EFEITOS DO MOLIBDÊNIO E DA CALAGEM NO CRESCIMENTO DA COUVE - FLOR

EFFECTS OF MOLYBDENUM AND LIME ON THE GROWTH OF CAULIFLOWER

NOTA

EFEITOS DO MOLIBDÊNIO E DA CALAGEM NO CRESCIMENTO DA COUVE - FLOR CV. SHIROMARU II

Simone da Costa Mello^1,*; Keigo Minami²

¹Pós-Graduanda do Depto. de Solos e Nutrição de Plantas-ESALQ/USP.

²Depto. de Horticultura-ESALQ/USP, C.P. 9, CEP: 13418-900 - Piracicaba, SP.

*e-mail: [e-mail]

RESUMO: Conduziu-se um experimento num Podzólico Vermelho-Amarelo no período de 14/10/93 a 27/01/94 em Piracicaba (SP), tendo por objetivo estudar os efeitos da aplicação de molibdênio via sementes e da calagem sobre o crescimento e o desenvolvimento da couve-flor cv. Shiromaru II. O delineamento experimental foi em blocos casualizados, com dois fatores: calagem (sem e com aplicação de 1,5 t/ha de calcário) e doses de molibdênio via sementes (0, 13,5; 27 e 54 g Mo/kg de sementes), no esquema em faixas, com 4 repetições. Avaliou-se o número de folhas por planta, a altura de plantas (cm), o peso médio de cabeças (g/cabeça) e a produção de cabeças (t/ha). Houve diferença significativa somente com respeito a calagem, tratamento em que o peso médio de cabeças (640,7 g) e a produção de cabeças (12,8 t/ha) foram 28,7 e 32 % superiores, respectivamente, aquele em que não se aplicou o calcário. As demais características avaliadas não foram afetadas tanto pelas doses de Mo como pela calagem.

Palavras-chave: couve-flor, molibdênio, molibdato de amônio, calcário

EFFECTS OF MOLYBDENUM AND LIME ON THE GROWTH OF CAULIFLOWER CV. SHIROMARU II

ABSTRACT: An experiment was carried out from October 1993 to January 1994 in Piracicaba (SP) to study the effect of lime and seed molybdenum application on cauliflower cv. Shiromaru II growing on an Ultisol. The experimental design consisted of randomized blocks, using sub-plots in strips with four replications and two factors: lime (0 and 1.5 t/ha) and molybdenum (0, 13.5, 27 and 54 g of Mo/kg of cauliflower seed). The variables evaluated were number of leaves per plant, plant height, curd average weight and yield. The average weight of curds (640.7 g) and yield of cauliflower (12.8 t/ ha) were 28.7 and 32 %, respectively, higher then in the treatment where lime was not applied to the soil. The other variables were not affected by Mo and lime application.

Key words: cauliflower, molybdenum, ammonium molibdate, limY

INTRODUÇÃO

A couve-flor (Brassica oleracea var. botrytis) cultivada em todas as partes do mundo, está entre as hortaliças mais sensíveis quanto a deficiência de molibdênio, cuja maior incidência ocorre em cultivares e híbridos precoces para cultivo de verão.

O pH do solo tem sido um dos fatores de maior influência na disponibilidade do molibdênio, que aumenta com o incremento do pH do solo, uma vez que o ânion molibdato fixado é deslocado dos sítios de troca pelas hidroxilas (Malavolta, 1980). Dessa forma, em solos de região sob clima tropical, onde há predomínio de solos ácidos, o molibdênio é adsorvido, tendo sua disponibilidade às plantas reduzida (Camargo, 1992). De uma maneira geral, a calagem é suficiente para prevenir a deficiência deste micronutriente, entretanto em alguns casos, só é possível incrementar a produção com o fornecimento de sais de molibdênio (Hagstrom & Berger, 1965). Dentre os métodos de aplicação, a pulverização foliar com esse elemento é a mais utilizada entre os produtores, no entanto, resultados existentes na literatura comprovam que seu fornecimento via sementes é a forma mais eficiente e econômica (Gupta et al., 1978; Gupta & Lipsett, 1981; Mello, 1990).

Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi verificar os efeitos do molibdênio em solução aquosa aplicado por embebição das sementes e níveis de calagem, em couve-flor `Shiromaru II', na região de Piracicaba (SP).

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi instalado em Piracicaba (SP), em solo Podzólico Vermelho-Amarelo (PV) com as seguintes características químicas: 36,6 mg/dm³ de P (resina); 16 g/dm³ de M.O.; pH de 5,3 em CaCl₂; 3,5 mmol_c/dm³ de K; 22,5 mmol_c/dm³ de Ca; 6,3 mmol_c/dm³ de Mg; 23,7 mmol_c/dm³ de H+Al (SMP); T (capacidade de troca de cátions) igual a 56 mmol_c/dm³ e V (saturação por bases) igual a 58%.

Para o tratamento das sementes, empregou-se o molibdato de amônio (54 % de Mo) nas doses de 0, 25, 50 e 100 g/kg de sementes, equivalentes a 0; 13,5; 27 e 54 g Mo/kg de sementes. Inicialmente, tais quantidades do sal foram dissolvidas em água deionizada necessária para embeber as sementes. Homogeneizou-se a solução em agitador mecânico. Na sequência, as sementes foram submetidas às "soluções tratamento", onde permaneceram trinta minutos, após o qual foram transferidas para papel toalha e postas a secar à sombra. Após este procedimento, efetuou-se a semeadura (em 16/09/93), em bandejas recheiadas com um substrato que continha 2; 1,8 e 0,4 kg de N, P₂O₅, e K₂O, respectivamente, por metro cúbico da mistura terra, vermiculita e calcário na proporção 2:1:5.

A adubação de plantio foi realizada em sulcos, aplicando-se o equivalente a 40 kg/ha de nitrogênio, 430 kg/ha de P₂O₅ e 240 kg/ha de K₂O. O transplante das mudas foi realizado em 14/10/93, num espaçamento de 0,5 m entre plantas e 1,0 m entre linhas.

O delineamento experimental foi em blocos, com dois fatores: calagem (sem e com aplicação de 1,5 t/ha de calcário dolomítico) e doses de molibdênio por meio de embebição das sementes (0; 13,5; 27 e 54 g Mo/kg de sementes), no esquema em faixas com 4 repetições. Cada parcela foi composta por 30 plantas.

O calcário dolomítico (26 % de CaO e 14 % de MgO, com PRNT de 70 %) foi aplicado a lanço e incorporado a 20 cm de profundidade, trinta dias antes do plantio das mudas, com o objetivo de elevar a saturação por bases a 70 %.

Aos trinta dias após o transplante, realizou-se adubação de cobertura com nitrogênio, aplicando-se 3 gramas de uréia (45 % de N) por planta. As irrigações foram realizadas nos sulcos, e o controle de pragas e doenças foram feitos conforme as necessidades fitossanitárias da cultura. Em 30/11/93 procedeu-se a avaliação das variáveis, número de folhas por planta e a altura de plantas, tomando-se 8 plantas por parcela. A colheita de cabeças deu-se aos 26/12/93 e estendeu-se até os 27/01/94, para a determinação do peso médio das mesmas (g/cabeça) e produção de cabeças (t/ha).

