Os caminhos da ciência para enfrentar fake news sobre covid-19

Raquel, Cheila Pires; Ribeiro, Kelen Gomes; Alencar, Nadyelle Elias Santos; Souza, Daiana Flávia Oliveira de; Barreto, Ivana Cristina de Holanda Cunha; Andrade, Luiz Odorico Monteiro de

doi:10.1590/S0104-12902022210601pt

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Sumário

Artigos originais • Saude soc. 31 (4) • 2022 • https://doi.org/10.1590/S0104-12902022210601pt copiar

Os caminhos da ciência para enfrentar fake news sobre covid-19

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Resumo

Paralelamente à pandemia de covid-19, a Organização Mundial da Saúde alerta para uma infodemia de fake news relacionadas à doença. Objetiva-se, neste trabalho, conhecer a dimensão do fenômeno e alguns caminhos já identificados pela ciência para enfrentá-lo. Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, realizada nas bases Scopus/Elsevier e Medline/PubMed, que incluiu 23 artigos. Por meio de análise da literatura, identificou-se que fake news oferecem falso suporte social e mobilizam sentimentos capazes de torná-las mais aceitáveis do que notícias verdadeiras. Dessa forma, as redes sociais e a internet despontam como plataformas disseminadoras de informações falsas. As pesquisas sugerem que instituições governamentais e midiáticas podem utilizar os canais de comunicação como aliados, com tecnologias de monitoramento e infovigilância para alertar, esclarecer e remover conteúdo enganoso. Também deve haver investimentos em ações de alfabetização científica e digital, de forma que as pessoas tenham condições de avaliar a qualidade das informações recebidas. Propõe-se a adoção de estratégias criativas, que despertem a capacidade de raciocínio, aliadas a informações científicas traduzidas em linguagem acessível, de preferência com aprovação de autoridades sanitárias e institucionais.

Palavras-chave:
Notícias Falsas; Pandemia; Covid-19; Mídias Sociais.

Periódico/ano	Título	Autoria	Tipo de estudo	Objetivos	Conclusão
Social Network Analysis and Mining/2021	Creative social media use for covid-19 prevention in Bangladesh: a structural equation modeling approach	ISLAM, M. et al.	Abordagem de modelagem de equação estrutural.	Compreender a influência do uso criativo das mídias sociais.	Os autores concluíram ser importante uma integração da produção criativa nas redes sociais com o sistema de ensino. Segundo esse estudo, as agências de saúde devem rastrear a desinformação associada à covid-19 em tempo real e envolver as comunidades locais e as partes interessadas do governo para desmascarar a desinformação.
Digital Journalism/2018	Defining “fake news”: a typology of scholarly definitions	TANDOC JR, E. C.; LIM, Z. W.; LING, R.	Revisão bibliográfica de 34 artigos acadêmicos.	Compreender o conceito de notícias falsas.	Notícias falsas se escondem em um verniz de legitimidade que cresce à medida que se parecem mais com as informações reais.
Humanities & Social Sciences Communications/2021	Toward effective government communication strategies in the era of covid-19	HYLAND-WOOD, B. et al.	Revisão bibliográfica.	Analisar a eficiência da comunicação governamental em tempos de crise.	A confiança transmitida nos canais de comunicação leva à cooperação e engajamento da sociedade nos direcionamentos.
Social Network Analysis Mining/2021	Use of bot and content flags to limit the spread of misinformation among social networks: a behavior and attitude survey	LANIUS, C.; WEBER, R.; MACKENZIE JR., W. I.	Experimento quantitativo (N =299) conduzido com participantes nos EUA.	Analisar o uso de sinalizadores de bots e informações incorretas no Twitter.	Os resultados sugerem que de fato a sinalização de tweets com alertas para fake news reduziu as atitudes dos participantes sobre eles.
Social Science & Medicine/2021	Covid-19 information on social media and preventive behaviors: managing the pandemic through personal responsibility.	LIU, P. L.	Análise estatística descritiva.	Analisar comportamentos preventivos em relação à pandemia do novo coronavírus.	A responsabilidade pessoal leva a comportamentos mais preventivos no que diz respeito ao consumo de informações sobre covid-19 nas redes sociais.
Trends in Cognitive Sciences/2021	The psychology of fake news	PENNYCOOK, G.; RAND, D. G.	Análise de literatura científica e de notícias.	Avaliar modelos psicossociais referentes a fake news.	Sugestão de uma abordagem mais proativa, ensinando as pessoas a identificar notícias falsas de forma envolvente.
Online Social Networks and Media / 2021	An exploratory study of covid-19 misinformation on Twitter.	SHAHI, G. K.; DIRKSON, A.; MAJCHRZAK, T. A.	Análise exploratória de 1.500 tweets relacionados a 1.274 declarações falsas e 226 parcialmente falsas.	Investigar a propagação da desinformação via Twitter.	Os tweets falsos usam linguagem mais informal e as pessoas que os compartilharam no geral pareceram estar preocupadas com o bem-estar de familiares.
Cadernos de Saúde Pública/2020	Covid-19, as fake news e o sono da razão comunicativa gerando monstros: a narrativa dos riscos e os riscos das narrativas.	VASCONCELLOS-SILVA, P. R.; CASTIEL, L. D.	Ensaio utilizando a plataforma Google.	Compreender melhor sobre o fenômeno de fake news na pandemia.	Transmitidos como notícias, os conteúdos falsos validam ideias políticas, comerciais ou até criminosas que confundem e geram ceticismo em relação às narrativas factuais e institucionais, resultando em perda de referências e orientações.
Information Processing & Management/2021	Characterizing the dissemination of misinformation on social media in health emergencies: an empirical study based on covid-19.	ZHOU, C. et al.	Revisão bibliográfica.	Refletir sobre a desinformação durante a busca de ajuda na área da saúde.	Há duas dimensões para a busca de informações em saúde: aconselhamento e cautela e a procura de ajuda. Para os autores, a disseminação de notícias falsas assume um papel de falso suporte social que pode ser informativo ou emocional.

