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Navegando pelo Grindr entre currículos de possibilidades e limites: a pedagogia da saúde em tempos de pandemia da Covid-19

Navigating Grindr between curricula of possibilities and limits: the pedagogy of health in times of the Covid-19 pandemic

Navegando por el grindr entre currículos de posibilidades y límites: la pedagogía de la salud en tiempos de la pandemia de Covid-19

Resumo

O estudo objetiva analisar como e em quais medidas o Grindr, em diferentes artefatos culturais midiáticos, exerceu uma pedagogia da saúde durante e após a pandemia, a fim de debater e analisar a produção de diferentes currículos e seus atravessamentos, destacando a relevância do cenário pandêmico e algumas questões governamentais como fatores importantes na constituição de dinâmicas individuais e coletivas, dos contextos sociais, políticos e sanitários. Para isso, utilizando as lentes dos Estudos Culturais e do conceito de Pedagogias Culturais, analisamos os amplos processos pedagógicos provenientes das produções circulantes nas plataformas oficiais do Grindr. Logo, para compreender as funções estratégicas desses artefatos culturais, nos ativemos, além do aplicativo de relacionamentos, ao site do Grindr, bem como a seus perfis nas redes sociais Instagram, Facebook, Twitter e TikTok, a partir das quais produzimos a leitura de uma pedagogia da saúde com currículos de possibilidades e limites que conduzem práticas, comunicam comportamentos, educam sujeitos sociais e produzem subjetividades diversas.

Palavras-chave:
Grindr; sexualidade; pedagogia da saúde; pandemia; estudos culturais.

Abstract

The study aims to analyze how and to what extent Grindr, in different cultural media artifacts, exercised a health pedagogy during and after the pandemic, in order to discuss and analyze the production of different curricula and their intersections, highlighting the relevance of the pandemic scenario and some governmental issues as important factors in the constitution of individual and collective dynamics, social, political and health contexts. To achieve this, by utilizing the perspectives of Cultural Studies and the concept of Cultural Pedagogies, we analyze the broad pedagogical processes arising from circulating productions on Grindr’s official platforms. Therefore, to comprehend the strategic functions of these cultural artifacts, in addition to the dating app, we examined not only the dating app but also the Grindr website, as well as its profiles on the social networks Instagram, Facebook, Twitter, and TikTok, from which we produced a pedagogy of health reading with curricula of possibilities and limits that conduct practices, communicate behaviors, educate social subjects, and produce diverse subjectivities.

Keywords:
Grindr; sexuality; pedagogy of health; pandemic; cultural studies.

Resumen

El estudio pretende analizar cómo y en qué medida Grindr, en diferentes artefactos mediáticos culturales, ejerció una pedagogía de la salud durante y después de la pandemia, con el fin de debatir y analizar la producción de diferentes currículos y sus cruces, destacando la relevancia del escenario pandémico y algunas cuestiones gubernamentales como factores importantes en la constitución de dinámicas individuales y colectivas, contextos sociales, políticos y sanitarios. Para ello, utilizando las lentes de los Estudios Culturales y el concepto de Pedagogías Culturales, analizamos los amplios procesos pedagógicos derivados de las producciones que circulan en las plataformas oficiales de Grindr. Así, para comprender las funciones estratégicas de estos artefactos culturales, miramos más allá de la aplicación de citas, a la página web de Grindr, así como a sus perfiles en las redes sociales Instagram, Facebook, Twitter y TikTok, a partir de los cuales elaboramos uma lectura de una pedagogía de la salud con currículos de posibilidades y límites que impulsan prácticas, comunican comportamentos, educan a sujetos sociales y producen subjetividades diversas.

Palabras claves:
Grindr; sexualidade; pedagogia de la salud; pandemia; estúdios culturales.

Introdução

Para Nikolas Rose (2011)ROSE, Nikolas. 2011. “Biopolítica Molecular, Ética Somática e o Espírito do Biocapital”. In: SANTOS, Luís Henrique Sacchi dos; RIBEIRO, Paula Regina Costa (orgs.). Corpo, Gênero e Sexualidade: instâncias e práticas de produção nas políticas da própria vida. Rio Grande: FURG., no centro de uma transformação, devemos nos ater não a uma única causa de mudança, mas sim a múltiplos deslocamentos que perpassam a história e permitem que algo novo emerja. Com isso, deslocamento é pensar em mudança contínua, que não se estabiliza, mas que se desloca reformulado, reorganizado e reestruturado em face de outro contexto. Das transformações podem surgir pensamentos que vigoram dentro do contexto e irão orientar condutas, um modo de explicação, o que é para ser entendido, bem como o que há para ser descrito e como essa leitura e esse olhar irão estabelecer o próprio objeto de explicação, as discussões, os problemas e os fenômenos que uma questão deve considerar.

