Resumos
Introdução
A doença cárie e as alterações periodontais são problemas frequentemente encontrados em pacientes com deficiência.
Objetivo
Avaliar as condições periodontais e de higiene bucal em escolares com deficiência neuropsicomotora matriculados em um centro de reabilitação.
Método
A pesquisa envolveu entrevista com os responsáveis e exame clínico do escolar, para registro do índice de placa e do índice de sangramento. Após o exame, foi realizada profilaxia profissional, orientação de higiene bucal e esclarecimento de dúvidas. Os dados foram observados por meio de estatística descritiva.
Resultado
A amostra foi constituída por 41 escolares com deficiência neuropsicomotora, com idades entre sete e 14 anos, sendo 20 do sexo feminino (48,8%) e 21 do sexo masculino (51,2%), e com idade média de 10,8 anos. A maioria dos pacientes tinha a figura da mãe como principal cuidador (85%). Observou-se que 71% dos escolares necessitavam de ajuda para realizar a higiene bucal e quase 40% dos cuidadores apresentavam dificuldade para realizá-la, principalmente pelo fato de o paciente “não abrir a boca”. Quase a totalidade dos escolares não usava fio dental. Constatou-se, ainda, que 87,2% apresentaram sangramento gengival à sondagem e que, em 84,7%, verificou-se índice de placa maior ou igual a ‘2’.
Conclusão
Concluiu-se que os escolares com deficiência neuropsicomotora incluídos neste estudo apresentaram condições periodontais e de higiene bucal insatisfatórias, demonstrando a necessidade de serem instituídas ações preventivas focadas na orientação aos pacientes e cuidadores, para a efetividade da higiene bucal.
Higiene bucal; pessoas com deficiência; gengivite
Introduction
Caries and periodontal disease are problems frequently affecting patients with disabilities.
Objective
In this study we aim to evaluate the periodontal conditions and the oral hygiene in students with neuropsychomotor disorders enrolled in a rehabilitation center.
Method
Data collect was based in interview with the responsible and the scholar's clinical exam to register the plaque index and the bleeding index. After the clinical exam were performed professional prophylaxis, oral hygiene orientation and explanation of doubts.
Result
The sample consisted of 41 students with neuropsychomotor disabilities, with ages among 7 and 14 years, 20 females (48.8%) and 21 males (51.2%) with a mean age of 10.8 years. Most patients had the figure of the mother as primary caregiver (85%). It was observed that 71% of students need help in performing oral hygiene and nearly 40% of caregivers had difficulty doing it, in most of the cases because the patient "did not open his mouth". Almost the totality of the students doesn't use dental floss. It was also found that 87.2% had gingival bleeding and 84.7% had the plaque index greater or equal to 2.
Conclusion
It was concluded that disabled students included in this study had bad periodontal conditions and poor oral hygiene. It shows the need of preventive programs to guide themselves and the caregivers, seeking for effectiveness of oral hygiene.
Oral hygiene; disabled persons; gingivitis
INTRODUÇÃO
A doença cárie e as alterações periodontais são problemas frequentemente encontrados em
pacientes com deficiência e a dificuldade em manter bons níveis de saúde bucal deve-se
tanto ao comprometimento físico e/ou mental quanto às barreiras sociais que estes
pacientes enfrentam11 Sacchetto MSLS, Andrade NS, Brito MHSF, Lira DMMP, Barros SLLV.
Evaluation of oral health in patients with mental disorders attended at the clinic of
oral diagnosis of a public university. Rev Odontol UNESP. 2013 Set-Out;42(5):344-9.
http://dx.doi.org/10.1590/S1807-25772013000500005.
http://dx.doi.org/10.1590/S1807-25772013...
