Open-access O poder do cuidado humano amoroso na enfermagem

Resumos

Este estudo teve como propósito desenvolver uma aproximação sobre o poder do cuidado humano na concepção da Enfermagem através da construção de uma estrutura teórica. Foi utilizada a proposta metodológica de Spiegelberg buscando o significado que tem o poder e o cuidado humano para enfermeiras novas e para os enfermos. A estrutura teórica resultante se orienta em como a enfermeira pode conseguir poder através do exercício do cuidado humano baseado no amor, apoiada nas teorias do poder de Parker, de cuidado humano de Paterson y Zderad, Watson e a concepção de amor de Larrañaga. Os elementos da estrutura são: a enfermeira, a pessoa sadia ou doente, o ambiente e a enfermeira, unidos pelo cuidado humano amoroso. A reflexão final indica que as enfermeiras estão inseridas dentro do paradigma técnico-científico da modernidade e que os pacientes esperam ser cuidados por enfermeiras humanas.

poder; amor; enfermagem


This study aimed to develop an approach about the power of humane care within the concept of nursing through the building of a theoretical structure. Spiegelberg's methodology was used to seek the meaning of the power of humane care for new nurses and for patients. The resulting theoretical structure is based on Parker's theory of power, Patterson and Zderad's humane care, Watson's theories and Larrañaga's concept of love. The elements of this structure are: the nurse, the ill or healthy person, the environment and nursing, all bound by an affectionate humane care. The final reflection was that all of them are included within the technical-scientific paradigm of modernity and that the patients hope to be care for by humane nurses.

power; love; nursing


Este estudio tuvo como propósito desarrollar una aproximación sobre el poder del cuidado humano en la concepción de Enfermería a través de la construcción de una estructura teórica. Se utilizó la propuesta metodológica de Spiegelberg, buscando el significado que tiene el poder y el cuidado humano para nueve enfermeras y dos enfermos. La estructura teórica resultante se orienta a como la enfermería puede lograr poder a través del ejercicio del cuidado humano basado en el amor, apoyada en las teorías del poder de Parker, de cuidado humano de Paterson y Zderad, Watson y la concepción del amor de Larrañaga. Los elementos de la estructura son la enfermera, la persona sana o enferma, el ambiente y la enfermería, unidos en el cuidado humano amoroso. La reflexión final indica que las enfermeras están ubicadas dentro del paradigma tecno-científico de la modernidad, mientras que los enfermos esperan ser cuidados por enfermeras humanas.

poder; amor; enfermería


ARTIGO ORIGINAL

O poder do cuidado humano amoroso na enfermagem1

Digna Escobar RiveroI; Alacoque Lorenzini ErdmannII

IDoutor em enfermagem, Professor Titular da Escola de Enfermagem, da Universidade de Carabobo, Venezuela

IIDoutor em Filosofia da Enfermagem, Pesquisador do CNPq, Professor Titular do Departamento de Enfermagem, da Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil, e-mail: alacoque@newsite.com.br

RESUMO

Este estudo teve como propósito desenvolver uma aproximação sobre o poder do cuidado humano na concepção da Enfermagem através da construção de uma estrutura teórica. Foi utilizada a proposta metodológica de Spiegelberg buscando o significado que tem o poder e o cuidado humano para enfermeiras novas e para os enfermos. A estrutura teórica resultante se orienta em como a enfermeira pode conseguir poder através do exercício do cuidado humano baseado no amor, apoiada nas teorias do poder de Parker, de cuidado humano de Paterson y Zderad, Watson e a concepção de amor de Larrañaga. Os elementos da estrutura são: a enfermeira, a pessoa sadia ou doente, o ambiente e a enfermeira, unidos pelo cuidado humano amoroso. A reflexão final indica que as enfermeiras estão inseridas dentro do paradigma técnico-científico da modernidade e que os pacientes esperam ser cuidados por enfermeiras humanas.

