Open-access INVESTIMENTO DE SI E VONTADE DE SUCESSO: OS PROCESSOS DE DESENVOLVIMENTO NO RADAR INDIVIDUAL

THE INVESTMENT OF ONESELF AND THE WILL TO SUCCEED: DEVELOPMENT PROCESSES ON THE INDIVIDUAL RADAR

Resumo

Este artigo examina a relação entre indivíduo e processos de desenvolvimento. Apontando aspectos da clássica discussão sobre indivíduo-sociedade nas ciências sociais, explora-se a temática do desenvolvimento por meio de uma única entrevista e se constrói um retrato relativo ao principal período de vida narrado. Analisa-se o modo como o caso apresenta, na situação de um ex-empregado tornado empresário, a ética do esforço e do sofrimento que se vincula ao modo de investimento de si nas atividades econômicas cujos efeitos no nível do indivíduo são a manutenção de uma conduta orientada pelo progresso e no âmbito social uma concepção de desenvolvimento na qual é imprescindível a ação dos sujeitos. O caso expõe que o desenvolvimento é entendido como um desenrolar histórico naturalizado e, tal qual o progresso, é idealizado e neles aparece a ambivalência de os indivíduos poderem ou não realizar atividades por meio de esforço e sofrimento almejando o sucesso.

Palavras-chave Desenvolvimento; Progresso; Indivíduo e Sociedade; Ética Econômica; Narração

Abstract

The article examines the relationship between the individual and developmental processes. Pointing out aspects of the classic discussion on individual-society in the social sciences, the theme of development is explored through a single interview and a portrait of the main narrated period of life is constructed. It analyzes the way in which the case presents, in the situation of a former employee turned entrepreneur, the ethic of effort and suffering that is linked to the way of investing oneself in economic activities. The effects at the individual level are the maintenance of a conduct oriented by progress and in the social sphere a conception of development in which the action of the subjects is essential. Development is understood as a naturalized historical process. Like progress, it is idealized. In both appears the ambivalence of individuals being able or not to perform activities through effort and suffering aiming at success.

Keywords Development; Progress; The Individual and the Society; Economic Ethics; Narrative

INTRODUÇÃO 1

Este presente artigo versa sobre a relação entre indivíduo e processos de desenvolvimento. Antes de apresentar propriamente os problemas centrais do texto, faço breve referência a um panorama de análise que, espero, possa auxiliar a preparar o argumento. Sabemos por meio das obras de Max Weber da importância das relações entre religião e ética econômica. Tanto Weber como o historiador Reinhart Koselleck, décadas depois, viram na guinada religiosa do protestantismo na Europa um problema moral que teria efeitos nas noções de progresso e desenvolvimento. Foi Anand Pandian ( 2008 ) que num texto recente chamou atenção para o fato, uma vez que para Koselleck na Europa “o conceito moderno de progresso mundano substituiu a antiga ideia de uma perfeição espiritual da alma” (Pandian, 2008: 163). No entanto, segue Pandian ( 2008 ), para o historiador alemão “a experiência de progresso mundano tem sempre sido parcial e desequilibrada, acompanhada nas insistentes críticas de declínio moral”. Assim, as condições morais “[…] emergem como o signo mais durável de déficit de desenvolvimento […]”; evocando, assim, completa Pandian ( 2008: 163), que a perfeição do eu ou da alma reaparece como o objetivo do progresso moderno.

Bem observou Hirschman ( 2002 ), numa análise mais distanciada dos problemas da religião, que nessa longa história aqui esboçada em sobrevoo se as paixões não tivessem se organizado paulatinamente em torno dos interesses dificilmente progresso, moralidade, desenvolvimento e ação individual se articulariam assim.

O entrelaçamento de alguns desses problemas é objeto deste artigo, articulando-o à problemática do desenvolvimento. Em geral uma área caracterizada por uma maioria de perspectivas focadas em níveis macro, economia global, políticas públicas e seus aspectos econômico-sociais, também há um eixo de pesquisas menos explorado orientado à dimensão da vida interior dos indivíduos e sua relação com processos mais amplos de desenvolvimento.

O ponto da argumentação é a relação entre história individual e investimentos na vida econômica e como entender a conexão dessa relação com o que Lewis ( 2019 ) denominou de desenvolvimento imanente. Fazendo um panorama sobre os estudos a respeito dos processos de desenvolvimento nas últimas décadas, o autor britânico sugeriu duas formas, em sua visão não antagônicas, pelas quais os pesquisadores compreenderam e conceituaram o problema. De um lado, “desenvolvimento enquanto algo que é feito (e portanto envolve intenção e escolha)” e, de outro, “[…] desenvolvimento como algo que acontece (ocorrendo de acordo com algum tipo de lógica predeterminada ex ante)” (Lewis, 2019: 1957). No primeiro caso, o desenvolvimento é entendido como intervenção, geralmente de um ou mais agentes sobre outros (ou sobre uma população inteira). No segundo, trata-se de um desdobrar progressivo, muitas vezes simplesmente chamado de mudança social e associado à lógica da sociedade capitalista. O que importa é que iniciativas de desenvolvimento chamado imanente não devem obscurecer o que é construção social anterior, eventualmente em história de longa duração, assim envolvem um complexo de relações internas e externas e escalas de tempo alargadas – formas de intervenção sobre o corpo social, esse complexo constitui culturas orientadas por história linear cujo horizonte é se desenvolver, problema que age diretamente no âmago das pessoas mesmo que elas professem liberdade de escolha. Essa trama permitiria afirmar com Foucault ( 2006 e 2008 ) que governamentalidade surge na intersecção entre domínios do poder e da ética (Pandian, 2008 ), uma vez que colocam em contato tecnologias construídas e eventualmente impostas para a produção da vida e a conduta de autorresponsabilidade, reflexão e trabalho do sujeito sobre si mesmo.

