Open-access Internaciones por condiciones cardiovasculares sensibles de Atención Primaria en municipios de centro-oeste de Brasil

rsp Revista de Saúde Pública Rev. Saúde Pública 0034-8910 1518-8787 Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo São Paulo, SP, Brazil OBJETIVO: Analizar tasas de hospitalización por condiciones cardiovasculares sensibles de atención primaria. MÉTODOS: Estudio ecológico con 237 municipios del estado de Goias (centro-oeste de Brasil) de 2000 a 2008, utilizando datos del Sistema de Información Hospitalario y Sistema de Información de Atención Básica. Las tasas de hospitalización fueron calculadas por la proporción entre el número de hospitalizaciones por condiciones cardiovasculares y la población con más de 40 años. Las tasas fueron evaluadas en trienios: A (2000-2002), B (2003-2005) y C (2006-2008), según sexo, grupo etáreo, porte poblacional, pertenencia a la región metropolitana, macro región de salud, distancia a la capital, índice de Condiciones de Vida y Salud y cobertura de Estrategia Salud de la Familia. La cobertura poblacional potencial de la Salud de la Familia fue calculada conforme a las directrices del Ministerio de la Salud. La variabilidad de las tasas fue evaluada según la prueba de t y ANOVA. RESULTADOS: Ocurrieron 253.254 internaciones (17,2% del total) por condiciones cardiovasculares sensibles de la atención primaria. Las tasas de hospitalización disminuyeron entre los trienios: A (213,5, de=104,6); B (199,7, de=96,3) y C (150,2, de=76,1), con diferencia entre los períodos A-C y B-C (p<0,001). El porte poblacional municipal no influenció el comportamiento de las tasas. Los municipios próximos a la capital y los de la región metropolitana presentaron mayores tasas (p<0,001). En todos los percentiles del Índice de Condiciones de Vida y Salud, hubo reducción de las tasas (p<0,001), excepto en el percentil 1. También se observó reducción en todas las macro regiones, excepto en la Región Noreste del estado. La reducción de las tasas ocurrió independientemente de la cobertura de la Salud de la Familia. CONCLUSIONES: Las tasas de hospitalización por condiciones cardiovasculares sensibles de la atención primaria disminuyeron en estos municipios, independientemente de la cobertura de la Salud de la Familia. Hospitalizações por condições cardiovasculares sensíveis à atenção primária em municípios goianos Internaciones por condiciones cardiovasculares sensibles de Atención Primaria en municipios de centro-oeste de Brasil Sandro Rogério Rodrigues BatistaI; Paulo César Brandão Veiga JardimI; Ana Luiza Lima SousaII; Cláudia Maria SalgadoIII IDepartamento de Clínica Médica. Faculdade de Medicina (FM). Universidade Federal de Goiás (UFG). Goiânia, GO, Brasil IIFaculdade de Enfermagem. UFG. Goiânia, GO, Brasil IIIDepartamento de Pediatria e Puericultura. FM-UFG. Goiânia, GO, Brasil Correspondência | Correspondence RESUMO OBJETIVO: Analisar taxas de hospitalização por condições cardiovasculares sensíveis à atenção primária. MÉTODOS: Estudo ecológico com 237 municípios do Estado de Goiás, de 2000 a 2008, utilizando dados do Sistema de Informação Hospitalar e Sistema de Informação da Atenção Básica. As taxas de hospitalização foram calculadas pela proporção entre o número de hospitalizações por condições cardiovasculares e a população acima de 40 anos. Foram avaliadas em triênios: A (2000-2002), B (2003-2005) e C (2006-2008), segundo sexo, faixa etária, porte populacional, pertencimento à região metropolitana, macrorregião de saúde, distância da capital, Índice de Condições de Vida e Saúde e cobertura de Estratégia Saúde da Família. A cobertura populacional potencial da Saúde da Família foi calculada conforme diretrizes do Ministério da Saúde. A variabilidade das taxas foi avaliada segundo teste t e ANOVA. RESULTADOS: Ocorreram 253.254 internações (17,2% do total) por condições cardiovasculares sensíveis à atenção primária. As taxas de hospitalização diminuíram entre os triênios: A (213,5, dp = 104,6), B (199,7, dp = 96,3) e C (150,2, dp = 76,1), com diferença entre os períodos A-C e B-C (p < 0,001). Porte populacional municipal não influenciou o comportamento das taxas. Municípios próximos à capital e aqueles da região metropolitana apresentaram maiores taxas (p < 0,001). Em todos os percentis do Índice de Condições de Vida e Saúde, houve redução das taxas (p < 0,001), exceto no percentil 1. Redução foi também observada em todas as macrorregiões, exceto na região nordeste do estado. A redução das taxas ocorreu independentemente da cobertura da Saúde da Família. CONCLUSÕES: As taxas de hospitalização por condições cardiovasculares sensíveis à atenção primária diminuíram nesses municípios, independentemente da cobertura da Saúde da Família. Descritores: Doenças Cardiovasculares, prevenção & controle. Hospitalização. Atenção Primária à Saúde. Avaliação de Serviços de Saúde. Estudos Ecológicos. ABSTRACT OBJECTIVE: To analyze rates of hospitalization due to primary care-sensitive cardiovascular conditions. METHODS: This ecological study on 237 municipalities in the state of Goiás, Central-West Brazil, between 2000 and 2008, used data from the Hospital Information System and the Primary Care Information System. The hospitalization rates were calculated as the ratio between the number of hospitalizations due to cardiovascular conditions and the population over the age of 40 years. The data were evaluated over the three-year periods A (2000-2002), B (2003-2005) and C (2006-2008), according to sex, age group, population size, whether the individual belonged to the metropolitan region, healthcare macroregion, distance from the state capital, living conditions index and coverage within the Family Health Strategy. The potential population coverage of the Family Health Strategy was calculated in accordance with Ministry of Health guidelines. The variability of the rates was evaluated using the t test and ANOVA. RESULTS: A total of 253,254 hospitalizations (17.2%) occurred due to primary care-sensitive cardiovascular conditions. The hospitalization rates diminished between the three-year periods: A (213.5, SD = 104.6), B (199.7, SD = 96.3) and C (150.2, SD = 76.1), with differences from A to C and from B to C (p < 0.001). Municipal population size did not influence the behavior of the rates. Municipalities near the state capital and those in the metropolitan area presented higher rates (p < 0.001). At all percentiles of the Life and Health Conditions Index, there were decreases in the rates (p < 0.001), except at percentile 1. Decreases were also observed in all the macroregions except for the northeastern region of the state. The reduction in rates was independent of the Family Health Strategy coverage. CONCLUSION: The rates of hospitalization due to primary care-sensitive cardiovascular conditions decreased in these municipalities, independent of the Family Health Strategy coverage. Descriptors: Cardiovascular Diseases, prevention & control. Hospitalization. Primary Health Care. Health Services Evaluation. Ecological Studies. RESUMEN OBJETIVO: Analizar tasas de hospitalización por condiciones cardiovasculares sensibles de atención primaria. MÉTODOS: Estudio ecológico con 237 municipios del estado de Goias (centro-oeste de Brasil) de 2000 a 2008, utilizando datos del Sistema de Información Hospitalario y Sistema de