Desenvolvimento de um guia de orientação para instrutores: “Três Estágios do Debriefing holístico”

Resumos

Objetivo:

descrever o desenvolvimento de um guia holístico de debriefing, em inglês e português do Brasil, focado em enfermeiros educadores para promover a aprendizagem reflexiva.

Método:

estudo metodológico, com três fases: revisão integrativa de literatura, desenvolvimento do guia e sua avaliação por um painel de especialistas em enfermagem. A revisão de literatura seguiu um processo sistemático. Para o desenvolvimento do guia, os resultados da revisão de literatura foram utilizados, juntamente com o processo de debriefing de Lederman e o referencial de aprendizagem de Zabala, como base teórica para promover a aprendizagem reflexiva durante a Simulação de Alta Fidelidade. O painel de especialistas em enfermagem analisou a qualidade do guia.

Resultados:

a revisão da literatura revelou lacunas na preparação dos educadores pedagógicos e a ausência de ferramentas holísticas de debriefing que incluam os aspectos formativos e sumativos de orientação em debriefing para auxiliar os educadores. O guia de debriefing foi desenvolvido em duas páginas: a primeira página recomenda como conduzir o debriefing e a segunda contém perguntas de orientação. O guia foi avaliado e passou por um total de três modificações para congruência dos itens avaliados e adequação dos termos utilizados.

Conclusão:

foi proposto um guia holístico de debriefing visando enfermeiros educadores. Este estudo fornece uma visão geral do processo para promover a aprendizagem reflexiva na Simulação de Alta Fidelidade e contribui para o treinamento formal de enfermeiros educadores para a aplicação das melhores práticas pedagógicas.

Descritores:
Docentes de Enfermagem; Treinamento com Simulação de Alta Fidelidade; Educação em Enfermagem; Educação Superior; Aprendizagem; Ensino

Objective:

to describe the development of an English and Brazilian Portuguese Holistic Debriefing Tool focused on nursing educator to promote a reflective learning.

Method:

a methodology study, with three phases: integrative literature review; tool development and review of a panel of nursing experts. The literature review tracked a systematic process. For the tool development were used literature review results, Lederman’s Debriefing Process and Zabala’s learning framework as theoretical referential to promote a reflective learning in High-Fidelity Simulation. The panel of nursing experts analysed the quality of the tool.

Results:

literature review evidenced gaps about educator pedagogical preparation and indicated no holistic debriefing tool exists which captures formative and summative aspects of debriefing guidance to assist the educator to debrief. Debriefing tool was purposed with two pages: first page were recommended how conduct debriefing and second page is a questions guidance. The tool evaluation was undertaken for a total of three modifications for congruence and concept reader clarity.

Conclusion:

it was proposed a holistic debriefing tool focused on nursing educator. This study provides an overall picture of the process to promote a reflexive learning in High-Fidelity Simulation and to contribute to formal nursing educator training to apply best pedagogical practice.

Descriptors:
Faculty, Nursing; High Fidelity Simulation Training; Education Nursing; Education, Higher; Learning; Teaching

Objetivo:

describir el desarrollo de un Instrumento del Debriefing Holístico en inglés y portugués brasileño dirigido al educador de enfermería para promover un aprendizaje reflexivo.

Método:

estudio metodológico, con tres fases: revisión integradora de la literatura, desarrollo del instrumento, y revisión de un panel de expertos en enfermería. La revisión de la literatura siguió un proceso sistemático. Para el desarrollo del instrumento se utilizaron los resultados de la revisión de la literatura, el proceso de debriefing de Lederman y el sistema de aprendizaje de Zabala como referencial teórico para promover un aprendizaje reflexivo en la Simulación de Alta Fidelidad. El panel de expertos en enfermería analizó la calidad del instrumento.

Resultados:

la revisión de la literatura evidenció carencias en la preparación pedagógica del educador e indicó que no existe un instrumento integral de debriefing estructurada que capture los aspectos formativos y sumativos de la orientación del debriefing estructurado para ayudar al educador a realizarlo. El instrumento de del debriefing estructurado se preparó utilizando dos páginas: la primera muestra cómo realizar del debriefing estructurado y la segunda es una guía de preguntas. La evaluación del instrumento se realizó para un total de tres modificaciones para la congruencia y la claridad de lectura de los conceptos.