Descritores: poder (psicologia); amor; enfermagem

INTRODUÇÃO

A enfermagem venezuelana vive um momento de transição face sua consolidação como profissão. Isto se evidencia ao estudar aspectos centrais como o poder, que emana do exercício da sua essência que é o cuidado humano a indivíduos, famílias e grupos sadios ou enfermos. O poder é uma força que impulsiona as mudanças demandadas pela sociedade. E o cuidado humano, pela debilitação dos valores transcendentais do homem, se constitui em uma constante no presente século, quando se prognostica uma marcante desumanização entre os grupos humanos.

A longa trajetória da investigadora como enfermeira em centros de saúde pública de atenção ambulatorial e hospitalar e o desempenho de atividades assistenciais, gremiais, administrativas e docentes, lhe permitiram visualizar uma realidade da enfermagem venezuelana como uma profissão que, apesar da insubstituível função social na preservação da vida humana, não recebia o trato merecido por parte da sociedade. Surgiu a idéia de revisar alguns fatores que se relacionavam com essa realidade.

Nesta busca encontrou-se evidências empíricas muito importantes, como a ausência de uma Lei de Exercício Profissional, a existência de muitos níveis acadêmicos, porém com ausência de perfis ocupacionais que discriminem as atividades de cada nível, criando indefinição de papéis e confusão nos receptores de seus cuidados. Outra evidência do fenômeno em estudo é o trabalho encapsulado de enfermagem, com uma atitude monodisciplinar no cuidado a saúde. Verifica-se também a prevalência histórica do exercício de liderança de pequeníssimos grupos a quem se deve o avanço acadêmico da profissão, porém, que não é percebido a nível da comunidade cuidada. Uma das evidências mais significativas que orienta o estudo foi a ausência de enfermagem na estrutura política do Ministério de Saúde venezuelano, com a conseqüente ausência na tomada de altas decisões.

Foi através de uma investigação qualitativa com a utilização da proposta metodológica de Spiegelberg(1) que se permitiu descrever o fenômeno "O poder do cuidado humano" proporcionado pelas enfermeiras, a busca das perspectivas múltiplas constituídas pelas perspectivas das enfermeiras estudadas, dos enfermos e da investigadora. Esta metodologia tem seis fases: a descrição do fenômeno, a busca das perspectivas múltiplas, busca da essência e a estrutura, a constituição da significação, a suspensão dos juízos, e a interpretação do fenômeno, que permitiram a busca do significado que tem para a enfermeira (o) o poder e o cuidado humano.

FUNDAMENTAÇÃO DO FENÔMENO ESTUDADO

O poder tem sido muito estudado na área da sociologia e da administração. Destacam-se posições clássicas como as de Parsons, Max Weber, Giner e outras que se orientam pela concepção de que o poder é um elemento chave dentro de uma relação social, onde se impõe a vontade de uns sobre os outros, sobre sua resistência, independente de ser justa ou injusta a imposição. É o que tem sido chamado o poder sobre, como capacidade para exercer influência, adotando-se um comportamento esperado.

O poder é uma capacidade de indivíduos ou grupos de fazer prevalecer seu próprio interesse ou motivações, apesar da resistência que possam ter (2-3). O poder é também um fato social onde uns mandam e outros obedecem e, não é concebível um grupo humano sem que exista poder. Ao indagarmos sobre o poder na enfermagem, vemos que este é um tema estudado desde a década de sessenta nos Estados Unidos da América. Destaca-se que o desenvolvimento do poder nas enfermeiras tem sido retardado pelas características próprias da profissão, no local onde realiza sua prática e por desconhecimento de que é uma força positiva utilizável como instrumento para as mudanças que a sociedade espera. Depois de haver revisado algumas concepções tradicionais de Poder e ver que todas tinham como denominador comum colocar-se por sobre os demais, dominar, estar ou chegar primeiro, onde não há simultaneamente lugar para dois, ainda que a predominância de um sobre o outro seja sutil. Esta concepção de poder sobre, não era o poder que a enfermeira poderia utilizar em sua relação profissional com a pessoa sadia ou enferma. Poderia ser como uma relação intersubjetiva em um plano horizontal, na qual ambos se encontram com a meta de melhorar a situação de saúde, a enfermeira em seu papel de cuidadora e a pessoa sadia ou enferma como receptora do cuidado.

