Open-access Apoio ao aleitamento materno pelos profissionais de saúde: revisão integrativa da literatura

Resumo

Objetivo:  Fazer uma revisão da literatura para avaliar a prática de profissionais de saúde na promoção e no apoio à amamentação.

Fontes de dados:  Foram identificados artigos nas bases de dados Scopus, PubMed, Medline, Lilacs, SciELO, Web of Science e Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature (Cinahl). Para a pesquisa usaram-se os descritores “aleitamento materno” (breast feeding), “papel profissional” (professional role) e “equipe de assistência ao paciente” (patient care team). A busca limitou-se aos artigos em português, espanhol e inglês e compreendeu os anos de publicação entre 1997 e 2013.

Síntese dos dados:  A pesquisa encontrou 1.396 estudos, dentre os quais foram selecionados 18 que contemplavam a pergunta norteadora. A pesquisa revelou que a amamentação é um desafio para o profissional de saúde, independentemente da área de atuação, uma vez que ele se depara com uma demanda para a qual não foi preparado e que exige sensibilidade e habilidade em seu trato. Os profissionais de saúde têm considerado a amamentação como um ato puramente instintivo e biológico. Além disso, nota-se que muitos têm domínio teórico do assunto, mas ausência do domínio prático.

Conclusões:  Os profissionais de saúde precisam ser mais bem capacitados para trabalhar com a promoção do aleitamento materno, seja por meio das instituições de ensino e formação, seja por gestores da saúde, a fim de consolidar equipes multiprofissionais comprometidas com a saúde materno-infantil.

PALAVRAS-CHAVE Aleitamento materno; Papel profissional; Equipe de assistência ao paciente

Abstract

Objective:  To review the literature in order to evaluate how health professionals promote and support breastfeeding.

Data sources:  Studies from the following databases were retrieved: Scopus, PubMed, MEDLINE, Lilacs, SciELO, Web of Science and Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature (Cinahl). The descriptors “breastfeeding”, “professional role” and “patient care team” were used in the research. The review was limited to articles in Portuguese, Spanish, and English published between 1997 and 2013.

Data synthesis:  The search retrieved 1396 studies, 18 of which were selected for being directly relevant to the main question. The review showed that breastfeeding is a challenge for health professionals, regardless of their specialization, as they have to face a demand that requires skill and sensibility, for which they are not prepared. Health professionals have considered breastfeeding a purely instinctive and biological act. Moreover, it is noticeable that many of them possess theoretical expertise on the subject, but lack the practical skills.

Conclusions:  Health professionals need to be better trained to work on promoting breastfeeding, whether by health and medical schools or by healthcare administrators, in order to consolidate multiprofessional teams committed to maternal-infant health.

KEYWORDS Breastfeeding; Professional role; Patient care team

Introdução

No que tange à saúde da criança, a amamentação é fundamental devido aos seus benefícios nutricionais, emocionais, imunológicos, econômico-sociais e de aporte para o desenvolvimento, além dos benefícios à saúde materna. Infelizmente, é evidente o desmame precoce pelas nutrizes brasileiras, mas, com o intuito de promover a saúde materno-infantil nos últimos anos, aumentou-se o estimulo ao aleitamento materno por parte de profissionais, serviços de saúde e órgãos governamentais.1

No Brasil, verifica-se que embora a maioria das mulheres inicie o aleitamento materno, mais da metade das crianças já não se encontra em amamentação exclusiva no primeiro mês de vida. Apesar da tendência ascendente da prática da amamentação no país, estamos longe de cumprir a recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre a amamentação exclusiva até o sexto mês de vida e a continuidade do aleitamento materno até o segundo ano de vida ou mais.2

Rego3 aponta, como causa do desmame precoce, a desinformação da população em geral e, especialmente, a dos profissionais da área de saúde. Afirma, ainda, que o motivo alegado para o desmame é a recomendação da própria equipe de saúde. O percentual de difusão de informações errôneas se assemelha ao percentual de mães que abandonam a amamentação sob a alegação de que “o leite não sustenta”, o que evidencia a importância da capacitação dos profissionais de saúde para incrementar a prevalência do aleitamento materno.