Para explorar tal problema a partir de investigação oriunda de pesquisa de campo, farei uso de uma única narrativa. Em que pese possa parecer demasiado almejar inferir determinados problemas socioculturais da história individual contada por uma pessoa, a ambição evidentemente não é essa. Trata-se antes de olhar para a complexidade de uma narrativa, um retrato, e nele procurar visualizar essa trama entre sociedade e indivíduo na tentativa de não tornar um sujeito meramente representativo ou “preso” na sociedade em que vive, tampouco deslocar o mesmo exaltando sua vida ilustre (Schwarcz, 2013 ). Mais recentemente, as ciências sociais têm dado nova atenção ao problema do indivíduo (Corrêa, 2021 ), embora não se possa afirmar que o assunto é novo. Lahire ( 2004 ), por exemplo, optou por um estudo que selecionou poucos indivíduos para entrevistas extensas com cada um, discutindo pluralidade de disposições ao longo da vida, heranças familiares múltiplas e, portanto, variações intra-individuais que enriquecem nosso entendimento sobre as pessoas 2 .

Em um número especial da Social Anthropology dedicado ao tema em questão, Grimshaw ( 2020 ) ampara-se na noção de retrato e no que ela difere da história de vida do ponto de vista metodológico. A autora tem por inspiração o estudo de Crapanzano ( 1980 ) ao sustentar que retrato pode ser considerado uma decorrência do encontro entre pesquisador e pesquisado. Para o retrato, o arco da vida não precisa ser redigido, é uma situação que permite um entendimento de um período, e enfoca como se constroem as subjetividades. Esse é também o ângulo aqui buscado para análise.

É de se sublinhar que, apesar das tendências da teoria social poderem nos sugerir caminhos de investigação e interesses analíticos recorrentes em uma época, os próprios movimentos da vida social acabam por agudizar, pelo menos em parte, o que desejamos entender enquanto pesquisadores. Ao recuperar as experiências em campo ocorridas há anos tal narrativa que aqui analiso chamou a atenção. Hamilton, o chamaremos assim, ao ser interpelado por mim sobre suas atividades de empresário industrial da região de Veranópolis, Rio Grande do Sul (município com cerca de 25 mil pessoas na Serra de colonização italiana, próximo a outros com importante diversidade industrial também) parecia estar há tempos esperando alguém para contar sua história pessoal, suas iniciativas, as superação das dificuldades e, ao final, o sucesso.

Em meados de 2005, quando realizava uma pesquisa sobre a dinâmica de trabalho e as relações em redes de confiança que se estabeleciam no território, adentrei em sua empresa com boas expectativas, pois seu nome aparecera em meus contatos anteriores 3 . A entrevista adiante examinada foi feita no fim de abril de 2005 por meio de roteiro semiestruturado, em Veranópolis, e Hamilton tinha na época 33 anos de idade. Era casado, sendo um jovem empresário de origem italiana, católico, nascido na mesma região e com ensino médio completo. Expliquei a Hamilton minhas intenções e o que se seguiu foi uma narração de vida que, embora sempre seletiva e organizada para finalidade do momento, ofereceu um retrato entusiasmado de um processo social.

Relatar a si mesmo sempre é um ato que envolve cumplicidades ao momento e às interpelações de quem pergunta, como aponta Butler ( 2015 ). Ainda para a autora, envolve igualmente – que nesse aspecto se afasta um tanto de Nietzsche e da noção de castigo ou punição interpelativa – dimensões éticas, aquelas que se situam em expectativas de ouvir e ser escutado, de um rosto na sua frente, de reconhecimento. Constituímo-nos como seres autonarrativos e as relações éticas se colocam nessa situação de dirigir-se a outro, falar de si e responder a um chamado. É claro que Butler ( 2015 ) jamais se distancia demasiadamente das cenas de violência que podem emergir dessa relação de interpelação e resposta, já que em geral nos damos conta que temos uma história pessoal articulada a formas de assujeitamento. Mas as potências éticas do narrar não são residuais.

Um dos resultados mais relevantes da pesquisa desenvolvida na época na região foi entender que o mundo cultural da colonização italiana e de seus descendentes premiava imensamente indivíduos empreendedores que se arriscavam – tanto em cruzar o oceano para viver na América, como das gerações seguintes que desejavam dar continuidade a essa aventura nas atividades econômicas. Inúmeras vezes me deparei com pessoas dizendo algo como: “eu era trabalhador, mas sempre quis ter meu negócio”. Um ethos que valorizava em demasia os feitos e se sentia ressoar mesmo mais de um século depois do princípio da colonização. Hamilton narrava suas façanhas de maneira que eu aos poucos vislumbrava ligações com as manifestações simbólicas desse tecido social local, pois se a memória coletiva fatalmente se impunha, o ponto para ele vinha a ser participar desse mundo cultural em pleno direito. Ao mesmo tempo, ao presentificar os eventos na narração ele seleciona as aventuras que desembocam no sucesso por meio do sofrimento, seja dele, seja de outros em seu círculo íntimo de relações.

Naquele momento da investigação, minhas intenções acabaram sendo direcionadas a outros problemas sociológicos que parcialmente utilizaram essas questões envolvendo muito mais os efeitos territoriais dos comportamentos econômicos. Retomando esses dados, observei que faria justiça a um ou vários depoimentos e observações daquela pesquisa dando destaque ao ângulo de discussão que sublinhasse a subjetividade, as incursões interiores aos indivíduos e suas orientações pessoais concernentes aos objetivos na vida articulada a uma perspectiva local de “progresso” e “desenvolvimento”. Não se trata de organizar e inventariar toda a vida, nem mesmo julgar quais são momentos decisivos, mas de calibrar o olhar a um determinado período de vida do entrevistado que representou possivelmente uma enorme mudança de orientação, bem como vinculou definitivamente seus feitos no período em questão com as manifestações culturais locais acerca de como indivíduos devem enfrentar as circunstâncias e se localizar no mundo. A meta deste artigo, portanto, reside em analisar como uma ética do esforço e do sofrimento no trabalho se vincula a um modo de investimento de si nas atividades econômicas cujos efeitos no nível do indivíduo são a manutenção de uma conduta orientada pelo progresso (individual, familiar) e no âmbito social uma concepção de desenvolvimento na qual é imprescindível a ação propositiva dos sujeitos. Do ponto de vista sociológico, examinar a esfera propriamente social do desenvolvimento é se deparar com a forma como processos socioculturais anteriores também auxiliaram a ordenar historicamente o mundo e como são no presente organizados ou atualizados pelas ações individuais, mesmo que para cada ator social sua iniciativa pareça muito original.

A noção de investimento de si auxilia a estruturar o ponto de vista analítico. Ela procura dar conta do modo como as pessoas se envolvem ativa e intensamente em objetivos de vida, perseguindo finalidades mundanas de sucesso.

