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Agronegócio e acumulação por espoliação: o enclave da soja em Campos Lindos (TO)

RESUMOS DE TESES DE DOUTORADO APRESENTADAS NO PPGS/SOL/UNB

Orientador: Prof. Dr. Marcelo Carvalho Rosa,Curso: Doutorado em Sociologia, Data da defesa: 16.12.2013

Em Campos Lindos (TO), no ano de 1997, o governo do estado, num processo imerso na ilegalidade, expropriou todos os estabelecimentos, as moradias e as benfeitorias, numa extensa área de mais de 105 mil hectares das melhores terras do Cerrado, e as entregou à então presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Tocantins (Faet), e atual presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), para que fizesse a distribuição entre seus escolhidos. Os posseiros não receberam nenhuma indenização, nem foram realocados para outras áreas. Nessas terras foi implantado um enclave de produção de soja transgênica para exportação, com uso intensivo de venenos e de tecnologia. Campos Lindos é o maior produtor de grãos do Tocantins e, segundo o mapa da pobreza e da fome do IBGE 2003, era o município mais pobre do Brasil. O problema principal desta tese esteve plasmado em duas questões: quais foram as mudanças precipitadas na estrutura agrária e nas condições de vida da população espoliada de Campos Lindos, decorrentes da irrupção do agronegócio? e, qual foi a intensidade dessas mudanças? Para desvendar o problema de investigação foi construído um marco conceitual, ancorado em três pilares analíticos, as contribuições de diversos autores sobre as condições distintivas da questão agrária no século XXI, as quais constituem o transfundo teórico que permeia os outros dois pilares, constituídos pelas contribuições de David Harvey sobre as formas atuais da dinâmica mundial da acumulação capitalista e, pelas contribuições da perspectiva analítica dos regimes alimentares na compreensão do papel da produção e do comércio de alimentos no desenvolvimento do capitalismo mundial. A organização da produção de soja, em Campos Lindos, segue um modelo de enclave, isolado e autossuficiente, sem interações com as populações locais. As populações do entorno das áreas de cultivo são receptoras diretas de efeitos perversos: destruição da biodiversidade, envenenamento das águas e do ar pelos venenos usados intensamente nas lavouras. O modelo do agronegócio imposto em Campos Lindos foi ancorado na expulsão das populações locais de seus territórios, espoliadas de seus meios de vida; na destruição da biodiversidade e no pacote tecnológico: monoculturas, sementes transgênicas, uso crescente de venenos químicos, trabalho mecânico intensivo. Esse "projeto" de mais de 100 mil hectares de produção de soja, em mais de 15 anos de intensa produção, nunca teve, sequer, a licença ambiental de instalação tramitada.

Palavras-chave: agronegócio; acumulação; espoliação; Campos Lindos (TO).

  • Agronegócio e acumulação por espoliação: o enclave da soja em Campos Lindos (TO)

    Joaquín Eduardo Manchola Cifuentes
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      30 Jun 2014
    • Data do Fascículo
      Abr 2014
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