,22 Gardens SJ, Krishna M, Vellappally S, Alzoman H, Halawany HS, Abraham
NB, et al. Oral health survey of 6-12-year-old children with disabilities attending
special schools in Chennai, India. Int J Paediatr Dent. 2014 Nov;24(6):424-33.
http://dx.doi.org/10.1111/ipd.12088. PMid:24372860
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. Além disso, os antipsicóticos,
antidepressivos tricíclicos e lítio, medicações amplamente prescritas para tratamentos
psiquiátricos, têm notáveis efeitos anticolinérgicos, resultando em xerostomia crônica e
maior risco para o desenvolvimento de cárie, gengivite, candidíase e lesões na mucosa
bucal33 Moursi AM, Fernandez JB, Daronch M, Zee L, Jones CL. Nutrition and oral
health considerations in children with special health care needs: implications for
oral health care providers. Pediatr Dent. 2010 Jul-Ago;32(4):333-42.
PMid:20836954.,44 Oliva L. Oral hygiene in the special needs classroom. NASN Sch Nurse.
2013 Nov;28(6):281-3. http://dx.doi.org/10.1177/1942602X13506751.
PMid:24392505
http://dx.doi.org/10.1177/1942602X135067...
.
Apesar da necessidade de um acompanhamento odontológico adequado, a OMS (Organização
Mundial da Saúde) relata que apenas 3% da população total de deficientes tem acesso aos
tratamentos odontológicos. Corroborando com esta informação, estudos revelam que as
crianças com comprometimento físico ou mental mais severo têm ainda menos acesso aos
serviços odontológicos22 Gardens SJ, Krishna M, Vellappally S, Alzoman H, Halawany HS, Abraham
NB, et al. Oral health survey of 6-12-year-old children with disabilities attending
special schools in Chennai, India. Int J Paediatr Dent. 2014 Nov;24(6):424-33.
http://dx.doi.org/10.1111/ipd.12088. PMid:24372860
http://dx.doi.org/10.1111/ipd.12088...
,55 Lewis CW. Dental care and children with special health care needs: a
population-based perspective. Acad Pediatr. 2009 Nov-Dez;9(6):420-6.
http://dx.doi.org/10.1016/j.acap.2009.09.005. PMid:19945077
http://dx.doi.org/10.1016/j.acap.2009.09...
.
Isto ocorre devido à desinformação e à falta de comprometimento dos responsáveis, ao
custo do tratamento, à presença de barreiras arquitetônicas, que dificultam o acesso aos
serviços, e à ausência de capacitação profissional e grupos de estudo que discutam
métodos facilitadores de prevenção e tratamento odontológico voltado para esses
pacientes55 Lewis CW. Dental care and children with special health care needs: a
population-based perspective. Acad Pediatr. 2009 Nov-Dez;9(6):420-6.
http://dx.doi.org/10.1016/j.acap.2009.09.005. PMid:19945077
http://dx.doi.org/10.1016/j.acap.2009.09...
,66 Campos CC, Frazão BB, Saddi GL, Morais LA, Ferreira MG, Setúbal PCO, et
al. Manual prático para o atendimento odontológico de pacientes com necessidades
especiais. 2. ed. Goiânia: Universidade Federal de Goiânia; 2009.,77 Avenali L, Guerra F, Cipriano L, Corridore D, Ottolenghi L. Disabled
patients and oral health in Rome, Italy: long-term evaluation of educational
initiatives. Ann Stomatol (Roma). 2011 Mar;2(3-4):25-30.
PMid:22545186..
Os programas de saúde bucal que são implementados para pacientes com deficiência visam à
motivação para o controle mecânico efetivo da placa bacteriana. No entanto, quando estes
pacientes apresentam alguma deficiência motora, podem tornar-se incapazes de realizar a
higiene bucal sozinhos e os cuidadores devem assumir tal responsabilidade88 Carvalho EMC, Araújo RPC. A saúde bucal em portadores de transtornos
mentais e comportamentais. Pesq Bras Odontoped Clin Integr. 2004
Jan-Abr;4(1):65-75.. Segundo a literatura99 Uemura ST, Ramos L, Esposito D, Uemura AS, Boccia MF, Mugayar LRF.