Información de Atención Básica. Las tasas de hospitalización fueron calculadas por la proporción entre el número de hospitalizaciones por condiciones cardiovasculares y la población con más de 40 años. Las tasas fueron evaluadas en trienios: A (2000-2002), B (2003-2005) y C (2006-2008), según sexo, grupo etáreo, porte poblacional, pertenencia a la región metropolitana, macro región de salud, distancia a la capital, índice de Condiciones de Vida y Salud y cobertura de Estrategia Salud de la Familia. La cobertura poblacional potencial de la Salud de la Familia fue calculada conforme a las directrices del Ministerio de la Salud. La variabilidad de las tasas fue evaluada según la prueba de t y ANOVA. RESULTADOS: Ocurrieron 253.254 internaciones (17,2% del total) por condiciones cardiovasculares sensibles de la atención primaria. Las tasas de hospitalización disminuyeron entre los trienios: A (213,5, de=104,6); B (199,7, de=96,3) y C (150,2, de=76,1), con diferencia entre los períodos A-C y B-C (p<0,001). El porte poblacional municipal no influenció el comportamiento de las tasas. Los municipios próximos a la capital y los de la región metropolitana presentaron mayores tasas (p<0,001). En todos los percentiles del Índice de Condiciones de Vida y Salud, hubo reducción de las tasas (p<0,001), excepto en el percentil 1. También se observó reducción en todas las macro regiones, excepto en la Región Noreste del estado. La reducción de las tasas ocurrió independientemente de la cobertura de la Salud de la Familia. CONCLUSIONES: Las tasas de hospitalización por condiciones cardiovasculares sensibles de la atención primaria disminuyeron en estos municipios, independientemente de la cobertura de la Salud de la Familia. Descriptores: Enfermedades Cardiovasculares, prevención & control. Hospitalización. Atención Primaria de Salud. Evaluación de Servicios de Salud. Estudios Ecológicos. INTRODUÇÃO As doenças cardiovasculares possuem alta prevalência, com complicações associadas, como o acidente cerebrovascular, a insuficiência cardíaca e o infarto agudo do miocárdio. Essas doenças possuem considerável impacto na morbimortalidade das populaçõesª e são as principais causas de óbitos no Brasil há algumas décadas. Em Goiás, essas doenças e seus fatores de risco foram responsáveis por 30,5% dos óbitos e 13,9% das internações na rede pública em 2005.b A Atenção Primária à Saúde (APS) possui como atributos: atenção de primeiro contato, longitudinalidade, integralidade, coordenação de cuidado, centralização familiar, abordagem comunitária e competência cultural. Também é responsável pela atenção aos problemas mais comuns na comunidade e tem papel primordial nas ações de controle das doenças cardiovasculares. Suas ações vão desde a promoção à saúde e prevenção de riscos até rastreamentos, manejo específico e prevenção de suas complicações.22 A intervenção sobre doenças crônicas em nível de APS, especialmente diabetes, hipertensão arterial, asma, insuficiência cardíaca e depressão, é bem efetiva. APS associa-se à melhoria nos indicadores de processo (tomada de decisões baseadas em evidências em prescrições medicamentosas, solicitação de exames complementares e outras avaliações) ou de resultados intermediários (melhoria do controle pressórico, lipídico e glicêmico, diminuição de consultas com especialistas focais e idas à emergência). Além disso, há maior satisfação dos pacientes e tendência de redução dos custos em saúde.12,24 Serviços cujas ações baseiam-se nos principais atributos de APS utilizam como estratégias para o manejo das doenças crônicas: sistema de saúde organizado, articulação comunitária, apoio e estímulo ao auto-cuidado, e integração de informações.22 A identificação de indicadores para a avaliação dos serviços de APS é tarefa complexa, dada a multiplicidade de ações desse nível de atenção. Indicadores de atividade hospitalar, principalmente hospitalizações por condições sensíveis à atenção primária (CSAP), são propostos para avaliar a efetividade da APS. Esse indicador foi criado para avaliar o acesso a serviços de saúde ambulatorial nos Estados Unidos no fim da década de 198025 e passou a ser utilizado para comparação da efetividade de modelos de APS.3-5 CSAP são condições de saúde suscetíveis aos cuidados prestados no primeiro nível de atenção dos sistemas de saúde. As hospitalizações por CSAP medem a efetividade do serviço de saúde de forma indireta: usuários que têm acesso e resolução de seu problema nos serviços de APS não apresentam agravamento de seu problema e não necessitam de hospitalização. Logo, a resolutividade da APS deve reduzir as taxas de hospitalização por CSAP.4,6,25 A continuidade da atenção, a equipe multidisciplinar e, com menor importância, a população adscrita ao médico, estão associadas à menor probabilidade de hospitalização por CSAP.16,18 Altas taxas de hospitalização por CSAP refletem deficiências na cobertura dos serviços e/ou no desempenho da APS.6,9,17 Internações por CSAP corresponderam a 28,5% das internações pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil em 2006, com taxa de hospitalização de 149,6/10 mil habitantes. As condições mais freqüentes foram: gastroenterites e suas complicações, insuficiência cardíaca, asma, doenças das vias aéreas inferiores, pneumonias bacterianas, doenças cerebrovasculares e hipertensão.1 Estudo recente mostrou associação entre a expansão da Estratégia Saúde da Família (ESF) e redução nas hospitalizações por diabetes mellitus e problemas respiratórios. A expansão do Programa de Agentes Comunitários de Saúde esteve associada à redução das internações por problemas cardiovasculares em mulheres.13 O objetivo do presente estudo foi analisar as taxas de hospitalização por CCSAP. MÉTODOS Estudo ecológico, retrospectivo, com 246 municípios de Goiás de 2000 a 2008. Desses foram obtidos dados de 237, após a exclusão de municípios que não apresentaram continuidade de informação dos dados. A perda amostral correspondeu a municípios muito pequenos (< 10.000 habitantes). As primeiras equipes de APS/ESF foram implantadas no estado em 1998. Em 2010 há 1.071 equipes, com cobertura populacional potencial de 57,02%.c As taxas de hospitalização por CCSAP foram calculadas pela fórmula: (n° de hospitalizações por CCSAP em determinado local e período/população no mesmo local e período) x 10.000. Os dados foram obtidos do Sistema de Informação Hospitalar (SIH). A Lista Brasileira de Internações por Condições Sensíveis à Atenção Primária,d conforme a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde, Décima Revisão (CID-10), foi utilizada para a seleção de causas por meio dos descritores: hipertensão arterial (I10 e I11), angina (I20), insuficiência cardíaca (I50 e J81) e doenças cerebrovasculares (I63 a I67; I69, G45 e G46). Para este estudo foram selecionadas internações hospitalares por CCSAP na população acima de 40 anos. As taxas foram calculadas segundo ano, sexo e faixa etária (40 a 59 anos; 60 anos e mais). Dados do Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB) foram coletados para cálculo da cobertura populacional potencial pela APS/ESF e utilizada a fórmula: (n° de equipes ESF no SIAB em determinado local e período x 3.450/população total no mesmo local e período) x 100, conforme diretrizes do Ministério da Saúde. Os municípios foram categorizados em: baixa cobertura (< 25%), média