RESUMO
OBJETIVO Analisar a distribuição e associação de fatores sociodemográficos e ocupacionais a acidentes de trabalho (AT) autorrelatados em uma amostra representativa da população brasileira, com ênfase na classe ocupacional, e examinar as diferenças de gênero nessa distribuição.
MÉTODOS Estudo transversal de base populacional, com dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2019, analisou as respostas de uma amostra de adultos com 18 anos ou mais de idade. Fatores associados a AT foram investigados por regressão logística binária e análise hierarquizada por meio de blocos (variáveis sociodemográficas e ocupacionais). O modelo final foi ajustado pelas variáveis de todos os blocos, adotando-se o nível de significância de 5%. Obtiveram-se os valores das razões de chance (RC) e respectivos intervalos de confiança.
RESULTADOS Entre os participantes, 2,69% relataram ter sofrido AT, sendo mais alta a prevalência em homens (3,37%; IC95% 2,97–3,82%), se comparados às mulheres (1,86%; IC95% 1,55–2,23%). A análise identificou que faixa etária, trabalho noturno, jornada de trabalho e exposição a riscos laborais foram associados a AT, com destaque para as diferenças de gênero. A classe de trabalhadores manuais, tanto qualificados (RCmulheres = 2,87; IC95% 1,33–6,21 e RChomens = 2,46; IC95% 1,37–4,40) quanto não qualificados (RCmulheres = 2,55; IC95% 1,44–4,50 e RChomens = 3,70; IC95% 1,95–7,03), apresentaram maior chance de AT em comparação à classe de gerentes/profissionais.
CONCLUSÃO Fatores ocupacionais contribuíram significativamente para o aumento na probabilidade de AT para homens e mulheres, com maior magnitude entre aqueles posicionados nos estratos inferiores da estrutura ocupacional. Os resultados obtidos são pistas para a elaboração de ações de prevenção de AT.
Acidentes de Trabalho; Gênero; Fatores Sociodemográficos; Fatores de Risco; Inquéritos Epidemiológicos
ABSTRACT
OBJECTIVE To analyze the distribution and association of sociodemographic and occupational factors with self-reported work accidents (WA) in a representative sample of the Brazilian population, with emphasis on occupational class, and to examine gender differences in this distribution.
METHODS A population-based cross-sectional study, using data from the 2019 National Health Survey (PNS), analyzed the responses of a sample of adults aged 18 or over. Factors associated with WA were investigated using binary logistic regression and hierarchical analysis using blocks (sociodemographic and occupational variables). The final model was adjusted by variables from all blocks, adopting a significance level of 5%. The values of odds ratios (OR) and respective confidence intervals were obtained.
RESULTS Among the participants, 2.69% reported having suffered a WA, with a higher prevalence in men (3.37%; 95%CI 2.97–3.82%) than in women (1.86%; 95%CI 1.55–2.23%). The analysis identified that age group, night work, working hours, and exposure to occupational risks were associated with WA, with emphasis on gender differences. The class of manual workers, both qualified (ORwomen = 2.87; 95%CI 1.33–6.21 and ORmen = 2.46; 95%CI 1.37–4.40) and unskilled (ORwomen = 2.55; 95%CI 1.44–4.50 and ORmen = 3.70; 95%CI 1.95–7.03), had a higher chance of WA than the class of managers/professionals.
CONCLUSION Occupational factors contributed significantly to the increase in the probability of WA for men and women, with greater magnitude among those positioned in the lower strata of the occupational structure. The results obtained are clues for working out WA prevention actions.
Accidents, Occupational; Gender; Sociodemographic Factors; Risk Factors; Health Surveys
INTRODUÇÃO
Existe convergência entre escolaridade, renda e lugar ocupado pelo indivíduo na estrutura ocupacional que reflete no tipo, resultado e intensidade das atividades desenvolvidas pelos trabalhadores e trabalhadoras. Determinada por processos econômicos e políticos, a estrutura ocupacional representa a ideia de uma sociedade que hierarquiza e discrimina as ocupações1. Sabe-se que, nas classes baixas da estrutura, geralmente são maiores as taxas de mortalidade, bem como são piores os resultados de saúde, se comparadas às classes posicionadas no andar de cima2,3. Natureza das atividades e condições em que o trabalho é realizado são específicas a cada classe, explicando, ao menos em parte, as desigualdades em saúde4,5.
