Acessibilidade / Reportar erro

Flora das cangas da Serra dos Carajás, Pará, Brasil: Orthotrichaceae

Flora of the cangas of Serra dos Carajás, Pará, Brazil: Orthotrichaceae

Resumo

Este trabalho apresenta um tratamento taxonômico de Orthotrichaceae registradas para as áreas de canga na Serra dos Carajás, no estado do Pará, com descrição detalhada, ilustração e comentários morfológicos das espécies. São registradas duas espécies na área de estudo: Groutiella tomentosa e Schlotheimia rugifolia.

Palavras-chave:
Brioflora; FLONA Carajás; musgos; taxonomia

Abstract

This work presents a taxonomic treatment of Orthotrichaceae registered in the areas of cangas of Serra dos Carajás, Pará state, with detailed description, illustration and morphologic comment if the species. Two species were registered in the study area: Groutiella tomentosa and Schlotheimia rugifolia.

Key words:
Bryoflora; FLONA Carajás; mosses; taxonomy

Orthotrichaceae

Orthotrichaceae Arnott. reúne 22 gêneros no globo (Buck & Goffinet 2000). No Brasil, ocorrem oito gêneros e 51 espécies (Costa & Peralta 2015). Os membros desta família apresentam caulídio ereto ou prostrado com numerosas ramificações secundárias, filídios com costa simples, lisos ou rugosos, células com paredes espessas, células alares raramente diferenciadas e esporófito terminal em ramos secundários (Sharp et al. 1994Sharp AJ, Crum H & Eckel PM (1994) The moss flora of Mexico. Memoirs of The New Botanical Garden 69: 1-1113.; Churchill & Linares 1995Churchill SP & Linares CEL (1995) Prodromus Bryologiae Novo-Granantensis. Introduction a la flora de musgos de Colômbia. Biblioteca Jose Jerônimo Triana 12: 1-924.; Gradstein et al. 2001Gradstein SR, Churchill SP & Salazar-Allen N (2001) Guide to the bryophytes of tropical America. Memoirs of the New York Botanical Garden 86: 1-577.). Nas cangas da Serra dos Carajás foram registradas duas espécies de dois gêneros: uma de Groutiella Steere e uma de Schlotheimia Brid.

    Chave de identificação dos gêneros de Orthotrichaceae das cangas da Serra dos Carajás
  • 1. Filídios com bordas de células lineares, da base até ±1/2 da lâmina ..................................1. Groutiella

  • 1'. Filídios sem bordas ........................................................................................................ 2. Schlotheimia

1. Groutiella Steere

Foram registradas aproximadamente 10 espécies no Neotrópico e, no Brasil, seis espécies (Gradstein et al. 2001Gradstein SR, Churchill SP & Salazar-Allen N (2001) Guide to the bryophytes of tropical America. Memoirs of the New York Botanical Garden 86: 1-577.; Costa & Peralta 2015). Ocorrem sobre troncos de árvores vivas e ocasionalmente sobre rochas (Gradstein et al. 2001Gradstein SR, Churchill SP & Salazar-Allen N (2001) Guide to the bryophytes of tropical America. Memoirs of the New York Botanical Garden 86: 1-577.). Os membros desse gênero são caracterizados pelo caulídio rastejante produzindo ramos curtos e eretos, tomentosos, filídios contorcidos (torcidos em espiral quando secos), borda formada por células lineares da base até mais ou menos a metade do filídio e peristômio reduzido a uma membrana papilosa ou ausente (Crum & Anderson 1981Crum HA & Anderson LE (1981) Mosses of Eastern North America. Vol. 2. New York Columbia University Press, New York. Pp. 736-740.; Sharp et al. 1994Sharp AJ, Crum H & Eckel PM (1994) The moss flora of Mexico. Memoirs of The New Botanical Garden 69: 1-1113.).