As variáveis obtidas foram submetidas à análise de variância, sendo as comparações entre as médias realizadas segundo o teste t de Student a 5 %.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados do número médio de folhas por planta, altura da planta, peso médio de cabeças e produção de cabeças da cv. Shiromaru II constam na TABELA 1. Para todas as variáveis avaliadas não houve efeito significativo com respeito as doses de molibdênio e interação entre doses e calagem. Possivelmente em pH de 5,3, referente ao solo onde foi instalado o experimento, o Mo estava disponível em um nível suficiente para permitir ausência de resposta à sua aplicação. Mello (1990) constatou que as aplicações de 9,75 e 19,5 g Mo/kg de sementes não proporcionaram incrementos no peso médio de cabeças de couve-flor `Ouro Branco' e na produção de brócoli `Galaxy' em relação à testemunha, em solos com pH de 4,7 e de 5,5 (CaCl₂), respectivamente. Quando se trata da interação calagem e Mo, Gupta et al. (1978) observaram incrementos da produção de couve-flor cv. Primosnow em função das aplicações de Mo (semente tratada, 4,5; 9,0; 18; 36; 72 e 144 mg/kg de Mo adicionado ao solo) com quantidades de calcário empregadas de 3,2 e 6 t/ha, necessárias para elevar o pH para 4,3 e 4,8, respectivamente. Em quantidades maiores de calcário, ou seja, 12,2 e 26,8 t/ha, que proporcionaram valores de pH de 5,7 e 6,9, as produções foram reduzidas.

Cabe ressaltar ainda, que a cultivar Shiromaru II pode ser pouco exigente em molibdênio, o que também justificaria a ausência de resposta à aplicação deste micronutriente via sementes. Scheffer & Wilson (1987) comprovaram diferenças entre duas cultivares quanto à adubação com Mo, sendo que em solo de pH 5,3, as aplicações de 24 e 47 g Mo/kg de sementes proporcionaram aumentos de produção de 19,2 e 23 % respectivamente, para a cv. Victoria. Já para a couve-flor `Whiteacre' a produção (33 t/ha) não diferiu significativamente da testemunha para a maior dose de Mo (47 g/kg sementes).

Para o peso médio (g/cabeça) e produção de cabeças (t/ha) observou-se diferença significativa entre as áreas com e sem calagem, sendo que os maiores valores de tais variáveis foram obtidos quando não se aplicou calcário. A calagem e a quantidade elevada de fósforo aplicada no plantio podem ter reduzido a disponibilidade de zinco para as plantas, o que possivelmente ocasionou queda de produção. A aplicação de calcário também pode ter diminuido a disponibilidade de Cu e Mn, entretanto, como estes nutrientes foram fornecidos via pulverização foliar com fungicidas, eles provavelmente não foram limitantes para a cultura da couve-flor. Outro elemento que pode ter tido sua disponibilidade reduzida com a aplicação de calcário foi o boro. Bishop & Cook (1958) verificaram aumento na adsorção de boro pela formação de metaboratos de cálcio, com a aplicação de calcário, que aumentou o pH de 5,1 para 5,98. Dessa forma, possível redução na disponibilidade de boro para as plantas, pela aplicação do calcário, também pode explicar a menor produção de cabeças (9,7 t/ha), já que a couve-flor está entre as hortaliças mais exigentes em boro, sem contudo, ter ocorrido sintomas visuais de deficiência deste elemento na cultura.

CONCLUSÕES

Aplicações de molibdênio na dosagem de até 54 g/kg de sementes não aumentaram o peso médio de cabeças e produção total de cabeças de couve-flor `Shiromaru II'.

Em relação a omissão da calagem, houve um aumento de 32 % sobre a produção comparativamente àquela que foi obtida sob efeito do tratamento que recebeu 1,5 t/ha de calcário.

Recebido para publicação em 18.12.97

Aceito para publicação em 18.11.98

Referências bibliográficas

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• SCHEFFER, J.J.C.; WILSON, G.J. Cauliflower: molybdenum application using pelleted seed and foliar sprays. New Zealand of Experimental Agriculture, v.15, p.485-490, 1987.

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  18 Jun 1999
• Data do Fascículo
  1999

Histórico

• Aceito
  18 Nov 1998
• Recebido
  18 Dez 1997