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NOTÍCIAS BIBLIOGRÁFICAS LITERATURE NEWS

Carlos Augusto Monteiro

Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública da USP Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da USP/NUPENS

Velhos e novos males da saúde no Brasil: a evolução do País e de suas doenças - Organizado por Carlos Augusto Monteiro. São Paulo, Editora HUCITEC, 1995. 360 p.

O livro em referência está organizado em sete seções e vinte capítulos.

A primeira seção discute conceitos e métodos subjacentes ao tema "mudanças em padrões de morbimortalidade". Ali o leitor encontrará, entre outros aspectos, uma revisão crítica dos enfoques com que o tema vem sendo tratado na literatura, a apreciação das limitações que circundam o conceito de transição epidemiológica e uma lúcida defesa dos "estudos ecológicos", alternativa metodológica extensamente utilizada neste livro.

A segunda seção traz três capítulos que tratam da evolução de condicionantes do estado de saúde da população, cobrindo período que vai de meados do século aos anos 90. Aborda-se, de início, a trajetória da economia brasileira e suas repercussões sobre a pobreza absoluta, a distribuição da renda e o investimento governamental em políticas públicas. O impacto das transformações econômicas na dinâmica demográfica do País é apreciado em capítulo que analisa o crescimento e a distribuição espacial da população, as taxas de fecundidade e natalidade e as mudanças na estrutura de idades da população. Uma avaliação das tendências temporais dos padrões de alimentação da população brasileira conclui a seção sobre condicionantes da saúde.

As próximas três seções tratam da agenda tradicional da saúde pública nas sociedades não desenvolvidas, onde são discutidas a desnutrição, a mortalidade precoce e as doenças infecciosas e parasitárias.

Quatro capítulos descrevem o que tem sido a evolução do estado nutricional da população brasileira. O primeiro se ocupa de substanciais mudanças na magnitude e distribuição da desnutrição infantil registradas no País da década de 70 para a década de 80, buscando relacioná-las à evolução da renda familiar, à atuação de políticas públicas e a mudanças na dinâmica demográfica. O segundo trata do desvio nutricional que provavelmente melhor indica o convívio da sociedade com a fome: a deficiência energética na população adulta. O terceiro recupera, com alguma engenhosidade, a evolução da altura dos brasileiros ao longo das últimas três décadas, retomando tema caro aos pioneiros da Medicina Social do século XIX. A evolução simultânea da nutrição infantil, do crescimento econômico e do acesso a serviços públicos essenciais nos maiores Estados brasileiros é tema para o quarto ensaio que encerra o exame da agenda nutricional.

Outros quatro capítulos examinam a evolução da mortalidade infantil e materna. O primeiro deles resgata a tendência secular da mortalidade infantil no País desde a década de 30, combinando técnicas indiretas e diretas de medição da mortalidade. Particular atenção é dada ao comportamento da sobre-mortalidade da Região Nordeste frente às demais regiões do País. A cidade de São Paulo constitui o cenário para o segundo e terceiro textos. Em um deles revisita-se a polêmica ascenção da mortalidade infantil da cidade nos anos 60 e propõe-se uma nova explicação para o fenômeno. No outro, analisam-se duas décadas de contínuo descenso da mortalidade infantil de São Paulo (1973-1993), examinando-se com detalhe a situação de diferentes áreas da cidade e o comportamento dos diferenciais espaciais-sociais da mortalidade. Informações singulares (e talvez surpreendentes) sobre tendências da eqüidade social na cidade são desvendadas por esse ensaio. Um quarto texto examina tendências de evolução da mortalidade materna no Brasil.

