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Estudo comparativo entre duas técnicas radiográficas transcranianas utilizando o cefalostato Accurad-200, nas posições padrão e corrigida, e confecção de gabaritos para delimitação dos espaços articulares

Comparative study of two transcranial radiographic techniques with use of an Accurad-200 head holder in standard and corrected positions. Making templates to delimit joint spaces

Resumos

Este estudo teve como finalidades realizar uma análise comparativa entre duas técnicas radiográficas transcranianas com o auxílio do cefalostato ACCURAD-200, nas posições padrão e corrigida, e desenvolver um gabarito que auxilie o profissional a medir os espaços articulares anterior e posterior, fornecendo informações sobre o posicionamento condilar. Foram radiografados 59 pacientes, numa faixa etária entre 18 e 35 anos, que voluntariamente se propuseram a participar deste estudo. A correção da incidência do feixe central de radiação foi obtida com a radiografia ínfero-superior. Sobre as radiografias transcranianas, foram realizados os traçados com o auxílio dos gabaritos e feitas as medidas lineares dos espaços articulares, usando-se para tal um paquímetro digital. Nossos resultados demonstraram que, para ambas as técnicas empregadas, o espaço articular posterior apresentou-se menor que o anterior e que o método desenvolvido permite a avaliação do posicionamento condilar

Côndilo mandibular; Articulação temporomandibular


The purpose of this study was to carry out a comparative analysis of two transcranial radiographic techniques with use of an ACCURAD-200 head holder in standard and corrected positions, and to produce a template to assist professionals in measuring anterior and posterior joint spaces to provide information on condyle positioning. Transcranial radiographs were taken of fifty-nine patients in the 18 to 35 age bracket who volunteered to take part in this study. The incidence of the central beam of radiation was corrected with an inferosuperior radiograph. Tracings were made on the transcranial radiographs with use of templates and the linear measures of joint spaces effected with a digital caliper rule. Results showed that for both techniques employed, the posterior joint space was smaller than the anterior, and that the method developed afforded an estimate of condylar position

Mandibular condyle; Temporomandibular joint


ESTUDO COMPARATIVO ENTRE DUAS TÉCNICAS RADIOGRÁFICAS TRANSCRANIANAS UTILIZANDO O CEFALOSTATO ACCURAD-200, NAS POSIÇÕES PADRÃO E CORRIGIDA, E CONFECÇÃO DE GABARITOS PARA DELIMITAÇÃO DOS ESPAÇOS ARTICULARES** Resumo da Tese de Mestrado. Resumo da Tese de Mestrado. ** Professora Assistente Doutora, *** Professor Titular e **** Mestre em Ciências da Disciplina de Radiologia da Faculdade de Odontologia de Piracicaba da UNICAMP.

COMPARATIVE STUDY OF TWO TRANSCRANIAL RADIOGRAPHIC TECHNIQUES WITH USE OF AN ACCURAD-200 HEAD HOLDER IN STANDARD AND CORRECTED POSITIONS. MAKINGTEMPLATES TO DELIMIT JOINT SPACES

Solange Maria de ALMEIDA*** Resumo da Tese de Mestrado. Resumo da Tese de Mestrado. ** Professora Assistente Doutora, *** Professor Titular e **** Mestre em Ciências da Disciplina de Radiologia da Faculdade de Odontologia de Piracicaba da UNICAMP.

Frab Norberto BÓSCOLO **** Resumo da Tese de Mestrado. Resumo da Tese de Mestrado. ** Professora Assistente Doutora, *** Professor Titular e **** Mestre em Ciências da Disciplina de Radiologia da Faculdade de Odontologia de Piracicaba da UNICAMP.

Teresa Cristina Rangel PEREIRA ***** Resumo da Tese de Mestrado. Resumo da Tese de Mestrado. ** Professora Assistente Doutora, *** Professor Titular e **** Mestre em Ciências da Disciplina de Radiologia da Faculdade de Odontologia de Piracicaba da UNICAMP.

ALMEIDA, S. M. et al. Estudo comparativo entre duas técnicas radiográficas transcranianas utilizando o cefalostato ACCURAD-200, nas posições padrão e corrigida, e confecção de gabaritos para delimitação dos espaços articulares. Rev Odontol Univ São Paulo, v.11, p.51-60, 1997. Suplemento.

