Resumo
Observando as elaborações dos Canela Apanjekra sobre a pandemia da covid-19 e as estratégias adotadas por eles para conter a doença, nos primeiros meses da dissemina- ção do vírus, este ensaio estabelece um paralelo entre os rituais de reclusão indígenas e os protocolos de distanciamento social. Ao fazê-lo, coloca em primeiro plano as noções nativas sobre saúde, indicando como a produção de corpos saudáveis depende da constante renovação das pessoas a partir do controle da ação de agentes não humanos por meio de fechamentos ritualizados. Por fim, o ensaio contrasta a temporalidade envolvida nos rituais de reclusão com o debate sobre o “retorno à normalidade” com um eventual fim da crise sanitária, questionando como as crises planetárias colocadas pelo antropoceno evocam uma concepção mais sistêmica de fim de (um certo) mundo.
Palavras-chave
Pandemia; covid-19; etnologia indígena; ritual; antropoceno