Acessibilidade / Reportar erro

COQUELUCHE GRAVE NA INFÂNCIA: ATUALIZAÇÃO E CONTROVÉRSIAS - REVISÃO SISTEMÁTICA

RESUMO

Objetivo:

Rever os conceitos de coqueluche grave, atualizar epidemiologia, fisiopatologia e apresentação clínica, verificar as recomendações de antibioticoterapia e conhecer opções terapêuticas auxiliares na sintomatologia e complicações, por meio de revisão sistemática.

Fontes de dados:

Foram pesquisados trabalhos publicados nos últimos 30 anos nas bases US National Library of Medicine (PubMed), Scientific Electronic Library Online (SciELO), Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Cochrane e Google Scholar, bem como protocolos do Ministério da Saúde e recomendações do Centers for Disease Control and Prevention, relacionados à coqueluche na infância, com ênfase na forma grave. Apesquisa baseou-se em palavras-chave derivadas dos termos “coqueluche”, “azitromicina”, “antitussígenos” e “redução de leucócitos”, nos idiomas português e inglês. Foramexcluídos estudos em duplicata ou texto integral indisponíveis.

Síntese dos dados:

Dos 556 registros encontrados, foram selecionados 54 para análise. A coqueluche, como doença reemergente, tem acometido todas as faixas etárias, evidenciando a imunidade transitória conferida pela infecção e pela vacinação. Quadros graves ocorrem em neonatos e lactentes, com complicações virais e bacterianas secundárias e pertussis maligna, com hiperleucocitose, insuficiência respiratória e choque refratário. Os macrolídeos continuam como antibióticos de escolha. Os sintomáticos da tosse não demonstraram eficácia. O suporte precoce em Unidade de Terapia Intensiva melhorou o prognóstico dos casos graves e a exsanguineotransfusão se mostrou a mais promissora entre os procedimentos para leucorredução.

Conclusões:

A abordagem da coqueluche grave na infância segue como desafio diagnóstico e terapêutico. As opções terapêuticas disponíveis ainda são insatisfatórias. Espera-se que as estratégias de prevenção reduzam a ocorrência de casos graves e que novos estudos confirmem o papel das terapias adjuvantes.

Palavras-chave:
pertussis; Coqueluche; Macrolídeos; Antitussígenos; Leucocitose; Tomada de decisões

ABSTRACT

Objective:

Through a systematic review, this essay aimed at revising the concepts of severe pertussis, updating the epidemiology, pathophysiology, clinical presentation, antibiotic therapy and auxiliary therapeutic options for symptomatology and complications.

Data sources:

This review considered publications from the last 30years in the databases US National Library of Medicine (PubMed), Scientific Electronic Library Online (SciELO), Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Cochrane, Google Scholar, as well as protocols of the Ministry of Health and recommendations of the Centers for Disease Control and Prevention, related to childhood pertussis (whooping cough), with emphasis on its severe form. This research was based on keywords derived from the terms “pertussis”, “azithromycin”, “antitussives”, “leukocyte reduction” in Portuguese and English. Duplicate studies and those with unavailable full-text were excluded.

Data synthesis:

Among 556 records found, 54 were selected for analysis. Pertussis, as a reemerging disease, has affected all age groups, evidencing the transient immunity conferred by infection and vaccination. Severe cases occur in neonates and infants, with secondary viral and bacterial complications and malignant pertussis, a longside hyperleukocytosis, respiratory failure and shock. Macrolides continue to be the chosen antibiotics, while antitussives for coughing remain without efficacy. The prompt treatment in Intensive Care Units improved the prognostic in severe cases, and transfusion was promising among procedures for leukoreduction.

Conclusions:

Approaching severe pertussis in childhood remains a challenge for diagnostic and therapy, as the available therapeutic options are still unsatisfactory. Strategies of prevention are expected to reduce the occurrence of severe cases, while new studies should confirm the role of auxiliary therapies.

Keywords:
pertussis; Whooping cough; Macrolides; Antitussives agents; Leukocytosis; Decision making

INTRODUÇÃO

A coqueluche é uma doença comum, que afeta todas as faixas etárias. Crianças pequenas podem desenvolver complicações graves como apneia, cianose, pneumonia, hipertensão pulmonar, insuficiência respiratória e convulsões.11. Torres SL, Santos TZ, Torres RA, Pereira VV, Fávero LA, Filho OR, et al. Resurgence of pertussis at the age of vaccination: clinical, epidemiological, and molecular aspects. J Pediatr (Rio J). 2015;91:333-8.,22. Lynfield R, Schaffner W. Can we conquer coqueluche? J Infect Dis. 2014;209 (Suppl 1):S1-3. Na última década, o Brasil e o mundo foram surpreendidos pelo aumento da incidência, especialmente em lactentes não vacinados.11. Torres SL, Santos TZ, Torres RA, Pereira VV, Fávero LA, Filho OR, et al. Resurgence of pertussis at the age of vaccination: clinical, epidemiological, and molecular aspects. J Pediatr (Rio J). 2015;91:333-8.,22. Lynfield R, Schaffner W. Can we conquer coqueluche? J Infect Dis. 2014;209 (Suppl 1):S1-3.,33. Cherry JD. Pertussis: challenges today and for the future. PLoS Pathog. 2013;9:e1003418. Nos adolescentes e nos adultos, a coqueluche passou a ter apresentações clínicas atípicas, sendo as mães infectadas a principal fonte de transmissão.22. Lynfield R, Schaffner W. Can we conquer coqueluche? J Infect Dis. 2014;209 (Suppl 1):S1-3.,33. Cherry JD. Pertussis: challenges today and for the future. PLoS Pathog. 2013;9:e1003418.,44. Mattoo S, Cherry JD. Molecular pathogenesis, epidemiology, and clinical manifestations of respiratory infections due to Bordetella pertussis and other Bordetella subspecies. Clin Microbiol Rev. 2005;18:326-82. Desafiadorapara profissionais de saúde, a coqueluche sofreu mudanças no perfil epidemiológico, diagnóstico e tratamento.22. Lynfield R, Schaffner W. Can we conquer coqueluche? J Infect Dis. 2014;209 (Suppl 1):S1-3.,33. Cherry JD. Pertussis: challenges today and for the future. PLoS Pathog. 2013;9:e1003418.,55. Bellettini CV, Oliveira AW, Tusset C, Baethgen LF, Amantéa SL, Motta F, et al. Preditores clínicos, laboratoriais e radiográficos para infecção por Bordetella pertussis. Rev Paul Pediatr. 2014;32:292-8. As formas graves têm recebido atenção especial, com incentivo de pesquisas sobre suporte precoce em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) e tratamentos complementares, como exsanguinotransfusão e terapias potenciais em experimentação; imunossupressores e moduladores aniônicos, ainda sem consenso.66. Zlamy M. Rediscovering Pertussis. Front Pediatr. 2016;4:52.,77. Scanlon KM, Skerry C, Carbonetti NH. Novel therapies for the treatment of pertussis disease. Pathog Dis. 2015;73:ftv074. Assim, este artigo teve como objetivos rever conceitos de coqueluche grave, atualizar a epidemiologia, apresentação clínica, diagnóstico, antibioticoterapia, opções terapêuticas sintomáticas e complicações, por meio de revisão sistemática.

MÉTODO

Foi realizada revisão sistemática da literatura pela estratégia PICO, Conceitos historicamente definidos e abordagens terapêuticas antigas e atuais da coqueluche foram utilizados como perguntas norteadoras para a busca bibliográfica, que foi realizada por dois pesquisadores independentes. O descritor “Coqueluche/WhoopingCoughpertussis” [AllFields] foi utilizado para a busca de publicações relevantes, em menores de 18 anos, nos últimos 30 anos, nas bases de dados US National Library of Medicine (PubMed), Scientific Electronic Library Online (SciELO), Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Cochrane e Google Scholar. Foram incluídos estudos com níveis de evidência 1A, 1B, 2A, 2B, 3A, 3B e 4, escritos em português e inglês, protocolos do Ministério da Saúde (MS) e recomendações do Centers for Disease Control and Prevention (CDC). Inicialmente, foram selecionados 556 trabalhos. Os critérios de inclusão foram: estudos com informações epidemiológicas, métodos diagnósticos, tratamentos específicos e de suporte, letalidade ou prevenção. Após exclusão de registros em duplicata e leitura do texto integral, e conforme a concordância dos revisores, permaneceram 54 artigos, dos quais foram extraídos os pontos relevantes para análise (Figura 1).

Figura 1
Fluxograma do método e dos critérios de seleção dos estudos incluídos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Aspectos epidemiológicos

A coqueluche é uma doença de distribuição mundial, com ciclos epidêmicos a cada três ou cinco anos.11. Torres SL, Santos TZ, Torres RA, Pereira VV, Fávero LA, Filho OR, et al. Resurgence of pertussis at the age of vaccination: clinical, epidemiological, and molecular aspects. J Pediatr (Rio J). 2015;91:333-8.,55. Bellettini CV, Oliveira AW, Tusset C, Baethgen LF, Amantéa SL, Motta F, et al. Preditores clínicos, laboratoriais e radiográficos para infecção por Bordetella pertussis. Rev Paul Pediatr. 2014;32:292-8.,88. Kilgore PE, Salim AM, Zervos MJ, Schmitt HJ. Pertussis: microbiology, disease, treatment, and prevention. Clin Microbiol Rev. 2016;29:449-86. Estima-se incidência global de 16 milhões de casos anuais e cerca de 200 mil óbitos, ocupando o quinto lugar entre as causas de morte por doenças imunopreveníveis em menores de cinco anos.22. Lynfield R, Schaffner W. Can we conquer coqueluche? J Infect Dis. 2014;209 (Suppl 1):S1-3.,66. Zlamy M. Rediscovering Pertussis. Front Pediatr. 2016;4:52.,88. Kilgore PE, Salim AM, Zervos MJ, Schmitt HJ. Pertussis: microbiology, disease, treatment, and prevention. Clin Microbiol Rev. 2016;29:449-86.,99. Korppi M. Whooping cough - still a challenge. J Pediatr (Rio J). 2013;9:89:520-2. O período de incubação dura de cinco a 10 dias e o período de transmissibilidade inicia-se 5-7 dias após o contato, persistindo por três semanas, quando não tratada.22. Lynfield R, Schaffner W. Can we conquer coqueluche? J Infect Dis. 2014;209 (Suppl 1):S1-3.,1010. Brasil. Ministério da Saúde. Coqueluche. Guia de vigilância em saúde. Brasília: Ministério da Saúde; 2014. p.87-104. Com antibioticoterapia adequada, a transmissão interrompe-se após 5-7 dias.1111. Dierig A, Beckmann C, Heininger U. Antibiotic treatment of pertussis: are 7 days really sufficient? Pediatr Infect Dis J. 2015;34:444-5. A infecção é adquirida pelo contato com secreções de nasofaringe de pessoas infectadas.33. Cherry JD. Pertussis: challenges today and for the future. PLoS Pathog. 2013;9:e1003418.,88. Kilgore PE, Salim AM, Zervos MJ, Schmitt HJ. Pertussis: microbiology, disease, treatment, and prevention. Clin Microbiol Rev. 2016;29:449-86.,1212. Brasil. Ministério da Saúde. Guia de Vigilância em Saúde. Brasília: Ministério da Saúde; 2016. Portadores assintomáticos são raros e sem importância na cadeia epidemiológica.66. Zlamy M. Rediscovering Pertussis. Front Pediatr. 2016;4:52.,1212. Brasil. Ministério da Saúde. Guia de Vigilância em Saúde. Brasília: Ministério da Saúde; 2016.,1313. Munoz FM. Pertussis in infants, children, and adolescents: diagnosis, treatment, and prevention. Semin Pediatr Infect Dis. 2006:17:14-9. Altamente contagiosa, a coqueluche apresenta taxa de ataque secundário de até 90% nos contatos intradomiciliares suscetíveis.55. Bellettini CV, Oliveira AW, Tusset C, Baethgen LF, Amantéa SL, Motta F, et al. Preditores clínicos, laboratoriais e radiográficos para infecção por Bordetella pertussis. Rev Paul Pediatr. 2014;32:292-8.,66. Zlamy M. Rediscovering Pertussis. Front Pediatr. 2016;4:52.,88. Kilgore PE, Salim AM, Zervos MJ, Schmitt HJ. Pertussis: microbiology, disease, treatment, and prevention. Clin Microbiol Rev. 2016;29:449-86.