Pode-se dizer que ela tem como fontes referências diversas, mas nem sempre em acordo epistemológico. De um lado, notavelmente o trabalho de Weber ( 2001 ) com a canalização dos esforços individuais para as atividades econômicas e um sentido de realização de vida. De outro, os trabalhos de Foucault sobre ética e governo de si no mundo antigo (Foucault, 2006 , 2010 ), particularmente sobre as relações entre conduzir a si mesmo no mundo perante os outros. Mas Foucault faz um trabalho de investigação filosófica. Aqui que o trabalho antropológico de Pandian ( 2008 ) sobre desenvolvimento na Índia recente se faz relevante, pois nele emergem as formas de os indivíduos governarem a si mesmos conforme um fim específico – o desenvolvimento. Por seu turno, sua pesquisa não deixa de lado a consideração a respeito do aparato global das políticas de desenvolvimento e suas manifestações nos imaginários nacionais. Isto é, desenvolvimento não “brota” simplesmente na vida interior de sujeitos. Também vale observar uma terceira fonte relevante, em diálogo crítico com a anterior: alguns recentes trabalhos problematizando a crítica pós-estruturalista do desenvolvimento, tais como em De Vries ( 2013 ), Kapoor ( 2014 ) e Blanco ( 2022 ), evocam que o desejo não se reduz à um governo da subjetividade. Antes, o desejo atua nos sujeitos, cujas inclinações e paixões podem ser enlace para o desenvolvimento se expandir, seduzir e induzir a produção de mundos. Assim, investimento de si será basilar para compreender o caso em questão e espera-se que o relato a seguir demonstre os diferentes ângulos da questão.

Após esta introdução, este artigo se volta ao início da narrativa em que se faz apelo ao trabalho e ao investimento de si nos negócios. Em seguida, discute-se a vontade de sucesso e o sofrimento que acompanhava o processo e ao final algumas considerações são tecidas.

TRABALHO E INVESTIMENTO DE SI

Rosaldo ( 1986 ) propôs que contar uma história (de vida, no caso) é um processo que, tal como no romance, pode se beneficiar esteticamente de manter a tensão até o final. É uma forma de prender a atenção dos outros para o desfecho e essa ação pode dar mais ou menos foco ao drama e aos riscos envolvidos nas “aventuras do herói”. Hamilton não economizou esforços acerca disso, haja vista que na parte inicial do relato aparecem rápidas sequências de períodos da vida para contextualização e dos momentos que prepararam seu grande lance.

Eu trabalhava na [empresa]4e eu trabalhei cinco anos como funcionário normal, na produção. Daí eu passei para o setor de engenharia industrial. Então eu fiquei aí trabalhando cinco anos na engenharia industrial. […] A í , a ideia surgiu assim. Tinha um colega meu que trabalhava comigo e ele sabia que tinha esse trabalho terceirizado, que era mandado para Novo Hamburgo (RS) pra fazer essa terceirização de bordado e alta frequência e eu sabia que era muito caro isso pra [empresa]. E tinha um grande problema de deslocamento, sabe? a má qualidade desses produtos também

(Hamilton, entrevista).

Narrar a si mesmo é um ato de performance que surge de experiências e ao mesmo tempo nos permite apreender nossas mesmas experiências (Ochs & Capps, 1996 ) 5 , isto é, o relato tem um efeito recursivo sobre o falante que estrutura a narrativa. A contextualização acima sugere que havia um dilema relativo à produção e que ele em posição de “nó” de uma rede de relações na empresa tinha condições de compreender o bom ou mau funcionamento do processo produtivo. Então, aparece a ideia de entrar como independente nesse mercado, mas jamais independência no sentido de azarão solitário, pois um colega e amigo veio a ser fundamental:

Podia ver, fazer um investimento, ver quanto custa. Ah, sei lá. Ver o que a gente podia fazer, né? E esse meu colega me deu força. Porque se é uma pessoa só, eu acredito que não ia sair. Ia ficar só naquela “vamos colocar” e ia ficar aí. E a gente foi se dando força, vendo quanto custava uma máquina

(Hamilton, entrevista).

E custava caro. Essa rememoração do entrevistado remete a nove anos antes de minha pesquisa, e essa distância temporal, pode-se dizer, dá espaço para uma reflexão recordativa, um tanto emotiva e mesmo seletiva, conforme estudos sobre memória mostram (Pollak, 1989 ; 1992 ). Mais importante que isso é que no trecho seguinte o destaque todo é dado ao processo sofrido e do risco assumido, bem como a falta total de recursos financeiros que não impediram a tentativa.

E a gente foi atrás, não tinha dinheiro nenhum. […] nem pra começar e registrar a firma. A gente fez um financiamento no Banrisul. Conseguimos fazer o financiamento e compramos aquela máquina. Até o dinheiro pra abrir a firma foi dinheiro emprestado. Não tinha nada. Começamos do zero. E a gente começou. Colocamos a máquina em casa e conseguimos serviço com a empresa. Eu disse [para membros da empresa] : ‘Oh, eu comprei uma máquina, eu tenho como fornecer tanta matéria-prima, tantos pares, eu posso produzir tanto’.

E aí eles [disseram] ‘vamos fazer um teste’. Me deram o serviço. Daí eu trabalhava aqui 24 horas. Só nós, nós éramos os empregados. Então assim. Minha esposa trabalhava o horário normal. Das oito às cinco ou seis horas da tarde. Daí eu chegava, porque eu trabalhava o horário normal na [empresa industrial, como contratado ainda] . Continuávamos a trabalhar lá, eu e meu sócio.

Então, eu chegava às cinco horas em casa do trabalho e eu já começava a trabalhar. Então, eu ia até, por exemplo, dez horas da noite trabalhando na máquina. Ah, daí, dez horas o meu sócio chegava pra “tocar” ele. Então ele ficava até ás duas horas da manhã.

Das duas às quatro, a máquina ficava parada e às quatro eu levantava e começava a trabalhar até 7h45. Daí eu ia trabalhar lá na indústria e minha mulher pegava [novamente]

(Hamilton, entrevista).