Conclusión:

se propone un Instrumento del Debriefing Holístico dirigido al educador de enfermería. Este estudio proporciona una visión general del proceso para promover un aprendizaje reflexivo en la Simulación de Alta Fidelidad y contribuir a la capacitación formal del educador de enfermería para aplicar la mejor práctica pedagógica.

Descriptores:
Docentes de Enfermería; Enseñanza Mediante Simulación de Alta Fidelidad; Educación en Enfermería; Educación Superior; Aprendizaje; Enseñanza

Introdução

Na última década, a Simulação de Alta Fidelidade (SAF) tem sido amplamente utilizada nos cursos de enfermagem como recurso de ensino e aprendizagem. A SAF é definida como atividades de aprendizagem que podem replicar o contexto da prática, a fim de atingir objetivos educacionais específicos e cumprir os requisitos sociais de manutenção da segurança do paciente⁽¹⁾.

O debriefing é um componente essencial de todas as experiências de simulação^(1-4). Ele é definido como um método pedagógico pelo qual os alunos são orientados por um facilitador por meio de um processo de pensamento reflexivo que os auxilia na relação da teoria com a prática e na compreensão de conceitos dentro do cenário de simulação^(1,3).

O debriefing traz vários benefícios para o ensino em enfermagem, incluindo o processo de pensamento reflexivo, que auxilia os estudantes a relacionar a teoria à prática⁽⁵⁾; um passo importante para envolvê-los na aprendizagem significativa^(6-7); o apoio na desconstrução da atividade de aprendizagem e, em seguida, sintetizar a experiência, reforçando-a para lembranças futuras⁽⁸⁾; facilitação da aprendizagem experiencial e desenvolvimento/aprimoramento das habilidades para reduzir sentimentos negativos e relacionar as atividades simuladas às situações clínicas da vida real^(2,5-6).

Sem esse estágio de reflexão (debriefing), a eficácia da atividade de simulação pode ser bastante reduzida e dificultar a avaliação dos alunos sobre a referida atividade e sua relação com o aprendizado anteriormente construído em seus programas de estudo^(2,5-7,9).

Como componente central e básico da SAF, o debriefing é universalmente aceito, entretanto, não está claro como os educadores em enfermagem são ensinados a aplicar as melhores práticas pedagógicas^(9-10)na condução do debriefing. Apesar da importância já reconhecida do debriefing para o processo de aprendizagem, principalmente no ensino de enfermagem, os estudos nesse campo permanecem pouco articulados^(2,9) e há uma falta de evidência a respeito da capacidade de educadores/instrutores/debriefers para apoiar, orientar, observar, avaliar e direcionar as ações, discussões e reflexões dos alunos durante o componente de debriefing da SAF.

É imperativo que os educadores em enfermagem tenham conhecimento sobre como conduzir o debriefing, considerando-se as melhores práticas pedagógicas^(8-9). As perguntas que surgem para os educadores em enfermagem são: a utilização de uma ferramenta de debriefing pode fornecer informações relevantes para a aplicação das melhores práticas pedagógicas⁽¹¹⁾ na SAF? O guia de debriefing estimula o desenvolvimento de enfermeiros educadores competentes para facilitar a aprendizagem dos alunos com informações que lhes fornecerão suporte em sua imersão no aprendizado, com foco na comunicação clara entre alunos e educadores?

Embora algumas ferramentas de avaliação⁽¹²⁾ reflitam os principais componentes do debriefing, elas se concentram especificamente nas perspectivas dos alunos. Portanto, não há consenso na literatura sobre os recursos formalizados direcionados ao debriefing em uma simulação para auxiliar os enfermeiros educadores em sua condução, considerando-se as melhores práticas pedagógicas e fazendo com que ele se torne um aliado importante para o desenvolvimento da perspicácia clínica dos estudantes de enfermagem^(7,13-14).

Considerando que a simulação é utilizada globalmente e que a falta de uma melhor prática pedagógica é universal, o objetivo deste estudo é descrever o desenvolvimento de um guia holístico para debriefing, em inglês e no português do Brasil, focado nos enfermeiros educadores, a fim de promover a aprendizagem reflexiva.

Portanto, esse guia em mais de um idioma possibilita seu uso global, para que possa ser compartilhado em muitas instituições com aplicabilidade transferida.

Método

Estudo metodológico⁽¹⁵⁾ para o desenvolvimento de um instrumento de debriefing em inglês e português do Brasil, focado em enfermeiros educadores, a fim de promover um guia de aprendizagem que visa auxiliá-los na promoção das melhores práticas pedagógicas na condução do debriefing durante a simulação.

