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Mortalidade em pacientes com psicoses funcionais não afetivas na cidade de São Paulo, Brasil

Estudos sobre mortalidade na esquizofrenia e outras psicoses não afetivas em diversos países industrializados têm consistentemente encontrado índices maiores que aqueles observados na população geral. A principal causa dessa maior mortalidade é o suicídio, ocorrendo em média 20 vezes mais freqüentemente do que na população geral. Esse tópico adquire relevância para a saúde pública no Brasil, em função do aumento previsto no número de casos de psicoses no País devido à mudança de estrutura etária da população, e da política de saúde mental atual, que tem desestimulado a internação psiquiátrica, priorizando o tratamento das psicoses na comunidade. Para investigar essa questão, realizou-se estudo prospectivo no município de São Paulo, SP (Brasil). A amostra consistiu de 120 internações consecutivas em uma região delimitada daquele município, na faixa etária de 18 a 44 anos, com diagnóstico clínico de psicose funcional não afetiva. A amostra foi seguida por 2 anos a partir da internação psiquiátrica. Ao término desse período, foi possível estabelecer a evolução de 116 pacientes (96.7%). Sete pacientes faleceram (6% dos 116 que completaram o estudo), sendo que 5 (4.3%) cometeram suicídio. Quatro dos casos de suicídio ocorreram durante os primeiros 12 meses após a alta hospitalar. As Razões de Mortalidade padronizadas para idade e sexo (relativos às taxas de mortalidade para a população de São Paulo) foram 8.4 para mortalidade geral (intervalo de confiança de 95%: 4.0-15.9) e 317.9 para mortes por suicídio (intervalo de confiança de 95%: 125.2-668.3). Os resultados do presente estudo indicam que as psicoses funcionais não afetivas estão associadas a uma esperança de vida menor que a observada na população geral. Vários países vêm priorizando, já por muitos anos, a atenção psiquiátrica na comunidade. Tanto pacientes e familiares preferem essa alternativa de tratamento ao antigo modelo hospitalocêntrico. No entanto, é necessário que os programas de saúde mental no Brasil forneçam cuidados de saúde adequados aos pacientes que sofrem desses transtornos, particularmente no período que se segue à alta hospitalar, a fim de que se evite ao máximo uma evolução tão desfavorável para os pacientes e seus familiares.

Esquizofrenia; Suicídio


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