cobertura (25% a 70%: municípios < 100.000 habitantes; 25% a 50%: > 100.000 habitantes) e alta cobertura (> 70%: < 100.000 habitantes; > 50%: > 100.000 habitantes).e Os municípios foram classificados segundo características sociodemográficas: distância da capital, porte populacional (50.000 habitantes, de 50.001 a 100.000 e 100.001 e mais habitantes), pertencimento à região metropolitana e macrorregião de saúde (centro oeste, nordeste, centro-norte, sudeste e sudoeste).f,g Utilizou-se, de forma complementar, o Índice de Condições de Vida e Saúde (ICVS), que apresenta maior especificidade para aplicação na saúde.14 A cobertura populacional potencial pela ESF e as taxas de hospitalização por CCSAP foram calculadas para os períodos: A (2000 a 2002), B (2003 a 2005) e C (2006 a 2008); as demais variáveis foram fixas para 2000. Essas taxas foram analisadas após a exclusão de municípios com dados extremos (outliers) para evitar possível fator de confundimento e em médias trienais para amenizar instabilidades dessas taxas nos pequenos municípios.21 As taxas foram comparadas dentro dos triênios (A, B ou C) e ao longo dos três períodos utilizando teste t ou ANOVA, com posterior teste de Scheffe. O período B foi estabelecido como padrão na análise segundo cobertura populacional pela ESF. Mudanças percentuais médias entre os períodos A e C foram calculadas com posterior comparação entre as categorias por meio de ANOVA, seguida de teste de Scheffe para análise da tendência das taxas de hospitalização. O software SPSS2 versão 18 foi utilizado para os testes estatísticos. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Goiás (Protocolo 040/2009). RESULTADOS Foram realizadas 1.470.015 hospitalizações pelo SUS nos 237 municípios de 2000 a 2008, 253.254 (17,2%) por CCSAP. O percentual de hospitalizações por CCSAP reduziu em relação ao total de internações (de 20,8% para 13,6%) de 2000 a 2008, mantendo-se o gradiente de redução ao longo dos anos (Figura 1). Amostra de 221 municípios (89,8% do total) foi obtida após a exclusão dos municípios com taxas com valores extremos. As taxas de hospitalização por CCSAP decresceram nos períodos A (213,5, dp = 104,6); B (199,7, dp = 96,3) e C (150,2, dp = 76,1) (p < 0,001). Houve diferença estatisticamente significativa entre A-C e B-C (p < 0,001), mas não entre A-B (Figura 2). As taxas diminuíram segundo sexo e faixa etária (Figura 3). No sexo masculino, as taxas foram: 196,9 (dp = 98,10) (A); 185,11 (dp = 84,14) (B) e 137,40 (dp = 68,24) (C) (p < 0,001). A taxa masculina por faixa etária alcançou os valores: de 40 a 59 anos (92,67 [dp = 56,09]; 84,71 [51,90] e 60,42 [35,94]; p < 0,001) e acima de 60 anos (427,21 [217,43]; 410,24 [93,51] e 297,27 [85,27]; p < 0,001). No sexo feminino, as taxas para os períodos A, B e C foram, respectivamente, 231,79 [25,31]; 215,69 [121,48] e 164,16 [94,37] (p < 0,001), 125 [82,56]; 109,53 [71,72] e 79,85 [54,62]; p < 0,001 de 40 a 59 anos e 474,40 [252,29]; 460,65 [270,89] e 341,89 [206,42]; p < 0,001 acima de 60 anos. Em todas essas situações houve diferença estatisticamente significativa entre os períodos A-C e B-C (p < 0,001). Não houve diferença significativa nas taxas em cada período segundo porte populacional (Tabela), mas houve diferença nas médias de internação nos períodos A-C e B-C (p < 0,001) nos municípios com até 50 mil habitantes na análise longitudinal. As taxas foram maiores nos municípios da região metropolitana. Analisados separadamente, os municípios não pertencentes à região metropolitana apresentaram redução significativa de suas taxas quando comparados nos períodos A-C e B-C (p < 0,001). O mesmo não ocorreu com os da região metropolitana. Diferenças entre as taxas foram observadas em cada período segundo macrorregião de saúde. Taxas médias reduziram-se em todas as macrorregiões na análise temporal, exceto na nordeste, em que foi observado aumento (26,4%). Essa região diferiu das demais quando comparada à diferença média das taxas dos municípios ao longo dos períodos segundo macrorregião de saúde (p < 0,001). Taxas maiores foram observadas em municípios mais próximos da capital. O comportamento das taxas dentro da mesma categoria mostrou diferença em todos os percentis, com diferença significativa entre os períodos A-C e B-C. Na comparação da diferença média percentual entre as categorias, houve diferença apenas entre os municípios dos percentis 1 e 2 (p = 0,04). Menor taxa média de hospitalização por CCSAP foi observada no grupo de municípios com menor ICVS, i.e., com piores condições de vida e saúde (percentil 1) em todos os períodos. Houve redução das taxas estudadas em todos os percentis (p < 0,001), exceto no percentil 1. Ao comparar a mudança percentual média das taxas, observam-se diferenças entre esses municípios e os demais (p = 0,02). Redução nas taxas foi observada independentemente de cobertura ESF (p = 0,002; p = 0,003 e p < 0,001). Essas diferenças ocorreram entre os períodos A-C e B-C (p < 0,04), exceto para aqueles de baixa cobertura, cuja diferença foi percebida entre A-C. Não houve diferença na redução percentual média das taxas segundo cobertura populacional pela ESF (p = 0,31). DISCUSSÃO As taxas de hospitalização geral e aquelas por CCSAP diminuíram para ambos os sexos e em todas as faixas etárias consideradas em Goiás de 2000 a 2008. Esses resultados aproximam-se de estudos brasileiros que apontam redução das taxas de internação geral e por condições sensíveis à APS no País. Alfradique et al (2009)1 mostraram redução de 15,8% das hospitalizações por condições sensíveis à APS e de 10,1% para as demais condições no Brasil de 2000 a 2006. Estudo realizado em 2.448 municípios brasileiros (86% da população) mostrou redução das taxas de internação por CSAP de 1998 a 2002,13 o que se confirmou em estudo mais recente (Macinko et al, 2010).15 O aumento do acesso aos serviços de saúde, bem como a melhoria da condição de saúde da população podem explicar essa redução.1,2,15 As taxas de internação do sexo feminino foram superiores às do masculino. Mulheres utilizam mais serviços de saúde do que os homens, especialmente por cuidados preventivos.20 Estudo realizado em Porto Alegre em 2003 mostrou razão de prevalência ajustada de 1,55 (IC95% 1,34;1,79) para as mulheres em relação aos homens quanto à utilização de serviços de saúde.8 Mulheres procuram mais o serviço e por esse motivo são submetidas a maior número de procedimentos, inclusive internação preventiva.19 Para Guanais & Macinko,13 a ESF foi efetiva na redução das taxas de hospitalização por condições cardiovasculares apenas na população feminina. No mesmo sentido, Macinko et al15 motraram redução de internações por CCSAP tendo a hipertensão como causa de internação somente para o sexo feminino. Para acidentes cerebrovasculares e outras doenças cardiovasculares, houve redução em ambos os sexos, embora a redução entre mulheres tenha sido mais evidente. A análise segundo cobertura populacional potencial ESF mostrou redução estatisticamente significativa das taxas de hospitalização por CCSAP ao longo dos períodos em todos os grupos de municípios. Taxas menores de hospitalização por condições sensíveis à APS estão relacionadas à qualidade dos serviços de APS em grande parte dos estudos. Nedel et al17 constataram 42,8% de internações por condições sensíveis à APS dos moradores de áreas de ESF contra 61,3% nos