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“Tempos de guerra e tempos de paz incerta”: narrativas de pais de sobreviventes de câncer infantojuvenil* * O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) - Código de Financiamento 001, Brasil, e apoio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), processo nº 200580/2022-1, Brasil.

Resumo

Objetivo:

analisar os significados atribuído pelos pais à sobrevivência estendida e permanente ao câncer infantojuvenil.

Método:

estudo qualitativo narrativo, desenvolvido com pais de adolescentes e adultos jovens que sobreviveram ao câncer infantojuvenil. O recrutamento e a coleta de dados envolveram abordagens virtuais e presenciais. Os dados foram coletados por meio de entrevistas semiestruturadas e analisados segundo análise temática reflexiva.

Resultados:

um total de dez pais foram incluídos no estudo. Foram construídas duas sínteses narrativas temáticas: “Tempos de guerra”; e “Tempo de paz incerta”, com seus respectivos subtemas. O diagnóstico de câncer marca o início de tempos de guerra na vida dos pais. Eles experienciam o tratamento do câncer como “altos e baixos”, com ameaças potenciais à vida dos seus filhos. Depois disso, chega-se ao “Tempo de paz incerta” e o equilíbrio da unidade familiar é restabelecido. Porém, o medo da recidiva torna a paz familiar incerta, e sua manutenção exige vigilância constante e atenção aos sinais e sintomas de uma possível nova batalha.

Conclusão:

os resultados destacam a experiência de ser pai de um sobrevivente de câncer infantil e podem ser aplicados para desenvolver modelos de cuidado centrados na família dos sobreviventes.

Descritores:
Sobreviventes; Neoplasias; Criança; Adolescente; Pais; Pesquisa Qualitativa

Abstract

Objective:

to analyze the meaning attributed by parents to the extended and permanent survival of childhood cancer.

Method:

qualitative narrative inquiry, developed with parents of adolescents and young adults who survived childhood cancer. Recruitment and data collection involved virtual and in-person approaches. The data were collected through semi-structured interviews. Data were analyzed according to reflective thematic analysis.

Results:

a total of ten parents were included in the study. Two thematic narrative syntheses were constructed: “Times of war”; and “Time of uncertain peace”, with their respective sub-themes. The cancer diagnosis marks the beginning of times of war in the parents’ lives. They experience cancer treatment as “highs and lows” with potential threats to their children’s lives. After that, “Time of uncertain peace” are reached, and the balance of the family unit is reestablished. However, the fear of recurrence makes the family peace uncertain, and its maintenance requires constant vigilance and attention to the signs and symptoms of a possible new battle.

Conclusion:

the results highlight the experience of being a parent of a childhood cancer survivor and can be applied to develop models of care centered on the survivors’ family.

Descriptors:
Survivors; Neoplasms; Child; Adolescent; Parents; Qualitative Research

Resumen

Objetivo:

analizar los significados que les atribuyen los padres a la supervivencia prolongada y permanente del cáncer infantojuvenil.

Método:

estudio narrativo cualitativo, desarrollado con padres de adolescentes y adultos jóvenes que sobrevivieron al cáncer infantojuvenil. El reclutamiento y la recogida de datos se basó en enfoques virtuales y presenciales. Los datos fueron recolectados a través de entrevistas semiestructuradas y analizados según análisis temático reflexivo.

Resultados:

se incluyeron en el estudio un total de diez padres. Se construyeron dos síntesis narrativas temáticas: “Tiempos de guerra”; y “Tiempo de paz incierta”, con sus respectivos subtemas. El diagnóstico de cáncer marca el inicio de tiempos de guerra en la vida de los padres. Viven el tratamiento del cáncer como “altibajos” con amenazas potenciales para la vida de sus hijos. Después llega el “Tiempo de paz incierta” y se restablece el equilibrio de la unidad familiar. Pero el miedo a la recidiva torna incierta la paz familiar, y mantenerla implica un control constante y prestar atención a los signos y síntomas de una posible nueva batalla.

Conclusión:

los resultados destacan la experiencia de ser padre de un superviviente de cáncer infantil y pueden aplicarse para desarrollar modelos de atención centrados en la familia de los supervivientes.

Descriptores:
Sobrevivientes; Neoplasias; Niño; Adolescente; Padres; Investigación Cualitativa

Destaques:

(1) As experiências dos pais na sobrevivência ao câncer infantil ainda são negligenciadas na literatura.

(2) O tratamento agudo do câncer infantil é experienciado como um tempo de guerra.

(3) A sobrevivência a longo prazo é experienciado como um momento de paz pelos pais.

(4) O medo da recidiva torna a paz dos pais incerta, mesmo na sobrevivência a longo prazo.

(5) Os pais devem ser incluídos nos cuidados aos sobreviventes.


Introdução

O câncer infantojuvenil é frequentemente definido como câncer que ocorre entre o nascimento e os 14 anos de idade, mas também pode incluir cânceres até os 18 ou 19 anos11. American Cancer Society. Cancer Facts & Figures 2023 [Internet]. Atlanta, GA: American Cancer Society; 2023 [cited 2024 Feb 7]. Available from: Available from: https://www.cancer.org/research/cancer-facts-statistics/all-cancer-facts-figures/2023-cancer-facts-figures.html
https://www.cancer.org/research/cancer-f...
)-(33. Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (BR). Estimativa 2023: incidência de câncer no Brasil [Internet]. Rio de Janeiro: INCA; 2023 [cited 2023 Aug 15]. 160 p. Available from: Available from: https://www.inca.gov.br/sites/ufu.sti.inca.local/files/media/document/estimativa-2023.pdf
https://www.inca.gov.br/sites/ufu.sti.in...
. As opções de tratamento para o câncer infantojuvenil melhoraram nas últimas décadas. Apesar desses avanços, deve-se considerar que a sobrevida global após cinco anos apresenta variação considerável por região, começando de 8,1% na África Oriental, a 73% na Europa e 60% na América do Sul, e chegando a 83,0% na América do Norte44. Ward ZJ, Yeh JM, Bhakta N, Frazier AL, Girardi F, Atun R. Global childhood cancer survival estimates and priority-setting: a simulation-based analysis. Lancet Oncol [Internet]. 2019 Jul [cited 2023 Aug 15];20(7):972-83. Available from: Available from: https://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S1470204519302736
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. Globalmente, a taxa de sobrevivência estimada é de 37,4% para os mesmos 5 anos44. Ward ZJ, Yeh JM, Bhakta N, Frazier AL, Girardi F, Atun R. Global childhood cancer survival estimates and priority-setting: a simulation-based analysis. Lancet Oncol [Internet]. 2019 Jul [cited 2023 Aug 15];20(7):972-83. Available from: Available from: https://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S1470204519302736
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. Essa variação evidencia desigualdades em saúde entre diferentes países55. World Health Organization. Childhood cancer inequalities in the WHO European Region [Internet]. Copenhagen: WHO Regional Office for Europe; 2022 [cited 2023 Aug 15]. 106 p. Available from: Available from: https://cdn.who.int/media/docs/librariesprovider2/euro-health-topics/cancer/childhood-cancer-inequalities-in-the-who-european-region.pdf?sfvrsn=b62824bb_6&download=true
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. Os sobreviventes de leucemia representam aproximadamente um terço de todos os sobreviventes de câncer com menos de 20 anos66. Miller KD, Nogueira L, Devasia T, Mariotto AB, Yabroff KR, Jemal A, et al. Cancer treatment and survivorship statistics, 2022. CA Cancer J Clin [Internet]. 2022 [cited 2023 Aug 15];72(5):409-36. Available from: Available from: https://doi.org/10.3322/caac.21731
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.

