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Prevalência da adesão farmacológica de pacientes com doença arterial coronariana e fatores associados* * Artigo extraído da dissertação de mestrado “Fatores que interferem na adesão farmacológica em pacientes com doença arterial coronariana”, apresentada à Universidade Federal de São Paulo, Escola Paulista de Enfermagem, São Paulo, SP, Brasil. O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) - Código de Financiamento 001, Brasil.

Resumos

Objetivo:

avaliar a prevalência da adesão farmacológica de pacientes com doença arterial coronariana e identificar os fatores associados à adesão.

Método:

estudo transversal, correlacional, incluindo 198 pacientes com diagnóstico prévio de doença arterial coronariana. A adesão farmacológica foi avaliada pelo teste de Morisky Green de quatro itens e os fatores que potencialmente interferem na adesão foram considerados variáveis independentes. A associação entre as variáveis foi verificada pelo modelo de Cox, com nível de significância de 5%.

Resultados:

43% dos pacientes aderiram ao tratamento. Associaram-se à adesão os sintomas de fadiga e palpitação, nunca ter ingerido bebida alcoólica e ser atendido por convênio médico. Associaram-se à falta de adesão considerar o tratamento complexo, o consumo de bebidas alcoólicas e ser atendido pelo sistema público de saúde. Na análise múltipla, os pacientes que apresentavam fadiga e palpitação tiveram prevalência de adesão em torno de três vezes maior e o consumo de álcool associou-se a uma chance 2,88 vezes maior de não adesão.

Conclusão:

mais da metade dos pacientes foram classificados como não aderentes. Intervenções podem ser direcionadas para alguns fatores associados à falta de adesão.

Descritores:
Doença da Artéria Coronariana; Adesão à; Medicação; Enfermagem; Educação em Saúde; Cooperação e Adesão ao Tratamento; Cooperação do Paciente


Objective:

to assess the prevalence of pharmacological adherence in patients with coronary artery disease and to identify factors associated with adherence.

Method:

a crosssectional, correlational study, including 198 patients with a previous diagnosis of coronary artery disease. Pharmacological adherence was assessed by the four-item Morisky Green test, and the factors that potentially interfere with adherence were considered independent variables. The association between the variables was determined by the Cox model, with a 5% significance level.

Results:

43% of the patients adhered to the treatment. Fatigue and palpitation, never having consumed alcohol and being served by medical insurance were associated with adherence. Lack of adherence was associated with considering the treatment complex, consumption of alcohol and being served by the public health care system. In the multiple analysis, the patients with fatigue and palpitations had a prevalence of adherence around three times higher and alcohol consumption was associated with a 2.88 times greater chance of non-adherence.

Conclusion:

more than half of the patients were classified as non-adherent. Interventions can be directed to some factors associated with lack of adherence.

Descriptors:
Coronary Artery Disease; Medication Adherence; Nursing; Health Education; Treatment Adherence and Compliance; Patient Compliance


Objetivo:

evaluar la prevalencia de la adhesión farmacológica de pacientes con enfermedad arterial coronaria e identificar los factores asociados a la adhesión.

Método:

estudio transversal, correlacional, que incluyó a 198 pacientes con diagnóstico previo de enfermedad arterial coronaria. Se evaluó la adhesión farmacológica mediante la prueba de Morisky Green de cuatro ítems y se consideró como variables independientes los factores que potencialmente interfieren en la adhesión. La asociación entre las variables se verificó con el modelo de regresión de Cox, con nivel de significancia del 5%.

Resultados:

el 43% de los pacientes adherían al tratamiento. Se asociaron a la adhesión los síntomas de fatiga y palpitaciones, nunca haber ingerido bebida alcohólica y recibir tratamiento de medicina prepaga. Se asoció a la falta de adhesión considerar complejo el tratamiento, consumir bebidas alcohólicas y recibir tratamiento del sistema público de salud. En el análisis múltiple, los pacientes que presentaban fatiga y palpitaciones tuvieron cerca de tres veces más prevalencia de adhesión y el consumo de alcohol se asoció a una posibilidad 2,88 veces mayor de no adhesión.

Conclusión:

se clasificó a más de la mitad de los pacientes como no adherentes. Es posible direccionar acciones hacia algunos factores asociados a la falta de adhesión.

Descriptores:
Enfermedad de la Arteria Coronária; Cumplimiento de la Medicación; Enfermería; Educación en Salud; Cumplimiento y Adherencia al Tratamiento; Cooperación del Paciente


Introdução

De acordo com a American Heart Association (AHA)(11 Virani SS, Alonso A, Benjamin EJ, Bittencourt MS, Callaway CW, Carson AP, et al. Heart Disease and Stroke Statistics-2020 Update: A Report From the American Heart Association. Circulation. 2020;141(9):e139-e596. doi:10.1161/CIR.0000000000000757
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), 18,2 milhões de americanos com 20 anos de idade ou mais tinham doença arterial coronariana (DAC) entre 2013 e 2016. Em 2020, foi estimado que 720.000 americanos teriam algum evento coronariano, incluindo hospitalização por infarto agudo do miocárdio (IAM) ou morte por DAC. No Brasil, 242.858 internações hospitalares ocorreram em 2019 em decorrência de doença isquêmica cardíaca. Esse dado tem impacto direto na economia e na sociedade(22 Ministério da Saúde (BR), Datasus. Sistema de Informações Hospitalares do SUS - SIH/SUS. [Internet]. [Acesso 20 jun 2020]. Disponível em: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?idb2012/d29.def = 2
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).

O tratamento da DAC inclui o uso contínuo de medicamentos, como anti-hipertensivos, antiagregantes plaquetários, anticoagulantes e estatinas. Tratamentos invasivos também podem ser implementados, incluindo a cirurgia de revascularização do miocárdio ou intervenção coronária percutânea, além da implementação de medidas não farmacológicas, representadas por incorporação de um estilo de vida saudável(33 Knuuti J, Wijns W, Saraste A, Capodanno D, Barbato E, Funck-Brentano C, et al. 2019 ESC Guidelines for the diagnosis and management of chronic coronary syndromes. Eur Heart J. 2020;41(3):407-77. doi: 10.1093/eurheartj/ ehz425
https://doi.org/10.1093/eurheartj/ehz425...