Na segunda metade do século XX, a imunização de crianças com vacina tríplice bacteriana de células inteiras, combinada com os toxoides tetânico e diftérico (DPT), permitiu o controle da doença, determinando queda drástica nas taxas de incidência, de 200 casos antes de 1940 para 0,5 caso/100 mil habitantes em 2000.22. Lynfield R, Schaffner W. Can we conquer coqueluche? J Infect Dis. 2014;209 (Suppl 1):S1-3.,33. Cherry JD. Pertussis: challenges today and for the future. PLoS Pathog. 2013;9:e1003418.,44. Mattoo S, Cherry JD. Molecular pathogenesis, epidemiology, and clinical manifestations of respiratory infections due to Bordetella pertussis and other Bordetella subspecies. Clin Microbiol Rev. 2005;18:326-82.,66. Zlamy M. Rediscovering Pertussis. Front Pediatr. 2016;4:52. No Brasil, houve redução semelhante de incidência, especialmente a partir da década de 1990.11. Torres SL, Santos TZ, Torres RA, Pereira VV, Fávero LA, Filho OR, et al. Resurgence of pertussis at the age of vaccination: clinical, epidemiological, and molecular aspects. J Pediatr (Rio J). 2015;91:333-8.,66. Zlamy M. Rediscovering Pertussis. Front Pediatr. 2016;4:52.,1212. Brasil. Ministério da Saúde. Guia de Vigilância em Saúde. Brasília: Ministério da Saúde; 2016.,1414. McGirr A, Fisman DN. Duration of pertussis immunity after DTaP immunization: a meta-analysis. Pediatrics. 2015;135:331-43.,1516. Centers for Diseases Control and Prevention. [homepage on the Internet]. Pertussis (Whooping Cough) [cited 2016 Dec 20]. Available from: http://www.cdc.gov/vaccines/vpd-vac/pertussis.
http://www.cdc.gov/vaccines/vpd-vac/pert...

Embora segura, a vacina DPT causa efeitos adversos indesejáveis. Essa reatogenicidade impulsionou a busca por novas vacinas, que surgiram na década de 1990: DTPa (tríplice bacteriana acelular) e dTpa (tríplice bacteriana acelular para uso em adolescentes e adultos), que passaram a ser utilizadas em países desenvolvidos.1414. McGirr A, Fisman DN. Duration of pertussis immunity after DTaP immunization: a meta-analysis. Pediatrics. 2015;135:331-43.,1616. Centers for Diseases Control and Prevention. [homepage on the Internet]. Pertussis (Whooping Cough) [cited 2016 Dec 20]. Available from: http://www.cdc.gov/vaccines/vpd-vac/pertussis.
http://www.cdc.gov/vaccines/vpd-vac/pert...
A imunidade vacinal diminui com o tempo, sendo de 5-14 anos para vacina DPT e de 4-7 anos para DTPa, a depender da idade de vacinação.44. Mattoo S, Cherry JD. Molecular pathogenesis, epidemiology, and clinical manifestations of respiratory infections due to Bordetella pertussis and other Bordetella subspecies. Clin Microbiol Rev. 2005;18:326-82.,88. Kilgore PE, Salim AM, Zervos MJ, Schmitt HJ. Pertussis: microbiology, disease, treatment, and prevention. Clin Microbiol Rev. 2016;29:449-86.,1414. McGirr A, Fisman DN. Duration of pertussis immunity after DTaP immunization: a meta-analysis. Pediatrics. 2015;135:331-43. No Brasil, a vacina tríplice bacterina de células inteiras contra difteria, coqueluche e tétano (DTP) é disponibilizada pelo Programa Nacional de Imunização do Ministério da Saúde, e a vacina adsorvida difteria, tétano, pertussis acelular (DTPa), nos Centros de Referência de Imunológicos Especiais (CRIE), em situações específicas e na rede particular.66. Zlamy M. Rediscovering Pertussis. Front Pediatr. 2016;4:52.,1010. Brasil. Ministério da Saúde. Coqueluche. Guia de vigilância em saúde. Brasília: Ministério da Saúde; 2014. p.87-104.,1515. Brasil. Ministério da Saúde. Informe técnico. Implantação da vacina adsorvida difteria, tétano e coqueluche (pertussis acelular) tipo adulto - dTpa. Brasília: Ministério da Saúde; 2014.

A partir de 2000, foi registrada reemergência da doença com perfil epidemiológico modificado: adoecimento de adolescentes e adultos e apresentações clínicas atípicas, sendo as mães infectadas a principal fonte de transmissão para os próprios filhos.11. Torres SL, Santos TZ, Torres RA, Pereira VV, Fávero LA, Filho OR, et al. Resurgence of pertussis at the age of vaccination: clinical, epidemiological, and molecular aspects. J Pediatr (Rio J). 2015;91:333-8.,22. Lynfield R, Schaffner W. Can we conquer coqueluche? J Infect Dis. 2014;209 (Suppl 1):S1-3.,33. Cherry JD. Pertussis: challenges today and for the future. PLoS Pathog. 2013;9:e1003418.,55. Bellettini CV, Oliveira AW, Tusset C, Baethgen LF, Amantéa SL, Motta F, et al. Preditores clínicos, laboratoriais e radiográficos para infecção por Bordetella pertussis. Rev Paul Pediatr. 2014;32:292-8.,1515. Brasil. Ministério da Saúde. Informe técnico. Implantação da vacina adsorvida difteria, tétano e coqueluche (pertussis acelular) tipo adulto - dTpa. Brasília: Ministério da Saúde; 2014.,1717. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Boletim Epidemiológico. Coqueluche no Brasil: análise da situação epidemiológica 2015. Brasília: Ministério da Saúde; 2015.,1818. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Boletim Epidemiológico. Coqueluche no Brasil: análise da situação epidemiológica de 2010 a 2014. Brasília: Ministério da Saúde; 2015. O Brasil observou fenômeno semelhante, embora mais tardio. Entre 2001 e 2010, o coeficiente de incidência se manteve abaixo de 0,5 caso/100 mil habitantes e, a partir de 2011, houve progressivo aumento de casos, chegando a 4,2 casos/100 mil habitantes em 2014, desencadeando ações de saúde pública.1010. Brasil. Ministério da Saúde. Coqueluche. Guia de vigilância em saúde. Brasília: Ministério da Saúde; 2014. p.87-104.,1515. Brasil. Ministério da Saúde. Informe técnico. Implantação da vacina adsorvida difteria, tétano e coqueluche (pertussis acelular) tipo adulto - dTpa. Brasília: Ministério da Saúde; 2014.,1717. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Boletim Epidemiológico. Coqueluche no Brasil: análise da situação epidemiológica 2015. Brasília: Ministério da Saúde; 2015.,1818. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Boletim Epidemiológico. Coqueluche no Brasil: análise da situação epidemiológica de 2010 a 2014. Brasília: Ministério da Saúde; 2015. O aumento dos óbitos também foi preocupante: no Brasil, foram registrados 14 óbitos em 2010 e 127 em 2014, dos quais 97% ocorreram em crianças de até dois meses de idade.11. Torres SL, Santos TZ, Torres RA, Pereira VV, Fávero LA, Filho OR, et al. Resurgence of pertussis at the age of vaccination: clinical, epidemiological, and molecular aspects. J Pediatr (Rio J). 2015;91:333-8.,1515. Brasil. Ministério da Saúde. Informe técnico. Implantação da vacina adsorvida difteria, tétano e coqueluche (pertussis acelular) tipo adulto - dTpa. Brasília: Ministério da Saúde; 2014.,1717. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Boletim Epidemiológico. Coqueluche no Brasil: análise da situação epidemiológica 2015. Brasília: Ministério da Saúde; 2015.,1818. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Boletim Epidemiológico. Coqueluche no Brasil: análise da situação epidemiológica de 2010 a 2014. Brasília: Ministério da Saúde; 2015. Essas informações estão detalhadas na Figura 2.

Figura 2
Coeficiente de incidência de coqueluche e cobertura vacinal. Brasil, 1990 a 2016.

As causas da reemergência não estão totalmente esclarecidas, sendo sugeridos diversos fatores, tais como modificações genéticas na Bordetella pertussis (B. pertussis), com maior virulência e contágio; seleção de cepas não reconhecidas pelas vacinas; diminuição da imunidade vacinal, deslocamento da doença para outras faixas etárias; proteção não permanente pela infecção natural; resposta menos robusta e duradoura pela vacina acelular em países que recomendam o uso dessa vacina; e introdução de métodos diagnósticos mais sensíveis.66. Zlamy M. Rediscovering Pertussis. Front Pediatr. 2016;4:52.,88. Kilgore PE, Salim AM, Zervos MJ, Schmitt HJ. Pertussis: microbiology, disease, treatment, and prevention. Clin Microbiol Rev. 2016;29:449-86.,1313. Munoz FM. Pertussis in infants, children, and adolescents: diagnosis, treatment, and prevention. Semin Pediatr Infect Dis. 2006:17:14-9.,1616. Centers for Diseases Control and Prevention. [homepage on the Internet]. Pertussis (Whooping Cough) [cited 2016 Dec 20]. Available from: http://www.cdc.gov/vaccines/vpd-vac/pertussis.
http://www.cdc.gov/vaccines/vpd-vac/pert...
,1919. Smith AM, Guzmán CA, Walker MJ. The virulence factors of Bordetella pertussis: a matter of control. FEMS Microbiol Rev. 2001;25:309-33.,2020. Wood N, McIntyre P. Pertussis: review of epidemiology, diagnosis, management and prevention. Paediatr Respir Rev. 2008;9:201-11.,2121. Locht C. Molecular aspects of Bordetella pertussis pathogenesis. Int Microbiol.1999;2:137-44.

Estudos investigaram o comportamento da resposta imunológica após a infecção natural e concluíram que a duração da imunidade induzida pela doença também não é permanente, mantendo-se por 4-20 anos.99. Korppi M. Whooping cough - still a challenge. J Pediatr (Rio J). 2013;9:89:520-2.,2121. Locht C. Molecular aspects of Bordetella pertussis pathogenesis. Int Microbiol.1999;2:137-44. A transferência de anticorpos maternos, adquiridos a partir da infecção prévia ou da vacinação na infância, não é suficiente para proteger o concepto e tampouco a lactação protege contra a doença.99. Korppi M. Whooping cough - still a challenge. J Pediatr (Rio J). 2013;9:89:520-2.,2121. Locht C. Molecular aspects of Bordetella pertussis pathogenesis. Int Microbiol.1999;2:137-44.