Na experiência dos Hospitais Amigos da Criança, as dificuldades para cumprir os dez passos para o sucesso do aleitamento materno existem e variam de local para local. Porém, os resultados obtidos por meio do esforço multiprofissional demonstram a sua importância, não somente pela humanização do atendimento materno infantil, mas pelo aumento das taxas de aleitamento materno exclusivo que tem sido alcançado com esse programa. Portanto, o Departamento de Aleitamento Materno da Sociedade Brasileira de Pediatria, constituído de renomados especialistas na área, apoia e incentiva o programa Iniciativa Hospital Amigo da Criança no país como uma maneira eficiente de incentivar e promover o aleitamento materno.4

As ações de incentivo, promoção e apoio ao aleitamento materno devem ocorrer no conjunto das ações dos profissionais, durante o pré-natal, o pré-parto, o nascimento, assim como nas imunizações, teste do pezinho e retorno para a consulta de puerpério. É essencial que a equipe de saúde tenha o papel de acolhimento de mães e bebês, disponível para escuta e para o esclarecimento de dúvidas e aflições, incentive a troca de experiências e faça, sempre que necessário, uma avaliação singular de cada caso.5

Para obter informação precisa e real em relação à saúde da comunidade, é preciso colocar em relevo as características pessoais, humanas e interdisciplinares de formação dos profissionais que atuam na área da saúde. A valorização do profissional por meio de sua qualificação e o conhecimento do perfil de cada membro da equipe tornam-se essenciais para um desempenho adequado, melhorar o atendimento e, consequentemente, a saúde do usuário.6

O trabalho em equipe, o aperfeiçoamento individual em habilidades múltiplas no contexto interdisciplinar e a cooperação entre profissionais são fundamentais para a fluidez do serviço de saúde. Atualmente, as equipes estão conquistando espaços nas organizações de serviço graças à forma eficiente de estruturação organizacional e de aproveitamento das habilidades humanas. Uma visão mais global e coletiva do trabalho torna-se necessária para um melhor aproveitamento das qualidades dos profissionais em relação à saúde materno-infantil.7

Faz-se necessário discutir as demandas da assistência em amamentação e se há ações práticas por tais atores, além de verificar se estão capacitados para solucionar tal demanda. Objetiva-se neste estudo conhecer as peculiaridades apontadas pela literatura sobre a importância e influência dos profissionais de saúde na promoção do aleitamento materno.

Método

Revisão integrativa, que delimitou as seguintes etapas percorridas: 1) identificação do problema ou da temática (elaboração da pergunta norteadora, estabelecimento de descritores e dos critérios para inclusão/exclusão de artigos); 2) amostragem (seleção dos artigos); 3) categorização dos estudos; 4) definição das informações a serem extraídas dos trabalhos revisados; 5) análise e discussão a respeito das tecnologias usadas/desenvolvidas; 6) síntese do conhecimento evidenciado nos artigos analisados e apresentação da revisão integrativa.8,9

Estabeleceu-se a seguinte pergunta norteadora: “Quais são as peculiaridades apontadas pela literatura sobre a importância de profissionais de saúde na promoção do aleitamento materno?” Os critérios de inclusão adotados pelo presente estudo foram: a publicação ter como temática a promoção do aleitamento materno pelos profissionais de saúde; publicações classificadas como artigo original e revisões bibliográficas, com no máximo 20 anos de publicação, divulgadas em língua inglesa, espanhola e portuguesa; publicações completas com resumos disponíveis e indexados nas bases de dados: Scopus, PubMed, Lilacs, Medline, SciELO, Web of Science e Cinahl. Foram excluídos os editoriais, as cartas ao editor, os estudos reflexivos, bem como estudos que não abordassem a temática relevante ao objetivo da revisão.

A pesquisa nas bases de dados foi feita de julho a outubro de 2013 e foi usada a terminologia em saúde consultada nos Descritores em Ciências da Saúde (DECS) e no Medical Subject Headings (MeSH), pelos quais se identificaram os respectivos descritores: aleitamento materno (breast feeding), papel profissional (professional role) e equipe de assistência ao paciente (patient care team).

