Urgências de baixo risco: análise da integração entre atenção primária e Unidade de Pronto Atendimento

Constantino, Luana Rodovalho; O’Dwyer, Gisele; Santos, Vera Lucia Barbosa dos; Seta, Marismary Horsth de

doi:10.1590/0103-1104202113103I

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Sumário

ARTIGO ORIGINAL • Saúde debate 45 (131) • Oct-Dec 2021 • https://doi.org/10.1590/0103-1104202113103I copiar

Urgências de baixo risco: análise da integração entre atenção primária e Unidade de Pronto Atendimento

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RESUMO

O estudo objetivou analisar a atenção prestada às urgências de baixo risco em área metropolitana de alta vulnerabilidade socioambiental na cidade do Rio de Janeiro, no âmbito da Estratégia Saúde da Família e da Unidade de Pronto Atendimento local. A metodologia utilizou triangulação de dados obtidos em prontuários, observação direta, entrevistas e grupos focais com gestores, trabalhadores e usuários (108 participantes). Analisaram-se os atendimentos segundo diagnóstico, tipo e horário de ocorrência e dados sociodemográficos; os dados qualitativos, mediante análise temática, geraram as categorias: que urgência para que serviço; questões territoriais; acesso; aspectos positivos e negativos dos serviços. Como resultado, a Estratégia Saúde da Família assume a função de atender às urgências segundo dados de produção. Experiências anteriores influenciam o padrão de acesso de usuários. A fragilidade socioambiental incrementa a demanda, tensiona o atendimento programático da Estratégia e pode gerar riscos pelo atendimento rápido na Unidade de Pronto Atendimento, que tem funcionado como lugar de internação, pela escassez de leitos em hospitais. Os dois tipos de serviços funcionam parcialmente integrados. Conclui-se que o nível de satisfação com a Estratégia Saúde da Família destacado pela população e a centralidade da Estratégia para as redes assistenciais são potencializados pelo acolhimento às urgências.

PALAVRAS-CHAVE
Atenção Primária à Saúde; Emergência; Serviços de saúde; Necessidades e demandas de serviços de saúde

Técnica utilizada	Duração de cada técnica	Tipo de participantes	Total
Entrevista	60 minutos	Médicos plantonistas da UPA	5
		Enfermeiros plantonistas da UPA	5
		Gestores e Responsável Técnico (médicos e enfermeiros) da UPA e ESF	9
Grupo focal	90 minutos	Médicos e Enfermeiros ESF	32
		ACS ESF	37
		Usuários	20
Total de participantes do estudo			108

Grupo de doenças	ESF			UPA
Grupo de doenças	CID	n. registros	Total	CID	n. registros	Total
I. Algumas doenças infecciosas e parasitárias	A09- Diarreia e gastroenterite de origem infecciosa presumível A59- Tricomoníase urogenital B37- Estomatite por Cândida B86- Escabiose B359- Dermatofitose não especificada A15- Tuberculose pulmonar B309- Conjuntivite viral não especificada	1.452 746 706 704 574 507 507	5.196	*	*	*
IV. Doenças endócrinas nutricionais e metabólicas	E119- Diabetes mellitus não insulino-dependente - sem complicações E109- Diabetes mellitus insulino-dependente - sem complicações E66- Obesidade devida a excesso de calorias E39- Transtorno endócrinos não especificados	2.189 806 623 308	3.926	*	*	*
IX. Doenças do aparelho circulatório	I10- Hipertensão essencial (primária)	3.114	3.114	*	*	*
X. Doenças do aparelho respiratório	J00- Nasofaringite aguda (resfriado comum)	695	695	J00	269	269
XIII. Doenças do sistema osteomuscular e tecido conjuntivo	*	*	*	M791- Mialgia M545- Dor lombar baixa	556 186	742
XVIII. Sintomas, sinais e achados anormais no exame clínico e laboratorial	*	*	*	R05- Tosse	425	675
Outros registros de CID			17.288			3.031
Total de atendimentos de demanda espontânea/ Verdes e Azuis			30.107	-		5.102

Categorias	ESF		UPA		USUÁRIOS
Categorias	Gestores	Profissionais	Gestores	Profissionais	USUÁRIOS
QUE URGÊNCIA PARA QUE SERVIÇO	Concepção adequada.	Concepção adequada, sem unanimidade.	Concepção adequada.	Concepção adequada, sem unanimidade.	Concepção adequada, sem unanimidade, porém a experiência anterior nos serviços é determinante para a escolha.
QUESTÕES TERRITORIAIS	Reconhece que a fragilidade social do território produz demandas.	A fragilidade social do território é potencializada pela adscrição de clientela maior do que em outros sistemas.	A fragilidade social desqualifica o usuário.	Violência no território prejudica não só a população residente, mas também o fluxo do trabalho.	As condições socioambientais do território não apareceram como uma questão trazida pela população, mas foi evidente sua interferência nos atendimentos.
ACESSO	Há dúvida se o profissional atende demanda espontânea durante todo o dia. Lamenta que a vaga para internação seja direcionada para a UPA, e não para o hospital. É positivo o acesso prioritário à vaga da UPA local.	A demanda espontânea tenciona a qualidade do atendimento e as ações de prevenção e promoção.	O usuário superutiliza a UPA. O principal problema é o não acesso ao leito hospital.	Reclamam do excesso de demanda de baixo risco.	Entendem que têm o direito de usar o serviço que lhe for mais conveniente. Reclamam do direcionamento para a ESF Eventual peregrinação por serviços.
ASPECTOS POSITIVOS	O vínculo com a população e a proximidade de uma UPA no território.	O acompanhamento clínico que produz qualidade.	Capacitação do médico e os recursos materiais e tecnológicos A interação com a ESF local.	Qualificação do médico e os recursos tecnológicos.	O respeito e o carinho no atendimento pela ESF.
ASPECTOS NEGATIVOS	O desfinanciamento e o contexto adverso da atenção à saúde. O atendimento centrado na queixa. Acomodação de demandas espontânea e programada. Atender usuários de outros territórios da ESF, encaminhados pela UPA.	O excesso de demanda espontânea, que interfere na qualidade do atendimento à demanda programada. A porta de entrada sob responsabilidade dos ACS, que gera insegurança para eles mesmos.	O desfinanciamento e o contexto adverso da atenção à saúde. O atendimento centrado na queixa. A qualificação insuficiente dos médicos da ESF para atender urgências. Dificuldade de atender usuários de outros territórios. O fechamento da ESF durante os tiroteios, que sobrecarrega a UPA.	O excesso de demanda interfere na qualidade do atendimento e gera riscos para o profissional.	Rapidez durante o atendimento na UPA. Longa espera pelo atendimento na UPA. Classificação de risco na UPA. Dificuldade de ser cadastrado na ESF.

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[1] Conflito de interesses: inexistente