RESUMO
Objetivo:
A síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA) pode ser uma condição devastadora em crianças com câncer e as manobras de recrutamento alveolar (MRA) podem melhorar a oxigenação e a sobrevida. O objetivo foi avaliar a viabilidade das MRA em crianças gravemente doentes com câncer e SDRA.
Métodos:
Analisamos retrospectivamente 31 manobras em 12 pacientes (idade mediana de 8,9 anos), com tumores sólidos (n=4), linfomas (n=2) e leucemias linfoide (n=2) e mieloide agudas (n=4). Os pacientes receberam pressão expiratória final positiva de 25 a 40 cmH20, com delta de pressão de 15 cmH2O por 60 segundos. Gasometrias foram analisadas pré e pós-manobras, bem como os parâmetros de ventilação, sinais vitais, hemoglobina, sinais clínicos de sangramento pulmonar e sinais radiológicos de barotrauma. Valores foram comparados com o teste de Wilcoxon.
Resultados:
A contagem mediana de plaquetas era de 53.200/mm3. Após as manobras, em dois pacientes, a pressão arterial média declinou mais de 20%, e quatro necessitaram de aumento de drogas vasoativas. A hemoglobina permaneceu estável 24 horas após a MRA, sem sinais de pneumotórax, pneumomediastino ou enfisema subcutâneo. Houve diminuição significativa nas frações inspiradas de oxigênio (FiO2; p=0,003). A relação pressão arterial de oxigênio (PaO2)/FiO2 aumentou (p=0,002), e o índice de oxigenação caiu (p=0,01), mas essas melhoras foram transitórias. A mortalidade em 28 dias foi de 58%.
Conclusões:
As MRA, embora viáveis no contexto da trombocitopenia, levam apenas a melhorias transitórias e podem causar instabilidade hemodinâmica significativa.
Palavras-chave:
Insuficiência respiratória; Neoplasias; Síndrome do desconforto respiratório agudo; Criança