Motivação e educação odontológica em pacientes especial. RGO –. Rev Gaucha Odontol.
2004 Abr-Jun;52(2):91-100.,1010 Campanaro M, Huebner CE, Davis BE. Facilitators and barriers to twice
daily tooth brushing among children with special health care needs. Spec Care
Dentist. 2014 Jul-Ago;34(4):185-92. http://dx.doi.org/10.1111/scd.12057.
PMid:24252060
http://dx.doi.org/10.1111/scd.12057...
, estes cuidadores têm atividades diárias acumuladas
que, somadas com a ansiedade e a ideia pré-concebida de que cuidados odontológicos são
impossíveis, podem levar ao adiamento ou mesmo ao esquecimento destas práticas.
Agrava-se o fato de que, muitas vezes, profissionais de outras áreas, bem como escolas e
centros de reabilitação, não estão atentos quanto à importância da saúde bucal e à
necessidade de encaminhamento odontológico precoce44 Oliva L. Oral hygiene in the special needs classroom. NASN Sch Nurse.
2013 Nov;28(6):281-3. http://dx.doi.org/10.1177/1942602X13506751.
PMid:24392505
http://dx.doi.org/10.1177/1942602X135067...
,1111 1. Nahar SG, Hossain MA, Howlader MB, Ahmed A. Oral health status of
disabled children. Bangladesh Med Res Counc Bull. 2010 Ago;36(2):61-3.
PMid:21473203..
Estudos epidemiológicos e que avaliem as condições de saúde bucal desta clientela específica são fundamentais para sugerir estratégias preventivas e educativas adequadas. Dessa forma, o objetivo deste trabalho foi avaliar as condições periodontais e de higiene bucal em escolares de sete a 14 anos de idade, com distúrbios neuropsicomotores, matriculados em um centro de reabilitação.
MÉTODO
Foi realizado um estudo observacional do tipo transversal, envolvendo todos os escolares, entre sete e 14 anos de idade, matriculados no Centro de Reabilitação de Pelotas (CERENEPE), instituição filantrópica de referência no município, para a reabilitação de indivíduos com deficiência neuropsicomotora. O projeto de pesquisa foi previamente submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e aprovado para execução (Parecer nº 38/07). Previamente ao início da coleta de dados, foi realizado um estudo piloto, a fim de adequar a ficha para coleta de dados, e um treinamento teórico e prático. O treinamento prático foi realizado pela examinadora e por um pesquisador considerado padrão ouro em dez indivíduos com deficiência neuropsicomotora da mesma faixa etária do grupo de estudo. Os resultados dos exames eram comparados e, havendo discordância, a discussão era proposta. Os escolares que participaram do treinamento prático não fizeram parte da amostra.
As informações foram coletadas através de entrevista com o responsável e exame clínico do paciente, os quais foram conduzidos no consultório odontológico da instituição filantrópica.
Na entrevista com o responsável, foram coletados dados socioeconômicos, demográficos,
história médica e odontológica do escolar. Após esta etapa, o exame clínico foi
realizado na cadeira odontológica, sob campo seco e iluminação artificial. Pacientes
pouco colaboradores foram estabilizados na cadeira por meio de contenção física,
realizada pelos cuidadores e pelo anotador. A higiene bucal e as condições periodontais
foram avaliadas empregando-se o Índice de Placa1212 Löe H, Silness J. Periodontal disease in pregnancy.I. Prevalence and
severity. Acta Odontol Scand. 1963 Dez;21(6):533-51.
http://dx.doi.org/10.3109/00016356309011240. PMid:14121956
http://dx.doi.org/10.3109/00016356309011...
e o Índice de Sangramento1313 Löe H. The gingival index, the plaque index and the retention index
system. J Periodontol. 1967 Nov-Dez;38(6):610-6.
http://dx.doi.org/10.1902/jop.1967.38.6.610. PMid:5237684
http://dx.doi.org/10.1902/jop.1967.38.6....