Periódico/ano	Título	Autoria	Tipo de estudo	Objetivos	Conclusão
Journal of Medical Internet Research/2020	Top concerns of tweeters during the covid-19 pandemic: infoveillance study.	ABD-ALRAZAQ, A. et al.	Metanálise com estudo de vigilância.	Identificar a participação da plataforma Twitter durante a pandemia da covid-19.	É preciso priorizar sistemas nacionais e internacionais de detecção e vigilância de doenças, monitorando as mídias sociais.
Clinical Gastroenterology and Hepatology/2020	Increased internet search interest for GI symptoms may predict covid-19 cases in U.S. hotspots.	AHMAD, I.; FLANAGAN, R.; STALLER, K.	Metanálise utilizando o Google Trends.	Refletir sobre como aliar internet e saúde pública.	Inferiu que o aumento do número de consultas ao Google sobre sintomas gastrointestinais pode prever casos de covid-19. A mesma plataforma que é porta de entrada para fake news pode ser uma aliada da saúde pública.
Journal of Medical Internet Research/2020	Covid-19 and the 5G conspiracy theory: social network analysis of Twitter data.	AHMED, W. et al.	Metanálise de 10.140 tweets.	Analisar as estratégias dos impulsionadores da teoria da conspiração acerca da covid-19.	A chave para o enfrentamento a fake news são intervenções rápidas e direcionadas para deslegitimar as fontes.
The American Journal of Tropical Medicine and Hygiene/2020	The Peru approach against the covid-19 infodemic: insights and strategies.	ALVAREZ-RISCO, A. et al.	Ensaio.	Analisar as percepções e as estratégias da pandemia no Peru.	É necessário investir em ações de alfabetização em saúde para a população e, ao mesmo tempo, no uso da Inteligência Artificial para desenvolver ferramentas de detecção de conteúdo nocivo.
Telematics and Informatics/2021	Fake news and covid-19: modelling the predictors of fake news sharing among social media users.	APUKE, O. D.; OMAR, B.	Questionário quanti/quali on-line com 770 pessoas.	Obter uma visão alternativa sobre o compartilhamento de fake news.	Há mais compartilhamento de informações quando se trata de parentes e amigos e o nível educacional está diretamente associado ao compartilhamento de notícias falsas.
Research, Society e Development/2020	Scientific dissemination in the fight against fake news in the covid-19 times.	DANTAS, L. F. S.; DECCACHE-MAIA, E.	Revisão bibliográfica.	Entender como a alfabetização científica pode permitir uma melhor identificação das notícias falsas.	A comunidade científica deve apresentar a ciência de maneira mais acessível e acolhedora.
Ciência & Saúde Coletiva/2020	Fact or fake? An analysis of disinformation regarding the covid-19 pandemic in Brazil.	GALHARDI, C. P. et al.	Análise quantitativa de conteúdo.	Analisar fake news relacionadas à covid-19.	O WhatsApp é o principal canal de compartilhamento de notícias falsas, seguido do Facebook e do Instagram. Assim, o ideal é estimular o debate público a fim de aumentar a consciência social.