Em primeiro lugar, o acesso ao emprego depende do nível de escolaridade2. Em ocupações com menor exigência de escolaridade/qualificação, em segundo, é maior a chance de indivíduos estarem expostos a ambientes insalubres e perigosos, culminando em uma maior prevalência de acidentes de trabalho (AT)6,7. De acordo com resultados anteriores, em terceiro lugar, observou-se que os efeitos dos riscos não são idênticos quando há comparação entre os grupos ocupacionais6.
AT são eventos súbitos, resultantes de causas não naturais, que ocorrem no ambiente laboral durante o exercício das atividades pelo trabalhador, provocando lesões corporais ou perturbações funcionais. Sendo considerados um problema de saúde pública, são fonte de morbimortalidade e podem gerar incapacidade laborativa e saída precoce da força de trabalho4,8. Além de dor e sofrimento para as vítimas, esses eventos geram custos previdenciários, despesas aos serviços de saúde, ônus social e financeiro para toda a sociedade9,10.
No âmbito das investigações acerca da distribuição de AT baseadas na estrutura ocupacional, as pesquisas trazem perspectivas esclarecedoras. Embora os resultados recentes no Brasil se concentrem em estudos locais9,11, muitos direcionados a categorias específicas12, existe possibilidade de uma visão mais abrangente.
Uma abordagem mais completa das desigualdades em AT requer a incorporação das diferenças de gênero nas análises, de forma que é importante esclarecer a conexão entre sexo e gênero, conforme sugerido pelos autores que estudam as articulações entre trabalho e saúde13. Sexo diz respeito a fatores biológicos, incluindo cromossômicos e hormonais. Por sua vez, gênero refere-se às expectativas e aos papéis construídos socialmente considerados próprios aos homens ou às mulheres14. Esse tipo de atribuição de papéis molda experiências e desigualdades no acesso a recursos e oportunidades. Por exemplo, a distribuição entre homens e mulheres do tempo destinado às atividades de trabalho e domésticas se mantém desequilibrada, em que pese o aumento da participação das mulheres no mercado de trabalho15.
Nesse sentido, este estudo teve como objetivo analisar a distribuição e associação de fatores sociodemográficos e ocupacionais ao acidente de trabalho autorrelatado em uma amostra representativa da população brasileira, com ênfase na classe ocupacional, bem como examinar as diferenças de gênero nessa distribuição.
MÉTODOS
Desenho do Estudo, Fonte de Dados e População Amostral
O estudo transversal analisou dados secundários da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) – 201916,17. A amostragem probabilística da PNS, representativa da população brasileira com 15 anos ou mais, foi realizada por meio de um processo de conglomerados em três estágios, incluindo a estratificação das unidades primárias de amostragem. No primeiro estágio, foram selecionados os setores censitários, ou conjuntos de setores constitutivos das unidades primárias de amostragem. No segundo estágio, foram selecionados os domicílios. Para o terceiro estágio, em cada domicílio, foi selecionado aleatoriamente um morador para responder ao questionário individual. Detalhes sobre o processo amostral, o desenho e realização da PNS 2019 estão publicados16.
Para as análises deste estudo, foram consideradas elegíveis as pessoas ocupadas (entre os moradores selecionados) com idade igual a 18 anos ou mais, que responderam ao módulo do questionário referente à característica do trabalho e apoio social (Módulo M). Foram excluídos militares, empregadores e pessoas que cuidam de afazeres domésticos em casa ou para pessoas próximas. Após a remoção dos inelegíveis, obteve-se uma amostra total de 50.056 indivíduos que responderam a todas as questões de interesse desta pesquisa.
Variáveis do Estudo
A variável desfecho AT, do tipo dicotômica, foi obtida por meio da resposta à questão O21 do módulo O da PNS 2019 “Nos últimos doze meses o(a) sr.(a) se envolveu em algum acidente de trabalho (sem considerar os acidentes de trânsito e/ou de deslocamento para o trabalho)?”