Este estudo teve como finalidades realizar uma análise comparativa entre duas técnicas radiográficas transcranianas com o auxílio do cefalostato ACCURAD-200, nas posições padrão e corrigida, e desenvolver um gabarito que auxilie o profissional a medir os espaços articulares anterior e posterior, fornecendo informações sobre o posicionamento condilar. Foram radiografados 59 pacientes, numa faixa etária entre 18 e 35 anos, que voluntariamente se propuseram a participar deste estudo. A correção da incidência do feixe central de radiação foi obtida com a radiografia ínfero-superior. Sobre as radiografias transcranianas, foram realizados os traçados com o auxílio dos gabaritos e feitas as medidas lineares dos espaços articulares, usando-se para tal um paquímetro digital. Nossos resultados demonstraram que, para ambas as técnicas empregadas, o espaço articular posterior apresentou-se menor que o anterior e que o método desenvolvido permite a avaliação do posicionamento condilar.

UNITERMOS: Côndilo mandibular; Articulação temporomandibular.

INTRODUÇÃO

A articulação temporomandibular vem sendo objeto de estudo de muitos pesquisadores, tendo em vista a alta incidência de sintomas clínicos na população, como dor e estalido. A técnica radiográfica transcraniana lateral oblíqua é uma das mais utilizadas para a observação das estruturas ósseas que compõem essa articulação e do posicionamento do côndilo em relação à fossa. A interpretação das estruturas da ATM pode deixar dúvidas, devido à sobreposição de estruturas densas adjacentes e, portanto, espera-se, por parte do profissional, um amplo conhecimento anátomo-radiográfico dessa região.

Vários autores estudaram as técnicas radiográficas transcranianas e procuraram estabelecer protocolos de exames para complementar o diagnóstico e documentar os casos clínicos6,19,28,29,37,38. Algumas vezes, para se conseguir uma boa imagem dessa região, há a necessidade de se optar pela associação de duas ou mais técnicas8,16,17,20,25; mesmo assim, essa associação pode ser de pouca valia devido ao desconhecimento do que cada uma dessas técnicas pode oferecer de vantagem para a análise de determinados aspectos da ATM.

Autores se preocuparam em determinar o posicionamento condilar na fossa mandibular, desenvolvendo e utilizando gabaritos para facilitar a mensuração dos espaços articulares2,3,6,9,21,32,39.

Com o advento dos cefalostatos produzindo uma imagem mais próxima do real e permitindo uma melhor avaliação do posicionamento condilar, talvez ocorra uma maior confiabilidade na análise e mensuração dos espaços articulares, oferecendo mais dados para o diagnóstico e tratamento das disfunções da ATM, o que nos leva a sugerir um estudo sobre as condições de mensuração do espaço articular.

MATERIAL E MÉTODO

Para a execução deste estudo, foi utilizada uma amostra de 59 voluntários, de ambos os sexos, com predominância do sexo feminino e na faixa etária entre 18 e 35 anos, apresentando ou não sintomatologia em relação à articulação temporomandibular.

Para cada voluntário, devidamente esclarecido e concorde, foram executadas as radiografias ínfero-superior e transcraniana com o cefalostato ACURAD-200 nas posições padrão e corrigida.

A radiografia ínfero-superior foi utilizada para a confecção de um traçado que teve como finalidade obter o ângulo formado entre o longo eixo do côndilo e a linha intermeatal (A-A’). Para cada côndilo, foi registrada essa angulação, que serviu como guia para a tomada da radiografia transcraniana corrigida (RTC) (Figura 1).

O paciente foi posicionado, em MIH, no cefalostato ACCURAD-200 para a obtenção da radiografia transcraniana padrão (RTP), sendo medida a distância interauricular através das olivas do suporte. De acordo com essa medida, obtivemos a distância e a angulação para cada indivíduo, utilizando uma tabela fornecida pelo fabricante do cefalostato ACCURAD-200.

Para a obtenção da RTC, mediante as angulações dos côndilos obtidas na radiografia ínfero-superior, determinamos a distância e as angulações para cada lado através da tabela usada anteriormente. Tanto para a RTC quanto para RTP, a inclinação vertical foi de 25º.

De posse das radiografias, iniciou-se a confecção de dois gabaritos que seriam usados para medir os espaços articulares.