Novas definições sobre o que constitui um sobrevivente de câncer surgiram ao longo dos anos77. Feuerstein M. Defining cancer survivorship. J Cancer Surviv Res Pract. 2007;1(1):5-7. https://doi.org/10.1007/s11764-006-0002-x
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)-(88. Neris RR, Nascimento LC. Childhood cancer survival: Emerging reflections on pediatric oncology nursing. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2021 [cited 2023 Aug 15];55. Available from: Available from: https://doi.org/10.1590/S1980-220X2020041803761
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. Os sobreviventes têm sido definidos de várias maneiras como aqueles que foram diagnosticados com câncer pela primeira vez ou aqueles que vivem com um diagnóstico de câncer por 5 anos ou mais77. Feuerstein M. Defining cancer survivorship. J Cancer Surviv Res Pract. 2007;1(1):5-7. https://doi.org/10.1007/s11764-006-0002-x
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. A primeira definição do conceito de sobrevivente do câncer foi feita por Mullan em 198599. Mullan F. Seasons of Survival: Reflections of a Physician with Cancer. N Engl J Med [Internet]. 1985 [cited 2023 Aug 15];313(4):270-3. Available from: Available from: https://doi.org/10.1056/NEJM198811243192103
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, médico e sobrevivente do câncer, que apresentou as três “estações de sobrevivência”99. Mullan F. Seasons of Survival: Reflections of a Physician with Cancer. N Engl J Med [Internet]. 1985 [cited 2023 Aug 15];313(4):270-3. Available from: Available from: https://doi.org/10.1056/NEJM198811243192103
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, que são: sobrevida aguda (período após o diagnóstico, onde o foco está no tratamento de sobrevivência); sobrevivência estendida (período após o término do tratamento, muitas vezes conhecido como remissão, onde o foco está em lidar com as consequências do tratamento a curto prazo); e sobrevida permanente (5 anos após o término do tratamento, quando o paciente está “curado”, mas precisa lidar com os efeitos tardios do câncer e dos tratamentos). Esta é a definição que adotamos neste estudo99. Mullan F. Seasons of Survival: Reflections of a Physician with Cancer. N Engl J Med [Internet]. 1985 [cited 2023 Aug 15];313(4):270-3. Available from: Available from: https://doi.org/10.1056/NEJM198811243192103
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.

A família também é considerada sobrevivente do câncer infantojuvenil77. Feuerstein M. Defining cancer survivorship. J Cancer Surviv Res Pract. 2007;1(1):5-7. https://doi.org/10.1007/s11764-006-0002-x
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)-(88. Neris RR, Nascimento LC. Childhood cancer survival: Emerging reflections on pediatric oncology nursing. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2021 [cited 2023 Aug 15];55. Available from: Available from: https://doi.org/10.1590/S1980-220X2020041803761
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),(1010. National Cancer Institute. NCI’s Dictionary of Cancer Terms [Internet]. 2024 [cited 2024 Feb 7]. Available from: Available from: https://www.cancer.gov/publications/dictionaries/cancer-terms/def/survivorship#
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, sendo muitas vezes referida como a “segunda sobrevivente” do câncer. Embora os pais não sejam biologicamente afetados pelo câncer, são certamente afetados funcionalmente, socialmente e emocionalmente pela doença. Os pais podem vivenciar uma série de efeitos após o tratamento do câncer de seu filho, sofrimento psicológico e transtorno de estresse pós-traumático, perda de renda e toxicidade financeira devido à alta carga de gastos vivenciados durante e mesmo após o tratamento do câncer, medo da recidiva do câncer e a necessidade de lidar com os efeitos físicos tardios que as crianças enfrentam após o tratamento1111. Aalykkja A, Larsen EH, Larsen MH, Ruud E, Puhr A, Lie HC. Life after paediatric brain tumour; the perspectives of the survivors and their parents. J Adv Nurs [Internet]. 2023 [cited 2024 Feb 7]; Available from: Available from: https://doi.org/10.1111/jan.15812
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)-(1313. Toledano-Toledano F, Moral de la Rubia J, Nabors LA, Domínguez-Guedea MT, Salinas Escudero G, Rocha Pérez E, et al. Predictors of Quality of Life among Parents of Children with Chronic Diseases: A Cross-Sectional Study. Healthcare [Internet]. 2020 [cited 2023 Aug 15];8(4):456. Available from: Available from: https://doi.org/10.3390/healthcare8040456
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. Os estudos mostram que esses efeitos contribuem para uma má qualidade de vida dos pais1414. Neves MC, Bártolo A, Prins JB, Sales CMD, Monteiro S. Taking Care of an Adolescent and Young Adult Cancer Survivor: A Systematic Review of the Impact of Cancer on Family Caregivers. Int J Environ Res Public Health [Internet]. 2023 Apr 12 [cited 2024 Feb 7];20(8):5488. Available from: Available from: https://doi.org/10.3390/ijerph20085488
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.