As referências foram examinadas mediante um formulário adaptado de Ursi.10 Esse possibilitou a análise em relação aos seguintes aspectos: identificação do estudo (título do artigo, título do periódico, autores, país, idioma, ano de publicação); revista científica; e características metodológicas do estudo (tipo de publicação, tecnologia usada/desenvolvida, e público-alvo das mesmas). Os artigos foram organizados por ano de publicação e classificados por níveis de evidência (de I a VI, I o maior), segundo Stetler et al.11 (tabela 1). A análise da qualidade dos artigos foi feita por dois avaliadores independentes, os quais obtiveram concordância na classificação.

Tabela 1
Síntese dos principais resultados dos estudos relacionados à prática de profissionais de saúde no apoio à amamentação

A seguir foram extraídos os principais dados com o uso do instrumento supracitado.10 O objetivo dessa etapa foi organizar e resumir as informações de apoio ao aleitamento materno pelos profissionais de saúde de maneira concisa e formar um banco de dados de fácil acesso e manejo. As informações abrangeram a amostra do estudo, os objetivos, a metodologia empregada, os resultados e as principais conclusões de cada estudo.

Assim, após o percurso metodológico descrito, foram selecionados os artigos que contemplavam a pergunta norteadora do presente trabalho, bem como os que atendiam aos critérios previamente estabelecidos. Respeitaram-se os aspectos éticos relativos à feitura de pesquisas científicas. A análise das ações de apoio ao aleitamento materno por parte dos profissionais de saúde ocorreu mediante avaliação da metodologia de cada artigo e observou-se a composição da equipe profissional envolvida, além das demandas da assistência nessa área e a prática feita por tais atores.

Resultados

Foram localizados 1.396 estudos distribuídos nas bases de dados usadas. Desse total, foram rejeitados 1.342 em razão de incongruência com a temática de promoção do aleitamento materno pelos profissionais de saúde. Nenhum estudo localizado nas bases de dados Cinahl e Web of Science foi usado, pois não abordavam o apoio ao aleitamento materno por profissionais de saúde. Na presente revisão integrativa, portanto, foram potencialmente relevantes para ser analisados 27 estudos, advindos da leitura e análise dos títulos e resumos, mas nove não atendiam aos critérios de inclusão e foram também rejeitados. Foram finalmente usados na presente pesquisa 18 artigos. (fig. 1)

Figura 1
Etapas de inclusão e exclusão de estudos.

Quanto ao tipo de delineamento dos estudos avaliados, evidenciou-se na amostra o predomínio de artigos qualitativos descritivos e revisões. Quanto ao idioma, verifica-se que a língua inglesa foi a mais frequente (60,0%), seguida da língua portuguesa (40%). Os artigos encontrados compreendem os anos de publicação de 1997 a 2013 e estão apresentados na tabela 1. Os resultados da revisão estão relatados a seguir.

Segundo Dykes,12 ao mesmo tempo em que os profissionais de saúde influenciam positivamente as mulheres que amamentam, podem também ser uma fonte de suporte negativo quando proporcionam às pacientes informações inconsistentes e recomendações inadequadas. Informações conflitantes e, de fato, conselhos imprecisos são repetidamente referidos em relação às práticas hospitalares. Moran et al.13 reforçam que os profissionais de saúde têm sido frequentemente identificados como inadequados para apoiar a amamentação por fornecerem informações contraditórias e até mesmo enganosas.

Em uma análise feita por Yaman e Akçam,14sobre a influência do nível de conhecimento e das atitudes de promoção do aleitamento materno no contexto familiar dos profissionais, observou-se que o grau de instrução teórico deles não se traduziu a favor da prática da amamentação no cotidiano de sua própria família.

Segundo Barclay et al.15 e Brow et al.,16 um elemento a se considerar é que, embora o profissional desempenhe um papel importante no estímulo inicial à amamentação, essa não é uma influência única, pois o papel da família e dos amigos pode ser maior. Por outro lado, Caminha et al.17 relatam que é importante o profissional de saúde considerar a “bagagem cultural” materna como uma influência na decisão de amamentar. Contudo, o profissional deve se dispor a partilhar seu saber com a família e formar uma rede social que dê apoio e suporte à nutriz para superar os obstáculos.