A conquista em torno do trabalho é central para a experiência de Hamilton. O trabalho como garantidor de resultados, que possui capacidade de legitimar a tentativa e validar a experiência, já que se tudo tivesse dado errado nada poderia maldizer o esforço empregado. Inspirado nos estudos de Foucault, quero sugerir essa forma de investimento de si mesmo no processo de trabalho e produção, que não se resume a uma doação física, um empenho a uma atividade meramente mecânica. Era também um investimento mental e psíquico, envolvia dificuldades de planejamento, financiamento e articulação com outros que empregariam a si também, cada qual diferentemente. Porém, ainda assim, o relato é mais enfático no destaque da força física mesmo, na difícil rotina de trabalho do período.

[Assim] , a gente viu que tinha mais serviço, tinha mais abertura no mercado e compramos outra máquina. Daí o pai do meu sócio tinha dinheiro sobrando, pegamos emprestado. Compramos outra máquina. Depois desses dois meses, eu [contratei] uma funcionária […] para trabalhar de noite.

Porque a gente tinha até medo de contratar pessoas. Porque a gente não tinha noção nenhuma de como era montar uma fábrica. Por pequena que seja, a gente não tinha noção de como era. […] ‘será que vou ter que pagar quanto?’ ‘Qual o custo dessa pessoa?’ Eu não tinha noção.

Daí a gente pegou e contratou, registrou. E viu que não é o ‘bicho’ também, né? Tem encargos, tem obrigação com ela. Mas não tem nada de extraordinário. Então essa pessoa trabalhava à noite e a gente trabalhava de dia. Daí começou a melhorar a coisa. Daí começamos a ganhar um pouquinho de dinheiro. A maioria do dinheiro era destinado para o pagamento da máquina.

Então, o pouco que sobrava a gente foi mexendo aqui no porão. A gente fez o piso e colocou a máquina aqui no porão. Então, estávamos com duas máquinas, uma pessoa trabalhando à noite e nós trabalhando [durante] o dia.

Uns seis meses depois nós compramos outra máquina. Começou a melhorar. Começou a abrir o mercado e a gente viu que tinha mercado pra nós, sabe? Não era só aquilo [de] ficar com uma máquina. […] Depois de cinco meses a gente pegou mais uma, a terceira máquina, e questão assim de um ano e meio eu já estava com seis máquinas de bordado

(Hamilton, entrevista).

O relato até aqui pode dar a entender que Hamilton logo se demitiu da empresa na qual trabalhava e que também adquiria seus produtos. Não foi o caso. Durante cinco anos, ele se manteve no cargo enquanto administrava a sua pequena empresa, e contou-me que esse foi o tempo levado para pagar as dívidas e os investimentos financeiros. Embora o relato seja propenso a manter a tensão e a organizar a narrativa em torno do esforço e do sofrimento, nem tudo era dor e suor, apesar dessa ser a fase mais enfática, tema que retornarei adiante.

Eu nem sei se ia conseguir sobreviver, porque eu trabalhei cinco anos praticamente, nessa firma aqui, só pagando máquina, sabe? Só investindo em maquinário. No caso eu tinha o meu serviço, né. Eu tinha a minha especialização, eu tinha um bom salário lá dentro, então eu não ia largar aquilo lá pra ter uma coisa aqui que eu não estava recebendo. O dinheiro era exclusivo para pagamento do funcionário, da folha e pagamento de maquinário, sabe? A gente fez um investimento alto. A gente estava com seis máquinas para pagar financiamento. Então, as duas últimas máquinas a gente conseguiu pagar à vista

(Hamilton, entrevista).

O trecho acima é essencial por destacar o início da frase com “eu nem sei se ia sobreviver”. Vale uma menção de que estudos contemporâneos em ciências sociais que se voltam ao problema do desenvolvimento não raro percebem a expressiva ou sutil correlação com a proeminência do indivíduo realizador, empreendedor, e parte destes estudos faz alguma proposição em torno da figuração neoliberal de nosso tempo (Jakimow & Harahap, 2016 ; Forbes-Mewett et al., 2020 ; Pandian, 2008 ) 6 . O caso em questão nessa análise não permite um passo tão certeiro nessa direção, pois estamos lidando com uma história complexa de narrativas de superação e busca do sucesso desde o processo de colonização no fim do século XIX, seja familiar, seja individual – mais propensa a uma dinâmica menos individualista e mais relacional. Mas o panorama importa, pois nenhum lugar, mesmo o mais recôndito, parece estar hoje afastado de valores que circulam globalmente, e tampouco se pode dizer que na região historicamente o indivíduo não tenha valor simbólico enquanto alguém que busca ser dono do seu destino. Além disso, veja-se o papel dos empresários já no período de formação das ciências sociais europeias como Bosi ( 1992 ) mostrou: desde o momento em que desenvolvimento passou a ser associado a formas de intervenção no social – tema estudado também por Escobar ( 1995 ) e Cowen e Shenton ( 1996 ), somente mencionar uns poucos – os empresários foram vistos como “missionários do novo credo”, ou seja, da economia e do desenvolvimento planejados, e uma função peculiar era articulada tanto por Saint-Simon como por Comte depois (organizar a sociedade, agora de ordem industrial, e o progresso). Reconhecimento de mérito era crucial para favorecer financeiramente esses “missionários”.

O trabalho de Jakimow e Harahap não interessa apenas pelo aspecto acima ressaltado, mas também, como antes o de Pandian ( 2008 ) já havia mostrado, porque do ponto de vista metodológico “contribui para a crescente interesse da dimensão pessoal no desenvolvimento que reconhece os indivíduos como agentes de mudança […]” (Jakimow & Harahap, 2016: 266) 7 . Assim, a intenção é “destacar a unicidade da história de cada pessoa, enquanto se revela como cenários de desenvolvimento oferecem certos recursos […]” para o self agir 8 .

Apesar das tentativas de linearizar a trajetória, aplainando as rotas fora da reta principal, as falas do entrevistado precisam lidar com os altos e baixos, curvas e saídas de pistas – seguindo na metáfora. Num determinado momento, precisamente quando as condições para alçar voo mostravam-se ótimas, e a empresa havia crescido o suficiente, o cenário se alterou:

[Disseram na indústria que lhe comprava os produtos]: ‘O negócio agora é outro. É alta frequência’. Começou a [tecnologia da] alta frequência e era uma loucura. O setor que eu trabalhava, que era bordado, passou para alta frequência. O que eu fiz: vamos quebrar ou continuar com o negócio? Fizemos mais dívidas, compramos mais três máquinas de alta frequência. [Perguntava-me] ‘O que é essa alta frequência? eu vou saber trabalhar com isso?’ Chegou a máquina aí, começou o primeiro modelo, eu me apavorei: ‘Meu Deus, o que a gente foi fazer’. E fomos nos especializando. Tu corres atrás, tu tem que correr atrás.