FIGURA 1 -
Radiografia ínfero-superior com a delimitação do longo eixo de cada côndilo e suas respectivas angulações em relação à linha A-A'.

Confecção dos gabaritos

Para a confecção do gabarito 1, tomou-se como ponto de referência a porção mais alta da fossa mandibular, sendo demarcada então a linha guia e quatro ângulos obtidos a partir das médias das inclinações anterior e posterior da fossa de 140ATMs (Figura 2).

Para a confecção do gabarito 2, tomou-se um ponto aleatório em uma linha horizontal, traçando-se uma linha guia de 90º e duas linhas com inclinações de 45º lateralmente a esta. Delimitou-se, então, uma semicircunferência com 9,0mm de raio (Figura 3).


FIGURA 2 - Gabarito 1 com inclinações médias para a fossa mandibular.


FIGURA 3 - Gabarito 2 para demarcar os espaços articulares anterior e posterior.

Medidas dos espaços articulares

Inicialmente, foi delineada, em um papel vegetal colocado sobre a radiografia, a porção mais radiopaca da fossa, correspondente ao seu terço lateral, bem como a porção mais radiopaca do côndilo, que corresponde à sua porção central sobreposta à lateral. Com essas estruturas delineadas, posicionou-se o gabarito 1 sob a radiografia, de forma que as linhas correspondentes às paredes anterior e posterior coincidissem com essas mesmas estruturas na radiografia, sendo demarcada, então, a posição da linha guia do gabarito 1 (Figura 4). Após esse procedimento, foi colocado o gabarito 2 sob o desenho, de forma que a linha guia de 90º coincidisse com a linha vertical que corresponde à linha guia do gabarito 1 e também tendo-se o cuidado de fazer com que a semicircunferência coincidisse com a linha correspondente à porção mais alta da fossa (Figura 5).

Delimitados assim os espaços articulares anterior e posterior (Figura 6), foram realizadas as medidas lineares, utilizando-se um paquímetro digital.


FIGURA 4 - Utilização do gabarito 1 sob a radiografia delineada. FIGURA 5 - Aplicação do gabarito 2 sob a radiografia, para demarcar os espaços articulares. FIGURA 6 - Espaços articulares demarcados sobre a radiografia transcraniana.

Foram feitas duas medidas de cada espaço, para se diminuir a possibilidade de erro de medição, e as médias dessas medidas foram montadas nas Tabelas 1, 2, 3 e 4.

Posterior1,851,682,131,642,311,972,652,161,231,531,681,641,675,392,061,512,624,073,031,102,591,942,332,732,132,162,674,051,771,592,532,992,072,721,122,461,322,502,031,391,192,592,871,853,281,452,394,162,583,621,414,242,853,032,572,264,872,144,88 Anterior1,511,561,451,393,781,281,442,501,952,781,202,142,533,251,681,612,117,331,533,613,702,061,672,572,511,493,685,770,941,791,571,691,395,131,222,123,992,422,442,773,164,021,772,502,831,872,862,642,782,731,822,571,764,002,381,911,841,842,76
TABELA 1 - Médias, em mm, dos espaços anterior e posterior do lado direito na técnica transcraniana com cefalostato ACCURAD-200 na posição padrão.

Posterior2,202,022,602,802,653,383,072,181,552,522,291,892,153,233,231,403,216,641,592,432,661,632,392,882,472,621,863,132,261,463,232,091,932,142,243,332,651,981,921,611,151,093,314,484,101,632,343,482,512,241,595,694,043,320,681,783,582,432,45 Anterior1,841,822,372,323,861,852,053,511,772,171,611,312,961,422,584,912,703,482,471,992,331,822,042,591,773,113,214,322,003,251,611,732,733,681,641,190,814,203,811,671,943,682,052,373,871,912,002,182,542,841,404,571,635,264,681,941,474,034,55
TABELA 2 - Médias, em mm, dos espaços anterior e posterior do lado esquerdo na técnica transcraniana com cefalostato ACCURAD-200 na posição padrão.

