Open-access Diabetes autorreferido em idosos: comparação das prevalências e medidas de controle

Resumos

OBJETIVO  O objetivo deste trabalho foi analisar a prevalência de diabetes em idosos e as medidas de controle adotadas.

MÉTODOS  Foram analisados dados de idosos diabéticos participantes dos Inquéritos de Saúde no Município de São Paulo, SP, ISA-Capital, 2003 e 2008, estudos de base transversal. Compararam-se as prevalências e seus intervalos de confiança entre os dois anos de estudo, segundo variáveis sociodemográficas. Realizou-se a junção dos bancos de dados quando ocorreu sobreposição dos intervalos de confiança. Realizou-se teste Qui-quadrado com nível de significância de 5% e o Qui-quadrado de Pearson (Rao-Scott). Variáveis sem sobreposições entre os intervalos de confiança não foram testadas.

RESULTADOS  Os idosos tinham predominantemente de 60 a 69 anos, eram do sexo feminino, de cor branca, com renda > 0,5 até 2,5 salários mínimos e baixa escolaridade. A prevalência de diabetes foi de 17,6% (IC95% 14,9;20,6) em 2003 e 20,1% (IC95% 17,3;23,1) em 2008, sugerindo crescimento no período (p no limite da significância). O uso de hipoglicemiantes apresentou maiores prevalências, seguido por dieta alimentar, entre os meios adotados para controlar o diabetes. Houve baixa frequência das práticas de atividade física, apesar da diferença significativa encontrada no período. Ocorreram diferenças significativas relacionadas ao acesso e ao uso de serviço público de saúde para controle do diabetes, maior em idosos com menor renda e menor escolaridade nos dois anos analisados.

CONCLUSÕES  O diabetes é uma doença complexa e desafiadora para o portador e para os sistemas de saúde. São necessárias iniciativas que encorajem práticas de promoção de saúde, uma vez que estas apresentaram percentuais inferiores ao uso de hipoglicemiantes. Deve-se investir em políticas públicas de saúde, principalmente direcionadas aos idosos de baixa renda e escolaridade. Tais mudanças são essenciais para a melhoria das condições de saúde dos idosos portadores de diabetes.

Idoso; Diabetes Mellitus, Epidemiologia; Hipoglicemiantes; Autocuidado; Estilo de Vida; Comportamentos Saudáveis; Acesso aos Serviços de Saúde; Inquéritos Epidemiológicos


OBJECTIVE  The objective of this study was to analyze the prevalence of diabetes in older people and the adopted control measures.

METHODS  Data regarding older diabetic individuals who participated in the Health Surveys conducted in the Municipality of Sao Paulo, SP, ISA-Capital, in 2003 and 2008, which were cross-sectional studies, were analyzed. Prevalences and confidence intervals were compared between 2003 and 2008, according to sociodemographic variables. The combination of the databases was performed when the confidence intervals overlapped. The Chi-square (level of significance of 5%) and the Pearson’s Chi-square (Rao-Scott) tests were performed. The variables without overlap between the confidence intervals were not tested.

RESULTS  The age of the older adults was 60-69 years. The majority were women, Caucasian, with an income of between > 0.5 and 2.5 times the minimum salary and low levels of schooling. The prevalence of diabetes was 17.6% (95%CI 14.9;20.6) in 2003 and 20.1% (95%CI 17.3;23.1) in 2008, which indicates a growth over this period (p at the limit of significance). The most prevalent measure adopted by the older adults to control diabetes was hypoglycemic agents, followed by diet. Physical activity was not frequent, despite the significant differences observed between 2003 and 2008 results. The use of public health services to control diabetes was significantly higher in older individuals with lower income and lower levels of education.

CONCLUSIONS  Diabetes is a complex and challenging disease for patients and the health systems. Measures that encourage health promotion practices are necessary because they presented a smaller proportion than the use of hypoglycemic agents. Public health policies should be implemented, and aimed mainly at older individuals with low income and schooling levels. These changes are essential to improve the health condition of older diabetic patients.