O primeiro bloco de variáveis independentes diz respeito aos seguintes fatores sociodemográficos: sexo (homem, mulher), faixa etária (18–29 anos, 30–39 anos, 40–49 anos, 50–59 anos e ≥ 60 anos), nível de instrução (superior, médio, fundamental e sem instrução), raça/cor (branca, preta, parda e outras). Os fatores ocupacionais constituem o segundo bloco, sendo os seguintes: trabalho noturno (sim, não), jornada de trabalho semanal (inferior a 40 horas, entre 40 e 44 horas e superior a 44 horas), exposição a riscos laborais, ou seja, a exposição a riscos químicos, físicos ou biológicos no trabalho (sim, não). As classes ocupacionais foram definidas a partir da resposta à questão E12 “Qual era a ocupação (cargo ou função) que tinha nesse trabalho?”.
Classificação de ocupações é um método que permite organizar grupos ocupacionais definidos de acordo com renda, escolaridade, tipo e demanda das tarefas desempenhadas. Indicadores baseados nas classes ocupacionais capturam os efeitos desses fatores sobre a saúde e segurança dos trabalhadores2,6,18. A Classificação Brasileira de Ocupações (CBO)19 está em linha com a Classificação Internacional Uniformizada das Ocupações (CIUO), elaborada pela Organização Internacional do Trabalho (OIT)20 para facilitar a produção de informações sobre o emprego e os trabalhadores de diferentes países. Os critérios de classificação e a terminologia empregada na CIUO para definir e nomear as ocupações são amplamente discutidos e divulgados, de forma a orientar a tomada de decisões e elaborações de ações e programas específicos, bem como apoiar pesquisas20. A versão atual da CIUO considera o nível de competência como critério básico para definir o sistema que incorpora grandes grupos ocupacionais, subgrupos principais, subgrupos e grupos de base (famílias ocupacionais). Nesse âmbito, a CBO define competência como “função da complexidade, amplitude e responsabilidade das atividades desenvolvidas no emprego ou outro tipo de relação de trabalho”19. A avaliação de uma competência é operacional, pois considera a natureza do trabalho própria àquela ocupação, a escolaridade requerida para desempenhar aquela tarefa, e a formação específica ou experiência prévia, que promoveriam o desenvolvimento das competências pertinentes20.
As alternativas de resposta sobre a ocupação que constam do questionário da PNS são baseadas na Classificação de Ocupações para Pesquisas Domiciliares (COD), que é uma adaptação da CBO para as pesquisas domiciliares do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)21.
Neste estudo, foi utilizada a composição em seis categorias (Quadro) que representam os dez grandes grupos ocupacionais da COD. Essa estratégia tem a vantagem de evitar excesso de variáveis que acarretaria problemas nas estimativas dos estudos estatísticos3. A referida composição foi sugerida na Escala de Status Socioeconômico das Ocupações, desenvolvida por Pastore e Silva22, bastante difundida no Brasil por combinar posições educacionais e econômicas individuais dentro de uma classe ocupacional específica. Nessa tipologia, a distinção entre trabalho manual e não manual é uma tentativa de capturar a discriminação resultante da estrutura social e o grau de prestígio conferido às diferentes profissões1,3,22.
Análise Estatística
Todas as análises de AT foram realizadas com atenção às características da amostra complexa da PNS 2019. Dessa feita, foram considerados os fatores de expansão ou pesos amostrais dos domicílios e todos seus moradores, assim como do morador selecionado para a entrevista. Todos oc cálculos foram realizados com auxílio do programa Stata 16.0. Primeiramente, foi realizada análise descritiva da amostra com todas as variáveis de interesse. As diferenças de proporção foram estimadas pelo teste qui-quadrado de Pearson, considerando-se valor de p < 0,05. Foi realizado o cálculo de prevalências com os respectivos intervalos de confiança de 95% (IC95%). A associação entre acidente de trabalho autorreferido com as variáveis independentes foi analisada por meio da regressão logística binária. As análises não ajustada e ajustada foram realizadas com amostra estratificada por sexo.