Contudo, a experiência dos pais ainda é negligenciada e pouco se sabe sobre a experiência deles durante a sobrevivência ao câncer infantojuvenil. A literatura até o momento inclui principalmente estudos realizados durante o tratamento ativo, com foco nas experiências durante a quimioterapia1515. Szymczak JE, Getz KD, Madding R, Shuster S, Aftandilian C, Arnold SD, et al. Child and family perceptions of satisfaction with neutropenia management in pediatric acute myeloid leukemia. Pediatr Blood Cancer [Internet]. 2023 [cited 2024 Feb 7];70(8). Available from: Available from: https://doi.org/10.1002/pbc.30420
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)-(1616. Silva-Rodrigues FM, Hinds PS, Nascimento LC. Adolescents’ understanding of chemotherapy-related adverse events: a concept elicitation study. Rev. Latino-Am. Enfermagem [Internet]. 2022 [cited 2023 Aug 15];30(spe). Available from: Available from: https://doi.org/10.1590/1518-8345.6245.3717
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, na fase de fim de vida ou no luto parental1717. Snaman J, Morris SE, Rosenberg AR, Holder R, Baker J, Wolfe J. Reconsidering early parental grief following the death of a child from cancer: a new framework for future research and bereavement support. Support Care Cancer [Internet]. 2020 Sep 24 [cited 2023 Aug 15];28(9):4131-9. Available from: Available from: https://doi.org/10.1007/s00520-019-05249-3
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)-(1818. Hansson H, Björk M, Santacroce SJ, Raunkiær M. End-of-life palliative home care for children with cancer: A qualitative study on parents’ experiences. Scand J Caring Sci [Internet]. 2022 Jan 24 [cited 2023 Aug 15]; Available from: Available from: https://doi.org/10.1111/scs.13066
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a partir da perspectiva única do próprio sobrevivente do câncer1919. Janssen SHM, Vlooswijk C, Manten-Horst E, Sleeman SHE, Bijlsma RM, Kaal SEJ, et al. Learning from long-term adolescent and young adult cancer survivors regarding their age-specific care needs to improve current care programs. Cancer Med [Internet]. 2023 [cited 2024 Feb 7];12(12):13712-31. Available from: Available from: https://doi.org/10.1002/cam4.6001
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)-(2121. Belpame N, Kars MC, Deslypere E, Rober P, Van Hecke A, Verhaeghe S. Coping Strategies of Adolescent and Young Adult Survivors of Childhood Cancer. Cancer Nurs [Internet]. 2021 [cited 2023 Aug 15];44(6):E395-403. Available from: Available from: https://doi.org/10.1097/NCC.0000000000000865
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, ou na perspectiva de cuidadores familiares de adultos sobreviventes2222. Kizza IB, Muliira JK. Determinants of quality of life among family caregivers of adult cancer patients in a resource-limited setting. Support Care Cancer [Internet]. 2020 [cited 2023 Aug 15];28(3):1295-304. Available from: Available from: http://doi.org/10.1007/s00520-019-04947-2
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. Portanto, este estudo teve como objetivo preencher essa lacuna de conhecimento e destacar as vozes dos pais de sobreviventes de câncer infantojuvenil.

A questão de pesquisa que norteou este estudo foi: Como os pais de sobreviventes de câncer infantojuvenil vivenciam as fases estendida e permanente da sobrevivência? Este estudo qualitativo teve como objetivo analisar os significados atribuídos pelos pais à sobrevivência estendida e permanente ao câncer infantojuvenil.

Método

Delineamento

Trata-se de uma pesquisa qualitaitva narrativa, baseado na abordagem metodológica de Squire2323. Squire C. Experience-centred and culturally-oriented approaches to narrative. In: Andrews M, Squire C, Tamboukou M, editors. Doing narrative research. 2nd ed. Los Angeles, CA: Sage Publications; 2013. p. 41-63. de narrativa centrada na experiência. As narrativas construídas a partir do modelo centrado na experiência envolvem movimento, sucessão, progressão ou sequência, são geralmente temporais e envolvem a articulação ou desenvolvimento do significado da experiência vivida pelo narrador2323. Squire C. Experience-centred and culturally-oriented approaches to narrative. In: Andrews M, Squire C, Tamboukou M, editors. Doing narrative research. 2nd ed. Los Angeles, CA: Sage Publications; 2013. p. 41-63.. Uma narrativa deve conter cinco elementos essenciais: enredo (conjunto de fatos); personagens (quem realiza a ação); tempo (duração e horário em que a história se passa); espaço (local onde acontece a ação) e ambiente (espaço permeado pelas características socioeconômicas, morais e psicológicas onde os personagens vivem)2424. Silva DGV, Trentini M. Narrations as a nursing research technique. Rev. Latino-Am. Enfermagem [Internet]. 2002 [cited 2023 Aug 15];10(3):423-32. Available from: Available from: https://doi.org/10.1590/S0104-11692002000300017
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.

Local do estudo

Ambulatório de oncohematologia pediátrica de um hospital pediátrico localizado no interior do estado de São Paulo (Brasil). Este ambulatório conta com serviço de atendimento a sobreviventes de câncer infantojuvenil e pacientes com doenças hematológicas benignas.

Participantes e critérios de elegibilidade

Empregamos uma amostragem intencional para convidar pais de adolescentes ou adultos jovens sobreviventes de câncer infantojuvenil. Os critérios de elegibilidade incluíram: idade superior a 18 anos; ser pai do adolescente ou jovem adulto com câncer e ter participado do seu cuidado. Adolescentes e adultos são definidos como qualquer indivíduo com idade entre 15 e 39 anos. Todos os filhos sobreviventes dos participantes deste estudo completaram o tratamento do câncer infantil e estavam nos estágios de sobrevivência estendidas e permanente ao câncer infantil.

O recrutamento e a coleta de dados para esta pesquisa foram realizados entre os meses de maio de 2021 e agosto de 2022. Devido às restrições sociais causadas pela pandemia de COVID-19, o recrutamento dos participantes ocorreu de forma híbrida, por meio de recrutamento presencial e remoto, conforme detalhado abaixo:

  1. Recrutamento presencial: realizado no ambulatório de oncohematologia pediátrica. A investigadora principal identificou os pais elegíveis através da lista de consultas no ambulatório. Os potenciais participantes foram contatados no dia da consulta médica do adolescente ou jovem adulto sobrevivente. Os pais foram convidados a participar e receberam esclarecimentos sobre os procedimentos do estudo. Aqueles que concordaram em participar assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido por escrito. Após isso, a entrevista com o participante foi agendada conforme escolha dos participantes, que poderia ser: 1) presencial, no ambulatório, enquanto aguardava atendimento médico; ou 2) online na plataforma de sua preferência e com a qual tivesse maior familiaridade (Google Meet, Zoom ou WhatsApp vídeo);

  2. Recrutamento remoto: feito on-line, através de plataformas como Instagram e WhatsApp, e por telefone. Quando o responsável estava ausente no momento do encontro presencial no ambulatório, o pesquisador abordava o sobrevivente no dia da consulta médica, antes ou depois da consulta, e explicava os objetivos e procedimentos da pesquisa, e quando dado o consentimento do sobrevivente, foi solicitado o número de telefone dos pais. Em seguida, os pais foram contatados e uma explicação detalhada do objetivo e dos procedimentos do estudo era fornecida, bem como a forma como a pesquisadora obteve acesso ao seu contato telefônico. Aqueles que manifestaram interesse em participar do estudo receberam um link para preenchimento do termo de consentimento no Formulários Google. Além disso, os pais também foram convidados a participar do estudo via Instagram. Os participantes recrutados no Instagram não estavam em acompanhamento no ambulatório de oncohematologia pediátrica, onde ocorreu o principal meio de recrutamento. Por meio de um perfil social que publica conteúdos relacionados ao câncer e também relatos de experiências públicas de sobreviventes, foram identificados sobreviventes de câncer infantojuvenil. Por meio de mensagens diretas do Instagram, a pesquisadora enviou um convite aos potenciais participantes, que continha informações sobre os objetivos e procedimentos da pesquisa; quaisquer dúvidas também foram respondidas naquele momento. Após manifestação de interesse em participar do estudo, foi enviado o link para preenchimento do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Coleta de dados