não-ESF (RP = 0,70; IC95% 0,57;0,86) no município de Bagé, RS. Estudo realizado em Montes Claros, MG, mostrou risco duplicado de probabilidade de internação por condição sensível ao cuidado primário, quando o controle regular de saúde é realizado fora da ESF.9 Utilizando condições específicas (acidente cerebrovascular e infarto agudo do miocárdio), estudo realizado no sul de Santa Catarina mostrou que municípios com PSF adequado têm menores taxas.7 Grande parte dos pedidos de internação, mesmo em pacientes acompanhados pela ESF, são realizados por plantonistas do pronto-socorro. Acredita-se que esses profissionais atuem fundamentados na prática hospitalar, enquanto o médico da APS considere todo o contexto do paciente. A discussão sobre os mecanismos de referência e contra-referência e sua influência nas taxas de internação é necessária, bem como o papel do médico de família e comunidade no sistema de saúde brasileiro.10 A qualidade dos serviços de saúde da ESF deve ser questionada. Por limitações metodológicas, a análise das dimensões de qualidade desses serviços não foi realizada no estudo (ausência de fonte de dados fidedigna para essa classificação). Apenas a cobertura potencial pela ESF pode não impactar nas condições de saúde da população.2,3,7,18 A avaliação de outras variáveis pode, com metodologia adequada, conferir um novo cenário para essa análise.2,18 Como exemplo, citamos o número de consultas médicas e de enfermagem habitante/ano, a freqüência e qualidade de visitas domiciliares, a rede de suporte de atenção secundária e/ou terciária para essas equipes, bem como o processo de educação permanente adequado para a realidade dessas equipes. Na análise das taxas de internação por CCSAP segundo indicadores socioeconômicos, percebemos a constituição de um grupo de municípios com maior tendência a altas taxas: aqueles com maior porte populacional, pertencentes à região metropolitana, próximos à capital e com melhores índices de condições de vida e saúde. Dessa forma, constata-se o proposto pela "lei dos cuidados inversos", na qual as condições de saúde da população e seus diferenciais são fortemente dependentes do modo de organização da distribuição social da riqueza, i.e., há maior oferta de serviços, inclusive de saúde, nos quais as populações são menos carentes deles.6 A proximidade do hospital, o funcionamento de unidades 24 horas, o excesso do número de consultas (características de grandes centros urbanos) associam-se com maiores taxas de internação.18 A macrorregião nordeste do estado, de piores condições socioeconômicas, apresentou aumento ao invés de redução das taxas, além de destoar das demais macrorregiões do estado. Hospitalizações por condições sensíveis ao cuidado primário estão relacionadas e, por vezes, condicionadas a aspectos não controlados pela APS. As diferenças entre as populações podem explicar diferentes padrões de morbidade e podem ser ocasionadas por diferenças culturais na utilização dos serviços, e não apenas pela resolutividade da APS.11 A falácia ecológica é uma limitação a ser considerada,2,7 i.e., a impossibilidade de se individualizar o risco de hospitalização. A proposição de inferências causais em relação a indivíduos tendo como base observações de grupos deve ser utilizada com algumas restrições. O estudo foi realizado com dados secundários informados ao Ministério da Saúde. Assim, a determinação da necessidade ou não da internação é impossibilitada do ponto de vista clínico, pois não se tem a certeza de que realmente haja indicação clínica para essas hospitalizações. Entretanto, estudo sobre a qualidade das informações contidas em banco constituído por dados de formulários de Autorizações de Internações Hospitalares (AIH) mostrou índices kappa de concordância entre a AIH e indicação clínica de 0,793 e 0,725 para insuficiência cardíaca congestiva e hipertensão arterial, sugerindo confiabilidade desses dados.23 As hospitalizações estudadas representam aquelas realizadas pelo SUS, não refletindo a realidade de Goiás por não incluírem a população não usuária do SUS. Além disso, no SIH não é possível categorizar as reinternações de um mesmo indivíduo, variável importante ao se avaliar o impacto dos serviços de saúde no cuidado a essas condições. O presente estudo pretende contribuir para o processo de gestão do SUS, em seus diversos âmbitos, para a condução dos serviços da ESF ao mostrar que a cobertura pela ESF por si só não garante qualidade da atenção à saúde prestada à população. Ampliar essa cobertura aliando melhoria de seu padrão de qualidade pode ser uma intervenção efetiva. Os resultados apresentados podem auxiliar na avaliação e proposição de ações que visem à melhoria contínua desses serviços, objetivando o mais alto grau de qualidade, e, assim, impactar nas condições de saúde da população. Novos estudos são necessários para estabelecer o impacto de serviços de APS/ESF nas taxas de internação por CCSAP, incluindo análises pormenorizadas por meio da avaliação de componentes de qualidade, dentre eles: o processo de trabalho das equipes (acesso, acessibilidade, cobertura das ações disponibilizadas entre outros), o papel da APS/ESF no sistema de saúde (robustez, coordenação de cuidado, ordenação da atenção) e o processo de educação permanente desses profissionais dessas equipes para o manejo adequado e oportuno de pacientes com condições cardiovasculares e fatores de risco associados. Correspondência | Correspondence: Sandro Rogério Rodrigues Batista Faculdade de Medicina - UFG Primeira Avenida s/n Setor Universitário 74605-020 Goiânia, GO, Brasil E-mail: sandrorbatista@gmail.com Recebido: 30/11/2010 Aprovado: 18/8/2011 Artigo baseado na dissertação de mestrado de Batista SRR apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás em 2010. Os autores declaram não haver conflitos de interesse. a Organização Pan-Americana da Saúde. Doenças crônico-degenerativas e obesidade: estratégia mundial sobre alimentação saudável, atividade física e saúde. Brasília (DF); 2003 [citado 2008 ago]. Disponível em: http://www.opas.org.br/sistema/arquivos/d_cronic.pdf b Ministério da Saúde. Dados e indicadores selecionados. Brasília (DF); 2005 [citado 2008 ago]. Disponível em: http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/indicadores_2005.pdf c Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. Histórico de cobertura da Saúde da Família. Brasília (DF): 2010 [citado 2010 jun]. Disponível em: http://200.214.130.35/dab/historico_cobertura_sf.php d Ministério da Saúde. Portaria nº 221, de 17 de abril de 2008. Define a Lista Brasileira de Internações por Condições Sensíveis à Atenção Primária. Diario Oficial Uniao. 18 abr 2008; Seção 1;70. e Mendes EV. A atenção primária à saúde no SUS. Fortaleza: Escola de Saúde Pública do Ceará; 2002. f Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Atlas do desenvolvimento humano no Brasil [citado 2009 jan]. Disponível em: http://www.pnud.org.br/atlas/ g Secretaria do Estado da Saúde de Goiás, Superintendência de Planejamento. Plano Diretor de Regionalização da Saúde de Goiás (PDR) [citado 2009 jan]. Disponível em: http://www.sgc.goias.gov.br/upload/links/arq_387_planilhapdr.xls 1. Alfradique ME, Bonolo PF, Dourado I, Lima-Costa MF, Macinko J, Mendonça CS et al. Internações por condições sensíveis à atenção primária: a construção da lista brasileira como ferramenta para medir o desempenho do sistema de saúde (Projeto ICSAP - Brasil). Cad Saude Publica. 