[…]

Só que depois de um tempo voltou o bordado. Só que era um bordado grande, bordado de duas ou três cores, entende? Não tinha mais como fazer isso aí [com o maquinário comprado] . O que a gente tinha que fazer? Investir de novo. Comprar uma máquina grande.

[Entrevistador]: Então é um investimento que vai sempre?

Exato. Então eu ataquei por todos os lados por onde eu poderia atacar. Só que esse último lado que eu ataquei foi o mais pesado. Porque o investimento com máquinas é de [menciona uma cifra de dez a quinze vezes o preço das primeiras máquinas]

(Hamilton, entrevista).

O leitor deve ter notado que em muitos trechos de entrevista Hamilton deixa perguntas que fazem o entrevistador pensar, mas sobretudo parece destacar suas avaliações práticas das situações que foram aparecendo na vida. Talvez aqui possamos entender tais indagações como afirma Corrêa ( 2021 ) em seu programa de pesquisa em torno dos problemas íntimos a partir do pragmatismo sociológico francês: “como pensar a própria vida humana como um processo contínuo de autoinvestigação?” (Corrêa, 2021: 417). Em diferentes momentos do processo em que sua empresa era foco total de investimento, Hamilton demonstra ter lidado com vicissitudes e desafios junto ao seu sócio, ambos tendo que trabalhar com as incertezas da vida. Para tal, Corrêa fornece algumas chaves de leitura, embora neste artigo meu foco não seja dar atenção especial ao pragmatismo. Ao trazer o debate da incerteza para a sociologia:

O elemento fundamental é deslocar a noção de incerteza não mais para a esfera coletiva, mas para o plano do self e dos próprios indivíduos. Não quero com isso defender uma esfera interior, separada do exterior, nos indivíduos, mas sim dar conta do fato de que há problemas que são reconhecidos pelos agentes como aquilo que se passa no seu interior – o self sendo uma arena interior habitada por tensões e crises

(Corrêa, 2021: 427).

Sabemos que escolhas e decisões envolvem geralmente mais que mera vontade de “vencer na vida”, questão fundamental que retornarei adiante. Envolvem igualmente um sentimento de lastro de relações que permitem ações. Quando indaguei sobre por que aquela pessoa em particular se tornou seu sócio, ele respondeu sobre laços construídos (amizade) e por estarem mais sintonizados com os valores sociais locais (étnicos, de origem rural), pois se sabe há algum tempo pelos resultados de estudos em sociologia econômica que confiança, reciprocidade e sentimentos de pertença apresentam expressivo poder em torno das escolhas e preferências.

A gente se conheceu ele era da colônia também. Mais colono do que eu, no caso. Porque ele é mais retirado ainda, lá de Fagundes Varela. Então ele morava aqui, trabalhava num hotel, não sei [bem] o que ele era, e começou a trabalhar na [indústria] . Ele tem faculdade, ele se formou. E ele trabalhava no mesmo lugar que eu. No mesmo departamento que eu [trabalhava] . E a gente se conheceu, ficou amigo e tal e até hoje, sabe? Geralmente, o pessoal fala que sócios não duram muito, né. Mas eu te digo que dura, mas tu tens que achar o sócio certo.

[…]

Foi a confian ça que […] eu vou te dizer assim: se eu não tivesse ele, eu não teria largado o serviço, e ele não largaria pra entrar nesse negócio aí. Então, a gente não tem, assim, um relacionamento dele estar todos os dias aqui. Ele chega aqui uma vez ou duas vezes por semana ou quando o negócio aperta ele coloca a mão na massa. Não foi só no início. Agora apertou, eu não vou ficar contratando um pessoal aí pra quatro ou cinco dias. E tem picos de altos e baixos [de volume de trabalho] . Nos picos de altos não dá pra contratar uma pessoa pra trabalhar, sei lá, três dias. Então a gente coloca a mão na massa. Eu tenho o meu salário aqui, no caso eu estou sendo pago pra administrar isso aqui também. E ele trabalha na indústria. Continua lá

(Hamilton, entrevista).

Retomemos brevemente o fato de a origem social “ser da colônia”. Durante a pesquisa que originou este artigo, deparei-me seguidamente com a situação de que, ao parecer, preponderantemente os atos recíprocos entre famílias se dirigiam a assuntos econômicos (Radomsky, 2006 ). Não raro se configuravam tal como um fato social total (Mauss, 2003 ), conectando parentesco; trabalho; investimento e poupança; opções políticas e costumes com longa duração, e se destacavam os negócios feitos em família ou por meio de amizade. A vontade de ser “dono de si”, do seu destino, era premente e guiava as ações, ainda que se considere que laços de interdependência eram gerados simultaneamente à procura por autonomia. Deseja-se ser empregador ou empresário por conta própria, porém em muitos casos é indispensável criar outras relações para tal. O panorama desenhado entre os colonos de origem italiana era tal que podemos supor que em certas ocasiões havia dificuldade de verbalizar que uma comunidade de pertencimento e sentimento definia em geral as condições para investimento em associação.

Embora com muita preponderância ao caso paulista, Florestan Fernandes demarcou a expressão dada pelo imigrante na economia nacional pós-independência no Brasil em termos de orientação da ação. Para Fernandes ( 1987: 120), o imigrante representou um decisivo passo na constituição do trabalho livre e assalariado no país e no raio de sua motivação básica “conduzia à predominância do homo oeconomicus sobre as demais estruturas da personalidade e da vida em sociedade”, tal problema que parece ser demasiadamente aderente ao caso aqui analisado. A propensão decisiva dos investimentos no trabalho e na economia alimentavam gerações no sonho do enriquecimento, sistema que se produziu no reconhecimento do sucesso. Não é de se admirar que amplos processos sociais envolvendo o desenvolvimento do capitalismo no Brasil deu largas condições a esse espírito, o que deveu muito a condições materiais e de oportunidade iniciais dos colonos (diferente das populações negras, por exemplo), mesmo que tenhamos que compreender a trajetória no curso das gerações que se seguiram, na formação de uma memória coletiva já no novo país, aspectos que organizaram paulatinamente o ethos para trabalho, reinvestimento e poupança.