A coleta de dados foi realizada por uma doutoranda com especialização em enfermagem oncológica (primeira autora do estudo), com experiência prévia em coleta de dados qualitativos, e que não possuía vínculo prévio com os participantes da pesquisa. Os dados do estudo foram coletados por meio de entrevistas individuais on-line, através de videochamadas via WhatsApp e Google Meet; e entrevistas individuais presenciais, realizadas em sala privativa do ambulatório do hospital. Foram realizadas oito entrevistas on-line e duas entrevistas presenciais, uma com cada participante. Em ambas as modalidades foram realizadas entrevistas semiestruturadas, utilizando um roteiro de entrevista pré-estabelecido, elaborado pelas pesquisadoras, contendo questões norteadoras, como: “Você pode contar a história desde os primeiros sinais e sintomas de câncer do seu filho? ”, “Você pode contar a história em relação ao tratamento do câncer do seu filho?”, “Você já ouviu falar em sobrevivência ao câncer?”, “O que você acha dessa expressão?”. Além disso, foram introduzidas perguntas de acompanhamento, como: “Você poderia me contar mais sobre isso?”. Essas perguntas permitiram que uma história se desenrolasse conforme o participante escolhesse contá-la. Além disso, os autores utilizaram um formulário para coletar dados relacionados à caracterização de pais e sobreviventes de câncer infantil.

Tanto as entrevistas presenciais quanto as on-line foram gravadas com gravador de voz externo, sem captação da imagem dos participantes. Os áudios das entrevistas foram transcritos na íntegra para realização da análise dos dados. As transcrições não foram devolvidas aos participantes. Contudo, as entrevistas foram transcritas por um pesquisador (P.I.) e revisadas na íntegra por um segundo pesquisador para fins de verificação de veracidade e correção de possíveis erros. A análise ocorreu concomitantemente à coleta de dados. Essa técnica permitiu encerrar a coleta quando os dados das entrevistas começaram a se repetir e nenhum novo significado ou código foi encontrado, o que ocorreu na entrevista 102525. Hennink MM, Kaiser BN, Marconi VC. Code Saturation Versus Meaning Saturation. Qual Health Res [Internet]. 2017 [cited 2023 Aug 15];27(4):591-608. Available from: Available from: http://doi.org/10.1177/1049732316665344
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)-(2626. Saunders B, Sim J, Kingstone T, Baker S, Waterfield J, Bartlam B, et al. Saturation in qualitative research: exploring its conceptualization and operationalization. Qual Quant [Internet]. 2018 [cited 2023 Aug 15];52(4):1893-907. Available from: Available from: http://doi.org/10.1007/s11135-017-0574-8
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.

Tratamento e análise de dados

O método narrativo permite a utilização de diferentes tipos de métodos de análise de dados, sendo o mais comum a análise temática2727. Overcash JA. Narrative research: a review of methodology and relevance to clinical practice. Crit Rev Oncol Hematol [Internet]. 2003 [cited 2023 Aug 15];48(2):179-84. Available from: Available from: https://doi.org/10.1016/j.critrevonc.2003.04.006
https://doi.org/10.1016/j.critrevonc.200...
)-(2828. Overcash JA. Narrative Research: A Viable Methodology for Clinical Nursing. Nurs Forum [Internet]. 2004 [cited 2023 Aug 15];39(1):15-22. Available from: Available from: http://doi.org/10.1111/j.0029-6473.2004.00015.x
http://doi.org/10.1111/j.0029-6473.2004....
. Portanto, para este estudo foi utilizado o método de análise reflexiva temática2929. Braun V, Clarke V. One size fits all? What counts as quality practice in (reflexive) thematic analysis? Qual Res Psychol [Internet]. 2021 [cited 2024 Feb 07];18(3):328-52. Available from: Available from: https://doi.org/10.1080/14780887.2020.1769238
https://doi.org/10.1080/14780887.2020.17...
e o processo está descrito na Figura 1.

Figura 1
Estrutura de análise de dados. Ribeirão Preto, SP, Brasil, 2022

Considerações éticas

O estudo foi aprovado pelos comitês de ética da instituição proponente e coparticipante, com parecer nº 012/2020, de 24/01/2020. Os participantes receberam todas as informações relacionadas à pesquisa antes de entrar no estudo. O consentimento informado foi obtido de todos os participantes.

Rigor metodológico

O rigor deste estudo foi potencializado pelas seguintes considerações3131. Doyle L, McCabe C, Keogh B, Brady A, McCann M. An overview of the qualitative descriptive design within nursing research. J Res Nurs [Internet]. 2020 [cited 2023 Aug 15];25(5):443-55. Available from: Available from: http://doi.org/10.1177/1744987119880234
http://doi.org/10.1177/1744987119880234...
)-(3232. Dodgson JE. Reflexivity in Qualitative Research. J Hum Lact [Internet]. 2019 [cited 2023 Aug 15];35(2):220-2. Available from: Available from: http://doi.org/10.1177/0890334419830990
http://doi.org/10.1177/0890334419830990...
: 1) Credibilidade - a análise dos dados foi realizada por uma equipe de pesquisa, a apresentação dos códigos, temas e subtemas identificados e a apresentação de citações relevantes das narrativas. Adicionalmente, são apresentados trechos das narrativas para ilustrar ao leitor que as narrativas realmente apresentam os significados que os participantes dão às suas experiências; 2) Transferibilidade - apresentação no método, de forma transparente, dos processos de tomada de decisão metodológicos e analíticos da pesquisa e descrição do contexto sociocultural dos participantes; 3) Confiabilidade - descrição rigorosa dos aspectos metodológicos de acordo com as recomendações do Consolidated Criteria for Reporting Qualitative Studies - COREQ3333. Tong A, Sainsbury P, Craig J. Consolidated criteria for reporting qualitative research (COREQ): a 32-item checklist for interviews and focus groups. Int J Qual Heal Care [Internet]. 2007 [cited 2023 Aug 15];19(6):349-57. Available from: Available from: https://doi.org/10.1093/intqhc/mzm042
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e tempo adequado gasto no envolvimento com os participantes; e 4) Confirmabilidade - apresentação das limitações e dos pontos fortes do estudo e das reflexões dos pesquisadores durante o processo de pesquisa.

Resultados

Foram convidados a participar do estudo quinze pais, sendo que três deles recusaram o convite por não terem disponibilidade para participar. Dois pais aceitaram o convite e deram consentimento ao ingressar na pesquisa, mas posteriormente não responderam aos contatos para agendamento da entrevista on-line. Após três tentativas de agendamento da entrevista sem sucesso, foram excluídos do estudo. Ao final, participaram do estudo dez pais de crianças e adolescentes sobreviventes de câncer, nove eram mães e um era pai, e todos acompanharam o processo de diagnóstico e tratamento com o paciente. As entrevistas tiveram duração média de 75 minutos, com tempo mínimo de 31 minutos e máximo de 136 minutos.

