Perceptions and experiences of women active in the health field on gender violence

Lima, Fernanda Felício de; Ferigato, Sabrina Helena; Silva, Carla Regina; Oliveira, Ana Luiza de Oliveira e

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Sumário

ARTIGO ORIGINAL • Saúde debate 46 (132) • Jan-Mar 2022 • https://doi.org/10.1590/0103-1104202213205 copy

Perceptions and experiences of women active in the health field on gender violence

Authorship SCIMAGO INSTITUTIONS RANKINGS

ABSTRACT

This article is the result of a master’s research that aimed to map and analyze the perceptions of women who work in the field of Brazilian public health on gender violence experienced and expressed in their daily lives, through the cut-out of a broad study, entitled ‘Women of Collective Health: a portrait of who builds the field’, developed by the research-intervention-struggle movement of women active in this field, who form the ‘Collective Adelaides: Feminisms and Health’. This is a quanti-qualitative study, intervention-type research, which starts from the mapping method and the theoretical references of black feminist epistemologies. The results are presented based on the typification of violence perceived by women, their interface with the process of work in health and daily life, pointing to the persistence and severity of the violence identified in the daily life of women working in the field of collective health and the possible contributions to gender studies, which are given by the deepening and analysis of this scenario from the articulation of the concepts of intersectionality and empowerment policy, as well as the delineation of possibilities for coping with these violence.

KEYWORDS
Gender-based violence; Gender studies; Feminism; Intersectionality; Public health

Índice numérico contextualizado	Violências tipificadas	Nº de mulheres que sofreram as violências	Narrativas produzidas
1	Violência Psicológica	437 (42,9%)	Recebi comentários de um professor sobre atuar na área cirúrgica e ser mãe, afirmando que não há como ser as duas coisas. Sobre a violência psicológica, sofri pressão psicológica do meu pai durante 19 anos por defender a minha mãe, e ele não aceitar a sua autonomia por ser mulher.
2	Discriminação por ser Mulher	435 (42,7%)	É muito difícil ser mulher nesse mundo. Andar pelas ruas é, por si, um grande risco. [...] Atuar na política sendo mulher é [...] um grande desafo. [...] boa parte das vezes que fui chefada por homens tive minha fala tolhida, meu comportamento questionado, minhas ideias subjugadas.
3	Violência Moral	315 (30,9%)	[...] vítima de perseguição sexista e assédio moral no trabalho e tive que abandonar meu cargo de diretora de um departamento, pois eram cinco diretores homens e somente eu de mulher. Minhas opiniões eram constantemente desconsideradas e minha autoridade ignorada! Não suportei tanta pressão e saí do cargo!
4	LGBTIFOBIA (Mulheres que não estão/se identificam com padrão cisheteronormativo = 168)	50 (29,8%)	[...] Nunca sofri a violência física, mas tenho medo de andar na rua, de ser atropelada ao andar de mãos dadas com minha namorada, de ocupar espaços públicos e ser deslegitimada.
5	Violência Institucional	266 (26,1%)	Conduta médica culpabilizadora e terapêutica punitiva (sem analgésicos, longas horas de espera) em dois hospitais por tentativa de aborto [...] Levei um tapa na cara de um policial, pois não deixei ele revistar meu corpo.
6	RACISMO (Mulheres que se autodeclaram de cor/não brancas = 333)	83 (24,9%)	[...] Já me pediram para prender meu cabelo com pente porque o colega se incomodava com as “ondinhas” que faziam meu cabelo. Fora paciente que nem conheço e recusa logo atendimento porque [...] eu nunca sou a médica da unidade, sou sempre a técnica de enfermagem ou a enfermeira. Não estou rebaixando nenhum profissional, pelo contrário, sem eles é inviável o meu serviço. Mas as pessoas ainda têm muita dificuldade de aceitar que existe, sim, uma médica mulher negra!
7	Violência Sexual na Infância/Adolescência	222 (21,8%)	Na infância, já tive ao menos 5 tentativas de violência sexual: seja de estranhos na rua, que pediam informações dentro de carros e quando eu me aproximava estavam nus, desde pessoas próximas da família, que tentavam se aproximar. A violência sexual nunca se consumou em ato sexual, mas toda criança/adolescente mulher passa por esses constrangimentos! [...]
8	VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA (Mulheres que engravidaram e/ou sofreram aborto = 723)	104 (14,4%)	Sofri violência obstétrica [...] tentaram negar meu acesso ao parto humanizado, com a enfermeira obstétrica que atuava no serviço. Me colocaram acesso venoso e ocitocina sintética contra minha vontade, fzeram inúmeros toques desnecessários, mas, ao final, consegui parir naturalmente, graças à intervenção/defesa da enfermeira obstetra que estava de plantão.
9	Violência Doméstica	132 (12,9%)	Me sinto como se fosse descartável, tenho medo do meu atual parceiro, tenho medo de não conseguir vencer essa guerra... tem noites em que não durmo pelo simples fato de não saber se estarei de pé no dia seguinte.
10	Violência Física	118 (11,5%)	Fui vítima de um relacionamento abusivo no meu primeiro casamento. Violência física e psicológica. Demorou pouco menos de dois anos para que eu conseguisse sair do relacionamento, mas as marcas duram até hoje [...]
11	Violência Sexual na Vida Adulta	114 (11,1%)	Vivi um relacionamento abusivo por 5 anos [...] Trabalhei com um médico que fazia diversas brincadeiras com cunho pejorativo e sexual, inclusive na frente da equipe de enfermagem. Já fui assediada sexualmente durante um assalto, acredito que só escapei do estupro porque me neguei a ir a uma rua escura com ele, mas ainda assim ele passou a mão em mim.
12	Violência Patrimonial	60 (5,8%)	[...] Meus livros e coisas já foram jogados no lixo por cônjuge; que também já fingiu que me trombou, quando na verdade veio em minha direção para atacar-me (parti pra cima questionando-o, e acabou assumindo a ação).