VONTADE E SOFRIMENTO: O DESENVOLVIMENTO NO RADAR DA AÇÃO INDIVIDUAL

Percebe-se nas páginas precedentes que sem dinheiro nem tempo de aprendizagem anterior nada disso teria ocorrido para Hamilton. Porém, também não teria ocorrido sem que sentimentos de vitória pudessem ser jogados para muito adiante, o que se coaduna com o fato de que há aspectos compartilhados socialmente que gratificam investimentos e sofrimento.

Após a narração, antes apresentada sobre o início da empresa e o trabalho que lhes tomava quase 24 horas do dia, senti que o ato de contar liberava uma sensação de falar da superação.

[Entrevistador]: Quanto tempo vocês aguentaram nesse ritmo?

Foi uns dois meses assim. […] hoje eu tenho tudo da minha casa; [a casa] está lá em cima e a firma aqui. Mas eu estava em cima. Não tinha o porão aqui, era tudo terra. Estava tudo sem nada e aí eu coloquei [a máquina] na sala da minha casa. E a máquina faz um barulhão ensurdecedor e tem 1 metro por 50 cm, mais ou menos. É tipo máquina de costura e ela faz um bordado […] um barulho assim que tá louco, né! Então, o tempo que eu tinha para dormir eu escutava a máquina. Para ir dormir eu usava protetor auricular pra tentar descansar.

E nesses dois meses foi... eu vou dizer francamente, muita gente não aguentaria isso aí, sabe? não, não aguentaria. Teria desistido. Mas a gente se obrigou por ter feito uma dívida. Porque não tinha como parar. E a coisa foi melhorando, sabe?

(Hamilton, entrevista).

A necessidade de reinvestimento obstaculizava as possibilidades de lazer e fruição, mas não parecem ter tido impacto suficiente para esmorecer a iniciativa, haja vista que a duração não era entendida como algo para sempre.

A gente não tirava nada de dinheiro. Em cinco anos alguma coisa no final do ano, pró-labore, pra dizer: ‘esse dinheiro foi suado, vamos pra praia, vamos aproveitar em alguma coisa’. Cinco anos só juntando. A gente tirava só no final do ano pra gente gastar para as férias mesmo. Porque o investimento todo era totalmente, visando a fábrica aqui

(Hamilton, entrevista).

Entre não retirar dinheiro para nada e poder usar parte para férias um lapso se intromete, sem comprometer a narrativa que provavelmente se esboçava de uma certa maneira na cena da entrevista. Não se trata de jogar com os conteúdos de verdade, pois um fato pode ser narrado de muitas maneiras e explicado a posteriori , e Benjamin ( 1985 ) mesmo havia bem compreendido que em termos de memória vemos uma bela contradição: enquanto o acontecido, o vivido, é finito, o “[…] acontecimento lembrado é sem limites, porque é apenas uma chave para tudo o que veio antes e depois” (Benjamin, 1985: 37). Então, a narrativa pode se transfigurar a cada vez que se conta, pode envolver lembranças que só tem força no momento presente, e adquire um sentido de acabamento, não no significado finalizado, mas de uma recomposição do real.

Este sentido do termo nos leva a pensar nas estórias como sendo sempre um tipo de ficção — não implicando uma falsidade, mas sim marcando a criatividade implícita no contar, e a sempre presente tensão entre o “real” e o “imaginário”, ambas indissoluvelmente ligadas ao processo narrativo

(Cardoso, 2007: 340).

É importante observar, portanto, que sublinhar as dimensões ficcionais do falar sobre si não evocam falsidade, mas apresentar sua vida ou contar momentos vividos intensamente implicam um ato narrativo que se produz naquele instante, tal como Butler ( 2015 ) analisou. Ao falar de si, o sujeito constitui uma experiência (Ochs & Capps, 1996 ) e o modo de descrever eventos pode variar em entonações, destaques, expressões, palavras, omissões, repetições. No entanto, está em jogo, evidentemente, um profundo senso de verdade para o narrador, aquilo que Foucault ( 2011 ) examinou em seu último curso: o tipo de ato pelo qual o sujeito, dizendo a verdade, se expõe, representa a si próprio e se arrisca a demonstrar uma verdade sobre si mesmo, ainda que sempre possamos considerar o que escreveu Bloch ( 2002 ): “Nada mais difícil para um homem do que se exprimir a si mesmo” 9 .

Cabe registrar que durante a pesquisa, aos poucos, foi ficando mais transparente que o sistema social comporta uma boa dose de concorrência entre as empresas em que pese as falas sugeriram certa negação disso, salientando que são poucos os casos e que o mais importante é a cooperação. Na verdade, tendo por base as entrevistas realizadas à época, e nas falas de Hamilton isso também apareceu, a competição é entendida de uma maneira nem sempre verbalizada como saudável para o corpo social. Hamilton comentou, embora sem desejar dar detalhes, que há outras iniciativas com as mesmas máquinas, treinamento e fatias de mercado que a dele. Eventualmente, explicou, ele transfere trabalho para essas empresas, se não for possível entregar o produto; o mesmo acontece com os demais. O que entendo é que essas formas de interligar cooperação com competição atenuam a sensação de concorrência pura. Além disso, oferece uma solução coletiva de que ao final é assim que o processo de crescimento econômico local ocorre. No entanto, casos individuais são propensos a julgamentos. Portanto, embora se saiba que esses processos são normais, quando um ex-funcionário dá um passo concreto e abre sua empresa se tornando concorrente do antigo empregador, podem haver animosidades, ainda que em parte o problema seja também resolvido por uma espécie de imitação aproximada (tornando-se um quase concorrente que faz um produto ou oferece um tipo de serviço ligeiramente diferente).

Quando perguntado sobre funcionários que eventualmente gostariam de ter uma trajetória como a dele, a resposta foi:

[silêncio] eu acredito que todo mundo queira vencer na vida, certo? Quem não quer vencer é aquele que vai parar de estudar, vai parar... não quer nada com nada do serviço. […] Eu acredito, eu tenho uns funcionários muito bons aí. Eu acredito que vão conseguir. Não sei se vão conseguir, mas vão tocar, mas vão conseguir colocar uma coisa melhor ou trabalhar em alguma coisa melhor.