, respectivamente. Para o exame, optou-se por utilizar os
dentes índices empregados e descritos no Índice de Löe, Silness1212 Löe H, Silness J. Periodontal disease in pregnancy.I. Prevalence and
severity. Acta Odontol Scand. 1963 Dez;21(6):533-51.
http://dx.doi.org/10.3109/00016356309011240. PMid:14121956
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, sendo examinados os dentes 16, 12, 24, 36, 32 e 44
de cada criança. A sequência de exame seguiu essa mesma ordem. Cada dente índice foi
seco com um jato de ar, por aproximadamente dez segundos, e visualizado com auxílio de
iluminação artificial, para identificar placa e sangramento gengival espontâneo. Após
tal verificação, a margem gengival dos dentes foi contornada pelo toque suave da
extremidade romba da sonda periodontal (cerca de 0,5 mm de profundidade), para que fosse
obtido o escore do índice de placa de cada face. O maior escore encontrado no exame foi
considerado para a classificação do paciente, para ambos os índices O escore de placa
foi atribuído de acordo com o descrito por Löe, Silness1212 Löe H, Silness J. Periodontal disease in pregnancy.I. Prevalence and
severity. Acta Odontol Scand. 1963 Dez;21(6):533-51.
http://dx.doi.org/10.3109/00016356309011240. PMid:14121956
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, considerando-se a espessura da placa na área gengival das
faces dos dentes, não levando em consideração a extensão da placa na coroa dos dentes. O
escore ‘0’ é atribuído quando a área gengival do dente está livre de placa. No escore
‘1’, a olho nu, não se observa placa in situ, mas pode-se observar
placa na sonda, quando esta é passada no dente. Já no escore ‘2’, a área gengival é
coberta por uma camada de placa de espessura média, visível a olho nu. Por fim, no
escore ‘3’, há forte acúmulo de placa na área gengival e na face do dente.
Após o registro das informações advindas do exame clínico, foi realizada profilaxia profissional dos dentes, foram oferecidas orientações de higiene bucal aos pacientes e cuidadores, e entregue um kit de higiene, contendo escova, dentifrício fluoretado e fio dental. Os pacientes com necessidade de tratamento odontológico foram encaminhados ao Projeto de Extensão “Acolhendo Sorrisos Especiais”, da Faculdade de Odontologia da UFPel. Os dados e as frequências absolutas e relativas foram registrados em uma planilha eletrônica do Microsoft Excel versão 2010, e observados por estatística descritiva.
RESULTADO
Dos 50 escolares com deficiência neuropsicomotora, 41 foram incluídos. Nove não foram incluídos devido à ausência do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e/ou impossibilidade de realizar o exame clínico pela falta de colaboração do escolar. Em relação ao sexo, foram 20 pertencentes ao sexo feminino (48,8%) e 21, ao sexo masculino (51,2%), tendo idade média de 10,8 anos. A maioria dos pacientes tinha a figura da mãe como principal cuidador (85%). A distribuição da amostra de acordo com as características estudadas está apresentada nas Tabelas 1 e 2.
Distribuição dos escolares com distúrbios neuropsicomotores de acordo com as características estudadas (n=41)
Distribuição dos escolares com distúrbios neuropsicomotores de acordo com os hábitos de higiene bucal (n=41)
Em relação ao uso da medicação, verificou-se que 66,7% dos pacientes recebiam medicações de forma fracionada, sendo que 12 crianças faziam uso da medicação também durante a noite.
Os Índices de Placa e Sangramento, verificados em 39 escolares, estão dispostos nas Figuras 1 e 2, respectivamente. Em dois escolares, não foi realizado o exame clínico devido à impossibilidade de colaboração.