Visualizando esse encontro em um clima de compreensão, respeito e transparência, encontramos a teoria de Parker (4), que defende a idéia inovadora do poder com, o qual está imerso na própria vida das pessoas e deve ser buscado com, para e desde a gente. Deve ser construído mediante a integração de desejos, de esforços e de interesses, de maneira que a integração facilite o poder com e bloqueie o poder de dominação ou poder sobre. Enfatiza que o poder com significa uma habilidade simples para fazer que as coisas aconteçam, desenvolvida de forma ativa e participativa, conjunta e não coercitiva. Esta autora dirige o poder em uma ação social integrativa, que surge do trabalho em comunhão com outras pessoas de uma maneira natural e não como uma imposição de vontades.

Este tipo de poder está em harmonia com a contemporaneidade, dado que existe uma rejeição das pessoas em serem dirigidas com dominação. Em seu lugar, esperam ser tomadas em conta, serem tratadas como seres humanos. Ademais, uma tendência atual é a horizontalidade nas relações a qual não é possível com poder de dominação coercitivo, poder sobre. Os determinantes sócio-políticos, culturais e econômicos assim o exigem. A enfermagem em sua busca de dar melhor aporte a esta sociedade, pode incursionar no paradigma do poder com, no estabelecimento de suas ações que sustentam o cuidado humano.

A concepção de amor tem sido muito abordada e aqui se apresenta como utilizá-lo em benefício da profissão de enfermagem. Através do exercício do cuidado humano com amor a enfermagem pode adquirir o poder necessário para irradiá-lo nas instituições de saúde e lograr a legitimidade social em nosso País.

Para tanto, assume-se a concepção sobre amor como "uma capacidade de sentir preocupação, responsabilidade, respeito e compreensão diante da outra pessoa"(5) e de maneira complementar que o amor é encontrar e reconhecer o outro em sua subjetividade, é querer o outro como sujeito(6), é afirmar o outro e responder a chamada do outro. Ademais, todo amor autêntico é incondicional, desinteressado e implica em fidelidade a uma pessoa. E assim se assume de que todo homem necessita amar e ser amado de maneira natural. Logo, o cuidado humano baseado no amor significaria para a enfermagem a expressão autêntica de sua essência e caminho para a transcendência(7).

Quanto à sustentação do cuidado humano, consideraram-se as proposições da teoria de prática humanística de Paterson y Zderad, onde se destaca que enfermagem significa "um encontro especial das pessoas humanas como resposta a uma necessidade percebida, relacionada com qualidade de saúde - enfermidade, de condição humana. A enfermagem busca a meta de zelar pelo bem estar e pelo estar melhor, em um encontro intencionado, onde há um chamado e uma resposta também intencional, como espécie de dialogo vivido"(8). Assim, também se incorporam os fatores de cuidado da teórica Watson, onde se destaca a prática do amor, a amabilidade e a equanimidade dentro do contexto de um cuidado consciente. Concebe o cuidado transpessoal como uma conexão de humano a humano, porém de maneira plena; é dizer que a enfermeira entra no espaço da outra pessoa e pode detectar a condição do outro, sentindo-o ela, ao extremo que ao emitir a resposta essa pessoa sente alívio de sentimentos, pensamentos e tensão. As idéias dos teóricos citados são apresentadas na estrutura final da investigação sobre o poder do cuidado humano amoroso.