Em um único capítulo aborda-se o comportamento das enfermidades infecciosas e parasitárias, avaliando-se tendências de evolução, estratégias de ação da saúde pública e perspectivas de controle. São examinadas, com destaque, as principais endemias urbanas do País (tuberculose e hanseníase), as principais endemias rurais (malária, chagas, esquistossomose e leishmanioses) e o conjunto das doenças imunopreveníveis (poliomielite, tétano, difteria, coqueluche e sarampo). A reintrodução da cólera e do dengue é motivo para um tópico especial, onde se analisam as razões que poderiam explicar o fenômeno, o seu significado epidemiológico e social e as perspectivas para o controle das duas enfermidades no Brasil.

A sexta seção trata da nova agenda da Saúde Pública. Em seis capítulos examina-se a evolução no País de problemas que, equivocadamente, com freqüência são caracterizados como "doenças da afluência". Inicia-se pelo exame da pertinência empírica no Brasil do que vem sendo chamado de "transição nutricional", processo através do qual a desnutrição tenderia a perder terreno epidemiológico para a obesidade. A explosão das mortes por causas violentas nas grandes cidades do País é vista a seguir. Tendências de evolução do câncer e das doenças cardiovasculares são apreciadas com base em séries históricas da mortalidade na população do Estado de São Paulo. A evolução dos acidentes de trabalho e das doenças ocupacionais e os cenários que podem ser antecipados para a saúde dos trabalhadores brasileiros constituem temas para o capítulo seguinte. O surgimento e a evolução da AIDS no País são tratados no último capítulo desta seção.

A sétima seção oferece uma síntese das principais modificações observadas no perfil de morbimortalidade da população brasileira, destaca hipóteses que relacionam o comportamento das doenças a transformações políticas, econômicas, culturais e demográficas da sociedade, e considera implicações para o conteúdo e estratégias da política nacional de saúde.

Ruy Laurenti

Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública da USP

Epidemiologia: Auto-Avaliação e Revisão - Marcelo Gurgel Carlos da Silva. 2a edição. Fortaleza, Expressão Gráfica, 1995. 316p.

O autor já publicou outros livros que apresentam questões e respostas os quais têm por objetivo fazer com que o leitor se auto-avalie e, principalmente, se prepare para exames, quer em concursos públicos ou para ingresso em cursos de pós-graduação ou similar.

Não se trata de um texto de epidemiologia no sentido clássico do termo, mas como comenta um dos professores que apresentam o livro: "Uma coleção de questões práticas cujo conteúdo cobre, de maneira ampla, o campo da Epidemiologia. Esta obra mostra-se útil não somente como base para exames formais na área da Saúde mas também para aqueles que querem uma abordagem alternativa ao estudo e à revisão dessa ciência de importância crescente ".

É apresentado em cinco capítulos a saber: Epidemiologia Geral; Epidemiologia Histórica; Métodos Epidemiológicos; Epidemiologia das Doenças Infecciosas e Epidemiologia das Doenças Não Infecciosas. Chama a atenção o capítulo referente à Epidemiologia Histórica que pode parecer, à primeira vista, mais uma adjetivação da epidemiologia como as várias outras que têm surgido nos últimos anos. Entretanto, quem conhece o autor e sabendo de sua cultura humanística entende bem porque existe esse capítulo onde aparece questões como: "O mecanismo básico da morte na crucificação é a:..."; "O mais antigo código higiênico escrito foi estabelecido por:..."; "Desde a antigüidade, a doença que mais tem flagelado os militares, muitas vezes é a...". E outras semelhantes. Logicamente em nenhum exame para concurso irá cair uma das 70 perguntas que contém o capítulo, porém, como ilustração cultural e humanística é bastante interessante!

Digno de nota são as referências bibliográficas nas quais se baseiam grande número de respostas e que, por sua vez, dá ao leitor a possibilidade de ampliar seus conhecimentos quando tiver algum interesse específico.

Independente de se necessitar de uma boa revisão de conhecimentos visando à feitura de um exame de epidemiologia, o livro é altamente recomendável para se colocar em dia o conhecimento epidemiológico, particularmente em alguns temas a que poucos estão afeitos.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    25 Ago 2003
  • Data do Fascículo
    Dez 1995
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