Distribuição dos escolares portadores de distúrbios neuropsicomotores de acordo com os escores do Índice de Placa (n= 39).
Distribuição dos escolares portadores de distúrbios neuropsicomotores de acordo com o Índice de Sangramento (n= 39).
DISCUSSÃO
Os pacientes com deficiência são considerados de risco para as doenças bucais11 Sacchetto MSLS, Andrade NS, Brito MHSF, Lira DMMP, Barros SLLV.
Evaluation of oral health in patients with mental disorders attended at the clinic of
oral diagnosis of a public university. Rev Odontol UNESP. 2013 Set-Out;42(5):344-9.
http://dx.doi.org/10.1590/S1807-25772013000500005.
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,22 Gardens SJ, Krishna M, Vellappally S, Alzoman H, Halawany HS, Abraham
NB, et al. Oral health survey of 6-12-year-old children with disabilities attending
special schools in Chennai, India. Int J Paediatr Dent. 2014 Nov;24(6):424-33.
http://dx.doi.org/10.1111/ipd.12088. PMid:24372860
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,1414 Ameer N, Palaparthi R, Neerudu M, Palakuru SK, Singam HR, Durvasula S.
Oral hygiene and periodontal status of teenagers with special needs in the district
of Nalgonda, India. J Indian Soc Periodontol. 2012 Jul;16(3):421-5.
http://dx.doi.org/10.4103/0972-124X.100923. PMid:23162340
http://dx.doi.org/10.4103/0972-124X.1009...
e a Odontologia deve investir na busca de estratégias para
identificar estes fatores e desenvolver medidas preventivas e educativas efetivas para
minimizar a instalação das doenças.
A grande maioria dos escolares incluídos neste estudo é dependente de um cuidador para
realizar a higiene bucal, sendo este cuidador representado pela figura da mãe em mais de
85% dos casos. Resultado semelhante foi encontrado por Campanaro et al.1010 Campanaro M, Huebner CE, Davis BE. Facilitators and barriers to twice
daily tooth brushing among children with special health care needs. Spec Care
Dentist. 2014 Jul-Ago;34(4):185-92. http://dx.doi.org/10.1111/scd.12057.
PMid:24252060
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, em que 88% dos cuidadores eram as
mães. Assim, instruir a família, especialmente as mães, sobre dieta e higiene bucal
adequadas, benefícios do tratamento odontológico precoce e dos retornos periódicos
preventivos deve ser a primeira medida para assegurar a saúde bucal destes
pacientes1515 Trentin MS, Silva SO, Linden MSS. Prevalence of periodontal disease in
special needs patients at APAE-PF/RS and the effect of local prevention programs.
Braz J Oral Sci. 2010; 9(4):475-80.,1616 Menchaca MHR, Alanis TMG, Silva RG. Guía para el cuidado de la salud
oral en pacientes con necesidad de cuidados especiales de salud en México. Rev ADM.
2011; 68(5):222-8.,1717 Bhandary S, Shetty V, Hegde AM, Rai K. Knowledge of care providers
regarding the oral health care of visually impaired children. J Clin Pediatr Dent.
2013; 37(4):385-9. PMid:24046987.. É preciso que a família entenda a importância do
monitoramento da saúde bucal no consultório odontológico e da manutenção do vínculo
entre profissional, paciente e família77 Avenali L, Guerra F, Cipriano L, Corridore D, Ottolenghi L. Disabled
patients and oral health in Rome, Italy: long-term evaluation of educational
initiatives. Ann Stomatol (Roma). 2011 Mar;2(3-4):25-30.
PMid:22545186.,1515 Trentin MS, Silva SO, Linden MSS. Prevalence of periodontal disease in
special needs patients at APAE-PF/RS and the effect of local prevention programs.
Braz J Oral Sci. 2010; 9(4):475-80.,1616 Menchaca MHR, Alanis TMG, Silva RG. Guía para el cuidado de la salud
oral en pacientes con necesidad de cuidados especiales de salud en México. Rev ADM.