2009;25(6):1337-49. DOI:10.1590/S0102-311X2009000600016 Internações por condições sensíveis à atenção primária: a construção da lista brasileira como ferramenta para medir o desempenho do sistema de saúde (Projeto ICSAP - Brasil) Cad Saude Publica. 2009 1337 49 6 25 Alfradique ME Bonolo PF Dourado I Lima-Costa MF Macinko J Mendonça CS 2. Aquino R, Oliveira NF, Barreto ML. Impact of the Family Health Program on infant mortality in Brazilian municipalities. Am J Public Health. 2009;99(1):87-93. DOI:10.2105/AJPH.2007.127480 Impact of the Family Health Program on infant mortality in Brazilian municipalities Am J Public Health. 2009 87 93 1 99 Aquino R Oliveira NF Barreto ML 3. Bermúdez-Tamayo C, Márquez-Calderón S, Rodríguez del Águila MM, Perea-Milla López E, Ortiz Espinosa J. Características organizativas de la atención primaria y hospitalización por los principales ambulatory care sensitive conditions. Aten Primaria. 2004;33(6):305-11. Características organizativas de la atención primaria y hospitalización por los principales ambulatory care sensitive conditions Aten Primaria. 2004 305 11 6 33 Bermúdez-Tamayo C Márquez-Calderón S Rodríguez del Águila MM Perea-Milla López E Ortiz Espinosa J 4. Caminal Homar J, Morales Espinoza M, Sanchez Ruiz E, Cubells Larrosa MJ, Bustins Poblet M. Hospitalizaciones prevenibles mediante una atención primaria oportuna y efectiva. Aten Primaria. 2003;31(1):6-14. 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Factores asociados a la hospitalizacion por procesos sensibles a cuidados ambulatorios en los municipios Gac Sanit. 2003 360 7 5 17 Márquez-Calderón S Rodríguez del Aguila MM Perea-Milla E Ortiz J Bermúdez-Tamayo C 17. Nedel FB, Facchini LA, Martín-Mateo M, Vieira LAS, Thumé E. Programa Saúde da Família e condições sensíveis à atenção primária, Bagé (RS). Rev Saude Publica. 2008;42(6):1041-52. DOI:10.1590/S0034-89102008000600010 Programa Saúde da Família e condições sensíveis à atenção primária, Bagé (RS) Rev Saude Publica. 2008 1041 52 6 42 Nedel FB Facchini LA Martín-Mateo M Vieira LAS Thumé E 18. Nedel FB, Facchini LA, Martin M, Navarro A. Características da atenção básica associadas ao risco de internar por condições sensíveis à atenção primária: revisão sistemática da literatura. Epidemiol Serv Saude. 2010;19(1):61-75. 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METHODS: This ecological study on 237 municipalities in the state of Goiás, Central-West Brazil, between 2000 and 2008, used data from the Hospital Information System and the Primary Care Information System. The hospitalization rates were calculated as the ratio between the number of hospitalizations due to cardiovascular conditions and the population over the age of 40 years. The data were evaluated over the three-year periods A (2000-2002), B (2003-2005) and C (2006-2008), according to sex, age group, population size, whether the individual belonged to the metropolitan region, healthcare macroregion, distance from the state capital, living conditions index and coverage within the Family Health Strategy. The potential population coverage of the Family Health Strategy was calculated in accordance with Ministry of Health guidelines. The variability of the rates was evaluated using the t test and ANOVA. RESULTS: A total of 253,254 hospitalizations (17.2%) occurred due to primary care-sensitive cardiovascular conditions. The hospitalization rates diminished between the three-year periods: A (213.5, SD = 104.6), B (199.7, SD = 96.3) and C (150.2, SD = 76.1), with differences from A to C and from B to C (p < 0.001). Municipal population size did not influence the behavior of the rates. Municipalities near the state capital and those in the metropolitan area presented higher rates (p < 0.001). At all percentiles of the Life and Health Conditions Index, there were decreases in the rates (p < 0.001), except at percentile 1. Decreases were also observed in all the macroregions except for the northeastern region of the state. The reduction in rates was independent of the Family Health Strategy coverage. CONCLUSION: The rates of hospitalization due to primary care-sensitive cardiovascular conditions decreased in these municipalities, independent of the Family Health Strategy coverage. Cardiovascular Diseases, prevention & control Hospitalization Primary Health Care Health Services Evaluation Ecological Studies ORIGINAL ARTICLES Hospitalizations due to primary care-sensitive cardiovascular conditions in municipalities of Central-West Brazil Internaciones por condiciones cardiovasculares sensibles de Atención Primaria en municipios de centro-oeste de Brasil Sandro Rogério Rodrigues BatistaI; Paulo César Brandão Veiga JardimI; Ana Luiza Lima SousaII; Cláudia Maria SalgadoIII IDepartamento de Clínica Médica. Faculdade de Medicina (FM). Universidade Federal de Goiás (UFG). Goiânia, GO, Brasil IIFaculdade de Enfermagem. UFG. Goiânia, GO, Brasil IIIDepartamento de Pediatria e Puericultura. FM-UFG. Goiânia, GO, Brasil Correspondence ABSTRACT OBJECTIVE: To analyze rates of hospitalization due to primary care-sensitive cardiovascular conditions. METHODS: This ecological study on 237 municipalities in the state of Goiás, Central-West Brazil, between 2000 and 2008, used data from the Hospital Information System and the Primary Care Information System. The hospitalization rates were calculated as the ratio between the number of hospitalizations due to cardiovascular conditions and the population over the age of 40 years. The data were evaluated over the three-year periods A (2000-2002), B (2003-2005) and C (2006-2008), according to sex, age group, population size, whether the individual belonged to the metropolitan region, healthcare macroregion, distance from the state capital, living conditions index and coverage within the Family Health Strategy. The potential population coverage of the Family Health Strategy was calculated in accordance with Ministry of Health guidelines. The variability of the rates was evaluated using the t test and ANOVA. RESULTS: A total of 253,254 hospitalizations (17.2%) occurred due to primary care-sensitive cardiovascular conditions. The hospitalization rates diminished between the three-year periods: A (213.5, SD = 104.6), B (199.7, SD = 96.3) and C (150.2, SD = 76.1), with differences from A to C and from B to C (p < 0.001). Municipal population size did not influence the behavior of the rates. Municipalities near the state capital and those in the metropolitan area presented higher rates (p < 0.001). At all percentiles of the Life and Health Conditions Index, there were decreases in the rates (p < 0.001), except at percentile 1. Decreases were also observed in all the macroregions except for the northeastern region of the state. The reduction in rates was independent of the Family Health Strategy coverage. CONCLUSION: The rates of hospitalization due to primary care-sensitive cardiovascular conditions decreased in these municipalities, independent of the Family Health Strategy coverage. Descriptors: Cardiovascular Diseases, prevention & control. Hospitalization. Primary Health Care. Health Services Evaluation. Ecological Studies. RESUMEN OBJETIVO: Analizar tasas de hospitalización por condiciones cardiovasculares sensibles de atención