Considerando esse novo panorama, estratégias adicionais de prevenção foram propostas e, no Brasil, a vacina dTpa foi incorporada ao esquema vacinal de gestantes em 2014 com o objetivo de induzir a produção de altos títulos de anticorpos na gestante, possibilitando a transferência placentária de anticorpos ao feto, garantindo proteção nos primeiros meses de vida.66. Zlamy M. Rediscovering Pertussis. Front Pediatr. 2016;4:52.,1515. Brasil. Ministério da Saúde. Informe técnico. Implantação da vacina adsorvida difteria, tétano e coqueluche (pertussis acelular) tipo adulto - dTpa. Brasília: Ministério da Saúde; 2014.,1616. Centers for Diseases Control and Prevention. [homepage on the Internet]. Pertussis (Whooping Cough) [cited 2016 Dec 20]. Available from: http://www.cdc.gov/vaccines/vpd-vac/pertussis.
http://www.cdc.gov/vaccines/vpd-vac/pert...

Já a Estratégia Coccon, que consiste na vacinação de adultos comunicantes do bebê, incluindo familiares, cuidadores e profissionais de saúde, formando um “casulo” protetor até que se complete a imunização, foi parcialmente implantada no Brasil em 2014, com vacinação de profissionais diretamente relacionados à assistência neonatal.11. Torres SL, Santos TZ, Torres RA, Pereira VV, Fávero LA, Filho OR, et al. Resurgence of pertussis at the age of vaccination: clinical, epidemiological, and molecular aspects. J Pediatr (Rio J). 2015;91:333-8.,66. Zlamy M. Rediscovering Pertussis. Front Pediatr. 2016;4:52.,1515. Brasil. Ministério da Saúde. Informe técnico. Implantação da vacina adsorvida difteria, tétano e coqueluche (pertussis acelular) tipo adulto - dTpa. Brasília: Ministério da Saúde; 2014. Essas informações estão resumidas na Tabela 1.

Tabela 1
Categorização dos estudos sobre aspectos epidemiológicos, microbiológicos e de prevenção.

Aspectos clínicos

A coqueluche é causada pela bactéria B. pertussis,que diferentemente de outros patógenos, não invade tecidos e corrente sanguínea.11. Torres SL, Santos TZ, Torres RA, Pereira VV, Fávero LA, Filho OR, et al. Resurgence of pertussis at the age of vaccination: clinical, epidemiological, and molecular aspects. J Pediatr (Rio J). 2015;91:333-8.,22. Lynfield R, Schaffner W. Can we conquer coqueluche? J Infect Dis. 2014;209 (Suppl 1):S1-3. Os danos são localizados na árvore respiratória, decorrentes da produção de adesinas e toxinas, sendo a toxina pertussis a mais importante.22. Lynfield R, Schaffner W. Can we conquer coqueluche? J Infect Dis. 2014;209 (Suppl 1):S1-3.,44. Mattoo S, Cherry JD. Molecular pathogenesis, epidemiology, and clinical manifestations of respiratory infections due to Bordetella pertussis and other Bordetella subspecies. Clin Microbiol Rev. 2005;18:326-82.,66. Zlamy M. Rediscovering Pertussis. Front Pediatr. 2016;4:52.,1212. Brasil. Ministério da Saúde. Guia de Vigilância em Saúde. Brasília: Ministério da Saúde; 2016.

Na forma clássica, cursa com três fases, apresentando sintomas inespecíficos na primeira semana - fase catarral -, assemelhando-se à infecção viral das vias aéreas, com espirros, rinorreia, lacrimejamento, febre baixa e tosse seca discreta.22. Lynfield R, Schaffner W. Can we conquer coqueluche? J Infect Dis. 2014;209 (Suppl 1):S1-3.,88. Kilgore PE, Salim AM, Zervos MJ, Schmitt HJ. Pertussis: microbiology, disease, treatment, and prevention. Clin Microbiol Rev. 2016;29:449-86.,1010. Brasil. Ministério da Saúde. Coqueluche. Guia de vigilância em saúde. Brasília: Ministério da Saúde; 2014. p.87-104.,1212. Brasil. Ministério da Saúde. Guia de Vigilância em Saúde. Brasília: Ministério da Saúde; 2016. A partir da segunda semana - fase paroxística - torna-se característica, com episódios de tosse paroxística e guinchos, que podem durar duas a seis semanas.44. Mattoo S, Cherry JD. Molecular pathogenesis, epidemiology, and clinical manifestations of respiratory infections due to Bordetella pertussis and other Bordetella subspecies. Clin Microbiol Rev. 2005;18:326-82.,88. Kilgore PE, Salim AM, Zervos MJ, Schmitt HJ. Pertussis: microbiology, disease, treatment, and prevention. Clin Microbiol Rev. 2016;29:449-86. Nessa fase, surge a linfocitose, acima de 20 mil leucócitos/mm3, que pode estar ausente em pacientes parcialmente imunizados ou quando ocorre infecção bacteriana secundária.44. Mattoo S, Cherry JD. Molecular pathogenesis, epidemiology, and clinical manifestations of respiratory infections due to Bordetella pertussis and other Bordetella subspecies. Clin Microbiol Rev. 2005;18:326-82.,88. Kilgore PE, Salim AM, Zervos MJ, Schmitt HJ. Pertussis: microbiology, disease, treatment, and prevention. Clin Microbiol Rev. 2016;29:449-86. Na terceira fase - convalescença - observa-se diminuição progressiva no número e na gravidade das crises de tosse, que se mantêm por até quatro semanas.22. Lynfield R, Schaffner W. Can we conquer coqueluche? J Infect Dis. 2014;209 (Suppl 1):S1-3.,88. Kilgore PE, Salim AM, Zervos MJ, Schmitt HJ. Pertussis: microbiology, disease, treatment, and prevention. Clin Microbiol Rev. 2016;29:449-86.,1616. Centers for Diseases Control and Prevention. [homepage on the Internet]. Pertussis (Whooping Cough) [cited 2016 Dec 20]. Available from: http://www.cdc.gov/vaccines/vpd-vac/pertussis.
http://www.cdc.gov/vaccines/vpd-vac/pert...
,2222. Heininger U, Klich K, Stehr K, Cherry JD. Clinical findings in Bordetella pertussis infections: results of a prospective multicenter surveillance study. Pediatrics. 1997;100:E10.

Fatores como idade, estado imunológico, virulência da cepa, condição vacinal e tempo decorrido da vacinação modificam a apresentação clínica.44. Mattoo S, Cherry JD. Molecular pathogenesis, epidemiology, and clinical manifestations of respiratory infections due to Bordetella pertussis and other Bordetella subspecies. Clin Microbiol Rev. 2005;18:326-82.,1313. Munoz FM. Pertussis in infants, children, and adolescents: diagnosis, treatment, and prevention. Semin Pediatr Infect Dis. 2006:17:14-9.,2323. Yildirim I, Ceyhan M, Kalayci O, Cengiz AB, Secmeer G, Gur D, et al. Frequency of pertussis in children with prolongued cough. Scand J Infect Dis. 2008;40:314-9. São comuns manifestações clínicas brandas em crianças parcialmente imunizadas e nos adolescentes e adultos com imunidade evanescente, nos quais é referida apenas tosse seca prolongada, por mais de 21 dias, levando à confusão diagnóstica com bronquite, sinusite, pneumonia atípica e alergias.22. Lynfield R, Schaffner W. Can we conquer coqueluche? J Infect Dis. 2014;209 (Suppl 1):S1-3.,88. Kilgore PE, Salim AM, Zervos MJ, Schmitt HJ. Pertussis: microbiology, disease, treatment, and prevention. Clin Microbiol Rev. 2016;29:449-86.,1414. McGirr A, Fisman DN. Duration of pertussis immunity after DTaP immunization: a meta-analysis. Pediatrics. 2015;135:331-43.,2323. Yildirim I, Ceyhan M, Kalayci O, Cengiz AB, Secmeer G, Gur D, et al. Frequency of pertussis in children with prolongued cough. Scand J Infect Dis. 2008;40:314-9.,2424. Brasil. Ministério da Saúde. Coqueluche. In: Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Guia de vigilância epidemiológica. 7ª ed. Brasília: Ministério da Saúde; 2009. p.200-2. Outra dificuldade diagnóstica refere-se aos recém-nascidos, cujo quadro clínico pode cursar apenas com tosse e cianose, sem paroxismos ou guinchos.77. Scanlon KM, Skerry C, Carbonetti NH. Novel therapies for the treatment of pertussis disease. Pathog Dis. 2015;73:ftv074.,88. Kilgore PE, Salim AM, Zervos MJ, Schmitt HJ. Pertussis: microbiology, disease, treatment, and prevention. Clin Microbiol Rev. 2016;29:449-86. A sobreposição de infecções bacterianas e coinfecções virais, especialmente por Adenovírus, Vírus Respiratório Sincicial, Parainfluenza, Metapneumovírus e Bocavírus, altera a evolução clínica e laboratorial, interferindo no diagnóstico e no tratamento, aumentando o tempo de internação e complicações.33. Cherry JD. Pertussis: challenges today and for the future. PLoS Pathog. 2013;9:e1003418.,55. Bellettini CV, Oliveira AW, Tusset C, Baethgen LF, Amantéa SL, Motta F, et al. Preditores clínicos, laboratoriais e radiográficos para infecção por Bordetella pertussis. Rev Paul Pediatr. 2014;32:292-8.,88. Kilgore PE, Salim AM, Zervos MJ, Schmitt HJ. Pertussis: microbiology, disease, treatment, and prevention. Clin Microbiol Rev. 2016;29:449-86. As coinfecções decorrem da depressão imunológica provocada pela toxina pertussis, favorecendo a instalação de patógenos secundários.55. Bellettini CV, Oliveira AW, Tusset C, Baethgen LF, Amantéa SL, Motta F, et al. Preditores clínicos, laboratoriais e radiográficos para infecção por Bordetella pertussis. Rev Paul Pediatr. 2014;32:292-8.