Aged; Diabetes Mellitus, Epidemiology; Hypoglycemic Agents; Self Care; Life Style; Health Behavior; Health Services Accessibility; Health Surveys


INTRODUÇÃO

O envelhecimento populacional é um dos maiores desafios da saúde pública, principalmente nos países de média renda.a Houve significativo aumento da população idosa (≥ 60 anos) no Brasil nas últimas décadas: passou de 1,7 milhão em 1940 para 20,5 milhões em 2010 (10,8% da população brasileira).a,b

O Brasil passa também por um processo de transição epidemiológica. Doenças crônicas, típicas do envelhecimento, estão em evidência no cenário da saúde pública. O diabetes mellitus é uma das principais doenças que acometem a população idosa. Sua crescente prevalência e altos níveis de morbimortalidade configuram-no como uma epidemia mundial.10,23

O diabetes implica desafios para os sistemas de saúde do mundo todo. Envelhecimento da população, urbanização acentuada e intensificação da globalização, assim como a adoção de estilos de vida pouco saudáveis e uso de dieta industrializada, são os principais responsáveis pelo aumento na incidência e na prevalência da doença.10

O número de portadores de diabetes ultrapassa os 180 milhões de pessoas no mundo e deverá chegar aos 350 milhões em 2025.23 A população brasileira diabética ultrapassa os 10 milhões, de acordo com o Ministério da Saúde, dos quais aproximadamente 33,0% têm entre 60 e 79 anos.c

O objetivo deste trabalho foi analisar a prevalência de diabetes em idosos e as medidas de controle adotadas.

MÉTODOS

Estudo de corte transversal utilizando dados dos Inquéritos de Saúde no Município de São Paulo, SP, ISA-Capital 2003 e ISA-Capital 2008. Foram abordados temas sobre a saúde do indivíduo de forma global (estilo de vida, condições de vida, estado de saúde, utilização de serviços de saúde).

Foram entrevistados 3.357 indivíduos (872 idosos) no ISA-Capital 2003. A amostragem foi estratificada por conglomerados em dois estágios: censitários e domicílios. Sessenta setores censitários foram sorteados com base na amostra da PNAD-2002 (Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios). Os setores foram agrupados para sorteio em três estratos, segundo a escolaridade do chefe de família, medida pelo percentual de chefes que possuíam nível universitário: < 5,0%, 5,0% a 24,99% e ≥ 25,0%.

Foram planejados tamanhos amostrais mínimos de 420 pessoas para cada domínio de sexo e idade: < 1 ano; 1 a 11 anos; 12 a 19 anos (masculino e feminino); 20 a 59 anos (masculino e feminino); e ≥ 60 anos (masculino e feminino), com base na estimativa de prevalência de 50,0%, nível de 95% de confiança, erro de amostragem de 0,06 e efeito do delineamento de 1,5.

Foram entrevistados 3.271 indivíduos (924 idosos) no ISA-Capital 2008, e a amostragem estratificada foi feita por conglomerados em dois estágios: setores censitários (70 setores) e domicílios. A amostra foi formada por oito domínios demográficos, assim como no inquérito de 2003. Os tamanhos de amostra variaram de 300 domínios a 780 no maior. Foram calculados considerando estimativa de prevalência de 50,0%, nível de confiança de 95%, erro de amostragem de 0,04 a 0,07 e efeito do delineamento de 1,5.

Consideraram-se os domínios amostrais de 60 anos e mais do sexo masculino e 60 anos e mais do sexo feminino advindos dos dois inquéritos utilizados.

As informações foram obtidas por meio de questionário composto por blocos de temas com questões específicas, a maioria fechada com alternativas preestabelecidas. Os questionários foram aplicados por entrevistadores treinados e respondidos pelo próprio idoso.

A variável dependente foi presença de diabetes autorreferido.

As variáveis independentes foram características demográficas e socioeconômicas: sexo (masculino e feminino), idade (60 a 69 anos, 70 a 79 anos e ≥ 80 anos), cor (branca e não branca), situação conjugal (casado, união estável, solteiro, separado/divorciado/desquitado, viúvo), grau de escolaridade (anos de estudo: 0 a 3, 4 a 7, 8 ou mais), ocupação (com atividade, sem atividade, desempregado), renda per capita (salários mínimos: 0,5 ou menos, mais que 0,5 a 2,5, mais que 2,5). Foram também analisados conhecimentos e práticas de medidas de controle do diabetes (dieta alimentar, regime para perder/manter peso, atividade física, uso de insulina de rotina, uso de insulina na presença de problemas, uso de hipoglicemiante oral de rotina, uso de hipoglicemiante oral na presença de problemas, não fazer nada, outros), complicações em decorrência da doença (problemas de vista, problemas de rim e problemas circulatórios) e uso de serviços de saúde para controle do diabetes (imunização contra gripe e pneumonia e se o local da vacina era o mais próximo da residência do idoso; tipo do serviço: público ou privado).

A associação entre variáveis demográficas e socioeconômicas e presença do diabetes foi estimada pelo teste Qui-quadrado, com nível de significância de 5%.