primaria. MÉTODOS: Estudio ecológico con 237 municipios del estado de Goias (centro-oeste de Brasil) de 2000 a 2008, utilizando datos del Sistema de Información Hospitalario y Sistema de Información de Atención Básica. Las tasas de hospitalización fueron calculadas por la proporción entre el número de hospitalizaciones por condiciones cardiovasculares y la población con más de 40 años. Las tasas fueron evaluadas en trienios: A (2000-2002), B (2003-2005) y C (2006-2008), según sexo, grupo etáreo, porte poblacional, pertenencia a la región metropolitana, macro región de salud, distancia a la capital, índice de Condiciones de Vida y Salud y cobertura de Estrategia Salud de la Familia. La cobertura poblacional potencial de la Salud de la Familia fue calculada conforme a las directrices del Ministerio de la Salud. La variabilidad de las tasas fue evaluada según la prueba de t y ANOVA. RESULTADOS: Ocurrieron 253.254 internaciones (17,2% del total) por condiciones cardiovasculares sensibles de la atención primaria. Las tasas de hospitalización disminuyeron entre los trienios: A (213,5, de=104,6); B (199,7, de=96,3) y C (150,2, de=76,1), con diferencia entre los períodos A-C y B-C (p<0,001). El porte poblacional municipal no influenció el comportamiento de las tasas. Los municipios próximos a la capital y los de la región metropolitana presentaron mayores tasas (p<0,001). En todos los percentiles del Índice de Condiciones de Vida y Salud, hubo reducción de las tasas (p<0,001), excepto en el percentil 1. También se observó reducción en todas las macro regiones, excepto en la Región Noreste del estado. La reducción de las tasas ocurrió independientemente de la cobertura de la Salud de la Familia. CONCLUSIONES: Las tasas de hospitalización por condiciones cardiovasculares sensibles de la atención primaria disminuyeron en estos municipios, independientemente de la cobertura de la Salud de la Familia. Descriptores: Enfermedades Cardiovasculares, prevención & control. Hospitalización. Atención Primaria de Salud. Evaluación de Servicios de Salud. Estudios Ecológicos. INTRODUCTION Cardiovascular diseases are highly prevalent and present associated complications such as stroke, heart failure and acute myocardial infarction. These diseases have a considerable impact on the morbidity and mortality of populationsª and have been the main causes of deaths in Brazil for some decades. In Goiás (Central-West Brazil), these diseases and their risk factors were responsible for 30.5% of the deaths and 13.9% of the hospitalizations within the public network in 2005.bPrimary healthcare has the following characteristics: first-contact care, longitudinality, comprehensiveness, coordinated care, centralization of the family, community approaches and cultural aptitude. It is also responsible for attending to the commonest problems within the community and has a fundamental role in cardiovascular disease control actions. Its actions go from health promotion and risk prevention to screening, specific management and prevention of disease complications.22 Interventions relating to chronic diseases at primary care level are very effective, especially for diabetes, high blood pressure, asthma, heart failure and depression. Primary care is associated with improvement in process indicators (evidence-based decision-making regarding drug prescriptions, requests for complementary examinations and other evaluations) or in intermediate results (improvements in blood pressure, lipid and blood glucose control, fewer consultations with focal specialists and fewer visits to emergency services). Furthermore, there is greater satisfaction among patients and a tendency for healthcare costs to decrease.12,24 The strategies for managing chronic diseases used by clinics that base their actions on the main attributes of primary care are an organized healthcare system, linkage with the community, support and encouragement for self-care and integration of information.22 Identifying indicators for assessing primary care service is a complex task, given the multiplicity of actions at this care level. Indicators of hospital activity, especially hospitalizations due to primary care-sensitive conditions (PCSC), have been proposed for assessing the effectiveness of primary care. Such an indicator was created for assessing access to outpatient healthcare services in the United States at the end of the 1980s,25 and it has come to be used for comparing the effectiveness of primary care models.3-5 PCSC are health conditions that can be dealt with through care provided at the first level of care within the healthcare system. The rate of hospitalizations due to PCSC measures the effectiveness of the healthcare service indirectly: users who have access to primary care services and resolve their problems at this level do not present worsening of their problems and do not need hospitalization. Therefore, better problem-resolving capability at primary care level should reduce the rate of hospitalization due to PCSC.4,6,25 Continuity of care, a multidisciplinary team and, with lesser importance, the population registered with the physician, are associated with lower likelihood of hospitalization due to PCSC.16,18 High rates of hospitalization due to PCSC reflect deficiencies in service coverage and/or performance within primary healthcare.6,9,17 Hospitalizations due to PCSC accounted for 28.5% of all hospitalizations within the Brazilian National Health System (Sistema Único de Saúde; SUS) in 2006, with a rate of 149.6/10,000 inhabitants. The conditions most frequently involved were: gastroenteritis and its complications, heart failure, asthma, lower airway diseases, bacterial pneumonia, cerebrovascular diseases and hypertension.1 A recent study showed that there was an association between expansion of the Family Health Strategy (FHS) and reduction in the numbers of hospitalizations due to diabetes mellitus and respiratory problems. Expansion of the Community Health Agent Program was correlated with reduction in the number of hospitalizations due to cardiovascular problems among women.13 The aim of the present study was to analyze the rates of hospitalization due to primary care-sensitive cardiovascular conditions (PCSCC). METHODS This was a retrospective ecological study conducted in 246 municipalities in the state of Goiás between 2000 and 2008. Out of these municipalities, data were obtained from 237, after excluding those that did not present continuity of information. This sample loss corresponded to very small-sized municipalities (< 10,000 inhabitants). The first primary care FHS teams were set up in this state in 1998. In 2010, there were 1,071 teams, with potential coverage of the population of 57.02%.c The rates of hospitalization due to PCSCC were calculated using the following formula: (number of hospitalizations due to PCSCC at a given place and time/population at the same place and time) x 10,000. The data were obtained from the Hospital Information System (HIS). The Brazilian List of Hospitalizations due to Primary Care-Sensitive Conditions,d which conforms to the International Statistical Classification of Diseases and Health-Related Problems, Tenth Revision (ICD-10), was used to select causes through the following descriptors: high blood pressure (I10 and I11), angina (I20), heart failure (I50 and J81) and