A coqueluche clássica, não complicada, cursa sem febre alta.1010. Brasil. Ministério da Saúde. Coqueluche. Guia de vigilância em saúde. Brasília: Ministério da Saúde; 2014. p.87-104.,1616. Centers for Diseases Control and Prevention. [homepage on the Internet]. Pertussis (Whooping Cough) [cited 2016 Dec 20]. Available from: http://www.cdc.gov/vaccines/vpd-vac/pertussis.
http://www.cdc.gov/vaccines/vpd-vac/pert...
As complicações ocorrem na fase paroxística, incluindo cianose e apneia, edema, congestão facial e petéquias decorrentes da tosse, otite média causada pela B. pertussis ou infecção secundária e desidratação, pelos vômitos ou pela baixa ingesta.1414. McGirr A, Fisman DN. Duration of pertussis immunity after DTaP immunization: a meta-analysis. Pediatrics. 2015;135:331-43.,1616. Centers for Diseases Control and Prevention. [homepage on the Internet]. Pertussis (Whooping Cough) [cited 2016 Dec 20]. Available from: http://www.cdc.gov/vaccines/vpd-vac/pertussis.
http://www.cdc.gov/vaccines/vpd-vac/pert...
,2525. Berger JT, Carcillo JA, Shanley TP, Wessel DL, Clark A, Holubkov R, et al. Critical pertussis illness in children: a multicenter prospective cohort study. Pediatr Crit Care Med. 2013;14:356-65.,2626. Halperin SA, Bortolussi R, Langley JM, Miller B, Eastwood BJ. Seven days of erythromycin estolate is as effective as fourteen days for the treatment of Bordetella pertussis infections. Pediatrics. 1997;100:65-71. Entre as complicações respiratórias estão atelectasia, pneumonia pela B. pertussis e superinfecção viral ou bacteriana. As complicações neurológicas são menos frequentes e incluem convulsões, cegueira e surdez.2525. Berger JT, Carcillo JA, Shanley TP, Wessel DL, Clark A, Holubkov R, et al. Critical pertussis illness in children: a multicenter prospective cohort study. Pediatr Crit Care Med. 2013;14:356-65.,2727. Elliott E, McIntyre P, Ridley G, Morris A, Massie J, McEniery J, et al. National study of infants hospitalized with pertussis in the acellular vaccine era. Pediatr Infect Dis J. 2004;23:246-52. Kazantzi et al. descreveram características de 31 pacientes com coqueluche, internados em seis UTIs no período de 11 anos, destacando a hiponatremia (sódio sérico entre 125-133 mmol/dL) secundária à secreção inapropriada do hormônio antidiurético como fator de risco para óbito, até então não descrito.2828. Kazantzi MS, Prezerakou A, Kalamitsou SN, Ilia S, Kalabalikis PK, Papadatos J, et al. Characteristics ofBordetella pertussisinfection among infants and children admitted to paediatric intensive care units in Greece: a multicentre, 11-year study. J Paediatr Child Health. 2017;53:257-62.

Na década de 2000, foi desenvolvido o conceito de pertussis maligna, caracterizada por quadro grave e alta letalidade, definido pela presença de insuficiência respiratória aguda, hipertensão pulmonar e hiperleucocitose acima de 50 mil/mm3.2525. Berger JT, Carcillo JA, Shanley TP, Wessel DL, Clark A, Holubkov R, et al. Critical pertussis illness in children: a multicenter prospective cohort study. Pediatr Crit Care Med. 2013;14:356-65.,2929. Bouziri A, Hamdi A, Khaldi A, Smaoui H, Kechrid A, Menif K, et al. Malignant pertussis: an underdiagnosed illness. Med Trop (Mars). 2010;70:245-8. Ahiperleucocitose causa hiperviscosidade sanguínea e aumento da resistência vascular pulmonar, levando à hipertensão pulmonar e ao colapso hemodinâmico, com óbito decorrente de hipoxemia e choque refratário.2929. Bouziri A, Hamdi A, Khaldi A, Smaoui H, Kechrid A, Menif K, et al. Malignant pertussis: an underdiagnosed illness. Med Trop (Mars). 2010;70:245-8.,3030. Paddock CD, Sanden GN, Cherry JD, Gal AA, Langston C, Tatti KM, et al. Pathology and pathogenesis of fatal Bordetella pertussis infection in infants. Clin Infect Dis. 2008;47:328-38. Paddock et al. avaliaram tecidos pulmonares de 15 lactentes com óbito por coqueluche, demonstrando presença de bronquiolite necrosante, hemorragia intra-alveolar e B. pertussis no interior dos bronquíolos e dos alvéolos.2626. Halperin SA, Bortolussi R, Langley JM, Miller B, Eastwood BJ. Seven days of erythromycin estolate is as effective as fourteen days for the treatment of Bordetella pertussis infections. Pediatrics. 1997;100:65-71.,3030. Paddock CD, Sanden GN, Cherry JD, Gal AA, Langston C, Tatti KM, et al. Pathology and pathogenesis of fatal Bordetella pertussis infection in infants. Clin Infect Dis. 2008;47:328-38. Da mesma forma, Palvo et al., em 2017, mostraram, em necrópsia de seis lactentes jovens e não vacinados, espessamento das arteríolas pulmonares, hipertensão pulmonar, ressaltando a coinfecção por B. pertussis e Vírus Respiratório Sincicial nos mesmos tecidos.3131. Palvo F, Fabro AT, Cervi MC, Aragon DC, Ramalho FS, Carlotti AP. Severe pertussis infection: A clinicopathological study. Medicine (Baltimore). 2017;96:e8823. Fatores preditivos de gravidade e risco de óbito incluem idade menor que seis meses, hiperleucocitose, hipertensão pulmonar e presença decomorbidades.2929. Bouziri A, Hamdi A, Khaldi A, Smaoui H, Kechrid A, Menif K, et al. Malignant pertussis: an underdiagnosed illness. Med Trop (Mars). 2010;70:245-8.,3131. Palvo F, Fabro AT, Cervi MC, Aragon DC, Ramalho FS, Carlotti AP. Severe pertussis infection: A clinicopathological study. Medicine (Baltimore). 2017;96:e8823.,3232. Mikelova LK, Halperin SA, Scheifele D, Smith B, Ford-Jones E, Vaudry W, et al. Predictors of death in infants hospitalized with pertussis: a case-control study of 16 pertussis deaths in Canada. J Pediatr. 2003;143:576-81.,3333. Marshall H, Clarke M, Rasiah K, Richmond P, Buttery J, Reynolds G, et al. Predictors of disease severity in children hospitalized for pertussis during an epidemic. Pediatr Infect Dis J. 2015;34:339-45. Palvo et al. observaram ponto de corte de 41 mil leucócitos/mm3 para prever a admissão em UTI, com sensibilidade de 65% e especificidade de 90%; e sensibilidade de 100% e especificidade de 81,6%, para prever morte.3131. Palvo F, Fabro AT, Cervi MC, Aragon DC, Ramalho FS, Carlotti AP. Severe pertussis infection: A clinicopathological study. Medicine (Baltimore). 2017;96:e8823.

Diagnóstico

Os critérios de suspeição e confirmação de coqueluche foram atualizados pelo MS em 2014, seguindo os critérios do CDC, modificados em 2005.1010. Brasil. Ministério da Saúde. Coqueluche. Guia de vigilância em saúde. Brasília: Ministério da Saúde; 2014. p.87-104.,1616. Centers for Diseases Control and Prevention. [homepage on the Internet]. Pertussis (Whooping Cough) [cited 2016 Dec 20]. Available from: http://www.cdc.gov/vaccines/vpd-vac/pertussis.
http://www.cdc.gov/vaccines/vpd-vac/pert...
As principais mudanças se referem à inclusão do exame RT-PCR (reação em cadeia da polimerase em tempo real), à redução do tempo de tosse de 14 para 10 dias, à subdivisão em idades abaixo e acima de seis meses e à retirada da linfocitose como critério de confirmação.1010. Brasil. Ministério da Saúde. Coqueluche. Guia de vigilância em saúde. Brasília: Ministério da Saúde; 2014. p.87-104. A linfocitose surge a partir da segunda semana de doença, podendo estar ausente em pacientes parcialmente imunizados.33. Cherry JD. Pertussis: challenges today and for the future. PLoS Pathog. 2013;9:e1003418. Alémdisso, infecções bacterianas intercorrentes cursam com neutrofilia, proporcionando confundimento. Portanto, a ausência de linfocitose não exclui o diagnóstico de coqueluche.55. Bellettini CV, Oliveira AW, Tusset C, Baethgen LF, Amantéa SL, Motta F, et al. Preditores clínicos, laboratoriais e radiográficos para infecção por Bordetella pertussis. Rev Paul Pediatr. 2014;32:292-8.,1010. Brasil. Ministério da Saúde. Coqueluche. Guia de vigilância em saúde. Brasília: Ministério da Saúde; 2014. p.87-104.

O diagnóstico etiológico pode ser feito por exames microbiológicos, imunológicos e moleculares.44. Mattoo S, Cherry JD. Molecular pathogenesis, epidemiology, and clinical manifestations of respiratory infections due to Bordetella pertussis and other Bordetella subspecies. Clin Microbiol Rev. 2005;18:326-82.,3333. Marshall H, Clarke M, Rasiah K, Richmond P, Buttery J, Reynolds G, et al. Predictors of disease severity in children hospitalized for pertussis during an epidemic. Pediatr Infect Dis J. 2015;34:339-45.,3434. Vaz-de-Lima LR, Martin MD, Pawloski LC, Leite D, Rocha KC, de Brito CA, et al. Serodiagnosis as adjunct assay for pertussis infection in São Paulo, Brazil. Clin Vaccine Immunol. 2014;21:636-40. O isolamento de B. pertussis na cultura de secreção nasofaríngea profunda é padrão-ouro, em razão de sua elevada especificidade.44. Mattoo S, Cherry JD. Molecular pathogenesis, epidemiology, and clinical manifestations of respiratory infections due to Bordetella pertussis and other Bordetella subspecies. Clin Microbiol Rev. 2005;18:326-82.,1212. Brasil. Ministério da Saúde. Guia de Vigilância em Saúde. Brasília: Ministério da Saúde; 2016.,3535. Regan J, Lowe F. Enrichment medium for the isolation of Bordetella. J Clin Microbiol. 1977;6:303-9.,3636. Gilligan PH, Fisher MC. Importance of culture in laboratory diagnosis of Bordetella pertussis infections. J Clin Microbiol. 1984;20:891-3. Porém sua sensibilidade é variável (12-28%) e dependente de condições de coleta, armazenamento, transporte e incubação da amostra, fase da doença, uso prévio de antimicrobianos e número de doses de vacinas recebidas.3636. Gilligan PH, Fisher MC. Importance of culture in laboratory diagnosis of Bordetella pertussis infections. J Clin Microbiol. 1984;20:891-3.,3737. Müller FM, Hoppe JE, Wirsing von König CH. Laboratory diagnosis of pertussis: state of the art in 1997. J Clin Microbiol. 1997;35:2435-43. O desenvolvimento de testes de RT-PCR permitiu maior sensibilidade (até 72%)e rapidez no diagnóstico da doença, sem exigir presença de bactérias viáveis, com resultados positivos após a segunda semanade doença, mesmo em indivíduos vacinados e com uso prévio deantibióticos.3434. Vaz-de-Lima LR, Martin MD, Pawloski LC, Leite D, Rocha KC, de Brito CA, et al. Serodiagnosis as adjunct assay for pertussis infection in São Paulo, Brazil. Clin Vaccine Immunol. 2014;21:636-40.,3838. Vaz TM, Leite D, Kinue I. Coqueluche: Manual de diagnóstico laboratorial do Instituto Adolfo Lutz. São Paulo: Instituto Adolfo Lutz, Centro de Bacteriologia, Laboratório de Referência Nacional para Coqueluche; 2010.,3939. Reischl U, Lehn N, Sanden GN, Loeffelholz MJ. Real-time PCR assay targeting IS481 of Bordetella pertussis and molecular basis for detecting Bordetella holmesii. J Clin Microbiol. 2001;39:1963-6.