2011; 68(5):222-8.. Se os cuidados com a saúde bucal forem instituídos
precocemente e tiverem suporte dos pais, a necessidade de tratamentos odontológicos mais
complexos pode ser reduzida1818 Ahmad MS, Jindal MK, Khan S, Hashmi SH. Oral health knowledge, oral
hygiene status and dental caries prevalence among visually impaired students in
residential institute of Aligarh. J Dent and Oral Hygiene. 2009;
2(1):22-6..
Assim como encontrado por Sacchetto et al.11 Sacchetto MSLS, Andrade NS, Brito MHSF, Lira DMMP, Barros SLLV.
Evaluation of oral health in patients with mental disorders attended at the clinic of
oral diagnosis of a public university. Rev Odontol UNESP. 2013 Set-Out;42(5):344-9.
http://dx.doi.org/10.1590/S1807-25772013000500005.
http://dx.doi.org/10.1590/S1807-25772013...
, os resultados deste estudo demonstraram que o emprego de
medicações de uso contínuo, tais como anticonvulsivos, neurolépticos e antidepressivos,
faz parte da rotina de muitos pacientes com deficiência (44%), o que pode acarretar
alterações na cavidade bucal. A hiperplasia gengival, a xerostomia e a hipersalivação
são exemplos destes efeitos adversos. Ademais, muitos destes fármacos apresentam
sacarose em sua formulação, predispondo ao desenvolvimento da doença cárie33 Moursi AM, Fernandez JB, Daronch M, Zee L, Jones CL. Nutrition and oral
health considerations in children with special health care needs: implications for
oral health care providers. Pediatr Dent. 2010 Jul-Ago;32(4):333-42.
PMid:20836954.,1515 Trentin MS, Silva SO, Linden MSS. Prevalence of periodontal disease in
special needs patients at APAE-PF/RS and the effect of local prevention programs.
Braz J Oral Sci. 2010; 9(4):475-80.,1919 Stiefel DJ. Dental care considerations for disabled adults. Spec Care
Dentist. 2002; 22(3 Suppl):26S-39S. PMid:12375745.,2020 Blevins JY. Oral health care for hospitalized children. Pediatr Nurs.
2011 Set-Out;37(5):229-35, quiz 236. PMid:22132567.. Neste contexto, verifica-se a importância de orientar os
cuidadores quanto às alterações bucais decorrentes da medicação, seus efeitos deletérios
na dentição e a importância da escovação após sua administração1515 Trentin MS, Silva SO, Linden MSS. Prevalence of periodontal disease in
special needs patients at APAE-PF/RS and the effect of local prevention programs.
Braz J Oral Sci. 2010; 9(4):475-80.,2121 Fisher K. Is there anything to smile about? A review of oral care for
individuals with intellectual and developmental disabilities. Nurs Res Pract. 2012;
2012:860692. PMid:22548164..
Em relação ao índice de placa, verificou-se que 85% dos pacientes apresentaram uma
quantidade de placa madura representativa (Figura
1). Outros autores1414 Ameer N, Palaparthi R, Neerudu M, Palakuru SK, Singam HR, Durvasula S.
Oral hygiene and periodontal status of teenagers with special needs in the district
of Nalgonda, India. J Indian Soc Periodontol. 2012 Jul;16(3):421-5.
http://dx.doi.org/10.4103/0972-124X.100923. PMid:23162340
http://dx.doi.org/10.4103/0972-124X.1009...