cerebrovascular diseases (I63 to I67; I69; G45 and G46). For this study, hospitalizations due to PCSCC among the population over the age of 40 years were selected. The rates were calculated according to year, sex and age group (40 to 59 years; 60 years and over). Data from the Primary Care Information System (PCIS) were gathered in order to calculate the potential population coverage of the primary care FHS team and the following formula was used: (number of FHS teams in the PCIS at a given place and time x 3,450/total population at the same place and time) x 100, in accordance with guidelines from the Ministry of Health. The municipalities were categorized as: low coverage (< 25%), medium coverage (25% to 70%: municipalities < 100,000 inhabitants; 25% to 50%: > 100,000 inhabitants) and high coverage (> 70%: < 100,000 inhabitants; > 50%: > 100,000 inhabitants).e The municipalities were also classified according to sociodemographic characteristics: distance from the state capital; population size (up to 50,000 inhabitants; 50,001 to 100,000; and 100,001 and over); belonging to the metropolitan region; and healthcare macroregion (Center-West, Northeast, Centre-North, Southeast and Southwest).f,g The Health and Living Conditions Index (HLCI), which presents greater specificity for application in relation to health, was used in a complementary manner.14 The potential population coverage of the FHS and the rates of hospitalization due to PCSCC were calculated for the following periods: A (2000 to 2002); B (2003 to 2005); and C (2006 to 2008). The other variables were fixed for 2000. These rates were analyzed after exclusion of municipalities with extreme data (outliers), in order to avoid possible confounding factors, and the analysis was done as three-year averages in order to smooth out instabilities in these rates in the small municipalities.21 The rates were compared within the three-year periods (A, B or C) and over the three periods, using the t test or ANOVA, with the Scheffe test subsequently. Period B was established as the standard in the analysis according to the population coverage of the FHS. The mean percentage changes between the periods A and C were calculated with subsequent comparison between the categories by means of ANOVA, followed by the Scheffe test to analyze the trend of the hospitalization rates. The SPSS2 software, version 18, was used for the statistical tests. The study was approved by the Research Ethics Committee of the Federal University of Goiás (Protocol no. 040/2009). RESULTS There were 1,470,015 hospitalizations through SUS in the 237 municipalities between 2000 and 2008, and 253,254 (17.2%) were due to PCSCC. The percentage of hospitalizations due to PCSCC decreased in relation to the total number of hospitalizations (from 20.8% to 13.6%), from 2000 to 2008, and the gradient of the reduction was maintained over the years (Figure 1). A sample of 221 municipalities (89.8% of the total) was obtained after excluding the municipalities with rates showing extreme values. The rates of hospitalization due to PCSCC decreased from period A (213.5; SD = 104.6) to period B (199.7; SD = 96.3) and to period C (150.2; SD = 76.1) (p < 0.001). There were statistically significant differences between the periods A and C and between B and C (p < 0.001), but not between A and B (Figure 2). The rates diminished according to sex and age group (Figure 3). For males, the rates were: 196.9 (SD = 98.10) (A); 185.11 (SD = 84.14) (B); and 137.40 (SD = 68.24) (C) (p < 0.001). The male rates according to age group were, for 40 to 59 years: 92.67 (SD = 56.09), 84.71 (51.90) and 60.42 (35.94) (p < 0.001); and for 60 years and over: 427.21 (217.43), 410.24 (93.51) and 297.27 (85.27) (p < 0.001). For females, the rates for the periods A, B and C were, respectively: 231.79 (25.31), 215.69 (121.48) and 164.16 (94.37) (p < 0.001); 125 (82.56), 109.53 (71.72) and 79.85 (54.62) (p < 0.001) from 40 to 59 years; and 474.40 (252.29), 460.65 (270.89) and 341.89 (206.42) (p < 0.001) for 60 years and over. In all these situations, there were statistically significant differences between the periods A and C and between B and C (p < 0.001). There were no significant differences in the rates for each period according to population size (Table), but there were differences in the means for hospitalization between the periods A and C and between B and C (p < 0.001) in the municipalities with up to 50,000 inhabitants, in the longitudinal analysis. The rates were greater in the municipalities in the metropolitan region. Analyzed separately, the municipalities that did not belong to the metropolitan region presented significant decreases in their rates between the periods A and C and between B and C (p < 0.001). This was not observed among the municipalities of the metropolitan region. Differences between the rates were observed in each period according to the health macroregion. The mean rates decreased in all the macroregions in the temporal analysis, except in the northeast, where an increase was observed (26.4%). This region differed from the others with regard to comparing the mean differences in rates in the municipalities over the period, according to healthcare macroregion (p < 0.001). Higher rates were observed in municipalities closer to the state capital. The behavior of rates within the same category showed differences in all the percentiles, with significant differences between the periods A and C and between B and C. In comparing the percentage mean difference between the categories, there was only a difference between the municipalities of percentiles 1 and 2 (p = 0.04). The lowest mean rate of hospitalization due to PCSCC was observed in the group of municipalities with the lower HLCI, i.e. with the worst health and living conditions (percentile 1) during all periods. There were decreases in the rates studied in all percentiles (p < 0.001), except for percentile 1. In comparing the mean percentage change in rates, a difference was observed between these municipalities and the others (p = 0.02). Rate reductions were observed independent of the FHS coverage (p = 0.002; p = 0.003; and p < 0.001). These differences occurred between the periods A and C and between B and C (p < 0.04), except for municipalities with low coverage, for which there was only a difference between A and C. There was no difference in the mean percentage reduction in rates according to population coverage by the FHS (p = 0.31). DISCUSSION The general hospitalization rate and the rate due to PCSCC decreased for both sexes and all age groups considered, in Goiás from 2000 to 2008. These results were close to those of other Brazilian studies that have indicated reductions in the rate of general hospitalization and the rate due to PCSCC in this country. Alfradique et al (2009)1 showed that there was a reduction of 15.8% in hospitalizations due to PCSCC and of 10.1% due to other conditions, in Brazil from 2000 to 2006. A study conducted in 2,448 Brazilian municipalities (86% of the population) showed that there was a reduction in the rates of hospitalization due to PCSC from 1998 to 2002,13 and this was confirmed in a more recent study (Macinko et al, 2010).15 Increased access to healthcare services and improvement in health conditions among the population may explain this reduction.1,2,15 