International journal of environmental research and public health/2021	Journalistic Fact-Checking of Information in Pandemic: Stakeholders, Hoaxes, and Strategies to Fight Disinformation during the COVID-19 Crisis in Spain.	LÓPEZ-GARCÍA, X.; COSTA-SÁNCHEZ, C.; VIZOSO, Á.	Estudo comparativo de Comunicação Quali-Quanti.	Verificar meios e métodos de análise de informações durante a pandemia.	WhatsApp, Twitter e Instagram, nesta ordem, são as principais plataformas de disseminação das fake news.
Psychological Science/2019	False memories for fake news during Ireland’s abortion referendum.	MURPHY, G. et al.	Estudo qualitativo e quantitativo com 3.140 participantes.	Analisar memórias sobre notícias relacionadas ao referendo sobre o aborto naquele país	Os autores concluíram que pessoas com baixa capacidade cognitiva são mais propensas a se fechar em seus próprios conhecimentos e não buscar outras fontes.
JMIR Public Health and Surveillance/2020	Covid-19-related web Search behaviours and infodemic attitudes in Italy: infodemiological study	ROVETTA, A.; BHAGAVATHULA, A. S.	Estudo descritivo usando o Google Trends.	Analisar títulos de artigo e sites mais lidos para investigar os apelidos infodêmicos que circularam na Itália.	Os principais termos encontrados no Google Trends foram: “China coronavirus”, “sintomas” e “vacinas para coronavírus”. Também foram encontradas consultas com “conspiração de coronavírus” e “laboratório de coronavírus”, identificados como os mais perigosos e que demonstram uma tendência ao racismo e xenofobia.
Journal of Medical Internet Research/2020	Global infodemiology of covid-19: analysis of Google web searches and Instagram hashtags.	ROVETTA, A.; BHAGAVATHULA, A. S.	Estudo descritivo usando o Google Trends.	Explorar atividades de pesquisa na internet e comportamentos relacionados à pandemia de covid-19.	O estudo demonstrou o potencial desse recurso para monitorar a transmissão de desinformação na internet.
Acta Psychiatrica Scandinavica/2021	Managing the infodemic about covid-19: strategies for clinicians and researchers.	SCOTT, J.	Revisão bibliográfica.	Pensar em estratégias que médicos e pesquisadores podem utilizar no gerenciamento da infodemia.	É preciso reconstruir um modelo mental que envolva desmentir a informação, mas também capacitar os indivíduos para avaliá-la.
Science/2018	The spread of true and false news online.	VOSOUGHI, S.; ROY, D.; ARAL, S.	Estudo quantitativo que analisou mais de 3 milhões de tweets.	Entender sobre o alcance e o compartilhamento das fake news.	Cada postagem verdadeira atinge, em média, mil pessoas, enquanto as postagens falsas atingem de mil a 100 mil pessoas.
Social Science & Medicine/2019	Systematic literature review on the spread of health-related misinformation on social media.	WANG, Y. et al.	Revisão Sistemática de 57 artigos.	Compreender a disseminação de informação.	A desinformação sobre doenças crônicas e até mesmo nutrição são frequentes na internet.

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[1] Correspondência Cheila Pires Raquel Departamento de Saúde Comunitária. Rua Papi Júnior, 1223, 5º andar, 60430230, Rodolfo Teófilo, Fortaleza, CE, Brasil