Os deslocamentos conferem uma nova mobilidade aos elementos da vida, de modo que lhes possam ser atribuídos propriedades e olhares que anteriormente não existiam. Resultam em novas formas de vida, subjetivações individuais e coletivas, agenciamentos de relações sociais, e potencializam a extensão dos exercícios de poder (Rose, 2011ROSE, Nikolas. 2011. “Biopolítica Molecular, Ética Somática e o Espírito do Biocapital”. In: SANTOS, Luís Henrique Sacchi dos; RIBEIRO, Paula Regina Costa (orgs.). Corpo, Gênero e Sexualidade: instâncias e práticas de produção nas políticas da própria vida. Rio Grande: FURG.). Nesse sentido, o objetivo deste artigo é compreender como o Grindr, um aplicativo de encontros, se alinhou às novas técnicas de cuidado de si no contexto da pandemia de Covid-19, suscitando capacidades de intervenção e manipulação, tensionadas a essa ética do cuidado nas relações produzidas e/ou consumidas por seus/suas usuários/as.

A perspectiva foucaultiana de cuidado, compreendido enquanto arqueologia da ética, desenvolvida pelo autor em seus últimos escritos, é um importante conceito para entendermos as relações e os conhecimentos circulantes no Grindr em tempos pandêmicos. Segundo Foucault (2005FOUCAULT, Michel. 2005. História da sexualidade 3: o cuidado de si. 8ª edição. São Paulo: Edições Graal., 2010FOUCAULT, Michel. 2010. A Hermenêutica do sujeito: curso dado no Collège de France (1981-1982). 3ª edição. São Paulo: WMF Martins Fontes.), o cuidado de si perpassa a história pelo “ocupa-te de ti mesmo” e o “conhece-te a ti mesmo”, conceitos que têm implicações diretas na forma como os sujeitos sexualizados governam suas práticas de si, implicando em cuidados com o corpo, a saúde, a medicalização, as dietas, as vestimentas, a musculação, os procedimentos cirúrgicos e outros, ou seja, todo um governo ético do sujeito sobre si mesmo.

Tais cuidados implicam tanto processos de assujeitamento a diferentes normas vigentes quanto processos de resistências quando acionamos a ideia de biopoder. No Grindr, os diferentes agenciamentos produzidos pelos/as usuários/as remetem aos processos de resistências de tais normas. Toda essa complexidade do cuidado de si, analisada no contexto da internet, não escapa às críticas de Kleber Prado Filho (2018)PRADO FILHO, Kleber. 2018. “Estetização da subjetividade: formas contemporâneas de cuidado e produção de si mesmo”. Cadernos Discursivos. Edição Especial 2018. Vol. 2, n° 1, p. 92-103. quando o autor expressa que a atual tecnologia de estilização e autoprodução reflete uma inclinação narcísica e autocentrada, intensificando o individualismo moderno.

Na perspectiva do autor, no cenário contemporâneo, observa-se a tendência crescente de centralizar o indivíduo em seu próprio universo, estabelecendo conexões por meio da internet e das redes sociais, o que, por sua vez, promove um distanciamento gradual em relação aos outros. Esse fenômeno resulta em uma notável diminuição da percepção da singularidade alheia, especialmente evidente na escassez de interações presenciais.

Essa mudança de dinâmica nas relações interpessoais não apenas reflete a influência da tecnologia, mas também destaca os deslocamentos na forma como nos conectamos e percebemos o mundo ao nosso redor (Rose, 2011ROSE, Nikolas. 2011. “Biopolítica Molecular, Ética Somática e o Espírito do Biocapital”. In: SANTOS, Luís Henrique Sacchi dos; RIBEIRO, Paula Regina Costa (orgs.). Corpo, Gênero e Sexualidade: instâncias e práticas de produção nas políticas da própria vida. Rio Grande: FURG.). À luz dessas mudanças é pertinente considerar as reflexões de Márcia Couto, Carolina Barbieri e Camila Matos (2021) sobre o impacto da Covid-19 na relação indivíduo-sociedade. Para as autoras, a pandemia suscitou discussões sobre a necessidade urgente de uma vacina, influenciou a maneira como nos relacionamos uns com os outros e destacou a complexidade das interações humanas e a constante adaptação a novos contextos.