A idade dos participantes variou de 37 a 56 anos. Considerando que os participantes recrutados e incluídos no estudo eram, predominatemente, mães, por meio da amostra de conveniência, buscou-se incluir um pai para conhecer a perspectiva de gênero e identificar possíveis variações na experiência de sobrevivência de acordo com o gênero. Apenas um pai estava disponível durante o processo de recrutamento. A caracterização dos participantes está apresentada em detalhes na Tabela 1.

Tabela 1
Caracterização dos pais e sobreviventes de câncer infantojuvenil. Ribeirão Preto, SP, Brasil, 2022

A apresentação dos resultados está estruturada em duas narrativas principais: (1) “Tempos de guerra”; e (2) “Tempos de paz incerta”, cada um apresentando subtemas e ilustrados na Figura 2. Todos os temas, subtemas e narrativas adicionais dos participantes estão listados na Figura 3.

Figura 2
Síntese dos temas e dos subtemas

Figura 3
Temas, subtemas e narrativas selecionadas. Ribeirão Preto, SP, Brasil, 2022

As sínteses narrativas mostram que o diagnóstico de câncer em crianças e adolescentes marca o início de tempos de guerra na vida dos pais, resultando em desequilíbrio no núcleo familiar. Como em toda guerra, o tratamento oncológico foi narrado pelos pais como cheio de “altos e baixos”, com diversas ameaças potenciais à vida dos filhos. Depois dos “Tempos de guerra”, vem um período de “Tempos de paz incerta”. Nessa fase, o equilíbrio da unidade familiar é restabelecido e inicia-se a fase de sobrevivência ao câncer infantil. Embora a guerra tenha terminado, os pais descreveram que o medo da recidiva é um fator que perturba constantemente a paz familiar, tornando-a incerta. Portanto, a paz foi descrita como precária e incerta, pois a manutenção da paz exige vigilância constante dos pais, que estão sempre atentos aos sinais e sintomas de uma possível nova guerra.

1. Tema: “Tempos de Guerra”

  • 1. Subtema - “Um menino que parou a vida com 9 anos”: Tempos de guerra interrompem a vida dos afetados por ela. Da mesma forma, os pais narraram que a vida dos filhos foi interrompida no período do diagnóstico pré-câncer. Os pais narram uma série de sintomas físicos que fogem da normalidade cotidiana e os alertam para a necessidade de buscar respostas e tratamento para seus filhos. A fase de pré-diagnóstico é marcada por idas e vindas nas instituições de saúde, que em alguns casos duram vários meses e até anos.

Uma mãe descreveu que a epilepsia sintomática que seu filho vinha apresentando, devido ao tumor cerebral, foi durante algum tempo interpretada como transtorno psiquiátrico e abuso de drogas pelos profissionais de saúde. A experiência vivida na busca pelo diagnóstico é narrada pelos pais através da analogia dos “tempos de guerra”, devido a todas as mudanças no cotidiano da criança e de toda a família, resultando em um desequilíbrio no núcleo familiar: Demorou para ele chegar no diagnóstico, ele começou a ter essas convulsões desde aos 9 anos. Ele tinha 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15... ele estava completando 16 anos já. Foram muitos anos, muitos, muitos anos até o diagnóstico. A minha vida parou a partir do momento que ele começou as convulsões. Então, deu uma balançada na família, um desequilíbrio na família toda. Nossa, foi, assim, tempos de guerra!! (Mãe, p7)

Estar em guerra exige parar a vida e concentrar-se em um objetivo: “vencer a guerra”. Para isso, os pais narraram como a vida mudou desde os primeiros sinais do câncer.

  • 2. Subtema - Confirmação do diagnóstico de câncer: impacto na família: Após a longa jornada para chegar ao diagnóstico, a confirmação do câncer é vivenciada como um momento “horrível”, de “desespero”, sensação de “falta de chão” e um “baque” . O estigma do câncer leva os pais a pensarem que se trata de um diagnóstico de morte. Meu filho vai morrer, é o que vem na sua cabeça.. Hoje é muito difícil ver que sobrevivi ao câncer porque é muito agressivo e amedronta todo mundo. Eu fui vivendo um dia de cada vez. Foi horrível! ! Eu morria de medo de ouvir eles chamarem o nome do meu filho no autofalante para entrar no consultório. Eu estava em um deserto mesmo” (Mãe, p1).

O diagnóstico de câncer do filho despertou o sentimento de “vontade de morrer” e ideações suicidas, devido ao desespero da notícia e falta de apoio sentida na ocasião. As narrativas mostram que os pais entram em um ciclo de desesperança que os impede de acreditar que seus filhos responderiam bem ao tratamento oncológico que estava prestes a ser iniciado e que teriam um bom prognóstico.

  • 3. Subtema - “Alto e baixos” durante o tratamento do câncer: O período de tratamento foi marcado pela dificuldade de acesso aos centros oncológicos para tratamento do câncer infantojuvenil e pela separação geográfica da unidade familiar, necessária para que a criança doente pudesse realizar o tratamento. Para alguns dos entrevistados, as mães assumiam o papel de cuidadoras do filho doente e os pais cuidavam dos irmãos saudáveis. Além disso, as narrativas mostram que muitos pais tiveram que abrir mão do emprego para conseguir acompanhar o filho às internações e atender às demandas do tratamento.

Como toda guerra repleta de batalhas, o tratamento foi narrado pelos pais como permeado de “altos e baixos”. Para “combater o câncer”, crianças e adolescentes passaram por diversos tipos de tratamento, como: quimioterapia, cirurgia, imunoterapia e radioterapia. Os pais descreveram vários efeitos adversos destes tratamentos que culminaram em complicações graves e potencialmente fatais, incluindo a necessidade de internação na unidade de cuidados intensivos. A possibilidade de estar vivo ao final do processo de tratamento e ser um sobrevivente foi ameaçada em diversos momentos os tempos de guerra.

2. Tema: “Tempos de paz incerta”

  • 1. Subtema - “Meu filho é um sobrevivente, ele é um guerreiro”: Passados os “tempos de guerra”, em que o processo diagnóstico e o tratamento oncológico foram vivenciados com altos e baixos, e com potenciais ameaças à vida do filho, as narrativas mostram que é chegado os “tempos de paz incerta”, a fase da sobrevivência ao câncer. Em tempos de paz, o equilíbrio familiar é restaurado e os momentos difíceis vividos nos tempos de guerra tornam-se lembranças que marcarão para sempre a vida dos pais. Quase por unanimidade, nove participantes do estudo caracterizam os seus filhos como sobreviventes do câncer. Apenas uma mãe relatou não considerar a filha sobrevivente, pois o termo a referenciava a algo negativo e ela preferiu utilizar o termo “curada” para se referir à filha. Meu filho já passou por muita coisa, meu filho é um sobrevivente! Ele é um guerreiro, por toda experiência que passou e sobreviveu. Foram muitas lutas para ele conseguir sobreviver e muita garra. Quando terminou a quimioterapia e ele foi liberado para ir para casa, falei para as enfermeiras: “Meu filho é um sobrevivente, é um guerreiro”. Ele sobreviveu a tudo! (Mãe, p6)

Os participantes atribuíram diferentes termos para caracterizar seus filhos além do termo sobrevivente, estes incluíam “vencedor”, “vitorioso” e “guerreiro”. Viver após um “diagnóstico de morte” é uma característica importante na definição dos sobreviventes na perspectiva dos pais.