Foram incluídas na análise ajustada todas as variáveis com valor-p inferior a 0,20 da análise não ajustada. Para o modelo multivariável, foi estabelecido um modelo hierárquico com a inclusão dos dois diferentes blocos: o primeiro composto por variáveis sociodemográficas e, o segundo, por variáveis ocupacionais. Utilizou-se o método backward para seleção das variáveis, permanecendo ao final somente aquelas significativas ao nível de 5%. A magnitude da associação foi estimada por meio da razão de chances (RC) com os respectivos IC95% em todas as fases da análise.
A qualidade do ajuste dos modelos foi avaliada por meio do teste de Hosmer-Lemeshow. Foram testadas possíveis interações entre as variáveis que permaneceram no modelo final. Após a definição dos modelos, cálculos preditivos por classe ocupacional foram realizados para homens e mulheres, segundo dois perfis distintos: o primeiro composto pelas características de maior chance de AT e o segundo com as características de menor chance.
RESULTADOS
Dois milhões e quarenta e oito mil trabalhadores brasileiros com 18 anos ou mais de idade relataram ter sofrido AT entre 2018 e 2019, o que corresponde a 2,69% (IC95% 2,42–2,98%) da amostra analisada. A maior prevalência foi observada entre os homens se comparados às mulheres, 3,37% (IC95% 2,97–3,82%) e 1,86% (IC95% 1,55–2,23%), respectivamente. Foram observadas diferenças na prevalência de AT para as variáveis, de acordo com o gênero (Tabela 1).
Na análise não ajustada, todas as variáveis independentes foram mantidas (p < 0,20) e, portanto, levadas para análise ajustada para ambos os sexos (Tabelas 2 e 3). No modelo final ajustado para as mulheres, as variáveis faixa etária, classes ocupacionais, trabalho noturno, jornada e exposição a riscos laborais permaneceram associadas ao desfecho (Tabela 2). Observaram-se maiores chances de AT entre trabalhadoras posicionadas na classe manual qualificada (RC = 2,87; IC95% 1,33–6,21) quando comparadas à classe de gerentes e profissionais. Maiores chances de AT foram verificadas entre as mulheres com autorrelato de jornada entre 40 e 44 horas semanais (RC = 1,87; IC95% 1,20–2,90) e jornada superior a 44 horas semanais (RC = 1,58; IC95% 1,00–2,49), se comparadas às mulheres que autorrelataram jornada inferior a 40 horas semanais. O modelo identificou maiores chances de AT entre aquelas que afirmaram realizar trabalho noturno (RC = 1,59; IC95% 1,00–2,56). Vale destacar a interação entre faixa etária e exposição a riscos laborais, provocando a necessidade de produzir um modelo adicional para melhor discriminar os resultados (Tabela 4).
No modelo adicional (Tabela 4) estratificado por exposição a riscos laborais, observou-se, no grupo de mulheres expostas, maior chance de AT entre aquelas com idade entre 18 e 29 anos (RC = 5,55; IC95% 2,16–14,30), se comparadas às mulheres com idade superior a 60 anos.
Entre os homens, o modelo final ajustado (Tabela 3) indicou maior chance de AT no grupo de trabalhadores manuais não qualificados (RC = 4,23; IC95% 2,24–8,00), se comparados ao grupo de referência. Observou-se que o aumento na duração da jornada de trabalho, no grupo dos homens, está relacionado ao aumento da chance de AT. Autorrelato de trabalho noturno (RC = 1,47; IC95% 1,08–2,00) e exposição a riscos laborais (RC = 3,37; IC95% 2,40–4,74) foram associados ao desfecho. Uma chance maior de AT foi observada no grupo de trabalhadores na faixa etária entre 18 e 29 anos (RC = 1,84; IC95% 1,15–2,94), se comparado ao grupo com idade superior a 60 anos. Os modelos para ambos os sexos apresentaram bom ajuste, segundo a estatística de Hosmer-Lemeshow (p > 0,05).
