos e psicológicos relacionados ao uso do metaverso (efeitos induzidos pelo ambiente virtual: doença cibernética, doença do simulador, doença do movimento, perda cognitiva, tonturas, desconforto físico). Além disso, tratando-se de um tema emergente em diversas áreas do conhecimento, o conceito de ‘’metaverso’’ é ainda fluido, na medida em que evidências estão continuamente sendo desenvolvidas a fim de qualificá-lo. Isso pode ter limitado a busca dos registros.
Conclusão
O metaverso contribui para que o processo ensino-aprendizagem de estudantes de graduação na área da saúde seja não apenas interativo mas também atrativo. Com isso, viabiliza-se o desenvolvimento de competências clínicas que subsidiam a construção da identidade profissional. Apesar disso, o metaverso apresenta limitações que devem ser consideradas, sobretudo com relação à segurança e privacidade dos dados e ao alto custo associado à sua implementação e manutenção. O metaverso pode não ser equitativo, visto que nem todas as IES apresentam recursos, condições e profissionais com domínio para implementá-lo, o que pode contribuir para acentuar a desigualdade na educação. As diferentes aplicabilidades do metaverso têm se mostrado auspiciosas para proposição de uma educação superior qualificada no cenário global. Todavia, enquanto ciência em desenvolvimento, desafios ainda são observados para a sua incorporação na educação de estudantes de graduação na área da saúde.
Agradecimentos
Agradecimentos especiais à Professora Doutora Heimar de Fátima Marin e Osmeire Chamelette Sanzovo, membros da Câmara Técnica de Enfermagem Digital (CTED) do Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (COREn-SP), Brasil, pela colaboração na concepção do estudo; e Adriana Sayuri Ota, Bibliotecária da Universidade de São Paulo (USP), Brasil, pela assessoria técnica no estabelecimento da estratégia de busca.
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A publicação deste artigo na Série Temática “Saúde digital: contribuições da enfermagem” se insere na atividade 2.2 do Termo de Referência 2 do Plano de Trabalho do Centro Colaborador da OPAS/OMS para o Desenvolvimento da Pesquisa em Enfermagem, Brasil.
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Como citar este artigo
Bernardes A, Gardim L, Araújo AAC, Jensen R, Motta RA, Almeida DM, et al. Exploring the metaverse in the education of healthcare students: A scoping review. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2024;32:e4347 [cited ano mês dia]. Available from: URL . https://doi.org/10.1590/1518-8345.7256.4347
Editado por
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Editora Associada:Maria Lúcia Zanetti
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
25 Out 2024 -
Data do Fascículo
2024
Histórico
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Recebido
10 Jan 2024 -
Aceito
22 Jun 2024