4 Thygesen K, Alpert JS, Jaffe AS, Chaitman BR, Bax JJ, Morrow DA, et al. Fourth Universal Definition of Myocardial Infarction. J Am Coll Cardiol. 2018;72(18):2231-64. doi: 10.1016/j.jacc.2018.08.1038
https://doi.org/10.1016/j.jacc.2018.08.1...
-55 Arnett DK, Blumenthal RS, Albert MA, Buroker AB, Goldberger ZD, Hahn EJ, et al. 2019 ACC/AHA Guideline on the Primary Prevention of Cardiovascular Disease: A Report of the American College of Cardiology American Heart Association Task Force on Clinical Practice Guidelines. Circulation. 2019;10;140(11):e596-e646. doi: 10.1161/ CIR.0000000000000678
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).

A adesão ao tratamento farmacológico e não farmacológico desempenha papel crucial no alcance de desfechos clínicos satisfatórios entre pacientes com DAC, incluindo prevenção de isquemia, redução dos sintomas, melhora da qualidade de vida, diminuição das readmissões e da morbimortalidade por doenças cardiovasculares(55 Arnett DK, Blumenthal RS, Albert MA, Buroker AB, Goldberger ZD, Hahn EJ, et al. 2019 ACC/AHA Guideline on the Primary Prevention of Cardiovascular Disease: A Report of the American College of Cardiology American Heart Association Task Force on Clinical Practice Guidelines. Circulation. 2019;10;140(11):e596-e646. doi: 10.1161/ CIR.0000000000000678
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). A Organização Mundial de Saúde (OMS) define a adesão como o grau em que o comportamento do indivíduo, em relação ao hábito de usar medicamentos, seguir uma dieta e/ou mudar o estilo de vida corresponde às recomendações dos profissionais de saúde. Existem cinco dimensões que interferem nessa adesão: relacionadas ao paciente, à doença, ao tratamento, ao sistema e equipe de saúde e aos fatores socioeconômicos(66 World Health Organization (WHO). Adherence to longterm therapies: evidence for action. [Internet]. Geneva: WHO; 2003 [cited Jun 18, 2017]. Available from: https:// www.who.int/chp/knowledge/publications/adherence_report/en/
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).

Nos países desenvolvidos, somente 50% dos pacientes com doenças crônicas mantêm seu tratamento, incluindo medidas farmacológicas e não farmacológicas. Em países em desenvolvimento, como o Brasil, esse número tem variado de 51 a 56,5%(66 World Health Organization (WHO). Adherence to longterm therapies: evidence for action. [Internet]. Geneva: WHO; 2003 [cited Jun 18, 2017]. Available from: https:// www.who.int/chp/knowledge/publications/adherence_report/en/
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7 Birck MG, Goulart AC, Lotufo PA, Bensenor IM. Secondary prevention of coronary heart disease: a cross-sectional analysis on the Brazilian Longitudinal Study of Adult Health (ELSA-Brasil). Sao Paulo Med. J. 2019;137(3):223-33. doi: https://doi.org/10.1590/1516-3180.2018.0531140319
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-88 Santos VB, Silva LL, Guizilini S, Valente IB, Barbosa CB, Carneiro TAB, et al. Adherence to antiplatelet and statin therapy by patients with Acute Coronary Syndrome following discharge. Enferm Clin. 2020;pii:S1130-8621(20)30237-0. doi: 10.1016/j.enfcli.2020.02.020
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) quando considerada somente a adesão farmacológica. Assim, de forma a contribuir com a prevenção primária e secundária da DAC, a equipe multiprofissional deve identificar os fatores que interferem na adesão ao tratamento, com o intuito de implementar intervenções que possam minimizar essas barreiras(55 Arnett DK, Blumenthal RS, Albert MA, Buroker AB, Goldberger ZD, Hahn EJ, et al. 2019 ACC/AHA Guideline on the Primary Prevention of Cardiovascular Disease: A Report of the American College of Cardiology American Heart Association Task Force on Clinical Practice Guidelines. Circulation. 2019;10;140(11):e596-e646. doi: 10.1161/ CIR.0000000000000678
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).

Estudo brasileiro identificou que apenas 26% dos pacientes com DAC hospitalizados aderem à terapia medicamentosa(99 Sobral PD, Gomes ED, Carvalho PO, Godoi ET, Oliveira DC. Prevalência de adesão medicamentosa em pacientes com doença arterial coronariana crônica. Enferm Brasil 2020;19(2):98-104. doi: https://doi.org/10.33233/eb.v19i2.2137
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). Outro estudo verificou que, 30 dias após alta hospitalar por Síndrome Coronariana Aguda, 49,3% dos pacientes apresentavam baixa adesão às estatinas e aos antiagregantes plaquetários ou potencial para tal(88 Santos VB, Silva LL, Guizilini S, Valente IB, Barbosa CB, Carneiro TAB, et al. Adherence to antiplatelet and statin therapy by patients with Acute Coronary Syndrome following discharge. Enferm Clin. 2020;pii:S1130-8621(20)30237-0. doi: 10.1016/j.enfcli.2020.02.020
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). A falta de adesão ao tratamento farmacológico é um fator complicador para episódios de readmissões(1010 Wu Q, Zhang D, Zhao Q, Liu L, He Z, Chen Y, et al. Effects of transitional health management on adherence and prognosis in elderly patients with acute myocardial infarction in percutaneous coronary intervention: a cluster randomized controlled trial. PLoS One. 2019;14(5):e0217535. doi:10.1371/journal.pone.0217535
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) devido às descompensações. Metanálise que incluiu 10 artigos com 106.002 pacientes demonstrou que a adequada adesão farmacológica reduziu o risco de mortalidade global e cardiovascular, além de hospitalização por doença cardiovascular e IAM(1111 Du L, Cheng Z, Zhang Y, Li Y, Mei D. The impact of medication adherence on clinical outcomes of coronary artery disease: A meta-analysis. Eur J Prev Cardiol. 2017;24(9):962-70. doi: 10.1177/2047487317695628
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).