Este estudo percorreu três fases. A primeira fase foi uma extensa revisão integrativa sistemática da literatura para basear o desenvolvimento do guia; a segunda consistiu no desenvolvimento do guia propriamente dito e a última constituiu-se na submissão do instrumento à avaliação por um painel de educadores/pesquisadores especialistas que conduzem/ensinam e realizam SAF e o debriefing.

Na primeira fase, as autoras realizaram uma revisão integrativa sistemática de literatura das questões relacionadas ao campo do estudo. A questão de pesquisa que norteou a revisão foi a seguinte: “como um educador/debriefer conduz o debriefing na SAF com estudantes de graduação/pós-graduação em enfermagem, levando em consideração as melhores práticas pedagógicas?”

Os bancos de dados utilizados como fonte para a revisão incluíram a Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), CINAHL, Scopus, PubMed e o Web of Science, que foram acessados utilizando-se palavras-chave para o Web of Science e Scopus, descritores para o PUBMED e sua combinação para a BVS e o CINAHL. Os termos utilizados foram “simulação de alta fidelidade”, debriefing, “educação, enfermagem”, “estudantes, enfermagem” ou “graduação em enfermagem” ou “pós-graduação em enfermagem”, “estudos de caso”, “caso de saúde” e “caso clínico”.

Os critérios de inclusão aplicados para essa revisão foram: artigos sobre o processo de debriefing, a SAF e o processo de debriefing envolvendo estudantes de enfermagem (graduação e pós-graduação) e artigos publicados em inglês, espanhol ou português entre 2005 e 2016. Os critérios de exclusão foram: não ser estudo primário e editoriais. A coleta de dados foi realizada no período de setembro a outubro de 2016; as buscas em todos os bancos de dados ocorreram por uma semana no início de setembro de 2016.

A revisão de literatura contribuiu com evidências para basear o desenvolvimento do guia, a fim de orientar os enfermeiros educadores/instrutores na promoção das melhores práticas pedagógicas em relação ao debriefing de simulação. Os resultados reforçaram o que os desenvolvedores haviam escolhido como definição, métodos e técnicas de debriefing; o nome a ser dado àqueles que conduzem os processos de debriefing e a relevância de incluir o aprendizado atitudinal, procedimental e cognitivo.

Na segunda fase, o guia foi desenvolvido de acordo com os resultados da revisão de literatura, o referencial teórico de debriefing de Lederman (1992⁾⁽⁽¹⁶⁾ e o processo de aprendizagem atitudinal, procedimental e cognitiva de Zabala (1998)⁽¹⁷⁾.

O referencial do processo de debriefing de Lederman argumenta que o debriefing é composto de três etapas: “a reflexão e análise sistemáticas (processo autorreflexivo sistemático dos participantes sobre a experiência pela qual acabaram de passar)”; “intensificação e personalização (reorientação das reflexões dos participantes sobre sua própria experiência individual e os significados que elas têm para eles)”; e “generalização e aplicação (os participantes passam de sua própria experiência individual para as aplicações e implicações mais amplas dessa experiência)”⁽¹⁶⁾.

O referencial de Zabala (1998) sustenta que o processo de aprendizagem pode ocorrer em perspectivas atitudinais, procedimentais e cognitivas, que são extrinsecamente conectadas entre si. Além disso, as desenvolvedoras do guia concordam com esse autor em relação à sua afirmação de que os alunos participam de atividades ativas e comunicativas de ensino e aprendizagem em grupo, bem como daquelas com instrutores. A socialização e a organização do grupo são desenvolvidas objetivando a aprendizagem que se estende no espaço e no tempo⁽¹⁷⁾.

Dependendo do enfoque e dos níveis de formação dos alunos, o enfermeiro educador deve personalizar a experiência de simulação para incluir o aspecto de uma modalidade de aprendizagem, ou a simulação pode ser nivelada em complexidade para incluir conhecimento de nível superior e a aplicação de habilidades, o que visa à aprendizagem cognitiva, atitudinal e procedimental simultaneamente^(16-17).

Os dados foram coletados de novembro de 2016 a março de 2017. A versão 10 foi considerada adequada para a revisão dos especialistas.

Por fim, as desenvolvedoras se basearam em seus conhecimentos, nos achados provenientes da revisão de literatura e nos referenciais de Lederman e Zabala^(16-17) para criar o guia “Três Estágios do Debriefing Holístico”.