,1818 Ahmad MS, Jindal MK, Khan S, Hashmi SH. Oral health knowledge, oral
hygiene status and dental caries prevalence among visually impaired students in
residential institute of Aligarh. J Dent and Oral Hygiene. 2009;
2(1):22-6.,2222 Silva APR, Gomide MR. Análise da higiene oral, ocorrência de cáries e
padrões alimentares de um grupo de pacientes especiais. J Bras Clín Odontol Integr
Saúde Bucal Coletiva. 2006;1-5.,2323 Cericato GO, Fernandes APS. Implicações da deficiência visual na
capacidade de controle de placa bacteriana e perda dentária. RFO. 2008;
13(2):17-21. também verificaram condições de higiene bucal insatisfatórias
quando empregaram o IHOS e enfatizaram a necessidade de atenção odontológica mais
efetiva para esses indivíduos. Constatou-se, ainda, que 87,2% dos pacientes apresentaram
sangramento gengival espontâneo (Figura 2), o que
indica um alto risco para doença periodontal mais severa na idade adulta, corroborando
com outros estudos realizados2424 Carvalho EMC, Araujo RPC, Correa AP. Perfil periodontal de portadores de
transtorno mental e comportamental assistidos no Hospital Juliano Moreira – Bahia.
Rev Fac Odontol Univ Fed Bahia. 2001; 22(1):26-44.,2525 Avasthi K, Bansal K, Mittal M, Marwaha M. Oral health status of sensory
impaired children in Delhi and Gurgaon. International Journal of Dental Clinics.
2011; 3(2):21-3..
A literatura relata índices preocupantes sobre a qualidade da higiene bucal desta
população88 Carvalho EMC, Araújo RPC. A saúde bucal em portadores de transtornos
mentais e comportamentais. Pesq Bras Odontoped Clin Integr. 2004
Jan-Abr;4(1):65-75.,2626 Azrina AN, Norzuliza G, Saub R. Oral hygiene practices among the
visually impaired adolescents. Annal Dent Univ Malaya. 2007; 14:1-6.. No trabalho conduzido por Campanaro
et al.1010 Campanaro M, Huebner CE, Davis BE. Facilitators and barriers to twice
daily tooth brushing among children with special health care needs. Spec Care
Dentist. 2014 Jul-Ago;34(4):185-92. http://dx.doi.org/10.1111/scd.12057.
PMid:24252060
http://dx.doi.org/10.1111/scd.12057...
, apenas 10% dos cuidadores
referiram realizar sem problemas a higiene bucal das crianças com deficiência sob sua
responsabilidade. Neste trabalho, dentre as dificuldades relatadas pelos cuidadores para
a realização da higiene bucal, destacou-se a limitação da abertura de boca (81,3%). O
emprego de abridores de boca para uso domiciliar ainda é pouco divulgado e deve ser
indicado para indivíduos com distúrbios neuropsicomotores pouco colaboradores2727 Peixoto ITA, Rocha CT, Fernandes PM. Auxiliary devices for management of
special needs patients during in-office dental treatment or at-home oral care. Int J
Dent. 2010; 9(2):85-9.. Os abridores podem ser encontrados
em diversos materiais, como monoblocos de borracha, metálicos e dedeiras2727 Peixoto ITA, Rocha CT, Fernandes PM. Auxiliary devices for management of
special needs patients during in-office dental treatment or at-home oral care. Int J
Dent. 2010; 9(2):85-9.,2828 Ferguson FS, Cinotti D. Home oral health practice: the foundation for
desensitization and dental care for special needs. Dent Clin North Am. 2009
Abr;53(2):375-87, xi. http://dx.doi.org/10.1016/j.cden.2008.12.009.
PMid:19269405
http://dx.doi.org/10.1016/j.cden.2008.12...
. Alguns autores66 Campos CC, Frazão BB, Saddi GL, Morais LA, Ferreira MG, Setúbal PCO, et
al. Manual prático para o atendimento odontológico de pacientes com necessidades
especiais. 2. ed. Goiânia: Universidade Federal de Goiânia; 2009.,2929 Aguiar SMHCA, Alves Rezende MCR. Dental care for cerebral palsy patients
using auxiliary resources to inhibit pathological tonic reflexes. Arch Health Invest.