CAMINHO TRANSITADO

Realizou-se uma investigação qualitativa(9), com abordagem fenomenológica-hermenêutica e a técnica de coleta da informação foi a entrevista focada. Utilizaram-se as idéias de Husserl(10) sobre a fenomenologia como o método que tenta entender de maneira imediata o mundo do homem através de uma visão intelectual que se baseia na intuição do fato em si mesmo, onde se adquire o conhecimento, tentando ver as coisas do ponto de vista de outras pessoas, descrevendo, compreendendo e interpretando. Neste caso estudou-se o significado do poder em cada um dos informantes-chave situado em sua experiência vivida.

A utilização da proposta metodológica de Spiegelberg(1), permitiu descrever o fenômeno "O poder do cuidado humano" proporcionado pelas enfermeiras, na busca das perspectivas múltiplas constituídas pelas perspectivas das enfermeiras e enfermos estudados, e da investigadora. Para a busca da essência e da estrutura necessitou-se organizar a informação pelas suas relações internas. A constituição da significação deu-se analisando profundamente as estruturas, até visualizar o fenômeno total. Na fase de suspensão dos juízos, o investigador formou uma idéia clara do fenômeno do ponto de vista dos informantes, e finalmente, interpretou-se o fenômeno e deu-se-lhe significado também considerando as teorias existentes.

A organização da informação se fez utilizando a entrevista enfocada segundo Merton, o qual descreve uma forma de entrevista não dirigida que trata um foco de interesse. É uma experiência, uma situação, uma ação e se dirige a um indivíduo concreto, caracterizado previamente por haver vivido a experiência(11).

O estudo realizou-se em Valencia - Estado Carabobo, região Industrial da Venezuela e exemplo da Descentralização do Setor Saúde.

As informantes-chave foram nove enfermeiras de destaque: duas gerentes dos centros privados mais importantes, uma enfermeira-chefe de um ambulatório, duas supervisoras do setor público e privado, duas enfermeiras qualificadas de cuidado direto de centros ambulatoriais e hospitalares, uma prestigiosa docente e uma experimentada gremialista, administradoradocente. Também estão incluídos dois enfermos crônicos, com repetidas e prolongadas hospitalizações.

A entrevista às enfermeiras guiou-se por dois aspectos centrais: significado de poder e significado do poder do cuidado humano. As perguntas norteadoras do estudo foram: qual é o significado de poder para as enfermeiras? quais são as características do trabalho da enfermagem? que tipo de poder tem utilizado a enfermeira em seu trabalho cotidiano? está a enfermeira consciente do poder do cuidado humano? a enfermeira crê que o cuidado humano dá poder?

Aos enfermos pediu-se que descrevessem como são as enfermeiras e como esperavam que elas fossem.

A entrevista para colher informações sobre o significado de poder e de cuidado humano foi obtida pelo investigador. Utilizou-se câmara fotográfica e gravador como instrumentos de registro da informação, assegurando-se aos informantes o caráter confidencial da informação, tudo com prévia autorização dos mesmos. Utilizaram-se como pseudônimos, nomes de pedras preciosas. As onze entrevistas foram gravadas, compiladas e transcritas de maneira fiel e íntegra. Em seguida foram analisadas, seguindo o método de Spiegelberg, conformando as matrizes de intersecção, primeiro pelos estratos, e em seguida pelas intersecções dos três estratos (Tabela 1), constituindo-se assim os resultados do estudo para sua interpretação, recomendação e elaboração da estrutura teórica.

Na busca da essência e da estrutura apresentam-se na Tabela 2, as unidades de significado obtidas da análise das informações nas perspectivas das enfermeiras.

Os resultados mostram os fenômenos desvelados neste estudo pelas duas categorias, o poder e o poder do cuidado humano, onde os componentes do amor estão presentes.