Na terceira fase foi realizada uma avaliação do guia “Três Estágios do Debriefing Holístico” por um painel de cinco enfermeiros educadores/pesquisadores especialistas que conduzem/ensinam e orientam a SAF e o debriefing (03 canadenses e 02 brasileiros), após estes serem informados sobre a pesquisa e darem seu consentimento por escrito. Para a seleção dos especialistas⁽¹⁸⁾, adotou-se uma pontuação mínima de cinco pontos, sendo: possuir doutorado em Ciências da Saúde (um ponto), especialização em Educação em Enfermagem ou SAF (um ponto), ser docente de enfermagem (um ponto), participação em grupos/projetos de pesquisa sobre a SAF (um ponto) e autoria ou coautoria em trabalhos publicados em periódicos de Educação em Enfermagem ou periódicos de SAF (um ponto).

As avaliações foram encaminhadas aos especialistas eletronicamente em abril de 2017, os quais foram convidados a analisar o formato e o conteúdo do guia, buscando clareza e aparência adequada. Esse processo foi realizado três vezes até que todos os especialistas concordassem totalmente.

O estudo foi registrado na Plataforma Brasil/CONEP (CAAE 67357517.8.0000.5393) e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (2.111.736), conforme a Resolução Brasileira 466/12 do Conselho Nacional de Saúde⁽¹⁹⁾.

Resultados

Na revisão de literatura (fase 1), a primeira busca resultou em 220 estudos: 61 do Web of Science, 31 da BVS, 44 do PUBMED, 30 do CINAHL e 54 do SCOPUS, que compreenderam resumos e/ou artigos completos. Eles foram lidos para analisar o cumprimento dos critérios de inclusão. Trinta e um estudos primários, relacionados ao processo de debriefing, foram incluídos.

Este estudo identificou que, embora o debriefing seja conduzido principalmente por professores, faltam critérios formais de preparação pedagógica. Apenas um estudo se concentrou no papel do enfermeiro educador no debriefing em SAF, incluindo a promoção da melhor pedagogia. Um estudo relatou que foi realizado debriefing formativo. Do total, 16 estudos relataram a utilização de guias. Doze estudos reportaram a utilização de mais de um instrumento para orientar ou avaliar o processo de debriefing na perspectiva dos alunos, nenhum dos quais foi desenvolvido especificamente para auxiliar enfermeiros educadores na condução de debriefing, incluindo a conformidade com processos de aprendizagem específicos, como as modalidades atitudinais, técnicas e cognitivas.

Como resultado da segunda fase, considerando a experiência das desenvolvedoras como enfermeiras educadoras/pesquisadoras que conduzem/ensinam e orientam a SAF e debriefing, foi proposto um guia holístico de debriefing, incluindo o debriefing formativo e o sumativo. O instrumento permite que os enfermeiros educadores guiem todo o grupo (experiência prática em SAF e observação em grupo) à autorreflexão e reflexão em grupo durante toda a experiência de simulação. Além disso, também pode ajudar o corpo docente de enfermagem a aprimorar seu papel como educadores na condução do debriefing, incorporando elementos pedagógicos em sua realização com a utilização de um guia.

De acordo com os Padrões de Boas Práticas do INACSL⁽²⁰⁾, o processo da SAF pode ocorrer com pequenos grupos, com no máximo 5 alunos por educador, para facilitar a avaliação formativa. Para o propósito deste guia, as autoras definem o debriefing formativo como uma atividade de reflexão que deve ser realizada pelo enfermeiro educador durante todo o processo de simulação, considerando que o debriefing deve ser um processo contínuo de pensamento reflexivo para a aprendizagem dos estudantes de enfermagem e futuras tomadas de decisão.

Este estudo teve como objetivo desenvolver um instrumento chamado “Três Estágios do Debriefing Holístico”, como indicado, em três estágios, e sugere o período de tempo para conclusão de cada estágio da simulação, incluindo o pre-briefing (Figura 1).

Figura 1
Primeira página do “Três Estágios do Debriefing Holístico”, um guia de debriefing para orientação de instrutores

• Pre-briefing (tempo sugerido: 10 a 15 minutos): o educador pode concluir todos os objetivos predefinidos antes de iniciar a sessão de simulação, incluindo o estabelecimento de um contrato com todos os participantes do grupo para promover um ambiente seguro:

• Respeito mútuo, confidencialidade, ética, um programa definindo o tempo alocado para cada atividade, objetivos específicos de aprendizagem, o papel de cada participante;

• Fornecimento de informações para o cenário de simulação, fornecimento de informações sobre todas as funções dos equipamentos, incluindo manequins (ou pacientes padronizados).

