Open-access Desverdecimento e Conservação em Pós-Colheita de Frutos de Kunquat (Fortunella margarita, Swingle) em Resposta a Tratamentos com Ethephon e Cera

Resumos

Este trabalho teve por finalidade verificar o efeito da aplicação de cera e de vários níveis de ethephon no desverdecimento e na conservação em pós-colheita de frutos de kunquat. Os frutos, colhidos no ponto de quebra de cor, foram tratados com soluções de ethephon a 250, 500 e 1000 ppm acrescidas de 0,3 ppm de Agral, ou encerados com Stafresh. Os frutos foram selecionados visualmente por tamanho e cor e após o tratamento, foram armazenados a temperatura ambiente (26°C ± 1°C, 50 a 60% UR). Foram feitas avaliações diárias quanto a perda de peso, textura, sólidos solúveis totais (°Brix), e degradação da clorofila. Todos os tratamentos com ethephon promoveram a degradação da clorofila. A taxa de desverdecimento aumentou proporcionalmente ao aumento na concentração de ethephon. O uso da cera reduziu tanto a perda de massa quanto a taxa de desverdecimento. Não houve diferenças na textura ou no °Brix dos frutos tratados em relação ao controle. Não foi verificada alteração nas características organolépticas dos frutos tratados tanto com ethephon quanto com Stafresh.

Fortunella margarita; desverdecimento; conservação


This work was carried out to verify the effect of waxing and ethephon levels on postharvest conservation and degreening of kunquat fruits. Fruits harvested at the color break stage were treated with ethephon solutions at 250, 500 and 1000 ppm + 0.3 ppm Agral, or waxed with Stafresh. Fruits were visually selected for size and color, and after the treatment were stored at room temperature (26°C ± 1°C, 50 to 60% RH). Fruits were daily evaluated for weight loss, texture, total soluble solids (°Brix), and chlorophyll degradation. All ethephon treatments were effective in promoting chlorophyll breakdown. The rate of degreening increased proportionally to the increase in ethephon concentration. Waxing reduced both weight loss and the rate of degreening. There were no differences in both texture and °Brix for treated fruits in relation to control. No off-flavor was noticed in fruits treated with either ethephon or Stafresh.

kunquat fruits; degreening; conservation


DESVERDECIMENTO E CONSERVAÇÃO EM PÓS-COLHEITA DE FRUTOS DE KUNQUAT (Fortunella margarita, SWINGLE) EM RESPOSTA A TRATAMENTOS COM ETHEPHON E CERA

R.V. da MOTA; P.Z. BASSINELLO; E. MELOTTO; P.R.C. CASTRO

Depto. de Botânica-ESALQ/USP, C.P. 9, CEP: 13418-900 - Piracicaba, S.P.

RESUMO: Este trabalho teve por finalidade verificar o efeito da aplicação de cera e de vários níveis de ethephon no desverdecimento e na conservação em pós-colheita de frutos de kunquat. Os frutos, colhidos no ponto de quebra de cor, foram tratados com soluções de ethephon a 250, 500 e 1000 ppm acrescidas de 0,3 ppm de Agral, ou encerados com Stafresh. Os frutos foram selecionados visualmente por tamanho e cor e após o tratamento, foram armazenados a temperatura ambiente (26°C ± 1°C, 50 a 60% UR). Foram feitas avaliações diárias quanto a perda de peso, textura, sólidos solúveis totais (°Brix), e degradação da clorofila. Todos os tratamentos com ethephon promoveram a degradação da clorofila. A taxa de desverdecimento aumentou proporcionalmente ao aumento na concentração de ethephon. O uso da cera reduziu tanto a perda de massa quanto a taxa de desverdecimento. Não houve diferenças na textura ou no °Brix dos frutos tratados em relação ao controle. Não foi verificada alteração nas características organolépticas dos frutos tratados tanto com ethephon quanto com Stafresh.

Descritores: Fortunella margarita, desverdecimento, conservação

DEGREENING AND POSTHARVEST: CONSERVATION OF KUNQUAT FRUITS (Fortunella margarita SWINGLE) IN RESPONSE TO WAX AND ETHEPHON TREATMENTS

ABSTRACT: This work was carried out to verify the effect of waxing and ethephon levels on postharvest conservation and degreening of kunquat fruits. Fruits harvested at the color break stage were treated with ethephon solutions at 250, 500 and 1000 ppm + 0.3 ppm Agral, or waxed with Stafresh. Fruits were visually selected for size and color, and after the treatment were stored at room temperature (26°C ± 1°C, 50 to 60% RH). Fruits were daily evaluated for weight loss, texture, total soluble solids (°Brix), and chlorophyll degradation. All ethephon treatments were effective in promoting chlorophyll breakdown. The rate of degreening increased proportionally to the increase in ethephon concentration. Waxing reduced both weight loss and the rate of degreening. There were no differences in both texture and °Brix for treated fruits in relation to control. No off-flavor was noticed in fruits treated with either ethephon or Stafresh.