Posterior2,131,272,283,142,171,972,650,812,111,462,272,001,663,771,332,061,733,912,141,531,481,581,033,072,132,682,932,131,771,591,191,352,184,941,302,314,072,423,323,213,681,991,933,062,831,823,063,482,802,891,822,971,184,572,232,181,992,842,93 Anterior2,420,801,942,582,611,281,442,782,733,002,652,302,641,113,002,031,757,331,283,413,361,783,392,682,511,352,893,790,941,791,191,352,184,941,302,314,072,423,323,213,681,991,933,062,831,823,063,482,802,891,822,961,184,572,232,181,991,842,93
TABELA 3 - Médias, em mm, dos espaços anterior e posterior do lado direito na técnica transcraniana com cefalostato ACCURAD-200 na posição corrigida.

Posterior2,241,303,361,751,902,582,841,731,771,891,711,122,233,012,421,401,731,591,312,293,831,632,253,540,762,882,202,202,622,113,413,471,432,142,243,011,780,941,892,721,021,893,534,302,441,262,502,742,171,951,424,863,543,320,001,041,502,431,61 Anterior0,961,841,621,633,291,392,005,641,471,581,612,192,752,102,744,912,052,112,951,672,541,822,392,374,142,472,664,730,903,111,282,074,293,681,642,372,133,853,812,583,173,172,712,204,491,211,095,023,102,871,394,131,115,265,062,981,244,035,55
TABELA 4 - Médias, em mm, dos espaços anterior e posterior do lado esquerdo na técnica transcraniana com cefalostato ACCURAD-200 na posição corrigida.

Causas da variaçãoG. L.S. Q.Q. M.Valor FBlocos58193,34 Técnicas10,450,450,561Lados10,690,690,868Espaços14,444,445,583*Técnica versus Lado10,170,170,221Técnica versus Espaços13,003,003,775**Lado versus Espaços10,920,921,159Técnica verus Lado versus Espaços10,700,700,882Resíduo406323,320,79 Total471527,06
TABELA 5 - Análise de variância dos dados das medidas das Tabelas 1 a 4.

* Diferença estatisticamente significante em nível de 5%.** Diferença estatisticamente significante em nível de 1%.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foi realizado o tratamento estatístico, sendo utilizada a análise de variância (Tabela 5).

Observando a análise de variância, notamos uma diferença estatisticamente significante entre os espaços nas duas técnicas e também na interação "espaço" dentro de "técnica". Aplicando-se o teste de Tukey, este mostrou que, na RTC, as medidas do espaço articular anterior são, em média, maiores que as medidas do espaço articular posterior no nível de 1%. Notamos também que os espaços anterior e posterior mostraram diferenças entre si na RTC; no entanto, apresentaram dimensões muito próximas na RTP.

As informações para se complementar um diagnóstico, na região da ATM, podem ser obtidas, na maioria das vezes, com a técnica transcraniana36. Já alguns pesquisadores2,7,12 acreditam que essa técnica não reproduz corretamente o relacionamento espacial da ATM, embora WEINBERG34 tenha demonstrado que o posicionamento condilar anormal na radiografia transcraniana retrata a disfunção na ATM, o que foi confirmado nos trabalhos de ISMAIL; ROKNI10 (1980) e VAN SIECKELS et al.30 (1983).

KEESLER et al.11 (1992) e OMNELL; PETERSSON20 (1976) explicaram a vantagem da RTC em relação à RTP, mostrando que o contorno ântero-lateral do côndilo e a porção ântero-posterior lateral da eminência e fossa, em que ocorre a maioria das alterações na ATM, são mais bem evidenciados quando se utiliza essa técnica8,27.

Neste estudo, realizamos a técnica transcraniana padrão e corrigida, utilizando o posicionador ACCURAD-200 com ângulo vertical de 25º, por ser esta a angulação média da inclinação entre a parede superior da fossa e o plano horizontal de Frankfort em crânios5 e também por ser a média dos ângulos preconizados para as técnicas transcranianas4,5,11, sendo padronizada a angulação vertical, como sugerido por PRETI et al.23 (1983).

Assim, avaliamos a imagem radiográfica da ATM, alterando apenas a angulação horizontal, conforme SMITH et al.26 (1989), e confeccionamos um gabarito para demarcação dos espaços articulares anterior e posterior.

Na obtenção de radiografias transcranianas em que o feixe de radiação incide o mais paralelo possível ao longo eixo do côndilo, obtém-se uma imagem mais precisa do relacionamento do côndilo com as paredes anterior e posterior da fossa mandibular sem muita distorção15.