(Hamilton, entrevista).

Ele não aponta exatamente quem, nem chega a sugerir que nunca ocorrerá; mas deixa um tanto vago o tema admitindo a certeza de que em algum momento alguém entrará em uma rota semelhante a dele mesmo. Retornarei a esse ponto logo a seguir. Antes, emerge a indagação: podemos dizer então que havia em Hamilton qualquer vocação 10 para esse trabalho específico de bordados e alguma tradição familiar no ramo? Não é o caso, o desejo de ter seu negócio com sucesso econômico superava tudo – não sem sofrimento, mais uma vez narrado:

Eu sempre pensava comigo mesmo ou falava pra minha esposa ‘um dia eu vou ter um próprio negócio’. Não sei o quê, mas eu pretendo um dia não trabalhar a vida inteira de empregado. […] Eu vou batalhar um dia pra ter meu negócio. Eu só não sabia o que seria esse negócio. Sinceramente, naquela época eu dizia: ‘eu vou botar’. ‘Mas o que eu vou colocar eu não sei, cara’. E, que nem eu te falei: esse negócio aí apareceu do nada. Foi uma ideia assim que parecia besta. […] eu estava trabalhando e ‘bom, eu podia montar um negócio. Podia comprar uma máquina e tal’. ‘Pô, podia ser, né?’ E foi amadurecendo e […] estamos aí.

[Entrevistador]: O excesso de trabalho nesses dois meses não te assustou?

Ah, eu vou te dizer assim que eu não tenho vergonha de dizer que eu chorava nessa máquina que eu trabalhava. Cheguei a chorar um dia lá, porque é assim: eu não sabia trabalhar com a máquina. A máquina só quebrava […]. E eu trabalhei um mês […]. Uma vez eu mandei fazer uns 30 programas de bordados pra ver se melhorava e não saía legal. Saía feio. E eu não sabia o que era. Então, se tu não sabe mexer, tu não tem aquele conhecimento. E foi desesperador. […] Depois a gente conseguiu acertar o bordado. Daí desse mês em diante começou a melhorar a coisa

(Hamilton, entrevista).

Durante a entrevista indiquei para Hamilton que poderia ser comum se deparar com funcionários de sua empresa desejando também ter suas próprias iniciativas empresariais. Na pergunta que lhe fiz, depois de um momento de silêncio, manifestou o sentimento de generalidade, isto é, deve ser comum que todos queiram vencer na vida, independentemente de trabalharem sob sua contração ou não. Tal problemática supõe a relação intrínseca entre esforço e sucesso, não necessariamente que isso seja automático, mas batalhar na vida costuma gerar bons resultados econômicos, tema frequente nas suas falas durante nossa conversa. De algum modo, parece ser uma forma de lidar com a competição, pois se atribui ao mundo social que seja assim mesmo: que tais ações possam ocorrer – sair da situação de empregado para abrir sua empresa e eventualmente ter que estar no mesmo mercado que o antigo patrão. Mas a narrativa de Hamilton facilmente volta para si mesmo na maneira de falar dos outros.

A pessoa que quer vencer e quer ter alguma coisa, ela tem que batalhar. Nada vai cair do céu assim oh: ‘cheguei, tô aqui. Podem me usar’, sabe? Tu tens que batalhar. Não tem outra alternativa, sabe? Poderá um dia acontecer pra alguém de cair alguma coisa do céu e dizer: ‘oh, está aqui tantos milhões aí, usa’. Mas, ah, a grande maioria tem que batalhar. Se tu queres ter uma coisa, se tu queres vencer, tem que batalhar. Tem que botar a cara e muitas vezes, assim, você tem que ter boa vontade, batalhar, tem que conhecer um pouco também. E planejar e ter um pouco de sorte. […] Eu consegui me sustentar, consegui vencer, consegui todo esse patrimônio, estou trabalhando, né; e um dia, se eu tiver que quebrar, se eu tiver que fechar isso aqui, não vai ser por incompetência minha. Isso eu tenho certeza. Eu acho assim, a pessoa tem que ter vontade, tem que... batalhar. Se a gente não tivesse corrido atrás, ter feito investimento, metido a cara assim, hoje eu estaria trabalhando na [indústria na qual começou]

(Hamilton, entrevista).

Assim, o pensamento sobre a “naturalidade” do trabalho de investimento de si, associado a um sofrimento que geralmente acompanha o esforço, pode se tornar uma forma de entender como processos de desenvolvimento sejam compreendidos como verdadeiros e salutares para a economia territorial. Tal se concebe a maneira como noções de desenvolvimento imanente ocorrem pelas ações dos indivíduos, mas nesse sentido desenvolvimento é comumente entendido como algo “que acontece” (Lewis, 2019 ), como se fosse parte da história/natureza humana, porém sempre na ambivalência de os indivíduos poderem fazer e não fazer, realizar com iniciativa ou não se esforçar nem sofrer para conquistar, como tantas vezes nosso entrevistado reiterou.

A pertinência da noção de desenvolvimento imanente no caso em questão ocorre em função de que não se está à espera de programas externos de investimento, seja do Estado, seja de uma ou mais companhias, mas se aposta nas habilidades culturalmente compartilhadas para gerar efeitos positivos. Como Lewis ( 2019 ) mostrou, e que apresentei nas páginas precedentes, não há necessária oposição entre formas de desenvolvimento mais ou menos autônomo, pois na região em questão também se instalaram muitas indústrias vindas de fora, uma delas precisamente responsável por fornecer o emprego que catapultou os negócios de Hamilton. Contudo, a busca por “vencer na vida” é um eixo expressivo que matiza as concepções sobre o que seja desenvolvimento e que papel os indivíduos têm nesse processo – muito ativo, mesmo que funcionando mais como sentimento social compartilhado e idealizado.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Buscar o progresso e a realização do eu como forma de desenvolvimento nesse mundo? A entrevista nos fornece belas pistas para refletir sobre isso, contudo cautela é sempre necessária para não extrapolar os próprios limites. Mas, para retomar um dos pontos iniciais do trabalho, vale um comentário que, na verdade, aponta mais para direções futuras de pesquisa do que qualquer encaminhamento conclusivo.