- As perspectivas que as enfermeiras têm de poder implicam em tomada de decisões e resolver problemas, assim como esta associado com autoridade, capacidade para comunicar-se, influência, domínio e dependência, o que exige capacidade na enfermeira. A interação com os informantes permitiu verificar a rejeição das enfermeiras para falar de poder e a confusão do termo com atividades que requerem poder. Outros informantes identificaram claramente que somente o poder possibilita altos cargos administrativos; e de maneira muito tímida outros associam o poder com influência. Isto se interpreta como um reflexo de que a enfermagem venezuelana segue apegada ao velho paradigma de valores, se caracteriza por condutas de proteção para sua segurança, alinhadas as normas e exigências da organização. Isto guarda relação com o fato de que a enfermagem venezuelana nasceu em 1930, em plena modernidade, com modelos organizacionais mecanicistas, tanto nas escolas como nos hospitais. As enfermeiras exibem condutas próprias deste modelo, que ainda se conservam depois de 70 anos.

- Quanto as perspectivas do poder do cuidado humano, as informantes enfermeira(os) associam o poder com o cargo, porém não com o cuidado que proporcionam. De maneira muito débil, três das nove enfermeiras muito timidamente associam o poder com o serviço aos demais. Crê-se que, de maneira inconsciente, a enfermeira prática identifica a dimensão técnica do cuidado e, em menor grau, a dimensão afetiva, ética e estética, porém, dissociada do conhecimento consciente do imenso poder que emana da prática do cuidado humano.

- As pessoas enfermas descrevem as enfermeiras tecnicamente muito apuradas e mal humoradas. A interpretação deste fato é que a enfermagem segue apoiada no paradigma tecnico-científico, como foi seu surgimento na Venezuela.

- As pessoas enfermas esperam que as enfermeiras que as cuidam sejam amáveis, atentas, carinhosas, que cumpram os tratamentos indicados no horário correspondente e que se mostrem complacentes, consideradas e compreensivas com eles. Esperam ver uma enfermeira humana, porém a vêem muito técnica. Isto se interpreta como produto de três fatos relevantes que ocorrem na realidade. Um fato é que nas instituições de saúde se privilegia a destreza técnica. Outro fato pode se dever ao fato de que o sistema de saúde ainda permanece ancorado no modelo burocrático, onde prevalece a destreza dos procedimentos, favorecendo a impessoalidade e relegando-se a um segundo plano as ações afetivas, emotivas ou espirituais. Assim fica-se à margem da nova visão de mundo, que se centra na pessoa humana e exige da enfermeira uma prática de cuidado eminentemente humanista. O terceiro fato que pode estar incidindo, é que a orientação da gerência dos estabelecimentos de saúde continue sendo uma administração que busca produção quantitativa, execução de tarefas e o controle das pessoas.

- As perspectivas que o investigador tem do poder e do poder do cuidado humano é produto de estudo sistemático dos mesmos e onde o amor é a expressão intersubjetiva mais além e sobre as outras do todo.

A ESTRUTURA TEÓRICA DO PODER DO CUIDADO HUMANO AMOROSO

Os elementos estruturais são constituidos do cuidado humano amoroso e do poder, e os elementos funcionais são a enfermeira, a pessoa sadia ou enferma, o ambiente e a enfermagem. Estes são descritos a seguir e nas tabelas 3 e 4.

- O cuidado humano amoroso se concebe como uma relação intersubjetiva entre a(o) enfermeira(o) e a pessoa sadia ou enferma onde se dá e se recebe amor: preocupação e interesse, respeito, compreensão e responsabilidade, de maneira recíproca.

- A(o) Enfermeira(o) profissional é que mostra interesse pela saúde, o bem estar e a vida da pessoa sadia ou enferma, que se preocupa, respeita, compreende e se responsabiliza pelo cuidado da pessoa que cuida.

- A Pessoa sadia ou enferma é o sujeito que recebe o cuidado da(o) enfermeira(o) e motiva-se a viver de novo, interessa-se pela sua recuperação e surgindo-lhe novos sonhos, força e ilusões.

- O ambiente é o meio físico onde se dá o cuidado caracterizado por aconchego, flexibilidade, participação e sensibilidade.

- A Enfermagem é constituída por uma equipe forte, unida, coesa, centrada no cuidado humano amoroso e com uma nítida imagem social positiva.