As probabilidades de AT para as classes ocupacionais do grupo de mulheres foram analisadas (Figura A) de acordo com os seguintes perfis: 1) idade de 60 anos ou mais sem exposição a riscos no ambiente laboral, sem relato de trabalhar à noite, jornada de trabalho inferior a 40 horas semanais; 2) idade entre 18 e 29 anos com exposição a riscos no ambiente laboral, autorrelato de trabalhar à noite, jornada de trabalho entre 40 e 44 horas semanais. Para as mulheres gerentes ou profissionais do perfil 1, a probabilidade de relatar acidentes foi 0,14% (IC95% 0,01–0,28%), sendo que do perfil 2, a probabilidade foi 5,95% (IC95% 1,97–9,93%), ainda que inseridas na mesma classe ocupacional. No perfil 1, as probabilidades do desfecho entre as mulheres das classes manual qualificada, rural e manual não qualificada foram, respectivamente, 0,41% (IC95% 0,02–0,89%), 0,19% (IC95% 0,00–0,39%) e 0,36% (IC95% 0,05–0,68%). Quando avaliadas as mulheres de perfil 2, aumentou em 15,36% (IC95% 4,30–26,42%) a probabilidade de AT na classe manual qualificada, 7,93% (IC95% 1,85–14,01%) na classe rural e 13,87% (IC95% 5,21–22,52%) na classe manual não qualificada (Figura A), se comparadas às mulheres do perfil 1.
Probabilidade estimada de ocorrência de acidente de trabalho para mulheres (A) e homens (B) de acordo com classes ocupacionais. Pesquisa Nacional de Saúde, Brasil, 2019.
Em relação às classes ocupacionais (Figura B), para os homens foram estudados os seguintes perfis: 1) idade 60 anos ou mais, sem relato de trabalhar à noite, jornada inferior a 40 horas semanais, e sem exposição a riscos laborais; 2) faixa etária entre 18 e 29 anos, autorrelato de trabalhar à noite, jornada superior a 44 horas semanais e exposição a riscos laborais. Para os homens gerentes ou profissionais do perfil 1, a probabilidade de relatar acidentes foi de 0,23% (IC95% 0,06–0,39%), enquanto no perfil 2, inseridos na mesma classe, a probabilidade foi de 4,36% (IC95% 1,79–6,92%). A probabilidade de AT entre os homens das classes manual qualificada, rural e manual não qualificada do perfil 1 foi 0,56% (IC95% 0,22–0,90%), 0,82% (IC95% 0,35–1,29%) e 0,84% (IC95% 0,31–1,37%), respectivamente. Quando avaliados os homens de perfil 2, a probabilidade de AT aumentou em 10,06% (IC95% 6,78–13,34%) na classe manual qualificada, 14,17% (IC95% 7,88–20,86%) na classe rural e 14,42% (IC95% 8,48–20,36%) na classe manual não qualificada (Figura B), se comparados aos homens do perfil 1.
DISCUSSÃO
Pela primeira vez, são apresentados resultados referentes à população brasileira sobre a chance de AT em homens e em mulheres, de acordo com as classes ocupacionais. Seguindo a tendência mundial23, observou-se diminuição da prevalência de AT, em 2019, se comparada à edição anterior da PNS10.
Além disso, há maior chance de AT em homens e mulheres posicionados nas ocupações classificadas como predominantemente manuais. Essas ocupações são caracterizadas por tarefas de conteúdo do tipo rotineiro ou elementar; ou seja, atividades repetitivas e predefinidas, para as quais não há exigência de qualificação especializada. De acordo com as classificações padronizadas supracitadas, as ocupações predominantemente manuais são posicionadas no andar de baixo da hierarquia ocupacional1,19. Trabalhadores nessas ocupações, geralmente, são menos escolarizados, raramente treinados nos temas relativos à proteção e segurança ocupacional, e usufruem de menor poder para evitar a exposição a riscos de AT7.