• Primeiro estágio do debriefing: Autorreflexão imediata do aluno após a Experiência Prática/Debriefing Focalizado (tempo sugerido: 10 minutos por aluno/grupo). O educador:

  • - convida os alunos, imediatamente após a experiência prática, a refletirem sobre o afetivo, cognitivo;

  • - aprendizagem procedimental antes de abrir para discussão/reflexão em grupos maiores. Esta etapa deve ser repetida imediatamente após a experiência prática para pequenos grupos de alunos.

• Segundo estágio do debriefing: Facilitar a Discussão/Reflexão/Debriefing Formativo em Grupo (tempo sugerido: até 2 horas). Enquanto um dos grupos de alunos/grupos realizam sua experiência prática de simulação, o educador estimula o grupo inteiro (na sala de observação) a discutir e pensar criticamente ao longo da sessão de simulação:

  • - O instrutor reitera o objetivo da simulação para o grupo maior;

  • - O instrutor facilita a discussão durante a(s) observação(ões) dos grupos;

  • - O instrutor revisa os conceitos predeterminados e promove a discussão desses conceitos selecionados com o grupo maior em termos de necessidades afetivas, cognitivas e procedimentais;

  • - O instrutor conduz procedimentos de facilitação com o grupo para explorar como os alunos se conectam ao conhecimento anterior e o aplicam ao aprendizado durante a observação e os componentes práticos das experiências de simulação.

• Terceiro estágio do debriefing: Resumo Final do Aprendizado Obtido na Experiência de Simulação

  • - Debriefing Sumativo (tempo sugerido: 30 minutos): esta é a etapa final e deve ser realizada após todo o grupo ter tido a experiência prática de simulação:

  • - O instrutor pergunta ao grupo qual foi o aprendizado alcançado durante a observação e os componentes práticos da experiência de simulação, incluindo aprendizado afetivo, cognitivo e procedimental;

  • - O instrutor esclarece novamente os fatos, conceitos e princípios utilizados no cenário de simulação;

  • - O instrutor incentiva e orienta o grupo a propor soluções e sugerir decisões futuras com base nas práticas de melhores evidências;

  • - O instrutor solicita a cada membro do grupo que faça uma autoavaliação/reflexão de cada desempenho individual antes de encerrar o debriefing.

Além disso, no verso da folha, foram incluídos exemplos de pergunta-guia para a orientação em cada um dos estágios, a fim de facilitar que os educadores iniciantes realizem discussões com foco nas melhores práticas pedagógicas (Figura 2).

Figura 2
Verso da página do “Três Estágios do Debriefing Holístico”, exemplos de perguntas-guia - Parte B

Na terceira fase deste estudo, o instrumento foi avaliado por cinco enfermeiros educadores/pesquisadores especialistas que conduzem/ ensinam e orientam SAF e debriefing (03 canadenses e 02 brasileiros), convidados à conveniência das autoras a fim de garantir a participação de especialistas. Todos eram educadores há mais de 6 anos e utilizavam a SAF no ensino de enfermagem. Embora um dos especialistas não realizasse pesquisas sobre SAF/debriefing, ele participava de grupos/projetos de pesquisa e tinha autoria ou coautoria em artigos publicados em periódicos.

Nesse processo, o guia passou por um total de três modificações para garantir a congruência dos itens avaliados e adequação dos termos utilizados. Para cada versão analisada pelos especialistas, as autoras discutiram as sugestões e as modificaram, quando necessário. A versão 7 (a primeira enviada aos especialistas) mostrou uma imagem importante de como o instrumento é compreendido pelos enfermeiros educadores e auxiliou em seu aprimoramento. A segunda e terceira versões (8 e 9) foram mais voltadas para o esclarecimento da imagem.

Discussão

Considerando que os facilitadores devem ser adequadamente treinados em debriefing⁽²¹⁾, este estudo apresentou o desenvolvimento de um guia holístico de debriefing, em inglês e português do Brasil, voltado para enfermeiros educadores, a fim de promover o aprendizado reflexivo, levando em consideração o papel do enfermeiro educador na promoção das melhores práticas pedagógicas e suas recomendações para o ensino de enfermagem no futuro. Como não foram encontrados outros instrumentos, nacionais ou internacionais, voltados para educadores em enfermagem, os resultados não podem ser discutidos por comparação, sendo, assim, um estudo inovador.