Foi realizada comparação das prevalências e de seus intervalos de confiança (IC95%) para equiparar as práticas de controle e o uso de serviços de saúde por portadores de diabetes. Observou-se se houve interseção entre os intervalos de confiança construídos para dois grupos diferentes.

A diferença entre os dois anos foi considerada significativa quando não ocorreu sobreposição dos intervalos de confiança. Do contrário, realizou-se a junção dos bancos de dados de 2003 e 2008 (banco combinado), pelo programa estatístico Stata 11.0, com o uso do comando append.

A junção dos bancos de dados fez-se necessária por permitir verificar se pequenas sobreposições entre intervalos de confiança possuem diferença estatisticamente significativa. Para reunir as informações dos dois bancos de dados em um único banco, todas as variáveis permaneceram com o mesmo nome e categoria de resposta na junção e foi criada nova variável para identificar a partir de qual banco de dados a observação é oriunda.17 Realizou-se associação pelo Qui-quadrado de Pearson (Rao-Scott). Variáveis sem sobreposições entre os intervalos de confiança não foram testadas.

A análise dos dados foi realizada a partir do programa estatístico Stata 11.0, por meio do módulo survey, que considera efeitos da amostragem complexa.

O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (Parecer 48.299, de 2012).

RESULTADOS

Referiram diabetes mellitus 17,6% (IC95% 14,9;20,6) dos idosos no inquérito de 2003 e 20,1% (IC95% 17,3;23,1) no ano de 2008. Esse aumento tendeu à significância.

Houve associação estatisticamente significativa entre o diabetes autorreferido e baixa renda (em 2003) e baixa escolaridade (em 2008) (Tabela 1).

Tabela 1
Prevalência de diabetes mellitus segundo características demográficas e socioeconômicas em idosos. ISA-Capital, São Paulo, SP, 2003 e 2008.

Dos idosos portadores de diabetes, 52,1% referiram fazer dieta alimentar em 2003, prática maior entre mulheres (73,8%; p = 0,029) e 61,0% em 2008. Mais de 90,0% dos idosos em ambos os anos afirmaram não fazer regime para perder/manter o peso. Observou-se baixa frequência das práticas de atividade física e mais de 85,0% dos idosos referiram não adotá-la (p = 0,029) nos dois anos (Tabela 2).

Tabela 2
Hábitos adotados por idosos diabéticos como meios de controlar o diabetes. ISA-Capital, São Paulo, SP, 2003 e 2008.

O uso de insulina de rotina apresentou prevalências similares nos dois períodos, com maior adoção desse hábito entre mulheres: 88,2% (p = 0,010) das mulheres idosas com diabetes utilizavam insulina em 2003 e 81,4% (p = 0,016) em 2008. Menos de 1,0% dos idosos fez uso de insulina ocasionalmente (apenas na presença de algum problema). O uso de hipoglicemiante oral de rotina apresentou prevalência de 61,0% para 2003 e de 71,8% para 2008, sugerindo aumento significativo no período. Menos de 3,0% dos idosos referiu utilizar hipoglicemiante oral na presença de algum problema em ambos os anos. As opções “não faz nada” e “outros” apresentaram prevalências < 10,0% nos períodos (Tabela 2).

Afirmaram ter algum tipo de complicação decorrente do diabetes 23,5% dos idosos em 2003 e 28,9% em 2008. Os problemas de vista apresentaram maiores prevalências quando comparados aos problemas no rim (63,6% em 2003 e 72,3% em 2008). Na avaliação do ano de 2003, a prevalência de problemas de vista em idosos portadores de diabetes foi maior naqueles casados (72,5%; p = 0,002) e aposentados (78,2%; p = 0,038). A prevalência de problemas de vista foi maior em idosos de cor não branca (35,8%; p = 0,027) em 2008. A prevalência de problemas de rim foi de 15,4% em 2003 e de 38,5% em 2008, com diferença estatisticamente significativa (p = 0,046) (Tabela 3), associando-se à baixa escolaridade em 2003 (p = 0,048) e ao sexo masculino (56,5%) em 2008 (p = 0,004). A prevalência de problemas circulatórios foi de 34,4% em 2003 e de 52,3% em 2008, maior em idosos do sexo masculino (50,0%) em 2008 (p = 0,012).

Tabela 3
Complicações em decorrência do diabetes em idosos diabéticos. ISA-Capital, São Paulo, SP, 2003 e 2008.