Convergente com a literatura, respondentes mais jovens apresentaram maior chance de relatar AT. Primeiramente porque o mercado de trabalho seleciona indivíduos com maior capacidade muscular e habilidade sensorial para ocupar os postos mais inseguros e insalubres. Aqueles que não sofreram os efeitos da exposição laboral ou das intempéries da vida, geralmente mais jovens, terão mais oportunidades nesse tipo de processo seletivo24,25. O denominado efeito trabalhador sadio expressa tal viés de seleção, ou seja, os que perderam a capacidade para enfrentar as exigências de força, vigilância e agilidade não “sobreviveram” no mercado de trabalho, pois estão doentes ou se aposentaram mais cedo25. Em segundo lugar, os mais jovens ainda não tiveram experiência suficiente para desenvolver habilidades de autoproteção, explicando, ao menos em parte, a maior chance de AT nessa faixa etária26.
Os resultados referentes a jornadas prolongadas e trabalho noturno foram estatisticamente significativos em ambos os sexos. Os mecanismos pelos quais esses fatores afetam negativamente a saúde e a segurança ocupacional estão bem documentados27. Alteração das funções cognitivas e aumento da fadiga são efeitos das perturbações do ciclo circadiano, que ocorrem quando as pessoas trabalham à noite e também são esperados quando o tempo para recuperação é reduzido em face das extensas jornadas. Esses efeitos são condições na origem dos AT28.
A análise das probabilidades de AT nas classes ocupacionais mostra a associação significativa da idade e dos fatores ocupacionais na ocorrência desses eventos. Observou-se que idade mais jovem, exposição a riscos laborais, trabalho noturno e jornadas prolongadas, quando combinados, contribuem para o aumento expressivo das probabilidades de AT em todas as classes ocupacionais, tanto para homens quanto para as mulheres.
As diferenças nas probabilidades de AT entre as distintas classes se destacaram, principalmente no grupo masculino, quando avaliado o perfil 2. As classes de trabalhadores rurais e manuais não qualificados, sujeitas às condições associadas a uma maior chance de AT, exibiram percentuais significativamente mais elevados em comparação com as classes de gerentes e profissionais quando expostos ao mesmo conjunto de fatores. Esse resultado é consistente com a hipótese inicial deste estudo.
As diferenças de gênero observadas são passíveis de interpretação14, indicando elementos para investigações mais aprofundadas. Sabe-se que as exposições ocupacionais podem variar quando as mulheres são comparadas aos homens da mesma classe, porque, geralmente, elas desempenham tarefas que não são atribuídas a eles dentro de uma mesma ocupação29. Por exemplo, nos estabelecimentos hospitalares, os auxiliares de enfermagem estão expostos a tarefas que solicitam movimentação de carga (movimentar paciente no leito etc.), com mais chance de queda ou torções de tronco, e as auxiliares se responsabilizam pelos procedimentos que exigem mais destreza, como empacotar materiais ou preparar medicações, com maior chance de dores nos membros superiores5,29.
Mesmo com o aumento do número de mulheres no mercado de trabalho nas últimas décadas em países industrializados, as normas de gênero continuam a estruturar a divisão sexual do trabalho5,14,29. Tarefas domésticas e cuidado da família são papéis desigualmente distribuídos na sociedade. Sendo que, no caso das mulheres, aos efeitos dos riscos experimentados durante a jornada profissional, somam-se os prejuízos da restrição do tempo de recuperação, entre outros problemas relacionados ao tempo dedicado ao trabalho doméstico. Embora historicamente sub-representadas em trabalhos considerados mais perigosos, as mulheres passaram a ocupar postos anteriormente dominados pelo sexo masculino, por exemplo, a construção civil30. Essa realidade atual pode ser uma hipótese para explicar o aumento da probabilidade de AT quando as mulheres estão expostas a riscos ocupacionais que são bem definidos nos setores maciçamente masculinos. Nesses casos, além dos riscos ocupacionais específicos a cada setor produtivo, pesaram sobre as trabalhadoras os estereótipos de gênero no ambiente ocupacional. Ou seja, os referidos estereótipos explicariam tanto o menor poder para interferir no seu próprio ambiente quanto o menor acesso das mulheres aos cargos de direção31. Por último, vale mencionar que as pesquisas de gênero alertam sobre o design fortemente masculino das instalações e equipamentos, sem consideração às especificidades biológicas de sexo5,29.