  • 2. Subtema - É um renascimento: Semelhante à guerra, em que a sobrevivência é incerta, o tratamento do câncer é como “uma experiência de quase morte”. Devido aos vários riscos potenciais para a vida vivenciados durante “tempos de guerra”, a sobrevivência é vivida como um milagre da vida, um renascimento para o sobrevivente. Os pais também consideraram que haviam renascido após o diagnóstico e tratamento do câncer dos filhos. Também relataram ter novas expectativas e prioridades de vida após a experiência difícil: É uma vida nova. Ele nasceu de novo; Eu nasci de novo. Eu tinha outra expectativa de vida, agora é outra vida, totalmente diferente (Mãe, p8).

Os pais expressaram gratidão pelo tratamento recebido no hospital e, segundo eles, o hospital trouxe seu filho de volta à vida e possibilitou que eles fossem sobreviventes do câncer infantil.

  • 3. Subtema - Alianças para alcançar os tempos de paz: Em tempos de guerra, é necessário formar alianças para alcançar a paz, alianças que ajudem a vencer cada batalha necessária para alcançar a sobrevivência com sucesso. As alianças vêm de recursos como espiritualidade, família e amigos. Em relação à espiritualidade, a fé e a esperança foram utilizadas como recursos de enfrentamento, o que ajudou os pais a acreditarem no alcance de tempos de paz. Outro recurso mencionado foi a família. Segundo um dos pais, “para ser um sobrevivente, é preciso que a sua família não desista”. Uma mãe relatou que o câncer é uma doença familiar e que atinge toda a unidade, portanto, toda a família é sobrevivente do câncer infantojuvenil.

  • 4. Subtema - “A mãe de um sobrevivente nunca se sente aliviada”: Tal como na guerra, quando o seu fim é anunciado, ainda existe dúvidas sobre os tempos de paz. A manutenção da paz exige vigilância constante e estar sempre atento aos sinais e sintomas de uma possível nova guerra. Os pais descreveram o medo da recidiva como um fator que perturbava constantemente a paz: O que ainda me afeta é o medo da recidiva. A mãe do sobrevivente nunca mais se sente aliviada (Mãe, p5).

Assim, questionam os tempos de paz, às vezes no silêncio e na solidão, os pais não partilhavam dos seus medos. O medo do retorno da guerra é um medo velado, pela permanência e preservação da paz familiar e, portanto, não é compartilhado com os demais membros, inclusive com o próprio sobrevivente. O medo da recidiva foi descrito como um fator que afeta a qualidade de vida dos pais e que entre todos os pais a mãe é a mais afetada. A paz na sobrevivência ao câncer infantil é incerta, não só devido à possibilidade de novos sintomas de recidiva, mas também devido aos traumas que a luta numa guerra deixa para trás. Toda vez que você está com medo e alguma coisa te assusta. Você tenta levar uma vida normal como antes, mas não consegue. É sempre tipo: “Meu Deus do céu, está aqui de novo?” Hoje estou mais atenta a cada movimento que ela faz, cada sinalzinho é um alerta e por isso hoje tomo mais cuidado (Mãe, p3).

Discussão

O presente estudo proporcionou uma compreensão profunda das experiências dos pais dos sobreviventes do câncer infantil, relacionando a experiência deles em tempos de guerra e em tempos de paz incerta. O primeiro tema apresentou a jornada dos pais para acessar um diagnóstico adequado para o filho, algumas vezes os sintomas apresentados pelo paciente eram confundidos pelos profissionais de saúde com outros problemas de saúde, atrasando em anos alguns diagnósticos. A assistência à saúde brasileira é notoriamente heterogênea e muitas regiões do país ainda carecem de formação profissional relacionada à oncologia pediátrica e infraestrutura adequada, o que dificulta a detecção do câncer precoce na infância. Os serviços especializados de atenção ao câncer estão mais concentrados nas grandes cidades e nas regiões mais desenvolvidas dos países, o que também contribui para a desigualdade no tratamento do câncer infantojuvenil3434. Tonorezos ES, Barnea D, Cohn RJ, Cypriano MS, Fresneau BC, Haupt R, et al. Models of Care for Survivors of Childhood Cancer From Across the Globe: Advancing Survivorship Care in the Next Decade. J Clin Oncol [Internet]. 2018 [cited 2023 Aug 15];36(21):2223-30. Available from: Available from: https://doi.org/10.1200/JCO.2017.76.5180
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. Assim, estas diferenças regionais na prestação destes serviços fazem com que as taxas de sobrevivência no país ainda estejam aquém dos esperados para o desenvolvimento e conhecimento técnico do momento atual. Isso acontece porque questões inerentes à organização do sistema de saúde e ao acesso oportuno ao diagnóstico contribuem para determinar diferentes chances de sobrevivência3434. Tonorezos ES, Barnea D, Cohn RJ, Cypriano MS, Fresneau BC, Haupt R, et al. Models of Care for Survivors of Childhood Cancer From Across the Globe: Advancing Survivorship Care in the Next Decade. J Clin Oncol [Internet]. 2018 [cited 2023 Aug 15];36(21):2223-30. Available from: Available from: https://doi.org/10.1200/JCO.2017.76.5180
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)-(3535. Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (BR). Diagnóstico precoce do câncer na criança e no adolescente [Internet]. 2. ed. Rio de Janeiro: INCA ; 2014 [cited 2023 Aug 15]. Available from: Available from: https://www.inca.gov.br/sites/ufu.sti.inca.local/files//media/document//diagnostico-precoce-na-crianca-e-no-adolescente.jpg
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.