Os membros que compõem a rede social da nutriz, dentre eles os profissionais de saúde, são capazes de exercer interferência na decisão de amamentar, como o incentivo e apoio à iniciativa, o repasse de conhecimentos e valores culturais ou o repasse de tradições familiares aliadas ao cultivo do desinteresse e o desestímulo, devido à pressão exercida sobre a lactante em relação à forma de alimentar a criança.18 Diante disso, Marques et al.18 inferem sobre a necessidade de implantação de novas práticas de saúde no que tange à forma de cuidado com esse grupo populacional.

Um aspecto relevante é a maneira como os profissionais de saúde abordam as mulheres e seus parentes, pois nem sempre as dúvidas e aflições desses são colocadas de maneira espontânea. Instituições como a OMS e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) preconizam que, para que essa abordagem seja feita de uma maneira efetiva, é necessário usar habilidades de aconselhamento como: escutar, compreender e oferecer ajuda às mães que estão amamentando, fortalecê-las para lidar com pressões, promover sua autoconfiança e autoestima e prepará-las para a tomada de decisões.4

Brow et al.16 concluem que as mães sofrem várias influências sobre a decisão de amamentar, como falta de conhecimento e motivação, facilidade do uso de fórmulas infantis, dentre outras, e embora os profissionais estejam dispostos a apoiar, se deparam com a falta de tempo e recursos para tal. Fica evidente a necessidade de se oferecer um suporte consistente, aumentar o número de profissionais envolvidos para aprimorar o tempo e oferecer recursos materiais para facilitar o manejo. Apenas assim será possível capacitá-los e oferecer apoio à prática do aleitamento materno.

Um estudo de Marinho e Leal,19 com o objetivo de investigar as atitudes de profissionais de saúde em relação ao aleitamento materno, verificou diferenças estatísticas em decorrência da profissão, do local de trabalho e da especialidade de enfermagem. Os enfermeiros demonstraram atitudes mais positivas do que médicos e docentes. Watkins e Dodgson20 observaram que o conhecimento atribuído à enfermagem por meio de capacitações tem implicações positivas para prática e é um fator importante no apoio a uma mãe na decisão de amamentar. No entanto, as mulheres frequentemente relatam receber informações escassas sobre o ato de amamentar por profissionais de saúde, incluindo o seu médico.

Caldeira et al.21 relatam em seu estudo, pautado na análise do desempenho de profissionais em testes de conhecimento específicos em aleitamento materno por meio de questionário oferecido a 41 profissionais de nível superior e a 152 de nível médio, que, na maioria dos casos, os profissionais de saúde têm o conhecimento teórico das vantagens do aleitamento materno. Na análise dos dados dos questionários evidenciou-se uma média superior a 80% para todas as categorias profissionais considerada satisfatória. Todavia, o desempenho abaixo de 50% para os médicos em relação à técnica da amamentação e ao manejo dos principais problemas da lactação demonstra que tais profissionais ainda têm pouca sustentação científica para abordar questões mais complexas e não conseguem oferecer suporte adequado às mães com maiores dificuldades em amamentar.

Por meio de uma entrevista semiestruturada feita com cinco auxiliares de enfermagem, seis médicos residentes e duas enfermeiras em um centro obstétrico sobre o conhecimento dos “Dez passos para o sucesso da amamentação da Iniciativa Hospital Amigo da Criança”, Silvestre et al.22verificaram que quase metade dos profissionais não foi capaz de relatar pelo menos um passo. Considerando-se que esse assunto deveria ser familiar para os profissionais de instalações hospitalares, pode-se afirmar que o déficit de conhecimento é considerável. Por isso, em alguns casos, apesar da boa intenção transmitida pelo profissional de saúde, as mães sentem que não receberam apoio suficiente ou atribuem a culpa a um profissional, em vez de a si mesmas.