Key Words: kunquat fruits, degreening, conservation

INTRODUÇÃO

Fortunella margarita é uma espécie frutífera da família das Rutáceas, que apresenta frutos pequenos, de coloração amarelo dourado, com casca doce e polpa ácida (Corrêa, 1984).

Tavares (1989) cita a tendência de uma evolução razoável na demanda comercial do kunquat, porém, em relação aos volumes de laranja, tangerina ou limão, isso não significa quantidades expressivas.

Sob condições tropicais, o kunquat, assim como frutos cítricos, normalmente não alcança a coloração alaranjada da casca correspondente a sua maturação. Isso ocorre devido a ausência de temperaturas baixas, que estão associadas ao processo de degradação da clorofila e manifestação de pigmentos carotenóides. Como, em geral, os consumidores associam a cor da casca com a maturidade da fruta, esta discrepância pode ser um obstáculo a comercialização (Awad & Churata-Masca, 1973, Coelho et al., 1981).

A fim de fazer com que a cor da casca corresponda à qualidade interna, tais frutos são desverdecidos. Os trabalhos de Jahn et al. (1969) e Wheaton & Stewart (1973) estabeleceram que a aplicação pós-colheita de etileno resulta em melhora substancial na cor externa dos citrus, associada à quebra da clorofila.

Redução dos níveis de O2 ou aumento dos níveis de CO2 também influenciam no desverdeci-mento, retardando a mudança da cor. Produtos hortícolas normalmente são encerados com o intuito de retardar a transpiração, melhorar ou reter o brilho natural e evitar deterioração a fim de aumentar o período de prateleira. A introdução de tal barreira reduz a entrada de O2 e a saída de CO2, retardando o processo de amadurecimento através da diminuição da taxa respiratória sem causar anaerobiose (Jahn et al., 1969; Paull & Rohrbach, 1982).

O presente trabalho foi desenvolvido a fim de estudar os efeitos de vários níveis de ethephon e da aplicação de cera no desverdecimento e conservação pós-colheita de frutos de kunquat.

MATERIAL E MÉTODOS

Frutos de kunquat (Fortunella margarita Swingle), fisiologicamente maduros, foram coletados no município de Mirandópolis, SP. As plantas tinham, em média, 6 anos de idade.

Os frutos foram submetidos a uma pré-seleção onde foram observados tamanho, coloração e ausência de injúrias mecânicas ou infecções fúngicas.

Foram realizados 5 tratamentos com 4 repetições cada, sendo cada parcela composta por 20 frutos dispostos em blocos casualizados, totalizando 400 frutos.

Os grupos de frutos receberam como tratamentos a imersão em soluções contendo 250, 500 ou 1000 ppm de Ethrel (ethephon, ácido 2-cloroetilfosfônico), acrescidas de 0,3 ppm de Agral (surfactante para reter o produto no fruto). O controle foi tratado com água destilada acrescida de 0,3 ppm de Agral. Os frutos foram submergidos nas respectivas soluções por 5 minutos. O quinto tratamento consistiu na aplicação de cera Stafresh (3 g de cera diluída em 2 litros de água) na forma de pulverização, sendo os frutos em seguida secos com ar quente por 2 minutos e polidos com escovas rotativas. Realizados os tratamentos, os frutos foram armazenados em condições ambientes (26°C ± 1°C, 50 a 60% UR).

Os parâmetros analisados, diariamente, foram:

(a) massa da matéria fresca de 10 frutos de cada bloco de cada tratamento;

(b) textura, utilizando-se de um penetrômetro Magness Taylor, analisando-se 2 frutos de cada tratamento, nos 2 lados opostos da região equatorial do fruto;

(c) teor de sólidos solúveis totais (°Brix), utilizando-se um refratômetro manual Zeiss, cuja amostragem correspondeu ao extrato de polpa de 2 frutos por parcela;

(d) conteúdo de clorofila a e b: foram utilizados 2 frutos por parcela, retirando-se 1 g de casca de cada fruto que foi homogeneizada em 10 ml de acetona 80% por 1 min, sendo em seguida centrifugado e a densidade optica do extrato (sobrenadante) determinada em espectrofotômetro Baush-Lomb, sendo utilizados os comprimentos de onda de 663 nm e 645 nm para os cálculos dos teores de clorofila a e b, respectivamente, conforme Arnon (1949).

Os valores da clorofila total, a e b em mg clorofila/g massa da matéria fresca foram determinados conforme as fórmulas abaixo:

clorofila total: 20,2 A645 + 8,02 A663 clorofila a: 12,7 A663 - 2,69 A645 clorofila b: 22,9 A645 - 4,68 A663

que expressam o conteúdo de clorofila em mg/ml acetona.