Logo, durante a implementação dos cuidados de enfermagem aos pacientes hospitalizados ou em atendimento ambulatorial, o enfermeiro deve avaliar os fatores associados à não adesão farmacológica, para que intervenções de enfermagem possam ser estabelecidas de forma individualizada e focada nessas variáveis. No melhor do conhecimento dos autores, foram identificados apenas três estudos brasileiros que avaliaram os fatores associados à não adesão farmacológica em pacientes com DAC(77 Birck MG, Goulart AC, Lotufo PA, Bensenor IM. Secondary prevention of coronary heart disease: a cross-sectional analysis on the Brazilian Longitudinal Study of Adult Health (ELSA-Brasil). Sao Paulo Med. J. 2019;137(3):223-33. doi: https://doi.org/10.1590/1516-3180.2018.0531140319
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,99 Sobral PD, Gomes ED, Carvalho PO, Godoi ET, Oliveira DC. Prevalência de adesão medicamentosa em pacientes com doença arterial coronariana crônica. Enferm Brasil 2020;19(2):98-104. doi: https://doi.org/10.33233/eb.v19i2.2137
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,1212 Sobral PD, Oliveira DC, Gomes ET, Carvalho PO, Brito NMT, Oliveira AGC, et al. Reasons for medication noncompliance in patients with coronary artery disease. Rev Soc Bras Clin Med. [Internet]. 2017 [cited Jul 13, 2020];15(3):166-70. Available from: http://www.sbcm.org.br/ojs3/index.php/rsbcm/article/view/288/263
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). Assim, novas investigações são necessárias, com amostras populacionais de diferentes locais e que abordem outros possíveis fatores de não adesão. Nesse sentido, este estudo teve como objetivo avaliar a prevalência da adesão farmacológica de pacientes com DAC e identificar os fatores associados à adesão.

Método

Estudo transversal e correlacional, baseado nas diretrizes do Strengthening the Reporting of Observational Studies in Epidemiology (STROBE) para estudos transversais. Foi desenvolvido em um hospital de referência em Cardiologia da cidade de São Paulo (SP), com a coleta de dados realizada de novembro de 2017 até janeiro de 2018 nas Unidades de Internação (566 leitos), nas Unidades de Terapia Intensiva (646 leitos) e no setor de Hemodinâmica (51 leitos).

Foram considerados pacientes elegíveis aqueles hospitalizados com diagnóstico médico de DAC, com idade superior a 18 anos. Foram consideradas critérios de exclusão a dor precordial, a dispneia ou a hipotensão sintomática durante a coleta de dados, uma vez que esses sintomas impossibilitariam a aplicação dos instrumentos aos pacientes.

O cálculo do tamanho amostral(1313 Chow SC, Wang H, Shao J. Sample size calculations in clinical research. Boca Raton: CRC Press; 2007.) foi realizado no software R 3.4.1, baseando-se em dados de estudo prévio, que identificou adequada adesão farmacológica entre 56,5%(77 Birck MG, Goulart AC, Lotufo PA, Bensenor IM. Secondary prevention of coronary heart disease: a cross-sectional analysis on the Brazilian Longitudinal Study of Adult Health (ELSA-Brasil). Sao Paulo Med. J. 2019;137(3):223-33. doi: https://doi.org/10.1590/1516-3180.2018.0531140319
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) dos pacientes com DAC. Considerando-se poder de 80% e precisão de 10%, obteve-se uma amostra mínima de 198 pacientes.

A seleção dos pacientes foi realizada por uma das autoras do estudo, uma enfermeira especializada em Cardiologia e Hemodinâmica, que analisava diariamente os prontuários dos pacientes nas unidades selecionadas e identificava aqueles que preenchiam os critérios de elegibilidade. A enfermeira explicava os objetivos da pesquisa e convidava-os a participar, apresentando-lhes o termo de consentimento livre e esclarecido.

A coleta de dados foi realizada por meio da aplicação de três questionários, na seguinte sequência: Teste de Morisky Green, para avaliação da adesão farmacológica (variável dependente); instrumento para avaliação das variáveis que interferem na adesão dos pacientes e questionário para a avaliação do conhecimento do paciente em relação à DAC.

O Teste de Morisky Green de quatro itens (Morisky Medication Adherence Scale - MMAS-4) foi desenvolvido em 1986(1414 Morisky DE, Green LW, Levine DM. Concurrent and predictive validity of self-reported measure of medication adherence. Med Care. 1986;24(1):67–74. doi: 10.1097/00005650-198601000-00007
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) e é um dos mais utilizados no Brasil(77 Birck MG, Goulart AC, Lotufo PA, Bensenor IM. Secondary prevention of coronary heart disease: a cross-sectional analysis on the Brazilian Longitudinal Study of Adult Health (ELSA-Brasil). Sao Paulo Med. J. 2019;137(3):223-33. doi: https://doi.org/10.1590/1516-3180.2018.0531140319
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,1515 Oscalices MIL, Okuno MFP, Lopes MCBT, Batista REA, Campanharo CRV. Health literacy and adherence to treatment of patients with heart failure. Rev Esc Enferm USP. 2019;53:e03447. doi: http://dx.doi.org/10.1590/S1980-220X2017039803447
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16 Alves KB, Guilarducci NV, Santos TR, Baldoni AO, Otoni A, Pinto SWL, et al. Existe associação entre qualidade de vida e adesão à farmacoterapia em pacientes com doença renal crônica em hemodiálise?. Einstein (São Paulo). 2018;16(1):eAO4036. https://doi.org/10.1590/S1679-45082018AO4036
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-1717 Albuquerque NLS, Oliveira ASS, Silva JM, Araújo TL. Association between follow-up in health services and antihypertensive medication adherence. Rev Bras Enferm. 2018;71(6):3006-12. doi: https://doi.org/10.1590/0034-7167-2018-0087
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) para a mensuração indireta do comportamento da adesão frente ao uso habitual de medicamentos. É composto por quatro perguntas com respostas dicotômicas (sim/não). O paciente era considerado não aderente se respondesse “sim” para qualquer uma das perguntas(1414 Morisky DE, Green LW, Levine DM. Concurrent and predictive validity of self-reported measure of medication adherence. Med Care. 1986;24(1):67–74. doi: 10.1097/00005650-198601000-00007
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). O instrumento é confiável, com adequada consistência interna e estabilidade, avaliadas pelo alfa de Cronbach de 0,73 (0,67-0,79) e pelo teste e reteste (r=0,70, p=0,02), respectivamente(1818 Ben AJ, Neumann CR, Mengue SS. The Brief Medication Questionnaire and Morisky Green Test to evaluate medication adherence. Rev Saúde Pública. 2012;46:279-89. doi: https://doi.org/10.1590/S0034-89102012005000013
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).