Cerca de 70,7% foram vacinados contra gripe em 2003 e 66,9% em 2008 (Tabela 4). A maioria dos idosos utilizou o serviço público para receber a vacina (> 95,0% em ambos os anos), e esse tipo de serviço foi o mais referido por idosos de mais baixa renda em 2008 (p = 0,008). A maioria afirmou que recebeu a vacina no serviço de saúde mais próximo de sua residência. A proximidade do local de vacinação à residência associou-se à baixa renda (p < 0,001 e p = 0,002, para 2003 e 2008, respectivamente) e à baixa escolaridade (p = 0,003 para 2003).

Tabela 4
Uso de serviços de saúde para vacinação em idosos diabéticos autorreferidos. ISA-Capital, São Paulo, SP, 2003 e 2008.

Relataram ter recebido a vacina contra pneumonia: 28,9% dos idosos portadores de diabetes em 2003 e 24,3% em 2008. Mais de 95,0% afirmaram ter recebido a vacina contra a pneumonia em serviços públicos de saúde em ambos os anos, também no local mais próximo da residência (Tabela 4). Utilizar esse local para receber a vacina contra a pneumonia em 2008 esteve associado à escolaridade, maior nos indivíduos com oito anos ou mais de estudo (p = 0,032).

DISCUSSÃO

A prevalência de diabetes autorreferido em idosos foi de 17,6% em 2003 e de 20,1% em 2008. A prevalência em São Paulo foi de 17,9% no Projeto SABE8 (Saúde, Bem-Estar e Envelhecimento) e de 14,6% em Bambuí, SP, em 1997, no Projeto Bambuí16 (Estudo de coorte de base populacional da saúde dos idosos, que fez uso de testes laboratoriais para averiguar a presença da doença).

O aumento da prevalência de diabetes no período estudado pode dever-se ao maior número de diagnósticos do diabetes ou ao crescimento real da doença. A maior quantidade de diagnósticos pode decorrer da introdução do HiperDia,22 que permite o monitoramento de portadores de diabetes cadastrados em unidades básicas de saúde. O HiperDia foi estabelecido entre 2001 e 2003 e ocorreram campanhas de rastreamento do diabetes, confirmação de diagnóstico e início de terapêutica. O aumento real da doença resulta do crescimento nas prevalências de obesidade na população idosa. A obesidade é fator de risco à incidência da doença e prejudica seu tratamento quando presente no organismo. A prevalência de obesidade é maior na população diabética.4,7

Renda (em 2003) e escolaridade (em 2008) associaram-se significativamente com o diabetes, o que indica que a prevalência de diabetes entre idosos foi influenciada por fatores socioeconômicos. O Projeto Bambuí16 e estudo realizado na cidade de Araraquara, SP,20 também encontraram associações significativas entre diabetes e baixos níveis de renda. Lima-Costa9 (2004) sugere que escolaridade afeta comportamentos prejudiciais à saúde dos idosos e que baixa escolaridade associa-se ao aparecimento de doenças crônicas e outros agravos.

A frequência dos idosos que faziam dieta alimentar não apresentou aumento significativo. Houve diferença significativa em relação à dieta entre sexos em 2003 e as mulheres apresentaram maior percentual. Os resultados condizem com dados do Vigitel,12 no qual o sexo feminino apresentou maior ingestão de frutas, legumes e verduras e menor consumo de carnes com excesso de gordura. O uso de insulina de rotina também apresentou associação estatisticamente significativa com o sexo nos dois anos de estudo. Tais resultados assemelham-se a outros estudos e sugerem que as mulheres são mais adeptas ao tratamento com insulina do que os homens.4

O uso de hipoglicemiante oral de rotina apresentou nível descritivo no limite da significância estatística no período e foi o hábito mais referido pela população idosa diabética. A prevalência do uso de hipoglicemiantes na população idosa foi de 64,7% em inquérito realizado em Minas Gerais5 em 2003.

Apenas um hábito dentre os mais citados pelos idosos portadores de diabetes (dieta alimentar, uso de hipoglicemiante oral e uso de insulina) relaciona-se com promoção da saúde e prevenção de doenças crônicas. A prática de atividade física foi pouco citada, apesar de ter aumentado no período e da diferença significativa entre os dois períodos. A prática é essencial para o controle da doença e faz parte de seu tratamento.19

Estudo realizado em Minas Gerais apresentou resultados semelhantes quanto às complicações decorrentes do diabetes: maior prevalência de problemas de visão em idosos que moravam com companheiro e que eram aposentados e donas de casa.21 Essa complicação foi predominante em indivíduos de cor não branca, como em resultados apresentados em literatura internacional.6 Os indivíduos de cor não branca apresentam níveis pressóricos mais elevados em relação aos indivíduos de cor branca, fator de risco para o desenvolvimento do agravo. A prevalência de problemas de vista em população não branca é 46,0% maior que em população branca, segundo dados do NHANES.6