No Brasil, segundo Rosana Castro (2021)CASTRO, Rosana. 2021. “Necropolítica e a corrida tecnológica: notas sobre ensaios clínicos com vacinas contra o coronavírus no Brasil”. Horiz. Antropológicos. Abril de 2021. Vol. 27, nº 59, p. 71-90., a pandemia foi um cenário epidemiológico desastroso, já que, além de o vírus ter apresentado demandas que, por contextos variáveis relacionados majoritariamente a decisões políticas, comprometeram o suporte do nosso sistema público, sua letalidade se associou às condições históricas de negação de acesso à saúde de grupos particularmente vulnerabilizados. Complementarmente, Ruann Ruani, Marcelle Teixeira e Dilton Couto Junior (2022) descrevem que o Brasil se transformou no local ideal para estudos clínicos em prol da vacina devido às retóricas negacionistas engendradas ao fator classe social. A este cenário, Márcia Santos et al. (2020)SANTOS, Márcia Pereira Alves dos et al. 2020. “População negra e COVID-19: reflexões sobre racismo e saúde”. Estudos Avançados 2020. Vol. 34, n° 99, p. 225-243. acrescentam que a vulnerabilidade das populações historicamente discriminadas, como negros, indígenas, populações periféricas urbanas, população idosa e pessoas em situação de rua, junto das políticas de saúde e assistenciais precarizadas corroboraram com a ampla dispersão do vírus na população brasileira.

Nesse ínterim, sem vacina ou tratamento específico, as melhores ações de saúde incluíram o diagnóstico precoce, tratamento de suporte e das complicações nos casos graves e os procedimentos de controle, que envolviam medidas individuais e coletivas de biossegurança. Assim, as orientações da OMS solicitaram distanciamento social ampliado, higienização contínua das mãos, além do uso do álcool, máscaras e outros equipamentos de proteção individual, ações com intensos reflexos na circulação de pessoas e mercadorias, no sistema produtivo e nas práticas de consumo (Castro, 2021CASTRO, Rosana. 2021. “Necropolítica e a corrida tecnológica: notas sobre ensaios clínicos com vacinas contra o coronavírus no Brasil”. Horiz. Antropológicos. Abril de 2021. Vol. 27, nº 59, p. 71-90.; Ruani; Teixeira; Couto Junior, 2022RUANI, Ruann Moutinho; TEIXEIRA, Marcelle Medeiros; COUTO JUNIOR, Dilton Ribeiro. 2022. “‘ISSO JÁ PASSOU, TÁ GERAL SE PEGANDO JÁ’: investigando os usos do grindr em tempos de pandemia”. Redoc: Revista Docência e Cibercultura. Abril de 2022. Vol. 6, nº 2, p. 134-149.).

O clamor pela vacina mobilizou governos, cientistas, a própria OMS, a indústria farmacêutica e instituições não governamentais, ocasionando um movimento sem precedentes de arrecadação de fundos para o desenvolvimento e a produção de uma vacina. Entre dezembro de 2020 e janeiro de 2021, resultados de estudos clínicos globais de três vacinas testadas no Brasil foram considerados favoráveis e impulsionaram o início de seu uso pelo mundo. Cabe ressaltar que problemas de ordem política, movimentos antivacina, o extremismo religioso e o tráfego de desinformação também contribuíram para que a vacinação no Brasil começasse a ser feita em janeiro de 2021, enquanto outros países haviam começado em 2020 (Castro, 2021CASTRO, Rosana. 2021. “Necropolítica e a corrida tecnológica: notas sobre ensaios clínicos com vacinas contra o coronavírus no Brasil”. Horiz. Antropológicos. Abril de 2021. Vol. 27, nº 59, p. 71-90.; Couto; Barbieri; Matos, 2021COUTO, Marcia Thereza; BARBIERI, Carolina Luisa Alves; MATOS, Camila Carvalho de Souza Amorim. 2021. “Considerações sobre o impacto da COVID-19 na relação indivíduo-sociedade: da hesitação vacinal ao clamor por uma vacina”. Saúde e Sociedade. Março de 2021. Vol. 30, nº 1, p. 1-11.).

