Resumo: As religiões afro-brasileiras integram as lutas históricas de resistência às tentativas de apagamento da história e memória dos descendentes de africanos no Brasil. Entretanto, foi em fins dos anos 1980 e início dos anos 1990 que os terreiros e os seus integrantes, as chamadas comunidades de Egbé, passaram a exercer o protagonismo político na elaboração de estratégias político-jurídicas e epistemológicas de combate ao racismo. A partir da experiência do Projeto Tradição dos Orixás, constituído na Baixada Fluminense, Rio de Janeiro, analisa-se o movimento de afroperspectivação que ressignificou o papel de sacerdotes e sacerdotisas (autoridades civilizatórias) das religiões afro-brasileiras, deslocando-os do plano da representação simbólica e os inserindo na condição de interlocutores de um novo traçado de luta antirracista, que interpõe raça e religião. O objetivo deste artigo é apresentar essa trajetória singular, destacando a diversidade de estratégias de resistência, em particular, a perspectiva dos valores afrocentrados dentro dos terreiros e suas repercussões contemporâneas.
Palavras-chave:
memórias Afro-brasileiras; Tradição dos Orixás; racismo religioso; intolerância religiosa