A avaliação das variáveis independentes foi realizada por meio de um questionário sobre os fatores que podem interferir na adesão. O questionário foi elaborado pelos pesquisadores com base na literatura(77 Birck MG, Goulart AC, Lotufo PA, Bensenor IM. Secondary prevention of coronary heart disease: a cross-sectional analysis on the Brazilian Longitudinal Study of Adult Health (ELSA-Brasil). Sao Paulo Med. J. 2019;137(3):223-33. doi: https://doi.org/10.1590/1516-3180.2018.0531140319
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,1919 Galdeano LE, Rossi LA, Pelegrino FM. Content validation of the deficient knowledge nursing diagnosis. Acta Paul Enferm. 2008;21(4):549-55. doi: 10.1590/S0103-21002008000400003
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). Os fatores foram subdivididos em cinco categorias, de acordo com as dimensões propostas pela OMS(66 World Health Organization (WHO). Adherence to longterm therapies: evidence for action. [Internet]. Geneva: WHO; 2003 [cited Jun 18, 2017]. Available from: https:// www.who.int/chp/knowledge/publications/adherence_report/en/
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):
  1. variáveis relacionadas ao paciente: sexo; idade; etnia; estado civil; escolaridade; quantidade de filhos; crenças religiosas; auxílio da família no tratamento (financeiro, acompanhamento em consulta, mudança de hábito alimentar e incentivo ao tratamento – com possibilidade de seleção de mais de uma opção); experiência com a doença no contexto familiar; percepção da saúde e conhecimento do paciente sobre a doença.

  2. variáveis relacionadas ao nível socioeconômico: renda familiar; custos dos medicamentos adquiridos com dinheiro próprio; situação laboral; tipo de moradia e custos com o transporte.

  3. variáveis relacionadas à doença: tempo de diagnóstico da doença; ausência de sintomas, internação prévia e realização prévia de tratamento invasivo (cirurgia de revascularização do miocárdio e/ou intervenção coronária percutânea).

  4. variáveis relacionadas ao tratamento: efeitos indesejáveis; esquemas terapêuticos complexos (autodeclaração dos participantes de considerar o tratamento difícil em relação ao número e frequência de tomadas dos medicamentos); duração do tratamento; utilização de outras formas de tratamento e mudança comportamental requerida nos hábitos de vida.

  5. variáveis relacionadas ao sistema e equipe de saúde: acesso ao serviço de saúde; tempo despendido para chegar ao serviço de saúde; tempo de espera para a próxima consulta versus tempo de atendimento e o relacionamento com a equipe de saúde.

O conhecimento sobre a doença foi avaliado por meio de cinco questões do Questionário para Avaliação do Conhecimento em Relação à Doença, desenvolvido e submetido à validação de conteúdo por Galdeano(1919 Galdeano LE, Rossi LA, Pelegrino FM. Content validation of the deficient knowledge nursing diagnosis. Acta Paul Enferm. 2008;21(4):549-55. doi: 10.1590/S0103-21002008000400003
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). As questões utilizadas avaliam a familiaridade com o nome da doença; descrição dos fatores de risco; descrição dos sinais e sintomas; descrição das medidas para minimizar a progressão da doença e descrição dos sinais e sintomas de complicação da doença(1919 Galdeano LE, Rossi LA, Pelegrino FM. Content validation of the deficient knowledge nursing diagnosis. Acta Paul Enferm. 2008;21(4):549-55. doi: 10.1590/S0103-21002008000400003
https://doi.org/10.1590/S0103-2100200800...
). O resultado foi analisado de acordo com o proposto pelo autor(1919 Galdeano LE, Rossi LA, Pelegrino FM. Content validation of the deficient knowledge nursing diagnosis. Acta Paul Enferm. 2008;21(4):549-55. doi: 10.1590/S0103-21002008000400003
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): acertar toda a questão: 1,0 ponto; acertar metade da questão: 0,5 ponto; acertar um quarto da questão: 0,25 ponto; errar a questão ou não saber respondêla: 0 zero. Desse modo, o paciente que teve nota ≤ 3 foi considerado como tendo conhecimento deficiente sobre a doença(1919 Galdeano LE, Rossi LA, Pelegrino FM. Content validation of the deficient knowledge nursing diagnosis. Acta Paul Enferm. 2008;21(4):549-55. doi: 10.1590/S0103-21002008000400003
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).

Os dados foram analisados no software R 3.4.1 e expressos em frequências relativas e absolutas para as variáveis qualitativas e por medidas de tendência central e dispersão [média, desvio padrão (DP), mediana e quartis] para as variáveis quantitativas. Para verificar a associação entre as variáveis quantitativas e a adesão medicamentosa, utilizou-se teste t-Student para amostras independentes ou teste U-Mann-Whitney, de acordo com a distribuição das variáveis. Para a associação das variáveis qualitativas com a adesão medicamentosa, o teste de Qui Quadrado de Pearson foi utilizado. Comparando-se as categorias relativas à ingestão de álcool duas a duas (nunca ingeriu, parou a ingestão ou ainda faz ingestão), considerou-se a correção de Bonferroni para avaliar em quais comparações houve diferença significativa.

Com a finalidade de avaliar a associação conjunta entre diferentes variáveis e a adesão farmacológica, foi adotado o modelo de Cox com tempos constantes e variância robusta, sendo avaliadas as Razões de Prevalência (RP) com intervalos de confiança (IC) de 95%. Foi considerado o nível de significância de 5%.

Esta pesquisa foi aprovada pelos Comitês de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Parecer no 1.676.061) e do Hospital Beneficência Portuguesa (Parecer no 1.709.442). O estudo obedeceu a todas as prerrogativas legais de pesquisa envolvendo seres humanos.