1.1. Groutiella tomentosa (Hornsch.) Wijk & Margad., Taxon 9: 51. 1960.

Macromitrium tomentosum Hornsch., in Mart., Fl. bras. 1(2): 21. 1840.Fig. 1a-d

Figura 1
a-d. Groutiella tomentosa – a. hábito; b. ápice do filídio; c. filídios; d. base do filídio. e-j. Schlotheimia rugifolia – e. filídios; f. ápice do filídio; g. células da base; h. cápsula com opérculo; i. cápsula sem o opérculo; j. hábito.
Figure 1
a-d. Groutiella tomentosa – a. habit; b. leaf apex; c. leaves; d. leaf base. e-j. Schlotheimia rugifolia – e. leaves; f. leaf apex; g. leaf basal cells; h. capsule with opercule; i. Capsule without opercule; j. habit.

Plantas verdes a marrom-avermelhadas, 6-20 mm de comprimento. Caulídio secundário não ramificado, densamente tomentoso. Filídios contorcidos quando secos e expandidos quando úmidos, ovalado-lanceolados a lanceolados, 1,7-3 × 0,2-0,3 mm, ápice agudo, acuminado ou subulado, frágil (geralmente quebrado), costa subpercurrente, margem inteira e fracamente serreada no ápice. Células superiores romboidais, 10-15 µm, lisas a infladas, células basais oblongo-lineares, 20-38 × 0,2-1,2 µm, fortemente infladas. Esporófito não observado.

Material selecionado: Canaã dos Carajás, S11C, 6°22'59,4"S, 50°23'09,8"W, 29.IV.2015, A.L. Ilkiu-Borges et al. 3502 (MG).

Essa espécie é reconhecida (também em campo) pelos filídios contorcidos em espiral quando secos e com ápices quebrados, os quais, de acordo com Crum & Anderson (1981), podem servir, presumivelmente, para propagação vegetativa. Ocorrem geralmente em troncos e ramos de árvores vivas (Buck 2003Buck WR (2003) Guide to the plants of Central French Guiana. Part 3. Mosses. Memoirs of The New York Botanical Garden 76: 74-85.). Nas cangas da Serra dos Carajás, essa espécie ocorreu sobre galho de árvore viva na margem de um córrego temporário de drenagem.

Pantropical. No Brasil: AM, BA, MT, PA, PE, RJ, RO, SP. Serra dos Carajás: Serra Sul: S11C.

2. Schlotheimia Brid.

Existem ca. de 56 espécies para o Neotrópico e, no Brasil, ocorrem 13 espécies (Gradstein et al. 2001Gradstein SR, Churchill SP & Salazar-Allen N (2001) Guide to the bryophytes of tropical America. Memoirs of the New York Botanical Garden 86: 1-577.; Costa & Peralta 2015). O gênero reúne plantas que ocorrem sobre tronco e ramos de árvores e sobre rochas, muitas vezes em locais parcialmente expostos (Gradstein et al. 2001). As espécies do gênero se distinguem pelas células basais lisas e alongadas, peristômio duplo com dentes lineares, caliptra longa (recobrindo toda a capsula), campanulada e sem pregas (Gradstein et al. 2001Atwood JJ (2009) A taxonomic revision of Schlotheimia subg. Stegotheca (Orthotrichaceae). Bryologist 112: 290-300.; Atwood 2009Atwood JJ (2009) A taxonomic revision of Schlotheimia subg. Stegotheca (Orthotrichaceae). Bryologist 112: 290-300.).

Schlotheimia rugifolia (Hook.) Schwägr., Sp. Musc., Suppl. 1(2): 150.1824.

Orthotrichum rugifolium Hook., Musci Exotici 2: pl. 128. 1819.Fig. 1e-j

Plantas verde-escuras a marrons, 8-17 mm de comprimento. Caulídio densamente radiculoso, com numerosas ramificações secundárias. Filídios espiralado-contorcidos quando secos, fortemente rugosos, oblongo a oblongo-ligulado, 1-1,6 × 0,3-0,5 mm, ápice obtuso-mucronado, costa curto-excurrente, margem inteira, filídios periqueciais lisos. Células superiores romboidais, 4-15 µm, lisas, células basais lineares, com paredes fortemente engrossadas e pontuações, 22-35 × 2,5-7,5 µm. Seta marrom escura, 3,6-9,2 mm de compr., cápsula subcilíndrica, 1,6-2 mm de compr., opérculo longo, 1 mm de altura, peristômio duplo, exóstoma com dentes lanceolados.