A desinformação no contexto da Covid-19 ganhou tanta força e destaque que a OMS levou veículos de mídia e instituições acadêmicas e governamentais a lançarem plataformas de comunicação que viabilizassem a detecção e o fim da propagação de notícias falsas (Couto; Barbieri; Matos, 2021COUTO, Marcia Thereza; BARBIERI, Carolina Luisa Alves; MATOS, Camila Carvalho de Souza Amorim. 2021. “Considerações sobre o impacto da COVID-19 na relação indivíduo-sociedade: da hesitação vacinal ao clamor por uma vacina”. Saúde e Sociedade. Março de 2021. Vol. 30, nº 1, p. 1-11.). Destarte, compreendemos que os meios de comunicação se tornaram importantes em relação à divulgação e ao acesso de conteúdos sobre a pandemia. Assim, ao reconhecermos a centralidade dos meios de comunicação, concordamos com Tomaz da Silva (1995)SILVA, Tomaz Tadeu da. 1995. “Currículo e identidade social: territórios contestados”. In: SILVA, Tomaz Tadeu da et al. (orgs.). Alienígenas na sala de aula: uma introdução aos estudos culturais em educação. 5ª edição. Petrópolis: Vozes. ao entender que, podemos, a partir desses meios, obter e incorporar maneiras de nos inscrever e nos produzir que atuam direta e/ou indiretamente na constituição do ser em sua subjetividade. Essas produções estão sempre paralelas a uma historicidade, além de fatores sociais e culturais que no presente estudo se tornam importantes considerações.

Segundo Diego Nunes (2019)NUNES, Diego Miranda. 2019. A produção das masculinidades e socioespacialidades de homens que buscam parceiros do mesmo sexo no aplicativo Tinder em Rio Grande - RS. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do Rio Grande., a internet proporciona complexas formas de interatividade das pessoas e oportuniza novos arranjos comunicacionais; torna-se imensurável a potência das redes sociais, e são incalculáveis as suas influências. Todavia, para o autor, são as apropriações que fazemos das redes sociais que tecem novas formas de sociabilidades e processos de transformações. Nesse contexto, Paula Andrade (2017)ANDRADE, Paula Deporte de. 2017. “Artefatos culturais midiáticos e pedagogias culturais: uma análise para explorar as qualidades pedagógicas da vida contemporânea”. 38ª Reunião Nacional da ANPEd - 01 a 05 de outubro de 2017 - UFMA - São Luís/MA. entende que as redes sociais, como plataformas digitais interativas, são artefatos culturais midiáticos exemplares que desencadeiam dinâmicas sociais, moldam identidades individuais e coletivas, e influenciam a percepção cultural contemporânea. A autora completa que artefatos culturais midiáticos se referem a objetos, produtos ou elementos simbólicos que são produzidos, distribuídos e consumidos no contexto da cultura midiática2 2 Tais como a mídia de massa (jornais, revistas, rádio e televisão, assim como as formas digitais, como redes sociais, blogs e plataformas de streaming), o cinema, a música, a publicidade e os jogos digitais, por exemplo. . Estes artefatos desempenham um papel significativo na construção e na transmissão de significados, pedagogias, valores e identidades culturais.

Dito isto, o Grindr, como um aplicativo de relacionamento, é um notável artefato cultural midiático que exemplifica a interseção de tecnologia, sexualidade e identidade. Ao facilitar a conexão entre indivíduos com base em preferências e conduzir a transmissão de categorias específicas de informações, o Grindr não apenas reflete, mas também molda normas sociais e padrões culturais. A partir desse ambiente cultural compartilhado, argumentamos que os artefatos culturais midiáticos foram essenciais para a construção de uma pedagogia durante a pandemia da Covid-19, possibilitando a disseminação de diversas informações. A análise que apresentamos concentra-se na disseminação de campanhas, narrativas, conhecimentos científicos - ou não - e na adoção de comportamentos diversos que contribuíram para a educação das pessoas por meio do que nomeamos como uma pedagogia da saúde.