Houve diferenças quanto aos problemas de rim entre os anos do estudo, semelhante à literatura nacional. Estudo brasileiro com dados de 2000 a 2004 encontrou prevalência de nefropatia diabética de 15,0%.1 O Censo Brasileiro de Diálise da Sociedade Brasileira de Nefrologia encontrou prevalência de 27,0% de nefropatia em decorrência do diabetes em 2009.18

A presença do diabetes aumenta o risco de desenvolvimento de agravos circulatórios. Esses agravos impactam negativamente na qualidade de vida dos idosos portadores de diabetes e podem levar à morte. Estudo realizado em Maringá, PR, durante quatro triênios (1979 a 1981, 1984 a 1986, 1990 a 1992 e 1996 a 1998) aponta doenças no sistema circulatório como a principal causa de mortalidade em idosos em decorrência do diabetes.13

A vacinação contra a gripe em 2003 obteve cobertura de 70,7% entre idosos portadores de diabetes e de 66,9% em 2008. O programa de imunização em idosos iniciou-se na década de 1960, indicado pela Organização Mundial da Saúde. A meta mínima da cobertura vacinal estabelecida pelo Programa Nacional de Imunização era de 70,0% até 2007 e foi ampliada para 80,0% no ano seguinte.d

Mais de 95,0% dos idosos vacinados utilizaram serviços públicos de saúde para receber a vacina nos dois anos. O recebimento desta associou-se à baixa renda. Estudo com dados do projeto SABE11 sugeriu associação significativa entre utilização de serviços públicos em indivíduos com baixa renda.

Os locais em que os idosos receberam a vacina contra a gripe eram os mais próximos de suas residências. Esse resultado associou-se estatisticamente com baixa renda e baixa escolaridade e assemelha-se a dados de estudo2 em Pelotas, RS. Indivíduos que residiam mais próximos aos serviços de saúde eram aqueles com menor renda e grau de escolaridade.

A cobertura vacinal contra pneumonia foi de 28,9% para 2003 e 24,3% para 2008. Idosos portadores de diabetes têm maior suscetibilidade para pneumonia por possuírem maior risco de hiperglicemia, baixa imunidade, função pulmonar diminuída e outras morbidades coexistentes.3

A maioria dos idosos afirmou que os locais em que a vacina era distribuída eram os mais próximos de suas residências. A proximidade dos locais de vacinação à residência associou-se à escolaridade dos idosos e a cobertura vacinal foi menor em idosos com baixa escolaridade. Aqueles com maior escolaridade apresentam melhor estado de saúde, melhores hábitos de vida e maior nível de informação e condições socioeconômicas, comparados aos idosos de menor escolaridade.14

As informações utilizadas para estimar as prevalências são autorreferidas, i.e., não se fez uso de testes laboratoriais para comprovar o diagnóstico da doença. Estudos anteriores apontam que a validade da informação autorreferida varia de acordo com a doença, com os agravos e comorbidades presentes e com características sociodemográficas.15 Estima-se que 50,0% da população portadora de diabetes não saiba da existência da doença, que permanece assintomática até a realização de testes de rastreamento ou do aparecimento de complicações em decorrência da doença.e O período de análise foi restrito a cinco anos, de acordo com a periodicidade do inquérito utilizado.

O diabetes mellitus é uma doença comum, séria e que acarreta ônus ao seu portador e aos serviços de saúde. O diabetes merece atenção especial entre as doenças complexas e desafiadoras e agravos que a sociedade e os sistemas de saúde enfrentam atualmente, sendo considerado um problema de saúde pública. Deve haver iniciativas que incentivem práticas de promoção de saúde e hábitos de vida saudáveis, pois seus efeitos repercutem positivamente na qualidade de vida dos idosos portadores de diabetes. Reflexões acerca das políticas e intervenções direcionadas à população em questão são necessárias para melhorar a atenção ao portador de diabetes. Tais ações são indispensáveis na promoção de melhores condições de vida e saúde desta população.

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  • Artigo baseado na dissertação de mestrado de Stopa SR, intitulada: “Condição de saúde de idosos com diabetes mellitus no Município de São Paulo, nos anos de 2003 e 2008: um estudo de base populacional”, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, em 2013.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Ago 2014

Histórico

  • Recebido
    11 Mar 2013
  • Aceito
    3 Fev 2014
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