Resultados

Foram considerados elegíveis 198 pacientes. Todos aceitaram participar do estudo e não houve exclusões. A maioria era do sexo masculino (64,6%), casada (70,2%), católica (62,6%), branca (74,2%) e com história familiar positiva para DAC (70,7%). A idade média foi de 65,75 (DP 11,41 anos); a média de anos estudados foi de 7,27 anos (DP 5,41) anos e a quantidade média de filhos foi de 2,89 (DP 1,80) (Tabela 1).

Tabela 1
Associação entre a adesão farmacológica e os fatores relacionados ao paciente (n=198). São Paulo, SP, Brasil, 2017-2018

No que diz respeito ao suporte socioeconômico, a maioria dos pacientes era aposentada/inativa, com renda familiar de 1 a 3 salários mínimos, com casa própria e com necessidade de complementação financeira familiar para a aquisição dos medicamentos (Tabela 2).

Tabela 2
Associação entre adesão farmacológica e os fatores relacionados ao suporte socioeconômico do paciente (n=198). São Paulo, SP, Brasil, 2017-2018

O tempo médio de diagnóstico da DAC foi de 85,1 meses, variando de 6 a 480 meses. O tempo médio de tratamento da doença foi de 82,4 meses (6 - 480 meses). Cento e setenta e cinco pacientes (88,4%) tinham conhecimento satisfatório sobre a doença e o escore médio do conhecimento em relação à doença foi de 4,45 pontos (DP 0,83).

A maioria dos pacientes não era aderente (n=113; 57,1%). Dentre os motivos de não adesão, 99 (87,6%) referiram esquecer de tomar o medicamento no horário, 60 (53%) não se lembravam de tomá-lo, 26 (23%) interrompiam-no quando se sentiam bem e cinco (4,4%) referiram se descuidar do horário de tomar seus medicamentos.

Na análise univariada dos fatores relacionados ao paciente e à situação socioeconômica, não foi encontrada associação significativa (Tabelas 1 e 2).

Na Tabela 3, observa-se que 164 pacientes (82,8%) apresentavam sintomas. Fadiga e palpitação associaramse, significativamente, à adesão farmacológica. No que diz respeito ao tratamento invasivo, 158 (79,8%) foram submetidos a algum tipo de intervenção, dentre os quais 77 (48,7%) apenas à cirurgia de revascularização do miocárdio, 47 (29,7%) apenas à intervenção coronária percutânea e 34 (21,5%) realizaram os dois tratamentos. Não houve associação significativa dessa variável com a adesão ao tratamento farmacológico.

Tabela 3
Associação entre adesão farmacológica e os fatores relacionados à doença do paciente (n=198). São Paulo, SP, Brasil, 2017-2018

Na Tabela 4, observa-se que nunca ter ingerido bebida alcoólica e ser atendido pelo convênio tiveram associação significativa com a adesão farmacológica. Os fatores que se associaram à falta de adesão farmacológica foram: considerar o tratamento complexo; ter parado de ingerir bebida alcoólica ou ainda utilizar álcool e ser atendido no serviço público.

Tabela 4
Associação entre adesão farmacológica e os fatores relacionados ao tratamento do paciente (n=198), ao serviço de saúde e à relação com a equipe de saúde. São Paulo, SP, Brasil, 2017-2018

Na análise múltipla, verificou-se que os pacientes com fadiga e palpitação tiveram um aumento em torno de três vezes na prevalência de adesão medicamentosa. Em contrapartida, o consumo de álcool esteve associado à diminuição da adesão, de modo que os pacientes que bebiam apresentaram a chance de falta de adesão 2,88 vezes maior do que os pacientes que não bebiam (Tabela 5).

Tabela 5
Análise múltipla dos fatores associados à adesão farmacológica do paciente (n=198). São Paulo, SP, Brasil, 2017-2018

Discussão

Este estudo verificou que a maioria dos pacientes com DAC não aderiu ao tratamento medicamentoso. Além disso, a maioria acreditava utilizar corretamente os medicamentos prescritos. Esse resultado pode estar relacionado ao fato deles não considerarem falta de adesão quando esqueceram de tomar os medicamentos nos horários prescritos. Outros estudos também mostraram que grande parte dos pacientes relataram descuidos quanto ao horário dos medicamentos(88 Santos VB, Silva LL, Guizilini S, Valente IB, Barbosa CB, Carneiro TAB, et al. Adherence to antiplatelet and statin therapy by patients with Acute Coronary Syndrome following discharge. Enferm Clin. 2020;pii:S1130-8621(20)30237-0. doi: 10.1016/j.enfcli.2020.02.020
https://doi.org/10.1016/j.enfcli.2020.02...
,1010 Wu Q, Zhang D, Zhao Q, Liu L, He Z, Chen Y, et al. Effects of transitional health management on adherence and prognosis in elderly patients with acute myocardial infarction in percutaneous coronary intervention: a cluster randomized controlled trial. PLoS One. 2019;14(5):e0217535. doi:10.1371/journal.pone.0217535
https://doi.org/10.1371/journal.pone.021...
,2020 Krack G, Holle R, Kirchberger I, Kuch B, Amann U, Seidl H. Determinants of adherence and effects on health-related quality of life after myocardial infarction: a prospective cohort study. BMC Geriatr. 2018;18(1):136. doi: 10.1186/ s12877-018-0827-y
https://doi.org/10.1186/s12877-018-0827-...
).

Em relação ao tratamento farmacológico, o tempo médio desse tratamento foi menor que o tempo de diagnóstico da doença. Isso pode ocorrer porque muitos pacientes, em algum momento, interrompem o tratamento devido à falta de recursos financeiros(88 Santos VB, Silva LL, Guizilini S, Valente IB, Barbosa CB, Carneiro TAB, et al. Adherence to antiplatelet and statin therapy by patients with Acute Coronary Syndrome following discharge. Enferm Clin. 2020;pii:S1130-8621(20)30237-0. doi: 10.1016/j.enfcli.2020.02.020
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), à crença de que o tratamento seria desnecessário, enquanto estivessem assintomáticos ou ao esquema terapêutico complexo, com efeitos colaterais associados(2121 Burkauskas J, Bunevičius A, Brožaitienė J, Neverauskas J, Fineberg FA, Wellsted D, et al. Exploring Cognitive Concomitants of Mental Fatigue in Patients with Coronary Artery Disease. Neuropsychobiology. 2017;76(3):151-60. doi: 10.1159/000489713
https://doi.org/10.1159/000489713...
).