Em nosso estudo, encontramos, como média das medidas, 2,53mm para o espaço anterior e 2,49mm para o espaço posterior na RTP. Na RTC, encontramos 2,63 mm para o anterior e 2,27mm para o posterior. CRADDOCK; DIPLED6 (1953), realizando a técnica transcraniana de Lindblom, encontraram como médias das medidas 2,0mm para o anterior e 2,5mm para o espaço posterior. WEINBERG32 (1970) encontrou em radiografias de um crânio macerado: 2,64mm para o anterior e 3,33mm para o posterior, analisando somente o terço superior da articulação, que considerou mais confiável e com menor distorção; já em radiografias de pacientes, encontrou 2,30mm para o anterior e 2,59mm para o espaço posterior. PRETI el al.22 (1982), embora utilizando outra metodologia, encontraram para o terço lateral, que coincide com o observado nas técnicas transcranianas, 1,13mm para o anterior e 1,77mm para o posterior. Portanto, os nossos resultados mostraram-se contrários aos citados, uma vez que, em ambas as técnicas, o espaço anterior mostrou-se maior em relação ao posterior.

Medindo-se os espaços nas incidências padrão e corrigida, obtivemos, respectivamente, 2,47mm e 2,53mm para o espaço anterior e 2,44mm e 2,33mm para o espaço posterior do lado direito. Para o espaço anterior esquerdo, obtivemos 2,59mm e 2,75mm; já para o espaço posterior, 2,55mm e 2,21mm. ISMAIL; ROKNI10 (1980) encontraram para o lado direito 2,21mm para o espaço anterior e 2,14mm para o espaço posterior, e, no lado esquerdo, 2,10mm para o anterior e 2,28mm para o posterior. Esses autores usaram uma angulação vertical de 15º, portanto, diferente daquela utilizada neste estudo. AQUILINO et al.1 (1985) obtiveram como média dos espaços articulares para o lado direito 2,17mm para o anterior e 1,29mm para o posterior e, no lado esquerdo, 2,07mm e 2,11mm para o anterior e 1,26mm e 1,27mm para o posterior. Essa diferença de, em média, 0,2mm entre as duas medidas realizadas no lado esquerdo foi associada à não manutenção do posicionamento do crânio no cefalostato ACCURAD-100. HIGASHI et al.9 (1986), utilizando o cefalostato ACCURAD-100, obtiveram como resultado: 2,63mm para o anterior e 2,69mm para o posterior do lado direito e 3,10mm para o anterior e 2,74mm para o posterior no lado esquerdo.

Comparando-se os dados obtidos neste estudo com os dos autores citados, nota-se que houve diferenças entre as médias, o que pode ser devido a diferenças na angulação do feixe central de radiação e na posição da cabeça do paciente.

Observamos que, quando utilizados os cefalostatos ACCURAD 100 ou 200, o espaço posterior apresentou-se, na maioria das vezes, menor que o anterior. Como a individualização da incidência oferece uma imagem mais precisa da articulação15, os côndilos devem estar mesmo posteriorizados; caso contrário, a alteração no ângulo horizontal provoca distorções que acabam fornecendo informações errôneas sobre o relacionamento articular. LARHEIM14 (1981) afirma que alterações de 5º no feixe central de raios X, tanto na angulação vertical como na horizontal, podem influenciar na imagem obtida da ATM. No entanto, KUNDERT13 (1979) e WEINBERG35 (1972) relataram que o espaço articular sofre pouca influência de pequenas alterações na incidência do feixe central de raios X.

Neste estudo, analisamos também o posicionamento do côndilo na fossa mandibular, discordando de PRETI et al.22, que dizem que o posicionamento condilar normal é aquele em que o espaço posterior é maior que o espaço anterior, e de outros autores3,21,24,31,39, que dizem ser o melhor posicionamento o centralizado, embora ZHAO39 (1993) e PADAMSEE et al.21 (1985) afirmem que esta não é a única posição fisiologicamente normal. Neste estudo, nas duas técnicas radiográficas, o espaço posterior apresentou-se, em média, menor em relação ao anterior, em ambos os lados, resultado semelhante ao encontrado por WEINBERG33, que afirmou que o deslocamento condilar não é um fator patognomônico de disfunção.