Zonas comuns de existência e violências de gênero	Descrição	Percepções das mulheres identificadas nas narrativas
Processos de Trabalho e Vida Profissional	Qualificam-se por meio da compreensão de como se dá a expressão da violência de gênero nos espaços de trabalho e exercício profissional das mulheres participantes.	Em contextos profissionais, comumente, minhas falas e reivindicações eram ‘analisadas’ como histeria, assim como de outras colegas mulheres. Os homens tinham escuta totalmente diferenciada. Fui moralmente agredida por um supervisor que, ao me posicionar contra uma de suas recomendações, me disse gritando que eu era insuportável [...] pedi demissão porque ficou emocionalmente insustentável permanecer lá. [...] Em meu departamento [...], são constantes os comentários depreciativos em relação às mulheres, especialmente piadas. Minhas solicitações de pautas costumam ser esquecidas ou deixadas por último; preciso me fazer ouvir fortemente, senão sou interrompida e não ouvida. [...] São tantas violências que cresci acreditando que realmente era inferior em vários aspectos. Ainda hoje fico insegura, porém, pela primeira vez, aceitei um cargo de gestão na universidade que foi totalmente desvinculado de meu companheiro. Antes disso, era como se estivesse o tempo inteiro na sombra dele. E temos um combinado: ele só pode dar sugestão ou conselhos sobre minha atuação profissional quando for solicitado.
Processos Educacionais de Pesquisa e Formação	São caracterizados como os processos de formação acadêmica das mulheres participantes.	Recebi comentários de um professor sobre atuar na área cirúrgica e ser mãe, afirmando que não há como ser as duas coisas [...]. [...] durante uma prova de recuperação, um professor aproveitou que a sala estava quase vazia e passou a mão na minha perna, subindo em direção à virilha. Ele só parou porque eu comecei a chorar. Eu denunciei para a secretaria acadêmica, porém, nunca tive devolutiva. Foi falado que eles já haviam orientado a não ficar sozinha com esse professor [...] Escutei de colegas [...] que eu só havia passado na disciplina porque eu havia me envolvido amorosamente com o professor. Acabei deixando a história morrer porque na própria secretaria falaram que não dava em nada as denúncias.
Espaço Doméstico – pertencer à casa	Espaço de moradia das mulheres participantes no qual se apresentam inúmeros atos de agressão e violência e que transformam o sentimento de pertencimento ou de familiaridade em sentimentos de sofrimento, impotência e/ou insegurança.	[...] o cônjuge tenta controlar, retirar direitos, agressões físicas, manda sair do próprio apartamento. Violência moral por parte do ex-marido (separação de corpos), que exigia atenção integral e era violento com os filhos [...].
Relacionamentos e Relações Familiares	Vínculos e relações afetivas constituídos pelas mulheres participantes da pesquisa ampliada	Meu pai foi meu abusador na infância. Por longos anos. Até hoje é muito difícil viver com isso. Afeta minha saúde e minha qualidade de vida. Me desperta ódio, e o fato de ser um tabu só faz piorar [...] depois de anos é que percebi que também sofri e me livrei de duas situações de tentativa de estupro, homens que ficaram forçando muito a barra pra transar comigo até chegar ao ponto de eu ter expulsado e empurrado eles de cima de mim no grito.
Espaço Público – ocupar as ruas	Locais nos quais as mulheres transitam e ocupam enquanto cidadãs pertencentes à sociedade e que se manifestam como espaços de expressão da violência em sua esfera pública.	[...] Não gosto de andar a pé e sozinha, tenho medo e nojo. As experiências de violência por ser mulher se dão no cotidiano, através de microagressões. Isso me incomoda especificamente pela falta de segurança de andar na rua sozinha, pelos riscos que já corri estando em viagens sozinha e pelos assédios cotidianos que nos amedrontam e agridem.

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