A proporção de pacientes que aderiram ao tratamento farmacológico neste estudo (43%) foi menor do que aquela encontrada em outro estado brasileiro, no qual 56,5% dos pacientes com DAC eram aderentes ao tratamento(77 Birck MG, Goulart AC, Lotufo PA, Bensenor IM. Secondary prevention of coronary heart disease: a cross-sectional analysis on the Brazilian Longitudinal Study of Adult Health (ELSA-Brasil). Sao Paulo Med. J. 2019;137(3):223-33. doi: https://doi.org/10.1590/1516-3180.2018.0531140319
https://doi.org/10.1590/1516-3180.2018.0...
). No entanto, a adesão dos participantes em nosso estudo foi maior do que a de outro estudo em território nacional sobre adesão ao tratamento de pacientes com DAC (26%)(99 Sobral PD, Gomes ED, Carvalho PO, Godoi ET, Oliveira DC. Prevalência de adesão medicamentosa em pacientes com doença arterial coronariana crônica. Enferm Brasil 2020;19(2):98-104. doi: https://doi.org/10.33233/eb.v19i2.2137
https://doi.org/10.33233/eb.v19i2.2137...
) ou outras doenças crônicas (30,8%)(1818 Ben AJ, Neumann CR, Mengue SS. The Brief Medication Questionnaire and Morisky Green Test to evaluate medication adherence. Rev Saúde Pública. 2012;46:279-89. doi: https://doi.org/10.1590/S0034-89102012005000013
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). Essas discrepâncias reforçam a importância de investigações adicionais a respeito dos fatores que podem interferir na adesão ao tratamento de pacientes com DAC no Brasil, cujos resultados possam colaborar para explicar a prevalência diferencial.

Dentre as variáveis relacionadas à doença, a fadiga e a palpitação associaram-se significativamente à adesão na análise univariada e permaneceram associadas na análise múltipla. A fadiga é um sintoma prevalente, incapacitante e persistente em pacientes com DAC(2121 Burkauskas J, Bunevičius A, Brožaitienė J, Neverauskas J, Fineberg FA, Wellsted D, et al. Exploring Cognitive Concomitants of Mental Fatigue in Patients with Coronary Artery Disease. Neuropsychobiology. 2017;76(3):151-60. doi: 10.1159/000489713
https://doi.org/10.1159/000489713...
). Em um estudo com pacientes submetidos à intervenção coronária percutânea, esse sintoma foi associado aos efeitos colaterais das medicações(2222 Pettersen TR, Fridlund B, Bendz B, Nordrehaug JE, Rotevatn S, Schjøtt J, et al. Challenges adhering to a medication regimen following first-time percutaneous coronary intervention: A patient perspective. Int J Nurs Stud. 2018;88:16-24. doi: 10.1016/j. ijnurstu.2018.07.013
https://doi.org/10.1016/j.ijnurstu.2018....
). A fadiga também foi identificada como fator preditivo de piora na qualidade de vida de pacientes recém-diagnosticados com DAC e de pacientes com DAC crônica(44 Thygesen K, Alpert JS, Jaffe AS, Chaitman BR, Bax JJ, Morrow DA, et al. Fourth Universal Definition of Myocardial Infarction. J Am Coll Cardiol. 2018;72(18):2231-64. doi: 10.1016/j.jacc.2018.08.1038
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). Esse sintoma também prejudica a funcionalidade psicossocial e fisiológica(2323 Johnston S, Eckhardt AL. Fatigue and acute coronary syndrome: a systematic review of contributing factors. Heart Lung. 2018;47(3):192-204. doi: 10.1016/j. hrtlng.2018.03.005
https://doi.org/10.1016/j.hrtlng.2018.03...
-2424 Blakeman JR, Stapleton SJ. An integrative review of fatigue experienced by women before and during myocardial infarction. J Clin Nurs. 2018;27(5-6):906-16. doi: 10.1111/ jocn.14122
https://doi.org/10.1111/jocn.14122...
). Outros sintomas, como a palpitação, podem ocorrer tanto no estágio inicial da doença, devido às arritmias relacionadas ao IAM recente, quanto em estágios avançados da DAC crônica, devido ao aumento das áreas de isquemia e consequente fibrose(33 Knuuti J, Wijns W, Saraste A, Capodanno D, Barbato E, Funck-Brentano C, et al. 2019 ESC Guidelines for the diagnosis and management of chronic coronary syndromes. Eur Heart J. 2020;41(3):407-77. doi: 10.1093/eurheartj/ ehz425
https://doi.org/10.1093/eurheartj/ehz425...
). Os dois sintomas geram desconforto físico, que impõe restrições aos hábitos rotineiros. Assim, os indivíduos tendem a aderir mais ao tratamento para evitar esses desconfortos(2525 Ammouri AA, Al-Daakak ZM, Isac C, Gharaibeh H, Al-Zaru I. Symptoms experienced by Jordanian men and women after coronary artery bypass graft surgery. Dimens Crit Care Nurs. 2016;35(3):125-32. doi: 10.1097/DCC.0000000000000175
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). Em contrapartida, os pacientes assintomáticos que não aderem ao tratamento relatam que, devido à ausência de sintomas, interrompem os medicamentos sem consultar um profissional, por sentirem-se saudáveis(1111 Du L, Cheng Z, Zhang Y, Li Y, Mei D. The impact of medication adherence on clinical outcomes of coronary artery disease: A meta-analysis. Eur J Prev Cardiol. 2017;24(9):962-70. doi: 10.1177/2047487317695628
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).