As práticas de aleitamento materno, longe de se constituir um processo individual que envolveo apenas mãe e filho, são o resultado da dinâmica do hospital, que também inclui as atitudes do pessoal de saúde. Existem obstáculos aos “Dez passos para o sucesso da amamentação” que são superáveis, apesar das condições desfavoráveis que os hospitais públicos oferecem atualmente.23

Em uma pesquisa feita por Manzini et al.24 na sala de parto de um hospital foi destacado que a maioria dos profissionais envolvidos tinha conhecimento a respeito dos “dez passos” e consideravam importante a amamentação na sala de parto, pelos benefícios trazidos para o binômio, principalmente a formação de vínculo e apego entre ambos. Contudo, dentre as dificuldades vivenciadas pelos profissionais, destacam-se o parto cesáreo e a falta de capacitação em aleitamento materno. Os entrevistados ressaltaram a necessidade de maior integração entre a equipe e que as orientações deveriam ser iniciadas no pré-natal. Essa atividade deve ser continuada e os profissionais devem ser estimulados a apoiar essa causa e tornar-se, assim, amigos da criança.24

Meier et al.25 ressaltam que o aleitamento materno ainda não tem prioridade se comparado com outras terapias nutricionais nas Unidades de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN). Membros das equipes de UTIN e pacientes têm informações inconsistentes, aliadas à falta de informações sobre o manejo da lactação para aprimorar a dose e o período de exposição das mamadas. As evidências para o uso de leite humano na UTIN são convincentes, mas a tradução dessa evidência em melhores práticas, ferramentas, políticas, procedimentos e pontos de discussão é ainda limitada.25

Caminha et al.17 averiguaram que diante das dificuldades maternas enfrentadas no início da amamentação, o profissional de saúde, além do conhecimento teórico e das competências clínicas em aleitamento materno, necessita de habilidades de comunicação. Para adquirir essa habilidade, é importante diferenciar entre o simples ato de aconselhar e o aconselhamento. Se aconselhar é dizer o que se deve fazer, aconselhamento é uma forma de atuação em que o profissional escuta e compreende e, dessa forma, oferece ajuda para que a mãe planeje, tome decisões e se fortaleça para lidar com pressões e aumentar sua autoestima e autoconfiança.

Araújo e Almeida26 analisam a amamentação como um grande desafio para o profissional de saúde, uma vez que ele se depara com uma demanda para a qual não foi preparado e que exige sensibilidade e habilidade no seu trato. É importante a capacitação periódica do profissional de saúde para atuar na assistência em amamentação, em uma abordagem que ultrapasse as fronteiras do biológico e compreenda a nutriz em todas as suas dimensões do “ser mulher”. Fica evidente que o profissional de saúde orienta suas ações de incentivo ao aleitamento e entende esse fenômeno como um ato natural, decorrente do instinto materno, apesar de reconhecer que esse processo é determinado por objetos sociais do contexto familiar.26

Hoddinott et al.,27 em seu estudo, concluem que se torna fundamental incluir no ensino técnico e superior o tema “amamentação” em caráter específico e multidisciplinar e estabelecer normas nacionais para a educação, com financiamento designado e participação de especialistas. Há a hipótese de que, ao envolver uma equipe multidisciplinar na implantação de um apoio mais efetivo ao aleitamento materno, uma intervenção que envolva vários profissionais pode ser mais eficaz do que uma abordagem especialista. Relações entre profissionais da saúde podem ser um fator importante no sucesso de intervenções positivas na promoção do aleitamento materno. Profissionais de saúde podem sentir-se mais capacitados se conhecimentos e experiências forem partilhados dentro e entre as equipes.

Discussão

Os estudos analisados demonstram, em sua maioria, que o profissional de saúde não está capacitado para a promoção do aleitamento materno. Idealmente, todos os profissionais de saúde com os quais as gestantes e puérperas entram em contato deveriam estar comprometidos com a promoção do aleitamento e capacitados a fornecer informações apropriadas, além de demonstrar habilidade prática no manejo da amamentação.

No entanto, os estudos encontrados não apresentam um método de avaliação em comum, que seja específico e capaz de analisar a habilidade prática do manejo do aleitamento por uma equipe multiprofissional, além de não propor soluções, o que prejudica a discussão dos achados. Talvez o fato se justifique pela pouca valorização e nova perspectiva de atuação multiprofissional.