No primeiro estágio, uma extensa revisão integrativa da literatura, este estudo investigou o corpo da pesquisa existente sobre o debriefing durante a SAF por um período de 12 anos. Foram obtidos estudos originários da América do Norte e do Sul, Europa e Ásia, que forneceram uma visão geral das publicações científicas relacionadas ao debriefing como recurso que promove a melhor pedagogia no ensino de enfermagem utilizando a SAF.

A revisão evidenciou lacunas nas pesquisas, tais como: faltam estudos voltados ao desenvolvimento do enfermeiro educador para a promoção das melhores práticas pedagógicas; não há ferramentas disponíveis para auxiliar os educadores de enfermagem na realização de debriefing focado no aprendizado atitudinal, técnico e cognitivo ao mesmo tempo.

Para o desenvolvimento do guia “Três Estágios do Debriefing Holístico”, o referencial teórico de debriefing de Lederman foi selecionado por afirmar que os facilitadores podem auxiliar os alunos a aprender, mas não determinam o que deve-se aprender porque os alunos precisam estar motivados. Além disso, Lederman⁽¹⁶⁾ argumenta que “no contexto educacional, os objetivos são facilitar a compreensão do que ocorreu, descobrir o que os participantes aprenderam e verificá-lo em relação ao objetivo de aprendizagem do instrutor”. Esse referencial tem sido utilizado por vários cientistas em diferentes áreas^(22-23).

Por ser importante vincular as aprendizagens atitudinal, procedimental e cognitiva no ensino de enfermagem, este estudo também utilizou o referencial teórico de Zabala (1998) para o processo de aprendizagem⁽¹⁷⁾. Essas atividades complexas estimulam um processo de elaboração individual do conhecimento. Atividades experimentais e práticas permitem que novos conteúdos de aprendizagem sejam relacionados a conhecimentos anteriores. A compreensão faz parte do conhecimento do aluno, não apenas quando ele é capaz de repetir uma definição, mas também quando esta é utilizada para a interpretação, entendimento ou apresentação de um fenômeno ou situação, sendo capaz de situar fatos, objetos ou situações concretas⁽¹⁷⁾.

Além disso, Zabala (1998) afirma que as melhores práticas pedagógicas devem se alinhar e responder às necessidades sociais de várias populações. A pedagogia também deve atender às necessidades atuais e contextuais dos alunos, incluindo sua diversidade e autonomia, pois isso influencia a maneira como os eles processam e constroem o conhecimento⁽¹⁷⁾.

Considerando que os alunos devem ser ativos durante o aprendizado, este estudo propõe um debriefing formativo. A expressão “avaliação formativa” data da década de 1960⁽²⁴⁾ e o objetivo dessa avaliação é fornecer aos alunos um feedback individual sobre cada estágio de seu processo de aprendizagem.

O debriefing como avaliação formativa é um processo altamente interativo, no qual as habilidades e o entendimento não são simplesmente avaliados desapaixonadamente pelo instrutor, mas no qual novas ideias são cocriadas em um diálogo entre o instrutor e os alunos⁽¹³⁾.

O debriefing tem sido realizado apenas no final da simulação; no entanto, conforme demonstrado pela experiência de ensino das autoras, bem como por evidências científicas, esse procedimento pode desinteressar os alunos e influenciar seus resultados de aprendizagem. Estimular os alunos a participar ativamente da proposta pedagógica promove níveis mais altos de retenção quando estes pensam, analisam e discutem ativamente o que ocorre^(5,23).

A avaliação sumativa ocorre no final da sessão de treinamento, fornece feedback implícito sobre a condição do aluno e pode levar a mudanças em seu conhecimento ou comportamento, especialmente durante o processo de estudo para um exame. A avaliação formativa ocorre durante todo o período de treinamento e é individualmente adaptada ao aluno^(13,25), auxilia no desenvolvimento da identidade profissional por meio da interação social dos diálogos de aprendizagem e ajuda a melhorar as habilidades clínicas e o trabalho em equipe⁽²⁵⁾.