- O poder é a força social, produto da relação intersubjetiva entre a enfermeira - pessoa sadia ou enferma, grupos ou comunidades.

Assim, o estudo indicou a concepção de cuidado humano amoroso como uma relação intersubjetiva entre a(o) enfermeira(o) e a pessoa sadia ou enferma, onde se intercambia o amor concebido como capacidade para mostrar preocupação e interesse, respeitar a dignidade, assumir o cuidado com responsabilidade e compreender sua situação de saúde.

Assim, os componentes da estrutura teórica do cuidado humano amoroso são: preocupação e interesse, compreensão, responsabilidade e respeito à dignidade. Isto permite reorientar o trabalho da(o) enfermeira(o) como uma possível tecnologia de trabalho, conforme segue:

- a preocupação e interesse é abordado através da comunicação permanente cara a cara com a pessoa cuidada, com autenticidade;

- o respeito à dignidade mediante o exercício da autonomia profissional, a liberdade do usuário em tomar ou participar das decisões que lhe afetam, assim como respeitar seus direitos levam a brindá-lo com um cuidado individualizado;

- a compreensão através da empatia, como um sentimento que se expressa colocando-se em no lugar do paciente, não adivinhando e sim explorando o que ele sente quanto a sua situação de saúde;

- o outro elemento é a responsabilidade concebida do ponto de vista do compromisso moral de responder pelas conseqüências de nossas intervenções como cuidadores e o dever de cumprir nossas atividades e tarefas previstas no cargo.

Os elementos da estrutura teórica do cuidado humano amoroso incluem a Enfermagem Cuidadora, que assume o cuidado com preocupação, respeito, compreensão e responsabilidade, até chegar a transmiti-lo à pessoa cuidada. Esta pessoa sadia ou enferma deve ter despertado o interesse e preocupação em recuperar ou melhorar sua saúde, ao extremo de sentir desejos de viver e espelhar nela novas ilusões. O ambiente deve acondicionar-se para o cuidado e ser aconchegante, acolhedor, ventilado, iluminado, confortável e harmonicamente decorado (arte, música e natureza).

Isto reorienta a atitude de uma enfermeira cuidadora amorosa, o que envolve a etapa de recepção do paciente (que é indelegável); a orientação e a confiança requerida para o cuidado humano amoroso; a ação do processo de cuidado de acordo com as necessidades e condições do usuário sadio ou enfermo; e, dar instruções finais ao terminar a guarda e deixá-lo preparado até o próximo encontro.

Como conclusão, pode-se afirmar que a estrutura teórica do cuidado humano amoroso está dirigida a destacar a beleza, profundidade e complexidade da profissão de enfermagem até conduzi-la a transcendência através do amor.

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES FINAIS DO ESTUDO

- a estrutura teórica do cuidado humano amoroso pode conduzir a uma enfermagem empoderada neste momento histórico;

- a prática do poder e o cuidado humano em enfermagem fundamenta-se no paradigma tecno-científico da modernidade;

- há dissociação entre as percepções de poder e cuidado humano entre as enfermeiras estudadas, o investigador e as pessoas enfermas;

- há desconhecimento da natureza e das fontes de poder e suas vantagens para a enfermagem;

- é necessário criar espaços de discussão sobre o significado de poder, o poder do cuidado humano e o poder do cuidado humano amoroso;

- a prática do poder do cuidado humano pode ser determinante na legitimidade social da Enfermagem na Venezuela.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Recebido em: 6.4.2006

Aprovado em: 4.6.2007

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  • 11. Merton R. Teoría y estructuras sociales. México: Editorial Fondo de Cultura Económica; 1992.
  • 1
    Trabalho extraído de Tese de Doutorado
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      04 Out 2007
    • Data do Fascículo
      Ago 2007

    Histórico

    • Recebido
      06 Abr 2006
    • Aceito
      04 Jun 2007
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