Material selecionado: Canaã dos Carajás, S11C, 6°22'58,2"S, 50°23'08,3"W, 29.IV.2015, A.L. Ilkiu-Borges et al. 3488 (MG).

Essa espécie é identificada principalmente pelos filídios rugosos e, quando secos, pela sua forma espiralado-contorcidos. Encontrada geralmente em florestas úmidas sobre tronco de árvore vivas ou mortas, usualmente no dossel (Lisboa 1993Lisboa RCL (1993) Musgos Acrocárpicos do estado de Rondônia. Coleção Adolpho Ducke. Museu Paraense Emílio Goeldi, Belém. 272p.; Buck 2003Buck WR (2003) Guide to the plants of Central French Guiana. Part 3. Mosses. Memoirs of The New York Botanical Garden 76: 74-85.). Na Serra dos Carajás, essa espécie ocorreu sobre tronco de árvore viva debruçada sobre o córrego temporário de drenagem em canga.

Neotrópico e Índia. No Brasil: AC, AM, BA, CE, DF, ES, GO, MG, MT, PA, PE, PR, RJ, RO, RS, SC e SP. Serra dos Carajás: Serra Sul: S11C.

  • Lista de exsicatas
    Ilkiu-Borges AL 3502 (1.1), 3476 (2.1), 3480 (2.1), 3488 (2.1).
  • Editor de área: Dr. Alexandre Salino

Agradecimentos

Agradecemos ao Museu Paraense Emílio Goeldi e Instituto Tecnológico Vale, a infraestrutura e demais apoios fundamentais para o desenvolvimento deste trabalho, assim como à Dra. Ana Maria Giulietti Harley e ao Dr. Pedro Viana, coordenadores do projeto conveniado MPEG/ITV/FADESP (01205.000250/2014-10) e ao projeto aprovado pelo CNPq (processo 455505/2014-4), o financiamento; ao ICMBio, em especial ao biólogo Frederico Drumond Martins, a licença de coleta concedida e suporte nos trabalhos de campo; ao CNPq, a bolsa de Iniciação Científica concedida ao primeiro autor e a bolsa de Produtividade em Pesquisa concedida à segunda autora.

Referências

  • Atwood JJ (2009) A taxonomic revision of Schlotheimia subg. Stegotheca (Orthotrichaceae). Bryologist 112: 290-300.
  • Buck WR & Goffinet B (2000) Morphology and classification of mosses. In: Shaw AJ & Goffinet B (eds.) Bryophyte Biology. Cambridge University Press, Cambridge. Pp. 71-123.
  • Buck WR (2003) Guide to the plants of Central French Guiana. Part 3. Mosses. Memoirs of The New York Botanical Garden 76: 74-85.
  • Costa DP & Peralta DF (2015) Bryophytes diversity in Brazil. Rodriguésia 66: 1063-1071.
  • Churchill SP & Linares CEL (1995) Prodromus Bryologiae Novo-Granantensis. Introduction a la flora de musgos de Colômbia. Biblioteca Jose Jerônimo Triana 12: 1-924.
  • Crum HA & Anderson LE (1981) Mosses of Eastern North America. Vol. 2. New York Columbia University Press, New York. Pp. 736-740.
  • Gradstein SR, Churchill SP & Salazar-Allen N (2001) Guide to the bryophytes of tropical America. Memoirs of the New York Botanical Garden 86: 1-577.
  • Lisboa RCL (1993) Musgos Acrocárpicos do estado de Rondônia. Coleção Adolpho Ducke. Museu Paraense Emílio Goeldi, Belém. 272p.
  • Sharp AJ, Crum H & Eckel PM (1994) The moss flora of Mexico. Memoirs of The New Botanical Garden 69: 1-1113.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jul-Sep 2017

Histórico

  • Recebido
    10 Abr 2017
  • Aceito
    30 Jun 2017
Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro Rua Pacheco Leão, 915 - Jardim Botânico, 22460-030 Rio de Janeiro, RJ, Brasil, Tel.: (55 21)3204-2148, Fax: (55 21) 3204-2071 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: rodriguesia@jbrj.gov.br