Observando as Tabelas 1 e 2, verificamos que 17 indivíduos apresentavam côndilos bilateralmente posteriorizados, representando 28,81% do total de indivíduos; 10 apresentaram o côndilo direito posteriorizado, e outros 10 apresentaram o côndilo esquerdo posteriorizado, representando 16,95% cada um.

Observando as Tabelas 3 e 4, encontramos 18indivíduos com côndilos bilateralmente posteriorizados, representando 30,51% do total; 10 com o côndilo direito posteriorizado e 14 com o esquerdo posteriorizado, representando 16,95% e 23,73%, respectivamente.

MIKHAIL; ROSEN18 (1979), estudando ATMs com alterações, através do exame clínico e das radiografias transcranianas, verificaram que 34,1% apresentaram côndilo posteriorizado, valor esse inferior ao por nós encontrado, que foi de 66,9% na média das duas técnicas estudadas.

Em nosso trabalho, os resultados da Tabela 5 mostram que houve uma diferença significante quando comparamos os valores dos espaços anterior e posterior nas duas técnicas estudadas e que, embora elas utilizem o mesmo cefalostato, a correção da posição do longo eixo do côndilo alterou a imagem deste na fossa mandibular, fazendo com que o côndilo fosse observado, em praticamente 70% dos casos, numa posição mais posteriorizada. Pelos resultados encontrados, podemos ressaltar a necessidade de que, ao interpretarmos radiografias da articulação temporomandibular, devemos levar em consideração a técnica empregada, para que não haja erros de interpretação e, conseqüentemente, erros na elaboração do diagnóstico.

CONCLUSÕES

Pudemos concluir, por meio dos resultados obtidos e do tratamento estatístico, que:

1. Não houve diferença estatisticamente significante entre as técnicas radiográficas utilizadas neste estudo e nem entre os lados estudados, embora haja diferença entre os espaços medidos para cada técnica.

2. Com relação ao posicionamento do côndilo na fossa mandibular, encontramos uma predominância da posição posteriorizada do côndilo para ambas as técnicas.

3. Comparando os espaços posteriores em ambas as técnicas, notamos uma diferença significantemente maior para os espaços posteriores na técnica transcraniana padrão.

4. O emprego das técnicas transcranianas com cefalostato ACCURAD-200 nas posições padrão e corrigida e o uso do gabarito para determinar os espaços articulares são de fácil aplicação para a avaliação do posicionamento condilar.

ALMEIDA, S. M. et al. Comparative study of two transcranial radiographic techniques with use of an ACCURAD-200 head holder in standard and corrected positions. Making templates to delimit joint spaces. Rev Odontol Univ São Paulo, v.11, p.51-60, 1997. Suplemento.

The purpose of this study was to carry out a comparative analysis of two transcranial radiographic techniques with use of an ACCURAD-200 head holder in standard and corrected positions, and to produce a template to assist professionals in measuring anterior and posterior joint spaces to provide information on condyle positioning. Transcranial radiographs were taken of fifty-nine patients in the 18 to 35 age bracket who volunteered to take part in this study. The incidence of the central beam of radiation was corrected with an inferosuperior radiograph. Tracings were made on the transcranial radiographs with use of templates and the linear measures of joint spaces effected with a digital caliper rule. Results showed that for both techniques employed, the posterior joint space was smaller than the anterior, and that the method developed afforded an estimate of condylar position.

UNITERMS: Mandibular condyle; Temporomandibular joint.

Recebido para publicação em 01/07/97

Aceito para publicação em 11/08/97

  • 1
    AQUILINO, S. A. et al. Evaluation of condylar position from temporomandibular joint radiographs. J Prosthet Dent, v.53, n.1, p.88-97, Jan. 1985.
  • 2
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    BLASCHKE, D. D.; BLASCHKE, T. J. Normal TMJ bony relationships in centric occlusion. J Dent Res, v.60, n.2, p.98-104, Feb. 1981.
  • 4
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  • * Resumo da Tese de Mestrado.
    Resumo da Tese de Mestrado.
    ** Professora Assistente Doutora, *** Professor Titular e **** Mestre em Ciências da Disciplina de Radiologia da Faculdade de Odontologia de Piracicaba da UNICAMP.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      04 Jun 2001
    • Data do Fascículo
      1997

    Histórico

    • Aceito
      11 Ago 1997
    • Recebido
      01 Jul 1997
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