Reconhecemos o Grindr como importante mediador de novos processos de sociabilidade, principalmente ao considerarmos que as recomendações de isolamento físico, inicialmente, poderiam ir na contramão da proposta do aplicativo mais popular entre homens em busca de relações e encontros sexuais (Ruani; Teixeira; Couto Junior, 2022RUANI, Ruann Moutinho; TEIXEIRA, Marcelle Medeiros; COUTO JUNIOR, Dilton Ribeiro. 2022. “‘ISSO JÁ PASSOU, TÁ GERAL SE PEGANDO JÁ’: investigando os usos do grindr em tempos de pandemia”. Redoc: Revista Docência e Cibercultura. Abril de 2022. Vol. 6, nº 2, p. 134-149.). Nessa esfera, delineada pelos anseios e as demandas engendrados pela internet, o Grindr representa, conforme Ettore Medeiros (2018)MEDEIROS, Ettore Stefani de. 2018. Textos verbo-visuais de homens que se relacionam afetivo-sexualmente com homens: te(n)sões entre masculinidades no aplicativo grindr. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Minas Gerais., pioneirismo como aplicativo voltado à busca de parceiros/as em dispositivos móveis por meio do Global Positioning System (GPS).

Com isso, ao compreendermos a utilização de recursos tecnológicos como importantes canais, capazes de construir territórios que reconfiguram novos espaços a partir de anseios e necessidades específicas (Nunes, 2019NUNES, Diego Miranda. 2019. A produção das masculinidades e socioespacialidades de homens que buscam parceiros do mesmo sexo no aplicativo Tinder em Rio Grande - RS. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do Rio Grande.), este trabalho objetiva analisar como, e em quais medidas, o Grindr, em diferentes artefatos culturais midiáticos, exerceu uma pedagogia da saúde em tempos de pandemia e pós-pandemia, a fim de debatermos e analisarmos a produção de diferentes currículos, entendidos como um espaço onde se entrelaçam múltiplas dimensões, tais como as experiências dos/as usuários/as, as políticas e as ações governamentais, as práticas pedagógicas e as relações de poder. Utilizamos a noção de currículo tal como empregada por Silva (1995)SILVA, Tomaz Tadeu da. 1995. “Currículo e identidade social: territórios contestados”. In: SILVA, Tomaz Tadeu da et al. (orgs.). Alienígenas na sala de aula: uma introdução aos estudos culturais em educação. 5ª edição. Petrópolis: Vozes., como exploraremos a seguir. Por ora, destacamos que a noção parte do termo em francês agencement, significando o ato de organizar, arranjar, dispor de elementos de um conjunto qualquer. Refere-se, no presente texto, à combinação e/ou ligação sem condições hierárquicas ou centralizadas de fragmentos, elementos e fluxos de diferente natureza, tais como: ideias, enunciados, pessoas, corpos, coisas e instituições (Silva, 2000SILVA, Tomaz Tadeu da. 2000. Teoria Cultural e Educação: um vocabulário crítico. Belo Horizonte: Autêntica.).

Dessa maneira, este artigo se encontra organizado em dois momentos, sendo o primeiro dos aspectos metodológicos, método e apresentações iniciais, denominado “Grindr em tempos de Covid-19: explorando artefatos, percorrendo caminhos, estratégias e potencialidades”, em que descrevemos os caminhos pelos quais obtivemos os dados para análises, as plataformas analisadas e quais informações foram possíveis de se encontrar nelas. No segundo, “Currículo de possibilidades e limites: um olhar acerca da pedagogia da saúde no Grindr”, discutimos os desdobramentos das reflexões percebidas diante da pedagogia da saúde, bem como seus engendramentos, suscitados do currículo de limites.

Grindr em tempos de Covid-19: explorando artefatos, percorrendo caminhos, estratégias e potencialidades

A presente pesquisa segue o viés qualitativo por dar ênfase às análises dos artefatos culturais midiáticos perscrutados e, para investigá-los, optamos pela etnografia on-line, método exploratório oriundo da antropologia, que, consoante Débora Leitão e Laura Gomes (2017LEITÃO, Débora Krischke; GOMES, Laura Graziela. 2017. “Etnografia em ambientes digitais: perambulações, acompanhamentos e imersões”. Revista Antropolítica. 1° Semestre de 2017. Vol. 1, n° 42, p. 41-65.), perpassa a dimensão técnica de obtenção de dados e busca compreender os sentidos e os significados que os sujeitos atribuem às suas ações cotidianas. Para as autoras, quando o conceito de ambientes é abordado no contexto das plataformas digitais, nos referimos à maneira como essas plataformas são integradas a um fluxo de interações sociais que ultrapassam as barreiras técnicas específicas de programas, sites ou aplicativos.