Embora o diagnóstico imunológico não seja padronizado no Brasil, é usado em outros países.1010. Brasil. Ministério da Saúde. Coqueluche. Guia de vigilância em saúde. Brasília: Ministério da Saúde; 2014. p.87-104. Os métodos disponíveis incluem detecção de imunoglobulina G (IgG) contra toxina filamentosa (Centers for Disease Control and Prevention - CDC Petrussis EnzymeLinked ImmunoSorbent Assay - PT-ELISA) e pesquisa de anticorpos fluorescentes (DFA). Apresentam pouca aplicação prática, pois os anticorpos são tardiamente detectáveis, e a passagem transplacentária de anticorpos e a vacinação prévia podem interferir nos resultados.3434. Vaz-de-Lima LR, Martin MD, Pawloski LC, Leite D, Rocha KC, de Brito CA, et al. Serodiagnosis as adjunct assay for pertussis infection in São Paulo, Brazil. Clin Vaccine Immunol. 2014;21:636-40. É útil na persistência de sintomas além de três semanas, analisando-se, em duas amostras com intervalo de 14 dias, o surgimento ou o aumento de IgG.3434. Vaz-de-Lima LR, Martin MD, Pawloski LC, Leite D, Rocha KC, de Brito CA, et al. Serodiagnosis as adjunct assay for pertussis infection in São Paulo, Brazil. Clin Vaccine Immunol. 2014;21:636-40. Os artigos referentes aos aspectos clínicos e diagnósticos estão resumidos na Tabela 2.

Tabela 2
Categorização dos estudos selecionados, com abordagem de aspectos clínicos e diagnósticos.

Abordagem terapêutica

Antibioticoterapia

A literatura é unânime em afirmar que pacientes com suspeita de coqueluche devem receber antibioticoterapia antes da confirmação diagnóstica.1111. Dierig A, Beckmann C, Heininger U. Antibiotic treatment of pertussis: are 7 days really sufficient? Pediatr Infect Dis J. 2015;34:444-5.,1212. Brasil. Ministério da Saúde. Guia de Vigilância em Saúde. Brasília: Ministério da Saúde; 2016.,4040. Altunaiji S, Kukuruzovic R, Curtis N, Massie J. Antibiotics for whooping cough (pertussis). Cochrane Database Syst Rev. 2007:CD004404.,4141. Bass JW. Erythromycin for treatment and prevention of pertussis. Pediatr Infect Dis J. 1986;5:154-7.,4242. Tiwari T, Murphy TV, Moran J, National Immunization Program CDC. Recommended antimicrobial agents for the treatment and postexposure prophylaxis of pertussis. 2005 CDC Guidelines. MMWR Recomm Rep. 2005;54:1-16. Na fase catarral, a antibioticoterapia pode reduzir a gravidade dos sintomas e a duração da doença, bem como acelerar a eliminação da bactéria na nasofaringe.1111. Dierig A, Beckmann C, Heininger U. Antibiotic treatment of pertussis: are 7 days really sufficient? Pediatr Infect Dis J. 2015;34:444-5.,1212. Brasil. Ministério da Saúde. Guia de Vigilância em Saúde. Brasília: Ministério da Saúde; 2016.,4040. Altunaiji S, Kukuruzovic R, Curtis N, Massie J. Antibiotics for whooping cough (pertussis). Cochrane Database Syst Rev. 2007:CD004404.,4141. Bass JW. Erythromycin for treatment and prevention of pertussis. Pediatr Infect Dis J. 1986;5:154-7. Na fase paroxística, é indicada por reduzir a transmissibilidade, eliminando a bactéria da nasofaringe após 5-7 dias do início do tratamento.1111. Dierig A, Beckmann C, Heininger U. Antibiotic treatment of pertussis: are 7 days really sufficient? Pediatr Infect Dis J. 2015;34:444-5.,4242. Tiwari T, Murphy TV, Moran J, National Immunization Program CDC. Recommended antimicrobial agents for the treatment and postexposure prophylaxis of pertussis. 2005 CDC Guidelines. MMWR Recomm Rep. 2005;54:1-16.,4343. Langley JM, Halperin SA, Boucher FD, Smith B, Pediatric Investigators Collaborative Network on Infections in Canada (PICNIC). Azithromycin is as effective as and better tolerated than erythromycin estolate for the treatment of pertussis. Pediatrics. 2004;114:e96-101. Os macrolídeos são a primeira opção terapêutica e todos os estudos encontrados com data anterior a 1996 recomendavam o uso da eritromicina estolato na dose de 40 mg/kg/dia, de 6/6 horas durante 7-14 dias.4141. Bass JW. Erythromycin for treatment and prevention of pertussis. Pediatr Infect Dis J. 1986;5:154-7. A partir de 1990, estudos investigaram o tempo mínimo necessário para erradicação da B. pertussis, avaliando se esquemas de sete ou dez dias seriam suficientes e se o intervalo entre as doses poderia ser de 8/8 horas.2626. Halperin SA, Bortolussi R, Langley JM, Miller B, Eastwood BJ. Seven days of erythromycin estolate is as effective as fourteen days for the treatment of Bordetella pertussis infections. Pediatrics. 1997;100:65-71.,4242. Tiwari T, Murphy TV, Moran J, National Immunization Program CDC. Recommended antimicrobial agents for the treatment and postexposure prophylaxis of pertussis. 2005 CDC Guidelines. MMWR Recomm Rep. 2005;54:1-16.,4343. Langley JM, Halperin SA, Boucher FD, Smith B, Pediatric Investigators Collaborative Network on Infections in Canada (PICNIC). Azithromycin is as effective as and better tolerated than erythromycin estolate for the treatment of pertussis. Pediatrics. 2004;114:e96-101. Na década de 1990, foi descrita resistência da B. pertussis à eritromicina em alguns países, o que, associado aos efeitos adversos gastrintestinais como náuseas, vômitos e diarreia, levou à busca de novas opções terapêuticas.44. Mattoo S, Cherry JD. Molecular pathogenesis, epidemiology, and clinical manifestations of respiratory infections due to Bordetella pertussis and other Bordetella subspecies. Clin Microbiol Rev. 2005;18:326-82.,4141. Bass JW. Erythromycin for treatment and prevention of pertussis. Pediatr Infect Dis J. 1986;5:154-7.,4242. Tiwari T, Murphy TV, Moran J, National Immunization Program CDC. Recommended antimicrobial agents for the treatment and postexposure prophylaxis of pertussis. 2005 CDC Guidelines. MMWR Recomm Rep. 2005;54:1-16. Nesta revisão, não foram encontrados estudos sobre resistência à eritromicina no Brasil e as revisões internacionais não registram motivo de preocupação.44. Mattoo S, Cherry JD. Molecular pathogenesis, epidemiology, and clinical manifestations of respiratory infections due to Bordetella pertussis and other Bordetella subspecies. Clin Microbiol Rev. 2005;18:326-82.,88. Kilgore PE, Salim AM, Zervos MJ, Schmitt HJ. Pertussis: microbiology, disease, treatment, and prevention. Clin Microbiol Rev. 2016;29:449-86.

Estudos posteriores a 2000 avaliaram a eficácia e a segurança da azitromicina e da claritromicina.4343. Langley JM, Halperin SA, Boucher FD, Smith B, Pediatric Investigators Collaborative Network on Infections in Canada (PICNIC). Azithromycin is as effective as and better tolerated than erythromycin estolate for the treatment of pertussis. Pediatrics. 2004;114:e96-101. Estudo realizado por Langley et al.,em 2004, acompanhou 477 crianças e adolescentes que receberam azitromicina por cinco dias (10 mg/kg uma vez ao dia no primeiro dia e 5 mg/kg por dia uma vez ao dia por mais quatro dias) e eritromicina estolato 40 mg/kg/dia 8/8 horas por dez dias.4343. Langley JM, Halperin SA, Boucher FD, Smith B, Pediatric Investigators Collaborative Network on Infections in Canada (PICNIC). Azithromycin is as effective as and better tolerated than erythromycin estolate for the treatment of pertussis. Pediatrics. 2004;114:e96-101. Outro estudo, realizado por Lebel em 2001, acompanhou 153 crianças e adolescentes, que receberam claritromicina (7,5 mg/kg/dose, 12/12 horas, por sete dias) e eritromicina (13mg/kg/dose, 8/8 horas, durante 14dias).4444. Korgenski EK, Daly JA. Surveillance and detection of erythromycin resistance in Bordetella pertussis isolates recovered from a pediatric population in the Intermountain West region of the United States. J Clin Microbiol. 1997;35:2989-91.,4545. Lebel MH, Mehra S. Efficacy and safety of clarithromycin versus erythromycin for the treatment of pertussis: a prospective, randomized, single blind trial. Pediatr Infect Dis J. 2001;20:1149-54. Ambos os estudos concluíram que os regimes terapêuticos apresentavam eficácia semelhante, com redução dos efeitos adversos gastrintestinais nos grupos que receberam azitromicina e claritromicina. Aúltima revisão sistemática sobre antibioticoterapia na coqueluche foi publicada em 2007 e analisou 13 estudos, concluindo que tratamentos curtos com azitromicina por três a cinco dias e com claritromicina ou eritromicina por sete dias foram tão efetivos para erradicação da bactéria da nasofaringe quanto tratamentos mais longos, com menores efeitos adversos.4040. Altunaiji S, Kukuruzovic R, Curtis N, Massie J. Antibiotics for whooping cough (pertussis). Cochrane Database Syst Rev. 2007:CD004404. Mais recentemente, Dierig et al.,em 2015, relataram que duas crianças apresentaram persistência de B. pertussis em nasofaringe após sete dias de tratamento com claritromicina.1111. Dierig A, Beckmann C, Heininger U. Antibiotic treatment of pertussis: are 7 days really sufficient? Pediatr Infect Dis J. 2015;34:444-5. Assim, o tempo mínimo ideal necessário segue sob questionamento.

No tocante à segurança, destaca-se a estenose hipertrófica de piloro como evento adverso dos macrolídeos, em lactentes menores de seis meses.4646. Lund M, Pasternak B, Davidsen RB, Feenstra B, Krogh C, Diaz LJ, et al. Use of macrolides in mother and child and risk of infantile hypertrophic pyloric stenosis: nationwide cohort study. BMJ. 2014;348:g1908. Em estudo multicêntrico, com 999.378 crianças expostas aos macrolídeos desde a gestação até 120 dias de vida, Lund et al., em 2014, concluíram que a exposição aos macrolídeos, especialmente à eritromicina, nas primeiras semanas de vida, aumenta em até 30 vezes a chance de estenose hipertrófica do piloro.4646. Lund M, Pasternak B, Davidsen RB, Feenstra B, Krogh C, Diaz LJ, et al. Use of macrolides in mother and child and risk of infantile hypertrophic pyloric stenosis: nationwide cohort study. BMJ. 2014;348:g1908. Outro aspecto controverso refere-se à resposta clínica dependente da idade, pois macrolídeos aliviam sintomas da coqueluche em lactentes, mas não em crianças mais velhas.99. Korppi M. Whooping cough - still a challenge. J Pediatr (Rio J). 2013;9:89:520-2. As diferentes respostas clínicas parecem relacionadas à duração da infecção.88. Kilgore PE, Salim AM, Zervos MJ, Schmitt HJ. Pertussis: microbiology, disease, treatment, and prevention. Clin Microbiol Rev. 2016;29:449-86.,3939. Reischl U, Lehn N, Sanden GN, Loeffelholz MJ. Real-time PCR assay targeting IS481 of Bordetella pertussis and molecular basis for detecting Bordetella holmesii. J Clin Microbiol. 2001;39:1963-6. Quando o diagnóstico e o tratamento são tardios, o dano já estabelecido reduz a ação do antibiótico.88. Kilgore PE, Salim AM, Zervos MJ, Schmitt HJ. Pertussis: microbiology, disease, treatment, and prevention. Clin Microbiol Rev. 2016;29:449-86.,2929. Bouziri A, Hamdi A, Khaldi A, Smaoui H, Kechrid A, Menif K, et al. Malignant pertussis: an underdiagnosed illness. Med Trop (Mars). 2010;70:245-8.,4040. Altunaiji S, Kukuruzovic R, Curtis N, Massie J. Antibiotics for whooping cough (pertussis). Cochrane Database Syst Rev. 2007:CD004404.