Os resultados mostraram que os pais e os seus filhos enfrentam desafios multifacetados no diagnóstico, tratamento e na sobrevivência ao câncer infantojuvenil. A experiência vivida marca profundamente as suas vidas, de forma que integram uma nova identidade após o câncer, e que não é possível ser o mesmo que era antes da doença. Nove dos dez pais participantes descreveram seus filhos como sobreviventes de câncer infantojuvenil, e também atribuíram a eles e às famílias a identidade de “sobrevivente”. A definição de sobrevivente de câncer do Instituto Nacional do Câncer (INCA) inclui familiares, amigos e cuidadores, pois também são afetados pelo câncer1010. National Cancer Institute. NCI’s Dictionary of Cancer Terms [Internet]. 2024 [cited 2024 Feb 7]. Available from: Available from: https://www.cancer.gov/publications/dictionaries/cancer-terms/def/survivorship#
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),(3636. Denlinger CS, Carlson RW, Are M, Baker KS, Davis E, Edge SB, et al. Survivorship: Introduction and Definition. J Natl Compr Cancer Netw [Internet]. 2014 Jan [cited 2023 Aug 15];12(1):34-45. Available from: Available from: https://doi.org/10.6004/jnccn.2014.0005
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. Porém, um dos pais deste estudo não identificou seu filho e sua família como sobreviventes e da mesma forma, a literatura mostra que de fato nem todos se identificam com o termo sobrevivente3737. Cheung SY, Delfabbro P. Are you a cancer survivor? A review on cancer identity. J Cancer Surviv [Internet]. 2016 [cited 2023 Aug 15];10(4):759-71. Available from: Available from: http://doi.org/10.1007/s11764-016-0521-z
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)-(3838. Darabos K, Ford JS. “Basically, You Had Cancer and Now You Don’t”: Exploring the Meaning of Being a “Cancer Survivor” Among Adolescents and Young Adult Cancer Survivors. J Adolesc Young Adult Oncol [Internet]. 2020 [cited 2023 Aug 15];9(4):534-9. Available from: Available from: https://doi.org/10.1089/jayao.2019.0176
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. As evidências indicam que a identificação de não ser um sobrevivente do câncer é muitas vezes influenciada pelo curso do tratamento (por exemplo, não requer quimioterapia e radiação), um prognóstico favorável, bem como pela confiança nos prestadores de cuidados oncológicos3939. McGrath P, Holewa H. What does the term ‘survivor’ mean to individuals diagnosed with a haematological malignancy? Findings from Australia. Support Care Cancer [Internet]. 2012 [cited 2023 Aug 15];20(12):3287-95. Available from: Available from: http://doi.org/10.1007/s00520-012-1453-4
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)-(4040. Jagielski CH, Hawley ST, Corbin K, Weiss MC, Griggs JJ. A phoenix rising: who considers herself a “survivor” after a diagnosis of breast cancer? J Cancer Surviv [Internet]. 2012 [cited 2023 Aug 15];6(4):451-7. Available from: Available from: http://doi.org/10.1007/s11764-012-0240-z
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Viver após o câncer é uma experiência persistentemente “disruptiva”4141. Balmer C, Griffiths F, Dunn J. A ‘new normal’: Exploring the disruption of a poor prognostic cancer diagnosis using interviews and participant-produced photographs. Health (London) [Internet]. 2015 [cited 2023 Aug 15];19(5):451-72. Available from: Available from: https://doi.org/10.1177/1363459314554319
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) e mesmo na sobrevivência a longo prazo, os níveis de estresse parental desencadeados pelo diagnóstico e tratamento podem não diminuir4242. Ljungman L, Cernvall M, Grönqvist H, Ljótsson B, Ljungman G, von Essen L. Long-Term Positive and Negative Psychological Late Effects for Parents of Childhood Cancer Survivors: A Systematic Review. PloS One [Internet]. 2014 [cited 2023 Aug 15];9(7):e103340. Available from: Available from: https://doi.org/10.1371/journal.pone.0103340
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)-(4343. Christen S, Roser K, Harju E, Gumy-Pause F, Mader L, Vetsch J, et al. Worries and anxiety in parents of adult survivors of childhood cancer: A report from the Swiss Childhood Cancer Survivor Study-Parents. Pediatr Blood Cancer [Internet]. 2023 [cited 2023 Aug 15];70(5). Available from: Available from: https://doi.org/10.1002/pbc.30246
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. Os resultados deste estudo mostraram que o medo vivenciado pelos pais afeta a sua paz na sobrevivência e também a sua qualidade de vida. As evidências mostram níveis elevados de sofrimento psicológico, como sintomas de estresse pós-traumático, depressão, ansiedade, distúrbios do sono, sintomas somáticos, medo de recidiva, preocupação extensa e fadiga entre pais de sobreviventes de câncer infantil4242. Ljungman L, Cernvall M, Grönqvist H, Ljótsson B, Ljungman G, von Essen L. Long-Term Positive and Negative Psychological Late Effects for Parents of Childhood Cancer Survivors: A Systematic Review. PloS One [Internet]. 2014 [cited 2023 Aug 15];9(7):e103340. Available from: Available from: https://doi.org/10.1371/journal.pone.0103340
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)-(4444. Bruce M. A systematic and conceptual review of posttraumatic stress in childhood cancer survivors and their parents. Clin Psychol Rev [Internet]. 2006 [cited 2023 Aug 15];26(3):233-56. Available from: Available from: https://doi.org/10.1016/j.cpr.2005.10.002
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. A incerteza após o tratamento e a necessidade de lidar com o desconhecido levam os pais a um ciclo de hipervigilância e, portanto, ao sofrimento contínuo4545. Vander Haegen M, Etienne AM. Intolerance of uncertainty as the vulnerability factor among parents of childhood cancer survivors: A 3-month follow-up study. J Psychosoc Oncol [Internet]. 2018 [cited 2023 Aug 15];36(4):437-53. Available from: Available from: https://doi.org/10.1080/07347332.2018.1443192
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. Em consonância com os resultados deste estudo, a literatura mostra que as mães são os familiares que mais se sentem afetados pelo sofrimento psíquico4646. Peikert ML, Inhestern L, Krauth KA, Escherich G, Rutkowski S, Kandels D, et al. Fear of progression in parents of childhood cancer survivors: A dyadic data analysis. Psychooncology [Internet]. 2020 [cited 2023 Aug 15];29(10):1678-85. Available from: Available from: https://doi.org/10.1002/pon.5508
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)-(4747. Peikert ML, Inhestern L, Krauth KA, Escherich G, Rutkowski S, Kandels D, et al. Fear of progression in parents of childhood cancer survivors: prevalence and associated factors. J Cancer Surviv [Internet]. 2022 [cited 2023 Aug 15];16(4):823-33. Available from: Available from: https://doi.org/10.1007/s11764-021-01076-w
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Apesar disso, as narrativas descrevem que os pais acreditavam que, após o “renascimento”, eles se percebiam como pessoas melhores, assim como seus filhos, com novas expectativas de vida. Resultados positivos também podem ocorrer após um evento estressante, como o diagnóstico de câncer infantojuvenil4848. Halldorsdottir B, Michel G, Baenziger J. Post-traumatic growth in family members of childhood cancer survivors - an updated systematic review. J Psychosoc Oncol Res Pract [Internet]. 2022 [cited 2023 Aug 15];4(4). Available from: Available from: https://doi.org/10.1097/OR9.0000000000000087
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, processo definido na literatura como crescimento pós-traumático4848. Halldorsdottir B, Michel G, Baenziger J. Post-traumatic growth in family members of childhood cancer survivors - an updated systematic review. J Psychosoc Oncol Res Pract [Internet]. 2022 [cited 2023 Aug 15];4(4). Available from: Available from: https://doi.org/10.1097/OR9.0000000000000087
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)-(4949. Tedeschi RG, Calhoun LG. Post-traumatic Growth: Conceptual Foundations and Empirical Evidence. Psychol Inq [Internet]. 2004 [cited 2023 Aug 15];15(1):1-18. Available from: Available from: https://doi.org/10.1207/s15327965pli1501_01
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. O crescimento pós-traumático envolve os processos de construção de novos significados após um evento traumático, que pode incluir a descoberta de benefícios e o desenvolvimento pessoal4848. Halldorsdottir B, Michel G, Baenziger J. Post-traumatic growth in family members of childhood cancer survivors - an updated systematic review. J Psychosoc Oncol Res Pract [Internet]. 2022 [cited 2023 Aug 15];4(4). Available from: Available from: https://doi.org/10.1097/OR9.0000000000000087
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)-(4949. Tedeschi RG, Calhoun LG. Post-traumatic Growth: Conceptual Foundations and Empirical Evidence. Psychol Inq [Internet]. 2004 [cited 2023 Aug 15];15(1):1-18. Available from: Available from: https://doi.org/10.1207/s15327965pli1501_01
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.