No atual cenário das dificuldades na amamentação, o aconselhamento dos profissionais de saúde é de fundamental importância para o auxílio à superação das dificuldades pré-estabelecidas. Ele deve ocorrer em diferentes momentos: no pré-natal, na sala de parto, no alojamento conjunto e no puerpério. Essas informações e orientações devem se estender também à rede de apoio familiar, pois uma mãe que não amamenta facilmente perde a confiança em si mesma e torna-se suscetível à pressão de parentes e conhecidos, além de repassar essa angústia a outras nutrizes. Ainda assim, mesmo que determinada mãe seja profissional de saúde, ela também está sujeita às mesmas pressões familiares, sociais e emocionais. Por isso se faz necessário intervir da mesma forma que as demais, pois o aconselhamento profissional vem para reforçar a autoestima e confiança na capacidade de amamentar.17,28

O que se observa rotineiramente dentro dos serviços de saúde é o trabalho isolado dos profissionais, cada qual desenvolve sua função de forma isolada e sem interação com a equipe de saúde. Muitas vezes a falta de uma abordagem comum, coordenação e cooperação entre os profissionais é problema persistente que atrapalham a confiança das mulheres em relação à amamentação. A falta de orientação materna adequada, como um fator contribuinte para diminuição da duração do aleitamento materno, é uma questão agravante principalmente para adolescentes e mães iniciantes que pretendem amamentar, menos propensas a iniciar ou sustentar a amamentação.

Os profissionais de saúde, dentre eles médicos, enfermeiros, nutricionistas, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, dentre outros, e mais especificamente o médico ginecologista e obstetra, por ter maior contato com a gestante no pré-natal, assim como o médico pediatra, precisam todos compreender a amamentação como um processo biopsicossocial, dinâmico, relacional e suas mudanças ao longo do tempo. As pessoas respeitam muito a figura do médico como detentor de conhecimento e depositam sua confiança no aconselhamento feito por eles. Assim, a amamentação é um processo que deve ser muito valorizado e incluído nas consultas.

As mães procuram o profissional para solucionar os seus problemas relacionados ao aleitamento, mas o profissional geralmente impõe tantas normas e regras que não contemplam sua realidade e isso acaba gerando medo e insegurança na nutriz. Na rotina da mãe, torna-se necessário sair do que é teorizado e contemplar o que ela vive dentro da sua realidade, além de ajudá-la a promover reflexões em relação à melhor atitude a ser tomada, na tentativa de melhorar seus anseios e promover a prática saudável do aleitamento materno para seu filho.

Todos os profissionais, sem exceção, deveriam ser contemplados em suas disciplinas de formação, com módulos que demonstrassem a importância de se abrangerem parâmetros interdisciplinares de colaboração com o aleitamento materno. As instituições de ensino precisam contribuir para esse processo.

Quando os profissionais de saúde estão confiantes em suas próprias habilidades para apoiar as mulheres que amamentam, tornam-se mais propensos a promover positivamente o aleitamento materno e oferecer apoio às mães. A assistência ao aleitamento materno descortina um universo multiprofissional, em que a atuação desses diversos atores constitui-se objeto de pesquisa.

Considerações finais

A literatura não expõe de forma clara a relevância dos profissionais de saúde em torno da promoção do aleitamento materno. Há poucos estudos que demonstrem o papel dos profissionais de saúde que podem constituir uma equipe de apoio à amamentação, incluindo elementos de educação, resolução de problemas e suporte adequado. A falta de preparo dos profissionais de saúde para lidar com o fator amamentação ficou evidente nos estudos analisados e, principalmente, a figura do médico, que deveria ser o protagonista em defesa da saúde por meio do aleitamento materno.

Pode-se concluir que os profissionais de saúde precisam ser mais bem capacitados para trabalhar com aleitamento materno. Sugere-se um maior incentivo por parte dos gestores (municipais, estaduais e federais) em formar equipes multiprofissionais compromissadas com a saúde materno-infantil e a melhoria na abordagem de conteúdos programáticos teórico-práticos nas instituições de ensino técnico e superior.

O incentivo ao aleitamento materno deve acontecer por meio de melhorias e mudanças por parte de todas as equipes profissionais. São necessárias modificações principalmente nas rotinas dos hospitais e deve-se estabelecer a implantação dos “Dez passos para o sucesso da amamentação”. Esses passos norteiam e reforçam o apoio efetivo ao aleitamento materno, além de ser um dos requisitos para implantação do Hospital Amigo da Criança.

  • Financiamento
    O estudo não recebeu financiamento.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jul-Sep 2015

Histórico

  • Recebido
    11 Jun 2014
  • Aceito
    14 Out 2014
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