The hospitalization rates among females were higher than among males. Women use healthcare services more than men do, especially for preventive care.20 A study conducted in Porto Alegre in 2003 showed that the adjusted prevalence rate was 1.55 (95%CI 1.34;1.79) for women, in relation to men, regarding healthcare service use.8 Women seek healthcare services more often and, for this reason, are subjected to a greater number of procedures, including preventive hospitalization.19 According to Guanais & Macinko,13 the FHS was effective for reducing the rates of hospitalization due to cardiovascular conditions only among the female population. Along the same lines, Macinko et al15 showed that there was a reduction in hospitalizations due to PCSCC in which hypertension was the cause of hospital admission, only for females. With regard to stroke and other cardiovascular diseases, there were reductions for both sexes, but the reduction among women was more evident. The analysis according to the potential population covered of the FHS showed that there was a statistically significant reduction in the rates of hospitalization due to PCSCC over the periods in all the groups of municipalities. Lower rates of hospitalization due to PCSC have been correlated with the quality of primary healthcare services in a large proportion of the studies. Nedel et al17 observed a rate hospitalization due to PCSC of 42.8% among people living in a FHS area, versus 61.3% among those in a non-FHS area (PR = 0.70; 95%CI 0.57;0.86), in the municipality of Bagé (Southern Brazil). A study conducted in Montes Claros (Southeastern), showed that the likelihood of hospitalization due to PCSC was doubled when the regular healthcare checks were made outside of the FHS.9 In an investigation on specific conditions (stroke and acute myocardial infarction), a study conducted in the south of Santa Catarina (Southern) showed that municipalities with adequate FHS had lower rates.7 A large proportion of requests for hospitalization, even among patients followed up within the FHS, are made by duty physicians in emergency services. It is believed that these professionals' actions are based on hospital practices, while physicians within primary care consider the patient's complete context. A discussion on the mechanisms for referral and counter-referral and their influence on hospitalization rates is necessary, along with discussion on the mechanisms of the role of family and community physicians within the Brazilian healthcare system.10 The quality of the healthcare services within the FHS needs to be questioned. Because of methodological limitations, no analysis on the quality dimensions of these services was performed in this study (lack of trustworthy data sources for this classification). Only the potential coverage by the FHS might not have an impact on the health conditions of the population.2,3,7,18 Assessments on other variables could, with appropriate methodology, provide a new scenario for this analysis.2,18 Examples of this include the number of medical and nursing consultations per inhabitant per year, the frequency and quality of home visits, the secondary and/or tertiary support network for these teams, and a continuing education process that is appropriate for these teams' real situations. In the analysis on the rates of hospitalization due to PCSCC according to socioeconomic indicators, we noted that a group of municipalities with a tendency towards higher rates appeared: those with larger populations, belonging to the metropolitan region, close to the state capital and with better health and living condition indexes. Thus, the phenomenon put forward in the "inverse care law" was observed, i.e. the health conditions of the population and its differentials are strongly dependent on the way in which the social distribution of wealth is organized. In other words, there is greater provision of services, including healthcare, when the population is less needy.6 Proximity to the hospital, 24-hour functioning of clinics and excess numbers of consultations (which are characteristics of large urban centers) are associated with higher hospitalization rates.18 The northeastern macroregion of the state, which has worse socioeconomic conditions, presented an increase in rates, thus diverging from the other macroregions of the state, where decreases were observed. Hospitalizations due to PCSC are related to and sometimes conditioned by factors that primary care has not controlled. The differences between the populations may explain the different morbidity patterns, and they may be caused by cultural differences in service use, rather than just by the problem-resolving capability of primary care.11 Ecological fallacy is a limitation to be taken into consideration,2,7 i.e. the impossibility of individualizing the risk of hospitalization. Causal inferences in relation to individuals, proposed based on group observations, need to be used with certain restrictions. This study was conducted using secondary data that had been reported to the Ministry of Health. Thus, in the present study, it was impossible to determine whether hospitalization was necessary from a clinical point of view, since there was no certainty that there really was a clinical indication for these hospitalizations. Nevertheless, a study on the quality of information contained in a database constituted by data from Hospital Admission Authorization forms showed that the kappa indices for concordance between the forms and the clinical indication were 0.793 and 0.725 for congestive heart failure and high blood pressure, which suggests that these data can be trusted.23 The hospitalizations studied here represent those made through SUS and do not reflect the reality in Goiás because they do not include the population that does not use SUS. Moreover, rehospitalization of the same individual cannot be categorized in the SUS Hospital Information System, although this is an important variable in assessing the impact of healthcare services on these conditions. The present study aimed to contribute towards the different spheres of the SUS management process relating to provision of FHS services, by showing that coverage by the FHS does not in itself ensure quality in the healthcare provided for the population. Expansion of its coverage together with improvement of its quality standards might produce an effective intervention. The results presented here may assist in proposing and evaluating actions aimed at continually improving these services, with the objective of achieving the highest quality levels and thus having an impact on health conditions among the population. Further studies are needed in order to establish the impact of primary care services within the FHS on the rates of hospitalization due to PCSCC, including detailed analyses through assessing quality components, including: the work process of the teams (access, accessibility and coverage of the actions that are made available, among others), the role of primary care within the FHS in relation to the healthcare system and the continuing education process among the professionals in these teams, with regard to appropriate and timely management of patients with cardiovascular conditions and associated risk factors. REFERENCES
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