Em seu último e inacabado livro, Marc Bloch anotou com perspicácia que o cristianismo se apresenta como uma religião histórica. Enquanto outras crenças fundaram a experiência fora do tempo, no cristianismo as liturgias, as histórias, as comemorações e até as orações têm caráter histórico (Bloch, 2002 ). E assim nas vidas concretas das pessoas se podem sentir a fulguração de uma luz cósmica cujos ecos parecem dar um sentido para além do mundo íntimo de cada um: “[…] colocado entre a Queda e o Juízo, o destino da humanidade afigura-se, a seus olhos, uma longa aventura, da qual cada vida individual, cada”peregrinação” particular, apresenta, por sua vez, o reflexo […]” (Bloch, 2002: 42) 11 .

Na análise empreendida aqui, o entrevistado destacou muitas vezes na montagem do retrato do período crucial de sua vida como o momento que definitivamente alicerçou o que ele veio a se tornar enquanto pessoa e é tributário de uma relação englobante de uma cultura que se viu historicamente realizando feitos com indivíduos conectando suas vidas ao quadro social mais amplo sendo esse o referencial das ações. Isso não reduz o papel dos agentes; ao contrário, dinamiza a relevância das ações individuais para o todo.

Estudos sobre indivíduo e processos de desenvolvimento ainda não são muito comuns e essa análise no sul do Brasil evoca uma tentativa de conceder importância aos elementos muito próprios da vida de Hamilton, suas vontades e esforços, sem perder de vista o quadro cultural em que ele faz sentido do ponto de vista sociológico. O investimento de si no trabalho e o sofrimento tanto individual como compartilhado com as pessoas do grupo de proximidade, pessoas que conjugaram esforços para as finalidades almejadas, situam uma peculiar maneira de organizar as ações tendo como horizonte o sucesso econômico e igualmente quais tipos de ação são factíveis para tal. Ter um bom e estável emprego não era suficiente, o que nos direciona mais uma vez a refletir sobre o empresário e os processos de desenvolvimento, mas aqui, quero destacar, não do ponto de vista meramente apologético que destaca apenas o risco e a inovação.

O desenvolvimento, assim, é prontamente compreendido como imanente, algo que acontece num desenrolar histórico naturalizando o progresso; efetivamente esse progresso vem a depender dos esforços individuais, segundo a matriz cultural regional, e a destituição dessas forças sociais tornaria a sociedade estagnada, não acompanhando nem aproveitando a dinâmica do crescimento econômico no capitalismo. Assim, o desenvolvimento acaba por ser idealizado enquanto um acontecer da dinâmica social que é tributário daquele que faz por si mesmo, investe e arrisca.

Por fim, é surpreendente ver que o entrevistado remete o tema da vocação a algo que poderíamos pelo menos supor ser contraditório, pois sua tendência era recorrentemente afirmar que desejava ter seu negócio, qualquer que seja, e então empreender o esforço de abrir sua empresa. Mas não sabia qual tipo de negócio no início e menos ainda em qual ramo de atividade. Uma vocação em aberto, se se pode dizer dessa maneira. Mas é claro que isso precisa ser compreendido a partir do ato da narração, com as interpelações do entrevistador, já que uma evocação era realizada por ele naquele momento, visitando suas memórias e articulando uma fala que organizasse a experiência, fizesse sentido para suas ações e para seus feitos na vida.

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  • Weber, Max. (2001). A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Centauro.
  • 1
    O autor agradece as sugestões e comentários dos pareceristas anônimos da Sociologia & Antropologia .
  • 2
    Ver também Assis ( 2021 ) e Corrêa ( 2021 ) para uma comparação entre diferentes perspectivas contemporâneas em Sociologia.
  • 3
    Refere-se a minha pesquisa para realização da dissertação de mestrado na UFRGS.
  • 4
    Por razões éticas o nome da indústria não será divulgado. Apenas cabe afirmar que se trata de uma grande empresa dedicada à produção de artigos de couro.
  • 5
    Das relações entre narração, retrato e experiência há um vasto campo de estudos. Destaco aqui somente um estudo anterior (Radomsky, 2021 ) em que apresento possibilidades analíticas na conexão entre várias abordagens.
  • 6
    Trata-se de uma história com longa trajetória. Se considerarmos a análise da polêmica exposta por Wolf Lepenies ( 1996 ) no surgimento da sociologia europeia no século XIX – o desafio entre literatos, escritores e sociólogos a respeito de qual seria o campo a propor o entendimento da sociedade moderno-industrial – não resta dúvida que Robinson Crusoé de Defoe antecipou problemas que dois séculos mais tarde estariam apresentados por Max Weber sobre o espírito capitalista e a religião protestante (Watt, 1990 ).
  • 7
    É impossível não mencionar o estudo de Boltanski e Chiapello ( 2009 ) nesse contexto. Mas a referência importa também no caso em análise por fundar suas análises em problemas apresentados muito antes por Max Weber.
  • 8
    Particularmente com o foco em indivíduos nos processos de desenvolvimento a literatura é exígua. Além da literatura mencionada no parágrafo, Fechter ( 2012 ) organizou um número especial da Third World Quarterly que se aproxima parcialmente do tema, versando sobre os dilemas pessoais dos profissionais da ajuda internacional e dos projetos de desenvolvimento, geralmente focando no vivido por indivíduos em terras estrangeiras. Uma discussão focada em pessoas-modelo para o desenvolvimento aparece no estudo de Watanabe ( 2017 ) sobre uma organização japonesa de promoção do desenvolvimento no sudeste asiático.
  • 9
    Do ponto de vista sociológico, sem a pretensão de esgotar caberia mencionar as distintas abordagens sobre o tema, tais como o conhecido texto de Bourdieu ( 2006 ), as análises de Bertaux também no contexto francês (ver Costa & Santos, 2020 ) e a proposição mais objetivistas em Santos et al. ( 2014 ).
  • 10
    O tema da vocação como de costume nos levaria a Weber ( 2001 ) e as problemáticas em torno da recepção de Lutero de uma noção antiga em Paulo – klētós, klēsis, transliterados (ver, por exemplo, Agamben, 2016 e Frey, 2008 ).
  • 11
    Estou ciente de que os problemas aqui analisados não versaram sobre religião e desenvolvimento – embora se deva dizer que o contexto original da pesquisa forneceu elementos incontestáveis da relevância do cristianismo católico na região estudada.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Dez 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    03 Ago 2022
  • Aceito
    10 Jul 2023
  • Revisado
    15 Jun 2023
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