2013; 2(4):39-44. ainda recomendam os abridores de boca fabricados manualmente,
utilizando pet ou espátulas de madeira, visto seu baixo custo e praticidade. O uso
destes instrumentos deve ser ampliado, considerando-se que, através da correta
orientação, a família pode buscar a superação de dificuldades encontradas durante a
higiene bucal de pacientes com deficiência.
Neste estudo, foi constatado que mais de 90% dos escolares com deficiência
neuropsicomotora não utilizavam fio dental, corroborando com resultados encontrados em
outros estudos semelhantes. Em Azrina et al.2626 Azrina AN, Norzuliza G, Saub R. Oral hygiene practices among the
visually impaired adolescents. Annal Dent Univ Malaya. 2007; 14:1-6., apenas sete dos 114 participantes utilizavam fio dental,
assim como Sacchetto et al.11 Sacchetto MSLS, Andrade NS, Brito MHSF, Lira DMMP, Barros SLLV.
Evaluation of oral health in patients with mental disorders attended at the clinic of
oral diagnosis of a public university. Rev Odontol UNESP. 2013 Set-Out;42(5):344-9.
http://dx.doi.org/10.1590/S1807-25772013000500005.
http://dx.doi.org/10.1590/S1807-25772013...
verificaram que 70% dos pacientes referiram não possuir este hábito. O acesso do fio ao
espaço interproximal pode ser facilitado com o uso do porta-fio dental, que consiste em
duas hastes nas quais o fio é fixado. Seu uso é indicado para pacientes com deficiências
motoras e deve ser estimulado com o intuito de facilitar esta etapa da higiene. Estudos
demonstram que o porta-fio é eficaz, causa menos traumas aos tecidos gengivais e é mais
aceito pelas crianças3030 Parizotto SPCOL, Ruschel HC, Rodrigues CRD, Mosele GTN. Eficácia de duas
técnicas de utilização de fio dental e sua associação com a ocorrência de traumatismo
gengival em crianças. Pesqui Bras Odontopediatria Clín Integr. 2009; 9(1):19-23.
http://dx.doi.org/10.4034/1519.0501.2009.0091.0004.
http://dx.doi.org/10.4034/1519.0501.2009...
.
As consequências da higiene bucal ineficiente de pessoas com deficiência não se limitam
à cavidade bucal, visto que já está demonstrada a associação da higiene bucal inadequada
com deterioração na saúde bucal e piora na qualidade de vida desta população3131 Al-Shammari KF, Al-Ansari JM, Al-Khabbaz AK, Dashti A, Honkala EJ.
Self-reported oral hygiene habits and oral health problems of Kuwaiti adults. Med
Princ Pract. 2007; 16(1):15-21. http://dx.doi.org/10.1159/000096134.
PMid:17159358
http://dx.doi.org/10.1159/000096134...
,3232 Shyama M, Honkala S, Al-Mutawa SA, Honkala E. Oral health-related
quality of life among parents and teachers of disabled schoolchildren in Kuwait. Med
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PMid:23171756
http://dx.doi.org/10.1159/000345213...
. Assim, todos estes dados evidenciam a importância de
instituir programas de atenção à saúde bucal dirigidos aos pacientes com deficiência e
suas famílias, a fim de promover ações preventivas efetivas, esclarecer dúvidas de
pacientes e cuidadores, além de estabelecer vínculo entre
profissional-paciente-família.
CONCLUSÃO
Constatou-se que as condições periodontais e de higiene bucal dos pacientes com necessidades especiais incluídos neste estudo são insatisfatórias, visto que foram encontrados quadros de alto índice de pacientes com placa e sangramento gengival espontâneo. Dessa forma, ações preventivas em saúde bucal focadas em orientação aos pacientes e cuidadores são fundamentais para a efetividade da higiene bucal.
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
Mar-Apr 2015
Histórico
-
Recebido
24 Mar 2014 -
Aceito
08 Out 2014