Outra variável que se relacionou à adesão ao tratamento foi o uso de bebida alcóolica. Pacientes que nunca a haviam ingerido tiveram chance quase três vezes maior de adesão farmacológica do que aqueles que a ingeriam, dado este também identificado anteriormente(88 Santos VB, Silva LL, Guizilini S, Valente IB, Barbosa CB, Carneiro TAB, et al. Adherence to antiplatelet and statin therapy by patients with Acute Coronary Syndrome following discharge. Enferm Clin. 2020;pii:S1130-8621(20)30237-0. doi: 10.1016/j.enfcli.2020.02.020
https://doi.org/10.1016/j.enfcli.2020.02...
,2626 Chung PW, Yoon BW, Lee YB, Shin BS, Kim HY, Park JH, et al. Medication Adherence of Statin Users after Acute Ischemic Stroke. Eur Neurol. 2018;80(1-2):106-14. doi: 10.1159/000493530
https://doi.org/10.1159/000493530...
). Estudo(2626 Chung PW, Yoon BW, Lee YB, Shin BS, Kim HY, Park JH, et al. Medication Adherence of Statin Users after Acute Ischemic Stroke. Eur Neurol. 2018;80(1-2):106-14. doi: 10.1159/000493530
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) mostrou que o etilismo está associado à falta de adesão ao tratamento medicamentoso da hipertensão arterial sistêmica (HAS) e que os pacientes que consomem álcool apresentaram risco de falta de adesão quase seis vezes maior do que os que não o ingerem. O motivo seria o receio dos possíveis efeitos indesejáveis da associação de medicamentos antihipertensivos à bebida alcoólica.

Outras variáveis que se relacionaram à adesão ao tratamento na análise univariada foram: considerar o tratamento complexo; atendimento no sistema público de saúde e no convênio. Os pacientes que consideraram o tratamento complexo eram menos aderentes e reportaram esquecimento ou descuido com a ingestão do medicamento, desabastecimentos e dificuldade na rotina. O esquema posológico complexo, com maior número de medicamentos utilizados, tende a diminuir a adesão(2626 Chung PW, Yoon BW, Lee YB, Shin BS, Kim HY, Park JH, et al. Medication Adherence of Statin Users after Acute Ischemic Stroke. Eur Neurol. 2018;80(1-2):106-14. doi: 10.1159/000493530
https://doi.org/10.1159/000493530...
-2727 Cordero A, Padial LR, Batalla A, Barreiro LL, Calvo FT, Castellano JM, et al. Optimal pharmacological treatment and adherence to medication in secondary prevention of cardiovascular events in Spain: Results from the CAPS study. Cardiovasc Ther. 2017;35(2):1-7. doi: 10.1111/1755-5922.12240
https://doi.org/10.1111/1755-5922.12240...
). Aspecto importante do tratamento que facilita a adesão, principalmente na população geriátrica, é a simplificação do regime terapêutico, com uso de fármacos em combinações de doses fixas em uma só apresentação e com menor número de tomadas diárias, preferencialmente em dose única(2828 Cimmaruta D, Lombardi N, Borghi C, Rosano G, Rossi F, Mugelli A. Polypill, hypertension and medication adherence: The solution strategy? Int J Cardiol. 2018;252:181-6. doi: 10.1016/j.ijcard.2017.11.075
https://doi.org/10.1016/j.ijcard.2017.11...
-2929 Mzoughi K, Zairi I, Jemai A, Ben Kilani M, Ben Daamar H, Ben Gaied Hassine E, et al. Factors associated with poor medication compliance in hypertensive patients. Tunis Med. 2018;96(6):385-90. Available from: https://www.latunisiemedicale.com/article-medicale-tunisie_3406_fr
https://www.latunisiemedicale.com/articl...
).

Referente ao acesso ao serviço de saúde, observouse que os pacientes atendidos pelo sistema público de saúde eram menos aderentes que aqueles atendidos pelos convênios. Estudo realizado com pacientes ambulatoriais demonstrou que os que não possuíam convênio para atendimento à saúde tiveram chance 30% maior de não aderir ao tratamento (p=0,03)(1616 Alves KB, Guilarducci NV, Santos TR, Baldoni AO, Otoni A, Pinto SWL, et al. Existe associação entre qualidade de vida e adesão à farmacoterapia em pacientes com doença renal crônica em hemodiálise?. Einstein (São Paulo). 2018;16(1):eAO4036. https://doi.org/10.1590/S1679-45082018AO4036
https://doi.org/10.1590/S1679-45082018AO...
). Outro estudo demonstrou relação entre a baixa adesão ao tratamento e o atendimento pelo serviço público de saúde (p=0,027)(1717 Albuquerque NLS, Oliveira ASS, Silva JM, Araújo TL. Association between follow-up in health services and antihypertensive medication adherence. Rev Bras Enferm. 2018;71(6):3006-12. doi: https://doi.org/10.1590/0034-7167-2018-0087
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).

Este resultado pode ser justificado pelo fato dos intervalos entre as consultas de serviços públicos de saúde serem, frequentemente, superiores a seis meses, além do baixo vínculo profissional ocasionado pela rotatividade dos profissionais. Estudo realizado com pacientes com HAS mostrou que o acompanhamento com mais de um médico aumentou, em torno de três vezes, a chance de baixa adesão farmacológica(3030 Ambrosetti M, Abreu A, Corrà U, Davos CH, Hansen D, Frederix I, et al. Secondary prevention through comprehensive cardiovascular rehabilitation: From knowledge to implementation. 2020 update. A position paper from the Secondary Prevention and Rehabilitation Section of the European Association of Preventive Cardiology. Eur J Prev Cardiol. 2020;204748732091337. doi: 10.1177/2047487320913379
https://doi.org/10.1177/2047487320913379...
). Outros estudos também enfatizam que a dificuldade de acesso físico (pela distância ou limitação de meios de transporte) e as dificuldades de acesso aos medicamentos também contribuem para a falta de adesão(88 Santos VB, Silva LL, Guizilini S, Valente IB, Barbosa CB, Carneiro TAB, et al. Adherence to antiplatelet and statin therapy by patients with Acute Coronary Syndrome following discharge. Enferm Clin. 2020;pii:S1130-8621(20)30237-0. doi: 10.1016/j.enfcli.2020.02.020
https://doi.org/10.1016/j.enfcli.2020.02...
,1717 Albuquerque NLS, Oliveira ASS, Silva JM, Araújo TL. Association between follow-up in health services and antihypertensive medication adherence. Rev Bras Enferm. 2018;71(6):3006-12. doi: https://doi.org/10.1590/0034-7167-2018-0087
https://doi.org/10.1590/0034-7167-2018-0...
). Os indivíduos que possuem plano de saúde tendem a utilizar mais os serviços de direito e, por sua vez, são mais assíduos às consultas, aumentando a oportunidade acesso às informações que podem apoiar a adesão(1010 Wu Q, Zhang D, Zhao Q, Liu L, He Z, Chen Y, et al. Effects of transitional health management on adherence and prognosis in elderly patients with acute myocardial infarction in percutaneous coronary intervention: a cluster randomized controlled trial. PLoS One. 2019;14(5):e0217535. doi:10.1371/journal.pone.0217535
https://doi.org/10.1371/journal.pone.021...
). Um dos principais benefícios da facilidade de acesso ao serviço de saúde é a possibilidade de ajustes terapêuticos e acompanhamento(1717 Albuquerque NLS, Oliveira ASS, Silva JM, Araújo TL. Association between follow-up in health services and antihypertensive medication adherence. Rev Bras Enferm. 2018;71(6):3006-12. doi: https://doi.org/10.1590/0034-7167-2018-0087
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).