No Brasil, o MS passou a recomendar, a partir de 2014, a azitromicina como escolha no tratamento e na quimioprofilaxia da coqueluche.1010. Brasil. Ministério da Saúde. Coqueluche. Guia de vigilância em saúde. Brasília: Ministério da Saúde; 2014. p.87-104. A claritromicina tornou-se a segunda opção, com restrição de uso em menores de um mês de idade, e a eritromicina só deve ser prescrita em caso de indisponibilidade dos outros macrolídeos.1010. Brasil. Ministério da Saúde. Coqueluche. Guia de vigilância em saúde. Brasília: Ministério da Saúde; 2014. p.87-104. No mesmo protocolo, sulfametoxazol-trimetoprim permanece como opção terapêutica em situações de intolerância aos macrolídeos, continuando contraindicado em menores de dois meses de idade.1010. Brasil. Ministério da Saúde. Coqueluche. Guia de vigilância em saúde. Brasília: Ministério da Saúde; 2014. p.87-104. Ampicilina, cefalosporinas e fluorquinolonas não demonstraram efetividade necessária para eliminar a B. pertussis.88. Kilgore PE, Salim AM, Zervos MJ, Schmitt HJ. Pertussis: microbiology, disease, treatment, and prevention. Clin Microbiol Rev. 2016;29:449-86.,4242. Tiwari T, Murphy TV, Moran J, National Immunization Program CDC. Recommended antimicrobial agents for the treatment and postexposure prophylaxis of pertussis. 2005 CDC Guidelines. MMWR Recomm Rep. 2005;54:1-16. Os atuais esquemas recomendados pelo MS e pelo CDC estão resumidos na Figura 3.

Figura 3
Esquemas de antibioticoterapia e quimioprofilaxia para coqueluche.

Suporte hospitalar na coqueluche grave

Além da antibioticoterapia específica, casos graves de coqueluche exigem abordagens adicionais de suporte avançado de vida para minimizar as complicações.4747. Surridge J, Segedin ER, Grant CC. Pertussis requiring intensive care. Arch Dis Child. 2007;92:970-5.,4848. Lopez MA, Cruz AT, Kowalkowski MA, Raphael JL. Trends in hospitalizations and resource utilization for pediatric pertussis. Hosp Pediatr. 2014;4:269-75. A indicação de hospitalização é determinada pelo risco de evolução grave, devendo ser considerada para recém-nascidos e lactentes jovens, pacientes com doença cardíaca, pulmonar, muscular ou neurológica, nos quais as complicações são mais frequentes.66. Zlamy M. Rediscovering Pertussis. Front Pediatr. 2016;4:52.,88. Kilgore PE, Salim AM, Zervos MJ, Schmitt HJ. Pertussis: microbiology, disease, treatment, and prevention. Clin Microbiol Rev. 2016;29:449-86.,2525. Berger JT, Carcillo JA, Shanley TP, Wessel DL, Clark A, Holubkov R, et al. Critical pertussis illness in children: a multicenter prospective cohort study. Pediatr Crit Care Med. 2013;14:356-65.,2929. Bouziri A, Hamdi A, Khaldi A, Smaoui H, Kechrid A, Menif K, et al. Malignant pertussis: an underdiagnosed illness. Med Trop (Mars). 2010;70:245-8.,4747. Surridge J, Segedin ER, Grant CC. Pertussis requiring intensive care. Arch Dis Child. 2007;92:970-5.,4848. Lopez MA, Cruz AT, Kowalkowski MA, Raphael JL. Trends in hospitalizations and resource utilization for pediatric pertussis. Hosp Pediatr. 2014;4:269-75. A hidratação adequada é essencial para fluidificação das secreções respiratórias e manutenção da volemia.1212. Brasil. Ministério da Saúde. Guia de Vigilância em Saúde. Brasília: Ministério da Saúde; 2016.,4848. Lopez MA, Cruz AT, Kowalkowski MA, Raphael JL. Trends in hospitalizations and resource utilization for pediatric pertussis. Hosp Pediatr. 2014;4:269-75. A necessidade de oxigenioterapia se deve mais frequentemente à apneia, ao desconforto respiratório por pneumonia, infecções virais e bacterianas intercorrentes e à hipertensão pulmonar, estando recomendada nos paroxismos e nas crises de cianose.88. Kilgore PE, Salim AM, Zervos MJ, Schmitt HJ. Pertussis: microbiology, disease, treatment, and prevention. Clin Microbiol Rev. 2016;29:449-86.,1212. Brasil. Ministério da Saúde. Guia de Vigilância em Saúde. Brasília: Ministério da Saúde; 2016.,4747. Surridge J, Segedin ER, Grant CC. Pertussis requiring intensive care. Arch Dis Child. 2007;92:970-5.,4848. Lopez MA, Cruz AT, Kowalkowski MA, Raphael JL. Trends in hospitalizations and resource utilization for pediatric pertussis. Hosp Pediatr. 2014;4:269-75. Lactentes, cuja fadiga resulte em hipercapnia, têm indicação de ventilação mecânica.66. Zlamy M. Rediscovering Pertussis. Front Pediatr. 2016;4:52.,88. Kilgore PE, Salim AM, Zervos MJ, Schmitt HJ. Pertussis: microbiology, disease, treatment, and prevention. Clin Microbiol Rev. 2016;29:449-86.,2525. Berger JT, Carcillo JA, Shanley TP, Wessel DL, Clark A, Holubkov R, et al. Critical pertussis illness in children: a multicenter prospective cohort study. Pediatr Crit Care Med. 2013;14:356-65.,4848. Lopez MA, Cruz AT, Kowalkowski MA, Raphael JL. Trends in hospitalizations and resource utilization for pediatric pertussis. Hosp Pediatr. 2014;4:269-75.

São considerados sinais iniciais de alarme: taquipneia (frequência respiratória acima de 60 incursões respiratórias por minuto); hipoxia persistente após paroxismos; leucocitose acima de 50 mil células/mm3;e frequência cardíaca abaixo de 60 batimentos por minuto.2929. Bouziri A, Hamdi A, Khaldi A, Smaoui H, Kechrid A, Menif K, et al. Malignant pertussis: an underdiagnosed illness. Med Trop (Mars). 2010;70:245-8.,4747. Surridge J, Segedin ER, Grant CC. Pertussis requiring intensive care. Arch Dis Child. 2007;92:970-5.,4848. Lopez MA, Cruz AT, Kowalkowski MA, Raphael JL. Trends in hospitalizations and resource utilization for pediatric pertussis. Hosp Pediatr. 2014;4:269-75. Em estudo multicêntrico prospectivo, Berger et al. correlacionaram a hiperleucocitose com risco de morte dez vezes maior.2525. Berger JT, Carcillo JA, Shanley TP, Wessel DL, Clark A, Holubkov R, et al. Critical pertussis illness in children: a multicenter prospective cohort study. Pediatr Crit Care Med. 2013;14:356-65. São fatores preditivos de alta letalidade e/ou sequelas neurológicas: apneia e bradicardia durante os episódios de tosse; alteração do estado mental; convulsões; idade menor que seis meses, especialmente inferior a dois meses; pneumonia associada; presença de comorbidades; e choque, sendo a bradicardia nos episódios de tosse, as convulsões e a hipertensão pulmonar fatores preditivos isolados para óbito.2525. Berger JT, Carcillo JA, Shanley TP, Wessel DL, Clark A, Holubkov R, et al. Critical pertussis illness in children: a multicenter prospective cohort study. Pediatr Crit Care Med. 2013;14:356-65.,3030. Paddock CD, Sanden GN, Cherry JD, Gal AA, Langston C, Tatti KM, et al. Pathology and pathogenesis of fatal Bordetella pertussis infection in infants. Clin Infect Dis. 2008;47:328-38.,3131. Palvo F, Fabro AT, Cervi MC, Aragon DC, Ramalho FS, Carlotti AP. Severe pertussis infection: A clinicopathological study. Medicine (Baltimore). 2017;96:e8823.,4747. Surridge J, Segedin ER, Grant CC. Pertussis requiring intensive care. Arch Dis Child. 2007;92:970-5.,4838. Vaz TM, Leite D, Kinue I. Coqueluche: Manual de diagnóstico laboratorial do Instituto Adolfo Lutz. São Paulo: Instituto Adolfo Lutz, Centro de Bacteriologia, Laboratório de Referência Nacional para Coqueluche; 2010.

Tratamento adjuvante de pertussis maligna

O tratamento adjuvante dos casos de pertussis maligna ainda é controverso.4949. Romano MJ, Weber MD, Weisse ME, Siu BL. Pertussis pneumonia, hypoxemia, hyperleukocytosis, and pulmonary hypertension: improvement in oxygenation after a double volume exchange transfusion. Pediatrics. 2004;114:e264-6.,5050. Nieves D, Bradley JS, Gargas J, Mason WH, Lehman D, Lehman SM, et al. Exchange blood transfusion in the management of severe pertussis in young infants. Pediatr Infect Dis J. 2013;32:698-9.,5151. Rowlands HE, Goldman AP, Harrington K, Karimova A, Brierley J, Cross N, et al. Impact of rapid leukodepletion on the outcome of severe clinical pertussis in young infants. Pediatrics. 2010;126:e816-27. Em relato de caso, Romano et al. descreveram sucesso no tratamento de paciente com coqueluche grave, insuficiência respiratória e hiperleucocitose, com contagem de leucócitos de 104 mil/mm3 e hipertensão pulmonar, submetido à exsanguineotransfusão, com rápida redução da massa leucocitária.4949. Romano MJ, Weber MD, Weisse ME, Siu BL. Pertussis pneumonia, hypoxemia, hyperleukocytosis, and pulmonary hypertension: improvement in oxygenation after a double volume exchange transfusion. Pediatrics. 2004;114:e264-6. Porém Nieves et al., em 2013, relataram dez casos com resultados conflitantes e recomendaram cautela.5050. Nieves D, Bradley JS, Gargas J, Mason WH, Lehman D, Lehman SM, et al. Exchange blood transfusion in the management of severe pertussis in young infants. Pediatr Infect Dis J. 2013;32:698-9. A terapia de leucoaférese é utilizada desde 1990 para reduzir a massa leucocitária, considerando que a hiperleucocitose e a hiperviscosidade sanguínea sejam responsáveis pelo grave comprometimento pulmonar.4949. Romano MJ, Weber MD, Weisse ME, Siu BL. Pertussis pneumonia, hypoxemia, hyperleukocytosis, and pulmonary hypertension: improvement in oxygenation after a double volume exchange transfusion. Pediatrics. 2004;114:e264-6.,5252. Grzeszczak MJ, Churchwell KB, Edwards KM, Pietsch J. Leukopheresis therapy for severe infantile pertussis with myocardial and pulmonary failure. Pediatr Crit Care Med. 2006;7:580-2. Em estudo de seguimento de 19 pacientes submetidos à leucoaférese entre 2001 e 2009, Rowlands et al. apontaram que o procedimento pode contribuir para a sobrevivência desses pacientes criticamente acometidos, entretanto seu uso é limitado pelos efeitos adversos graves e pelo alto custo.5050. Nieves D, Bradley JS, Gargas J, Mason WH, Lehman D, Lehman SM, et al. Exchange blood transfusion in the management of severe pertussis in young infants. Pediatr Infect Dis J. 2013;32:698-9.,5151. Rowlands HE, Goldman AP, Harrington K, Karimova A, Brierley J, Cross N, et al. Impact of rapid leukodepletion on the outcome of severe clinical pertussis in young infants. Pediatrics. 2010;126:e816-27.,5252. Grzeszczak MJ, Churchwell KB, Edwards KM, Pietsch J. Leukopheresis therapy for severe infantile pertussis with myocardial and pulmonary failure. Pediatr Crit Care Med. 2006;7:580-2.