Este estudo apresenta pontos fortes, que incluem o método narrativo, descrição rigorosa do recrutamento dos participantes, entrevistas semiestruturadas, abrangentes e densas, análise rigorosa dos dados com dois codificadores independentes e construção de temas e subtemas com toda a equipe de pesquisa. Além disso, os resultados apresentados neste estudo esclarecem a experiência de ser pai de um sobrevivente de câncer infantojuvenil e chamam a atenção para a necessidade de estudos futuros, e que os profissionais de saúde e a mídia precisam estar sensíveis a essa experiência, que ainda é pouco compreendida na literatura. No entanto, as limitações do estudo são reconhecidas. A realização de uma única entrevista com os pais pode ter limitado a profundidade de compreensão de aspectos importantes da experiência descrita pelos participantes na primeira entrevista. Foram incluídos pais em duas fases distintas da sobrevivência ao câncer infantojuvenil, estendida e permanente, o que pode ter limitado a compreensão das singularidades da experiência de ser pai em cada um desses estágios de sobrevivência. Além disso, embora em outros estudos que incluem os pais a representação das mães seja superior à dos pais, a inclusão de apenas um pai na amostra deste estudo também deve ser reconhecida como uma limitação.

Este estudo abre caminho para pesquisas futuras com pais de sobreviventes de câncer infantil. É importante que estudos futuros explorem a experiência com estruturas familiares e contextos culturais diferentes dos participantes incluídos neste estudo, a fim de discutir melhor as narrativas dos pais aqui descritas e acrescentar novas percepções sobre a experiência vivida por eles durante a sobrevivência. Embora o estudo tenha sido desenvolvido durante a pandemia de COVID-19, não foi nosso objetivo explorar a influência da pandemia de COVID-19 na experiência destes pais. Futuros estudos qualitativos podem explorar a influência da pandemia de COVID-19 na experiência dos pais de sobreviventes de câncer infantojuvenil. Além disso, a investigação futura deverá desenvolver modelos de cuidados de sobrevivência centrados na família, com o objetivo de minimizar o impacto do câncer nas suas vidas. O atual modelo de cuidados à sobrevivência ao câncer em crianças e adolescentes ainda não inclui a família, o foco está no paciente. Na área da educação, a perspectiva apresentada nos resultados deste estudo pode orientar o ensino de graduação e pós-graduação, capacitando profissionais de saúde para serem mais sensíveis às particularidades das experiências dos pais dos sobreviventes do câncer infantojuvenil. Pesquisas futuras também podem procurar possíveis diferenças nas experiências entre pais e mães de sobreviventes de câncer infantojuvenil. Este é um dado interessante para que os enfermeiros possam adequar os seus cuidados, levando em conta também a questão de gênero nos cuidados de enfermagem além do câncer.

Por fim, os resultados deste estudo trazem uma série de implicações clínicas para o escopo da enfermagem, independentemente do cenário de atuação, atenção especializada ou básica. Primeiramente, é necessário que os gestores de saúde invistam na qualificação profissional para possibilitar o reconhecimento oportuno dos sinais e sintomas do câncer infantojuvenil e, posteriormente, reduzir o tempo de diagnóstico. O enfermeiro pode atuar na identificação de sinais e sintomas do câncer em crianças e adolescentes, contribuindo para um acesso mais rápido ao atendimento médico. Conforme discutido anteriormente, o diagnóstico oportuno aumenta as taxas de sobrevivência ao câncer infantojuvenil. Neste estudo, os pais utilizaram metáforas para relatar suas experiências em relação à sobrevivência de seus filhos ao câncer infantojuvenil. As metáforas têm potencial para contribuir para um cuidado de enfermagem qualificado, centrado no paciente e na família, pois ajudam a traduzir a experiência da doença e a tornam acessível ao sobrevivente e aos seus pais5050. Harrington KJ. The Use of Metaphor in Discourse About Cancer: A Review of the Literature. Clin J Oncol Nurs [Internet]. 2012 [cited 2023 Aug 15];16(4):408-12. Available from: Available from: https://doi.org/10.1188/12.CJON.408-412
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. O sistema de metáforas também pode contribuir para a criação de outros significados e conceitos relacionados ao câncer, que ainda é estigmatizado e visto como diagnóstico de morte. Porém, deve ser utilizado com respeito e sensibilidade, observando a forma de comunicação escolhida pela família e paciente. Os resultados também mostraram que o medo da recorrência tem impacto na paz dos pais, incluindo na qualidade de vida dos pais. Os profissionais de saúde podem considerar a importância de oferecer espaços para os pais expressarem seus medos e sentimentos, bem como informações relacionadas à recidiva do câncer infantojuvenil, mitigando assim o impacto desse medo em suas vidas. Infelizmente, grande parte dos cuidados de sobrevivência ao câncer infantojuvenil concentram-se no atendimento clínico, sem dar atenção à importância da abordagem psicoemocional.

Conclusão

Os resultados desses estudos trazem uma nova perspectiva que mostra que a experiência dos pais durante a sobrevivência ao câncer infantil é permeada por tempos de guerra e tempos de paz incerta. Os resultados desta pesquisa têm o potencial de fornecer uma compreensão mais profunda e coerente das experiências dos pais dos sobreviventes de câncer infantojuvenil na sobrevivência estendida e permanente, bem como ajudar a delinear melhores cuidados de enfermagem baseados em evidências para eles. Além disso, este conhecimento pode ser utilizado pelos enfermeiros para desenvolver modelos de cuidados centrados na família para os sobreviventes e melhorar, a longo prazo, a qualidade de vida dos pais, bem como dos próprios sobreviventes.

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    O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) - Código de Financiamento 001, Brasil, e apoio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), processo nº 200580/2022-1, Brasil.
  • 2
    Bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), Brasil.
  • 6
    Bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Brasil.

Editado por

Editora Associada: Sueli Aparecida Frari Galera

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    30 Ago 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    18 Ago 2023
  • Aceito
    31 Mar 2024
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