Intervenções multiprofissionais e acompanhamento desses pacientes de forma mais constante por programas de prevenção secundária podem contribuir para minimizar os fatores de risco modificáveis. Esses fatores incluem uso de bebida alcoólica, manejo da complexidade do tratamento e inadequada compreensão de que no tratamento não é necessário durante a ausência de sintomas.

Programas multiprofissionais têm mostrado resultados satisfatórios ao incorporar consultas presenciais e telefônicas, além de implementar tecnologias, como envio de mensagens para reforço da importância da medicação e/ou aplicativos com sensores de alarmes quanto aos horários das medicações(3030 Ambrosetti M, Abreu A, Corrà U, Davos CH, Hansen D, Frederix I, et al. Secondary prevention through comprehensive cardiovascular rehabilitation: From knowledge to implementation. 2020 update. A position paper from the Secondary Prevention and Rehabilitation Section of the European Association of Preventive Cardiology. Eur J Prev Cardiol. 2020;204748732091337. doi: 10.1177/2047487320913379
https://doi.org/10.1177/2047487320913379...

31 Santo K, Chow CK, Thiagalingam A, Rogers K, Chalmers J, Redfern J. MEDication reminder APPs to improve medication adherence in Coronary Heart Disease (MedApp-CHD) Study: a randomised controlled trial protocol. BMJ Open. 2017;7(10):e017540. doi: 10.1136/ bmjopen-2017-017540
https://doi.org/10.1136/bmjopen-2017-017...
-3232 Santo K, Singleton A, Rogers K, Thiagalingam A, Chalmers J, Chow CK, et al. Medication reminder applications to improve adherence in coronary heart disease: a randomised clinical trial. Heart. 2019;105(4):323-9. doi: 10.1136/heartjnl-2018-313479
https://doi.org/10.1136/heartjnl-2018-31...
). Ensaio clínico randomizado avaliou a adesão ao tratamento medicamentoso de três grupos distintos (Grupo 1: pacientes em cuidado usual; Grupo 2: pacientes que receberam um aplicativo sem interatividade com os profissionais da saúde; Grupo 3: pacientes que receberam um aplicativo com interatividade com os profissionais). Os resultados evidenciaram que os pacientes dos grupos que utilizaram o aplicativo apresentaram aumento na adesão medicamentosa após três meses de intervenção, demonstrando que a tecnologia auxilia o paciente a lembrar do uso dos medicamentos e é eficaz no aumento da adesão medicamentosa(3131 Santo K, Chow CK, Thiagalingam A, Rogers K, Chalmers J, Redfern J. MEDication reminder APPs to improve medication adherence in Coronary Heart Disease (MedApp-CHD) Study: a randomised controlled trial protocol. BMJ Open. 2017;7(10):e017540. doi: 10.1136/ bmjopen-2017-017540
https://doi.org/10.1136/bmjopen-2017-017...
).

No contexto dos programas multiprofissionais, conhecer os fatores associados à falta de adesão medicamentosa auxilia no direcionamento das intervenções educativas pelos profissionais de saúde hospitalares e ambulatoriais, com vistas a adequar a adesão ao tratamento farmacológico da DAC e, consequentemente, retardar a progressão da doença, reduzir novos eventos cardiovasculares e melhorar a qualidade de vida do paciente.

Os dados deste estudo devem ser considerados à luz de algumas limitações. Primeiramente, foi realizado em um único centro, o que prejudica a generalização dos resultados. Ademais, a prevalência de adesão pode estar superestimada, uma vez que a desejabilidade social pode ter influenciado o autorrelato dos pacientes no Teste de Morisky Green. Estudos multicêntricos no país devem ser realizados utilizando medidas objetivas de adesão medicamentosa, como dosagem sérica ou frascos com monitoramento eletrônico de doses.

A despeito de suas limitações, o presente estudo avaliou diversas variáveis relacionadas à adesão, conforme preconizado pela Organização Mundial de Saúde, diferentemente de outros, que avaliaram apenas alguns fatores que interferem na adesão. A partir dos dados identificados, reafirma-se a necessidade do enfermeiro avaliar o paciente de forma global, no contexto multidisciplinar, para que possa conhecer detalhadamente os aspectos relacionados à adesão medicamentosa e estabelecer intervenções para abordar tais fatores.

Conclusão

Mais da metade dos pacientes com DAC hospitalizados não aderiam ao tratamento farmacológico. Os fatores associados à adequada adesão farmacológica foram: sintomas de fadiga e palpitação, nunca ter ingerido bebida alcoólica e ser atendido pelo convênio. Os fatores associados à falta de adesão farmacológica foram: considerar o tratamento complexo, utilizar ou ter utilizado bebida alcoólica e ser atendido no serviço público. A presença da fadiga e palpitação mantiveram-se como fatores associados à adesão farmacológica na análise múltipla e o consumo de álcool manteve-se como fator associado à falta de adesão farmacológica.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    03 Set 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    13 Jul 2020
  • Aceito
    26 Dez 2020
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