Estudo multicêntrico, realizado por Berger et al., avaliou 127 pacientes com coqueluche confirmada até 18 anos de idade, sendo 83% menores que três meses de idade.2525. Berger JT, Carcillo JA, Shanley TP, Wessel DL, Clark A, Holubkov R, et al. Critical pertussis illness in children: a multicenter prospective cohort study. Pediatr Crit Care Med. 2013;14:356-65. Dos participantes, 43% necessitaram de ventilação mecânica e 9,4% evoluíram para óbito. Dos 16 casos (13%) com hipertensão pulmonar, todos necessitaram de ventilação mecânica e 14 receberam óxido nítrico. Dos que foram a óbito, 75% tiveram hipertensão pulmonar. A leucocitose foi mais importante entre os que necessitaram de ventilação mecânica, apresentaram hipertensão pulmonar ou morreram. Dos pacientes do estudo, 14 (11%) apresentaram hiperleucocitose, recebendo terapias para reduzir a massa leucocitária: 12 receberam exsanguinotransfusão, um, leucoaférese e o outro, os dois tratamentos.2525. Berger JT, Carcillo JA, Shanley TP, Wessel DL, Clark A, Holubkov R, et al. Critical pertussis illness in children: a multicenter prospective cohort study. Pediatr Crit Care Med. 2013;14:356-65. Bouziri etal., em 2010, também concluíram que a hiperleucocitose está associada à necessidade de ventilação mecânica, hipertensão pulmonar e maior risco de morrer, porém referem necessidade de estudos adicionais para esclarecer os reais benefícios dessas terapias, considerando seus graves efeitos adversos.2929. Bouziri A, Hamdi A, Khaldi A, Smaoui H, Kechrid A, Menif K, et al. Malignant pertussis: an underdiagnosed illness. Med Trop (Mars). 2010;70:245-8.

Desde 1990, outras terapias têm sido descritas, como a Extracorporeal Membrane Oxigenation (ECMO), oxigenação por circulação extracorpórea, em pacientes com insuficiência respiratória grave por coqueluche sem, contudo, haver consenso sobre sua eficácia.77. Scanlon KM, Skerry C, Carbonetti NH. Novel therapies for the treatment of pertussis disease. Pathog Dis. 2015;73:ftv074.,5353. Halasa NB, Barr FE, Johnson JE, Edwards KM. Fatal pulmonary hypertension associated with pertussis in infants: does extracorporeal membrane oxygenation have a role? Pediatrics. 2003;112:1274-8. Como terapias potenciais ainda em fase experimental, Scanlon et al. usaram imunossupressores e moduladores de canais de ânions, como Pendrina, Acetazolamida e Fingolimod, alguns destes propostos para fibrose cística, tuberculose e doenças autoimunes, que se mostraram benéficos em modelos animais.77. Scanlon KM, Skerry C, Carbonetti NH. Novel therapies for the treatment of pertussis disease. Pathog Dis. 2015;73:ftv074. Os autores aguardam aprovação dos órgãos reguladores para testes em seres humanos.77. Scanlon KM, Skerry C, Carbonetti NH. Novel therapies for the treatment of pertussis disease. Pathog Dis. 2015;73:ftv074.

Tratamento sintomático da tosse

São conhecidos vários tratamentos sintomáticos da tosse na coqueluche, incluindo corticosteroides, salbutamol, imunoglobulina antipertussis, anti-histamínicos e inibidores de leucotrienos.77. Scanlon KM, Skerry C, Carbonetti NH. Novel therapies for the treatment of pertussis disease. Pathog Dis. 2015;73:ftv074.,1212. Brasil. Ministério da Saúde. Guia de Vigilância em Saúde. Brasília: Ministério da Saúde; 2016. Desde 1970, corticosteroides são usados para reduzir paroxismos, acreditando-se que poderiam alterar a gravidade e o curso da doença. A recomendação consistia no uso de hidrocortisona em dose plena por dois dias, seguida de redução progressiva, com suspensão em cinco a seis dias.77. Scanlon KM, Skerry C, Carbonetti NH. Novel therapies for the treatment of pertussis disease. Pathog Dis. 2015;73:ftv074.,88. Kilgore PE, Salim AM, Zervos MJ, Schmitt HJ. Pertussis: microbiology, disease, treatment, and prevention. Clin Microbiol Rev. 2016;29:449-86. Seu uso foi abandonado pela falta de evidências de eficácia.44. Mattoo S, Cherry JD. Molecular pathogenesis, epidemiology, and clinical manifestations of respiratory infections due to Bordetella pertussis and other Bordetella subspecies. Clin Microbiol Rev. 2005;18:326-82.,88. Kilgore PE, Salim AM, Zervos MJ, Schmitt HJ. Pertussis: microbiology, disease, treatment, and prevention. Clin Microbiol Rev. 2016;29:449-86. A imunoglobulina humana antipertussis foi utilizada em décadas passadas, sendo abandonada por não apresentar valor terapêutico comprovado.77. Scanlon KM, Skerry C, Carbonetti NH. Novel therapies for the treatment of pertussis disease. Pathog Dis. 2015;73:ftv074.,88. Kilgore PE, Salim AM, Zervos MJ, Schmitt HJ. Pertussis: microbiology, disease, treatment, and prevention. Clin Microbiol Rev. 2016;29:449-86. Anticonvulsivantes foram usados não apenas para tratar as convulsões, mas também como sedativos, reduzindo a intensidade dos paroxismos. Seuuso foi abandonado por falta de evidências.77. Scanlon KM, Skerry C, Carbonetti NH. Novel therapies for the treatment of pertussis disease. Pathog Dis. 2015;73:ftv074.,88. Kilgore PE, Salim AM, Zervos MJ, Schmitt HJ. Pertussis: microbiology, disease, treatment, and prevention. Clin Microbiol Rev. 2016;29:449-86.,2525. Berger JT, Carcillo JA, Shanley TP, Wessel DL, Clark A, Holubkov R, et al. Critical pertussis illness in children: a multicenter prospective cohort study. Pediatr Crit Care Med. 2013;14:356-65.,5454. Bettiol S, Wang K, Thompson MJ, Roberts NW, Perera R, Heneghan CJ, et al. Symptomatic treatment of the cough in whooping cough. Cochrane Database Syst Rev. 2012:CD003257. Embora sem grande eficácia, os broncodilatadores, especialmente o salbutamol, ainda são prescritos.77. Scanlon KM, Skerry C, Carbonetti NH. Novel therapies for the treatment of pertussis disease. Pathog Dis. 2015;73:ftv074.,2525. Berger JT, Carcillo JA, Shanley TP, Wessel DL, Clark A, Holubkov R, et al. Critical pertussis illness in children: a multicenter prospective cohort study. Pediatr Crit Care Med. 2013;14:356-65.,5454. Bettiol S, Wang K, Thompson MJ, Roberts NW, Perera R, Heneghan CJ, et al. Symptomatic treatment of the cough in whooping cough. Cochrane Database Syst Rev. 2012:CD003257.

A última revisão da Cochrane, em 2014, sobre coqueluche avaliou efetividade e segurança das intervenções para redução dos paroxismos.5454. Bettiol S, Wang K, Thompson MJ, Roberts NW, Perera R, Heneghan CJ, et al. Symptomatic treatment of the cough in whooping cough. Cochrane Database Syst Rev. 2012:CD003257. Foram incluídos 12 estudos, com os seguintes resultados: a difenidramina não alterou os episódios de tosse; a imunoglobulina antipertussis levou à redução do tempo de tosse em um dia, sem diminuir o tempo de internação hospitalar; a dexametasona não reduziu a internação hospitalar; 0 salbutamol, igualmente, não modificou o curso dos paroxismos; e o montelucaste levou à diminuição no número de acessos por dia, sem significado clínico e estatístico. Assim, os autores concluíram não existirem evidências suficientes para recomendar essas intervenções, devendo seu uso ser desestimulado.5454. Bettiol S, Wang K, Thompson MJ, Roberts NW, Perera R, Heneghan CJ, et al. Symptomatic treatment of the cough in whooping cough. Cochrane Database Syst Rev. 2012:CD003257. Os estudos referentes à abordagem terapêutica (antibioticoterapia, suporte hospitalar, tratamento adjuvante e tratamento sintomático) da tosse estão sumarizados na Tabela 3.

Tabela 3
Categorização dos estudos relacionados à abordagem terapêutica.

CONCLUSÃO

A abordagem da coqueluche grave na infância segue como desafio. Muito se avançou nos últimos anos em relação ao diagnóstico sindrômico e etiológico da coqueluche, especialmente com a introdução do RT-PCR como método diagnóstico. Entretanto, as opções terapêuticas atualmente disponíveis ainda são insatisfatórias. A substituição da eritromicina pela azitromicina facilitou o tratamento, porém, apesar de eficaz em interromper a transmissão, a capacidade de alterar o curso da doença é tímida, especialmente quando o tratamento é tardio e permanecem dúvidas quanto ao melhor esquema terapêutico, principalmente nos casos graves. Alémdisso, a tosse se prolonga por meses, pois nenhum medicamento sintomático demonstrou eficácia. O tratamento de suporte em UTI melhorou o prognóstico dos pacientes com insuficiência respiratória e hipertensão pulmonar, principalmente com ventilação mecânica e óxido nítrico, mas outros estudos são necessários para determinar o papel das terapias adjuvantes. Entre os procedimentos para redução leucocitária, a plasmaférese apresenta custo elevado e efeitos adversos graves, sendo sua indicação controversa, diferentemente da exsanguineotransfusão, que se mostrou eficaz na pertussis maligna. Estudosenvolvendo outras terapias para modulação da resposta imune, como Acetazolamida e Pendrina, mostraram-se promissores na fase experimental, necessitando confirmação de eficácia e segurança em estudos clínicos futuros.