Embora as autoras desse estudo acreditem que o debriefing realizado durante a simulação deve ser conduzido durante toda a experiência como um meio de estimular a participação ativa dos alunos⁽⁵⁾ (o aluno desenvolvendo atividades práticas e grupo de observação), a proposta do guia também permite que o desbriefer realize o debriefing no final da simulação.

Dependendo da estrutura física e dos recursos do local de simulação e da disponibilidade de espaços éticos e seguros para o debriefing, não é possível realizar o debriefing formativo. Os alunos devem sentir que podem exteriorizar seus conhecimentos e sentimentos sem serem julgados ou punidos por colegas ou enfermeiros educadores^(22,26).

A experiência e a discussão dos desenvolvedores, em conjunto com os comentários dos revisores externos, ajudaram a aprimorar o guia de debriefing em relação à clareza, fornecendo um modelo visualmente abrangente e prestando a devida atenção ao texto específico. As múltiplas revisões das versões preliminares procuraram criar uma ferramenta que pudesse ser facilmente utilizada por todos os educadores/instrutores que utilizam a SAF em seus cursos/programas.

Embora o guia de debriefing holístico pareça ser o primeiro a se concentrar em enfermeiros educadores, a ausência de outros instrumentos semelhantes influencia a possibilidade de comparar sua aplicação no ensino de enfermagem para promover a aprendizagem reflexiva.

Por fim, a construção de instrumentos educacionais para o ensino e a pesquisa em enfermagem fomenta a prática baseada em evidências e o avanço do conhecimento científico com base em um referencial pedagógico e metodológico que garante a validade do conteúdo do material⁽²⁷⁾.

Para a utilização do guia, este estudo recomenda:

• O pre-briefing é um passo importante. Ele faz parte do processo de simulação e auxilia os alunos a se sentirem confortáveis com a experiência.

• Diretriz para o debriefing formativo. O educador deve analisar quais recursos estão disponíveis no local de simulação, a fim de selecionar a melhor maneira de realizar um debriefing focado nas melhores práticas pedagógicas.

• Nas situações em que é possível realizar o debriefing formativo, o instrutor pode dar voz a todos os alunos imediatamente após a experiência prática e simular aqueles que não se sentem à vontade para refletir sobre a experiência em voz alta.

• Os exemplos de perguntas de orientação não são obrigatórios. Eles podem auxiliar especialmente os educadores iniciantes.

• Reforçar a importância da autoavaliação e reflexão em grupo.

As limitações do estudo residem na importância de se realizarem estudos prospectivos para acompanhar a aplicação do guia com enfermeiros educadores de língua portuguesa do Brasil e inglesa durante o planejamento e execução da SAF no ensino de enfermagem, a fim de promover as melhores práticas pedagógicas para a formação de enfermeiros competentes que estejam comprometidos com a saúde integral.

Conclusão

Neste estudo metodológico, as autoras propuseram o novo guia “Três Estágios do Debriefing Holístico”, com foco em enfermeiros educadores, para promover a aprendizagem reflexiva. Este estudo fornece uma visão geral do processo de desenvolvimento como um recurso que promove a melhor pedagogia no ensino de enfermagem por meio da SAF.

O presente estudo mostra todas as fases do desenvolvimento de um guia inédito, incluindo uma extensa revisão integrativa, a utilização de referenciais teóricos para apoiar o desenvolvimento e uma análise por um painel de especialistas. As autoras propuseram uma maneira formativa de conduzir o debriefing durante todo o processo de simulação, a fim de aprimorar a capacidade dos alunos de pensar criticamente, analisar e discutir o que ocorreu.

Implicações para o ensino de enfermagem: o desenvolvimento do guia “Três Estágios do Debriefing Holístico” pode contribuir para o treinamento formal de enfermeiros educadores para a aplicação das melhores práticas pedagógicas. O instrumento também pode auxiliar os enfermeiros educadores na organização de seu trabalho pedagógico, pois fornecerá um guia de reflexão para ajudar os alunos a lidar com sentimentos e, consequentemente, com questões cognitivas. O guia também pode ser utilizado para treinar enfermeiros educadores na utilização de metodologias ativas e aqueles que desejam incluir a SAF em sua prática pedagógica. Os coordenadores pedagógicos devem prestar atenção a esta ferramenta como recurso auxiliar para aprimorar as práticas de ensino em laboratórios de simulação.

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Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  03 Fev 2020
• Data do Fascículo
  2020

Histórico

• Recebido
  13 Dez 2018
• Aceito
  16 Set 2019