Em cada tratamento foi feita a observação visual da coloração da casca dos frutos.

Os resultados foram analisados estatisticamente pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Perda de Massa: Com o decorrer do período de armazenamento observou-se que o tratamento com cera foi o único que se diferenciou estatisticamente do tratamento controle (Figura 1), indicando a eficiência da cera como meio de restringir a transpiração através da minimização do gradiente de pressão de vapor, como demonstrado por Chitarra & Chitarra (1990) & Sigrist (1992), diminuindo, assim, a perda de massa do fruto.

Figura 1
- Perda de massa da matéria fresca (mg) de frutos de kunquat submetidos a tratamentos com ethephon ou cera em relação ao controle*.
* Letras distintas numa mesma data indicam diferença significativa pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

Sólidos Solúveis Totais: Não houve diferença significativa entre os teores de sólidos solúveis (°Brix) dos frutos submetidos aos diferentes tratamentos durante o período do experimento (TABELA 1).

Os resultados equivalem-se aos obtidos por Awad & Churata-Masca (1973), Wheaton & Stewart (1973), Bondad (1976) e Coelho et al. (1981), comprovando o fato de que o emprego de ethephon ou cera não altera a qualidade do produto.

Textura: Não houve diferença significativa entre a textura dos frutos submetidos aos diferentes tratamentos durante o período do experimento (TABELA 2).

Apesar de não haver diferença estatística entre os tratamentos, os frutos tratados com cera tenderam a parecer mais firmes no final do experimento em relação aos demais tratamentos.

Degradação da clorofila: As Figuras 2, 3 e 4 mostram, a partir do segundo dia de avaliação, o efeito dos tratamentos com ethephon no desverdecimento da casca dos frutos de kunquat, como observado por Awad & Churata-Masca (1973), Bondad (1976) e Coelho et al. (1981).

Figura 2
- Degradação da clorofila a (mg/g massa da matéria fresca) de frutos de kunquat submetidos a tratamento com ethephon ou cera em relação ao controle*.
* Letras distintas numa mesma data indicam diferença significativa pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
Figura 3
- Degradação da clorofila b (mg/g massa da matéria fresca) de frutos de kunquat submetidos a tratamento com ethephon ou cera em relação ao controle*.
* Letras distintas numa mesma data indicam diferença significativa pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
Figura 4
- Degradação da clorofila total (mg/g massa da matéria fresca) de frutos de kunquat submetidos a tratamento com ethephon ou cera em relação ao controle*.
* Letras distintas numa mesma data indicam diferença significativa pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

As curvas de degradação da clorofila acompanham o aumento da concentração de ethephon, o que está de acordo com os dados obtidos na literatura em relação à concentração de etileno (Jahn et al., 1969, Jahn et al., 1973, Wheaton & Stewart, 1973, Ahrens & Barmore, 1988).

A diferença entre as concentrações de ethephon não foram muito significativas, concordando com o observado por Awad & Churata-Masca (1973) em frutos de laranjas `Pêra' e `Lima' e de tangerinas `Ponkan', em um tempo de imersão de 5 minutos, embora, com relação a clorofila a, 1000 ppm de ethephon pareça exercer um maior efeito.

Frutos não tratados (controle) também perderam clorofila lentamente. Devido a esta mudança natural, os tratamentos controle e com ethephon a 250 e 500 ppm puderam alcançar níveis semelhantes como é mostrado nas Figuras. Desta forma, o uso de ethephon seria recomendado nos casos em que se desejasse uma rápida alteração de cor.

A aplicação de cera diminuiu as trocas gasosas e inibiu o desenvolvimento da cor amarela, uma vez que o CO2 é um inibidor competitivo da ação do etileno, cuja síntese também é inibida por baixos teores de O2 (Ahrens & Barmore, 1988).

CONCLUSÕES

- A utilização de ethephon foi efetiva no desverdecimento dos frutos de kunquat;

- A dosagem de 1000 ppm de ethephon induziu a degradação da clorofila mais rapidamente;

- O ethephon não teve efeito significativo sobre o teor de sólidos solúveis totais ou textura;

- A aplicação de 1000 ppm de ethephon aumentou a percentagem de perda de peso dos frutos, diminuindo sua vida útil;

- A cera comprovou ser útil no prolongamento da vida de prateleira dos frutos, uma vez que retarda o desverdecimento e a perda de peso dos frutos;

- Não houve diferença estatisticamente significativa na textura dos frutos tratados com cera, embora tendessem a parecer mais firmes ao tato em relação aos demais tratamentos.

Recebido para publicação em 20.02.97

Aceito para publicação em 23.09.97

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    03 Fev 1999
  • Data do Fascículo
    Set 1997

Histórico

  • Aceito
    23 Set 1997
  • Recebido
    20 Fev 1997
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