REFERENCES

  • 1
    Torres SL, Santos TZ, Torres RA, Pereira VV, Fávero LA, Filho OR, et al. Resurgence of pertussis at the age of vaccination: clinical, epidemiological, and molecular aspects. J Pediatr (Rio J). 2015;91:333-8.
  • 2
    Lynfield R, Schaffner W. Can we conquer coqueluche? J Infect Dis. 2014;209 (Suppl 1):S1-3.
  • 3
    Cherry JD. Pertussis: challenges today and for the future. PLoS Pathog. 2013;9:e1003418.
  • 4
    Mattoo S, Cherry JD. Molecular pathogenesis, epidemiology, and clinical manifestations of respiratory infections due to Bordetella pertussis and other Bordetella subspecies. Clin Microbiol Rev. 2005;18:326-82.
  • 5
    Bellettini CV, Oliveira AW, Tusset C, Baethgen LF, Amantéa SL, Motta F, et al. Preditores clínicos, laboratoriais e radiográficos para infecção por Bordetella pertussis. Rev Paul Pediatr. 2014;32:292-8.
  • 6
    Zlamy M. Rediscovering Pertussis. Front Pediatr. 2016;4:52.
  • 7
    Scanlon KM, Skerry C, Carbonetti NH. Novel therapies for the treatment of pertussis disease. Pathog Dis. 2015;73:ftv074.
  • 8
    Kilgore PE, Salim AM, Zervos MJ, Schmitt HJ. Pertussis: microbiology, disease, treatment, and prevention. Clin Microbiol Rev. 2016;29:449-86.
  • 9
    Korppi M. Whooping cough - still a challenge. J Pediatr (Rio J). 2013;9:89:520-2.
  • 10
    Brasil. Ministério da Saúde. Coqueluche. Guia de vigilância em saúde. Brasília: Ministério da Saúde; 2014. p.87-104.
  • 11
    Dierig A, Beckmann C, Heininger U. Antibiotic treatment of pertussis: are 7 days really sufficient? Pediatr Infect Dis J. 2015;34:444-5.
  • 12
    Brasil. Ministério da Saúde. Guia de Vigilância em Saúde. Brasília: Ministério da Saúde; 2016.
  • 13
    Munoz FM. Pertussis in infants, children, and adolescents: diagnosis, treatment, and prevention. Semin Pediatr Infect Dis. 2006:17:14-9.
  • 14
    McGirr A, Fisman DN. Duration of pertussis immunity after DTaP immunization: a meta-analysis. Pediatrics. 2015;135:331-43.
  • 15
    Brasil. Ministério da Saúde. Informe técnico. Implantação da vacina adsorvida difteria, tétano e coqueluche (pertussis acelular) tipo adulto - dTpa. Brasília: Ministério da Saúde; 2014.
  • 16
    Centers for Diseases Control and Prevention. [homepage on the Internet]. Pertussis (Whooping Cough) [cited 2016 Dec 20]. Available from: http://www.cdc.gov/vaccines/vpd-vac/pertussis
    » http://www.cdc.gov/vaccines/vpd-vac/pertussis
  • 17
    Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Boletim Epidemiológico. Coqueluche no Brasil: análise da situação epidemiológica 2015. Brasília: Ministério da Saúde; 2015.
  • 18
    Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Boletim Epidemiológico. Coqueluche no Brasil: análise da situação epidemiológica de 2010 a 2014. Brasília: Ministério da Saúde; 2015.
  • 19
    Smith AM, Guzmán CA, Walker MJ. The virulence factors of Bordetella pertussis: a matter of control. FEMS Microbiol Rev. 2001;25:309-33.
  • 20
    Wood N, McIntyre P. Pertussis: review of epidemiology, diagnosis, management and prevention. Paediatr Respir Rev. 2008;9:201-11.
  • 21
    Locht C. Molecular aspects of Bordetella pertussis pathogenesis. Int Microbiol.1999;2:137-44.
  • 22
    Heininger U, Klich K, Stehr K, Cherry JD. Clinical findings in Bordetella pertussis infections: results of a prospective multicenter surveillance study. Pediatrics. 1997;100:E10.
  • 23
    Yildirim I, Ceyhan M, Kalayci O, Cengiz AB, Secmeer G, Gur D, et al. Frequency of pertussis in children with prolongued cough. Scand J Infect Dis. 2008;40:314-9.
  • 24
    Brasil. Ministério da Saúde. Coqueluche. In: Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Guia de vigilância epidemiológica. 7ª ed. Brasília: Ministério da Saúde; 2009. p.200-2.
  • 25
    Berger JT, Carcillo JA, Shanley TP, Wessel DL, Clark A, Holubkov R, et al. Critical pertussis illness in children: a multicenter prospective cohort study. Pediatr Crit Care Med. 2013;14:356-65.
  • 26
    Halperin SA, Bortolussi R, Langley JM, Miller B, Eastwood BJ. Seven days of erythromycin estolate is as effective as fourteen days for the treatment of Bordetella pertussis infections. Pediatrics. 1997;100:65-71.
  • 27
    Elliott E, McIntyre P, Ridley G, Morris A, Massie J, McEniery J, et al. National study of infants hospitalized with pertussis in the acellular vaccine era. Pediatr Infect Dis J. 2004;23:246-52.
  • 28
    Kazantzi MS, Prezerakou A, Kalamitsou SN, Ilia S, Kalabalikis PK, Papadatos J, et al. Characteristics ofBordetella pertussisinfection among infants and children admitted to paediatric intensive care units in Greece: a multicentre, 11-year study. J Paediatr Child Health. 2017;53:257-62.
  • 29
    Bouziri A, Hamdi A, Khaldi A, Smaoui H, Kechrid A, Menif K, et al. Malignant pertussis: an underdiagnosed illness. Med Trop (Mars). 2010;70:245-8.
  • 30
    Paddock CD, Sanden GN, Cherry JD, Gal AA, Langston C, Tatti KM, et al. Pathology and pathogenesis of fatal Bordetella pertussis infection in infants. Clin Infect Dis. 2008;47:328-38.
  • 31
    Palvo F, Fabro AT, Cervi MC, Aragon DC, Ramalho FS, Carlotti AP. Severe pertussis infection: A clinicopathological study. Medicine (Baltimore). 2017;96:e8823.
  • 32
    Mikelova LK, Halperin SA, Scheifele D, Smith B, Ford-Jones E, Vaudry W, et al. Predictors of death in infants hospitalized with pertussis: a case-control study of 16 pertussis deaths in Canada. J Pediatr. 2003;143:576-81.
  • 33
    Marshall H, Clarke M, Rasiah K, Richmond P, Buttery J, Reynolds G, et al. Predictors of disease severity in children hospitalized for pertussis during an epidemic. Pediatr Infect Dis J. 2015;34:339-45.
  • 34
    Vaz-de-Lima LR, Martin MD, Pawloski LC, Leite D, Rocha KC, de Brito CA, et al. Serodiagnosis as adjunct assay for pertussis infection in São Paulo, Brazil. Clin Vaccine Immunol. 2014;21:636-40.
  • 35
    Regan J, Lowe F. Enrichment medium for the isolation of Bordetella. J Clin Microbiol. 1977;6:303-9.
  • 36
    Gilligan PH, Fisher MC. Importance of culture in laboratory diagnosis of Bordetella pertussis infections. J Clin Microbiol. 1984;20:891-3.
  • 37
    Müller FM, Hoppe JE, Wirsing von König CH. Laboratory diagnosis of pertussis: state of the art in 1997. J Clin Microbiol. 1997;35:2435-43.
  • 38
    Vaz TM, Leite D, Kinue I. Coqueluche: Manual de diagnóstico laboratorial do Instituto Adolfo Lutz. São Paulo: Instituto Adolfo Lutz, Centro de Bacteriologia, Laboratório de Referência Nacional para Coqueluche; 2010.
  • 39
    Reischl U, Lehn N, Sanden GN, Loeffelholz MJ. Real-time PCR assay targeting IS481 of Bordetella pertussis and molecular basis for detecting Bordetella holmesii. J Clin Microbiol. 2001;39:1963-6.
  • 40
    Altunaiji S, Kukuruzovic R, Curtis N, Massie J. Antibiotics for whooping cough (pertussis). Cochrane Database Syst Rev. 2007:CD004404.
  • 41
    Bass JW. Erythromycin for treatment and prevention of pertussis. Pediatr Infect Dis J. 1986;5:154-7.
  • 42
    Tiwari T, Murphy TV, Moran J, National Immunization Program CDC. Recommended antimicrobial agents for the treatment and postexposure prophylaxis of pertussis. 2005 CDC Guidelines. MMWR Recomm Rep. 2005;54:1-16.
  • 43
    Langley JM, Halperin SA, Boucher FD, Smith B, Pediatric Investigators Collaborative Network on Infections in Canada (PICNIC). Azithromycin is as effective as and better tolerated than erythromycin estolate for the treatment of pertussis. Pediatrics. 2004;114:e96-101.
  • 44
    Korgenski EK, Daly JA. Surveillance and detection of erythromycin resistance in Bordetella pertussis isolates recovered from a pediatric population in the Intermountain West region of the United States. J Clin Microbiol. 1997;35:2989-91.
  • 45
    Lebel MH, Mehra S. Efficacy and safety of clarithromycin versus erythromycin for the treatment of pertussis: a prospective, randomized, single blind trial. Pediatr Infect Dis J. 2001;20:1149-54.
  • 46
    Lund M, Pasternak B, Davidsen RB, Feenstra B, Krogh C, Diaz LJ, et al. Use of macrolides in mother and child and risk of infantile hypertrophic pyloric stenosis: nationwide cohort study. BMJ. 2014;348:g1908.
  • 47
    Surridge J, Segedin ER, Grant CC. Pertussis requiring intensive care. Arch Dis Child. 2007;92:970-5.
  • 48
    Lopez MA, Cruz AT, Kowalkowski MA, Raphael JL. Trends in hospitalizations and resource utilization for pediatric pertussis. Hosp Pediatr. 2014;4:269-75.
  • 49
    Romano MJ, Weber MD, Weisse ME, Siu BL. Pertussis pneumonia, hypoxemia, hyperleukocytosis, and pulmonary hypertension: improvement in oxygenation after a double volume exchange transfusion. Pediatrics. 2004;114:e264-6.
  • 50
    Nieves D, Bradley JS, Gargas J, Mason WH, Lehman D, Lehman SM, et al. Exchange blood transfusion in the management of severe pertussis in young infants. Pediatr Infect Dis J. 2013;32:698-9.
  • 51
    Rowlands HE, Goldman AP, Harrington K, Karimova A, Brierley J, Cross N, et al. Impact of rapid leukodepletion on the outcome of severe clinical pertussis in young infants. Pediatrics. 2010;126:e816-27.
  • 52
    Grzeszczak MJ, Churchwell KB, Edwards KM, Pietsch J. Leukopheresis therapy for severe infantile pertussis with myocardial and pulmonary failure. Pediatr Crit Care Med. 2006;7:580-2.
  • 53
    Halasa NB, Barr FE, Johnson JE, Edwards KM. Fatal pulmonary hypertension associated with pertussis in infants: does extracorporeal membrane oxygenation have a role? Pediatrics. 2003;112:1274-8.
  • 54
    Bettiol S, Wang K, Thompson MJ, Roberts NW, Perera R, Heneghan CJ, et al. Symptomatic treatment of the cough in whooping cough. Cochrane Database Syst Rev. 2012:CD003257.

Financiamento

  • Este trabalho foi realizado sem apoio financeiro, como parte dos pré-requisitos para obtenção do título de Mestre do Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Medicina de Jundiaí (FMJ).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    16 Maio 2019
  • Data do Fascículo
    Jul-Sep 2019

Histórico

  • Recebido
    31 Out 2017
  • Aceito
    29 Abr 2018
  • Publicado
    10 Maio 2019
Sociedade de Pediatria de São Paulo R. Maria Figueiredo, 595 - 10o andar, 04002-003 São Paulo - SP - Brasil, Tel./Fax: (11 55) 3284-0308; 3289-9809; 3284-0051 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: rpp@spsp.org.br