As interpretações dos resultados obtidos esbarram em algumas limitações. É possível que viés de memória tenha provocado subestimação dos resultados. Contudo, o desfecho é considerado menos sensível ao esquecimento. Fatores psicossociais, condições de saúde e hábitos de vida, que podem influenciar a chance de AT, não foram abordados. No entanto, há evidências de que, quando relacionados ao AT, a contribuição desses fatores é limitada para a explicação das discrepâncias observadas se comparados às características ocupacionais6,32. Alta prevalência de AT foi observada entre os homens da classe rural. No entanto, o resultado não alcançou significância estatística entre as mulheres dessa classe, tornando inviável uma análise aprofundada. Vale destacar um possível viés de representatividade, uma vez que o pequeno número de AT observado no grupo das trabalhadoras rurais pode ter influenciado o poder do estudo em identificar associações significativas nessa classe ocupacional.
As diferenças de gênero na probabilidade de AT por classes ocupacionais revelaram importantes tendências. No entanto, apesar dos esforços para capturar nuances na probabilidade de AT, a amplitude dos intervalos de confiança sugere uma sobreposição entre homens e mulheres em certos grupos. Isso pode ser atribuído a diversos fatores, como a variação natural nos dados ou a influência de variáveis não incluídas no modelo. Por fim, a natureza do corte transversal não autoriza estabelecer relações de causalidade entre as variáveis analisadas, tampouco viabiliza identificar variáveis latentes que poderiam explicar as diferenças de gênero, de acordo com as classes ocupacionais. Estudos longitudinais prospectivos são necessários para melhor compreensão da ocorrência desses eventos.
Uma vez esclarecidas algumas limitações, cabe mencionar as vantagens do estudo. Embora a variável sexo seja considerada na maioria das pesquisas sobre AT no Brasil9,11,12, não foram encontrados resultados com foco nas diferenças de gênero de acordo com a classe ocupacional.
CONCLUSÃO
A análise da amostra da PNS permitiu avançar em relação a pesquisas anteriores, que foram baseadas em dados previdenciários, reconhecidamente frágeis em razão de deficiências dos sistemas oficiais de registro4,9,11. Além disso, ao entrevistar trabalhadores em seus domicílios, foram incluídas pessoas inseridas em distintas ocupações, trabalhando com ou sem contrato formal. Assim, foi possível evitar os limites enfrentados pelas pesquisas focalizadas em amostra de trabalhadores empregados num setor específico e regularmente contratados9,11,12.
O construto classe ocupacional, base da investigação que originou os resultados apresentados, é essencial na pesquisa sobre os fatores macroestruturais relacionados a AT33. As linhas analíticas calcadas nele foram valiosas para interpretar a probabilidade do desfecho, de maneira a indicar elementos para melhor compreender as desigualdades que constituem a estrutura ocupacional em nossa sociedade. Nesse sentido, a apresentação do panorama dos AT em uma amostra representativa da população brasileira cobriu lacunas quanto ao conhecimento dos fatores associados. Configurações de gênero e classes ocupacionais mostraram-se dimensões relevantes na abordagem dos AT no Brasil.
A desindustrialização tem relação com a tendência de diminuição da prevalência de AT. Em vários países, a expansão dos serviços, combinada às inovações tecnológicas, modificou os processos produtivos, as formas de organização do trabalho e o tipo de emprego. Essa transformação alterou o panorama dos ambientes ocupacionais, explicando, entre outros fatores, a relevância de outros riscos em determinadas classes, em face dos riscos de AT2,5,23.
Os resultados obtidos são pistas para a elaboração de ações de prevenção de AT, com destaque para os recortes de gênero, bem como para as diferenças de risco relacionadas à estrutura ocupacional.
Agradecimentos
Ao Instituto de Ciências Puras e Aplicadas da Universidade Federal de Itajuba (UNIFEI) pelo auxilio para a publicação deste artigo.
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
26 Abr 2024 -
Data do Fascículo
2024
Histórico
-
Recebido
19 Jan 2023 -
Aceito
4 Set 2023