Dessa forma, temos como estratégia a análise do material produzido, apoiando-nos nas contribuições dos Estudos Culturais, o conceito em Pedagogias Culturais e, respectivamente, dos amplos processos pedagógicos provenientes dos discursos circulantes em diferentes plataformas oficiais do Grindr, que conduzem práticas, comunicam comportamentos, educam sujeitos sociais e produzem subjetividades diversas. A partir desse conhecimento, para compreender as funções estratégicas de tais artefatos culturais, perscrutamos o próprio aplicativo de relacionamentos, como também o site criado pelo Grindr e seus perfis oficiais nas redes sociais Instagram, Facebook, Twitter e TikTok. A importância dada a esses outros recursos e plataformas decorre da compreensão de que eles também operam como importantes artefatos, possibilitadores do cuidado de si e portadores de conteúdos diversos.

Para a leitura e a compreensão das relações de poder, efeito das normas e do disciplinamento dos corpos, consideramos a potência dos estudos de Michel Foucault (1998FOUCAULT, Michel. 1998. História da sexualidade 2: o uso dos prazeres. 8ª edição. Rio de Janeiro: Edições Graal., 1999FOUCAULT, Michel. 1999. História da sexualidade 1: a vontade de saber. 13ª edição. Rio de Janeiro: Edições Graal., 2005FOUCAULT, Michel. 2005. História da sexualidade 3: o cuidado de si. 8ª edição. São Paulo: Edições Graal.), que se fez essencial para a construção das reflexões propostas pela presente pesquisa ao considerar que, dos processos pedagógicos, os padrões de conduta, neste caso decorrentes na e da pandemia de Covid-19, imbricam uma pedagogia da saúde com currículos de possibilidades e limites. A pedagogia da saúde é lida como uma forma de cuidado de si, com currículos que envolvem práticas e técnicas pelas quais os indivíduos são incentivados à promoção e à conscientização sobre saúde, como ocorre o processo de adoecimento causado pela Covid-19, suas implicações, transmissões e os meios necessários para preveni-la. Por outro lado, essa mesma pedagogia é dotada de limites com currículos que, majoritariamente, inviabilizaram/invisibilizaram informações sobre a pandemia, deixando de propiciar importantes discussões sobre o tema.

No sentido em que emergem, os currículos se entrecruzam como processos colaboradores, justamente por existirem nos mesmos artefatos e, em certos momentos, nas mesmas produções discursivas que, ao final, consideramos para a escrita do presente trabalho, a não dissociação desses currículos em dois blocos de análise. No que se refere à noção de currículo e seu movimento, temos inspiração em Silva (1995)SILVA, Tomaz Tadeu da. 1995. “Currículo e identidade social: territórios contestados”. In: SILVA, Tomaz Tadeu da et al. (orgs.). Alienígenas na sala de aula: uma introdução aos estudos culturais em educação. 5ª edição. Petrópolis: Vozes., que o compreende e o descreve como uma forma organizada que visa a um determinado fim, com mecanismos que atuam direta e/ou indiretamente na constituição do ser em sua subjetividade, por criar percepções que imbricam normas e disciplinamentos, capazes de nos (re)construir dentro de uma historicidade junto de fatores sociais que condicionam comportamentos e suscitam formas de agenciamento.

Os currículos, para Silva (1995)SILVA, Tomaz Tadeu da. 1995. “Currículo e identidade social: territórios contestados”. In: SILVA, Tomaz Tadeu da et al. (orgs.). Alienígenas na sala de aula: uma introdução aos estudos culturais em educação. 5ª edição. Petrópolis: Vozes. e Marisa Costa, Maria Wortmann e Iara Bonin (2016COSTA, Marisa Vorraber; WORTMANN, Maria Lúcia; BONIN, Iara Tatiana. 2016. “Contribuições dos estudos culturais às pesquisas sobre currículo: uma revisão”. Currículo sem Fronteiras. Dezembro de 2016. Vol. 16, nº 3, p. 509-541.), se vinculam ao indivíduo no processo de constituição deste como sujeito, e dessa forma é importante compreender o currículo como produção, mas também produto, capaz de gerar produção a partir do que outrora foi produzido. Ou seja, a relação entre esses elementos significa que o currículo não é estático ou neutro, mais sim um processo em constante transformação, moldado por diversas influências e sujeito a interpretações e disputas, pois a elaboração, a implementação e o impacto do currículo representam uma visão dinâmica, complexa e multifacetada.

Isto posto, em um primeiro momento, habitamos o artefato do aplicativo de relacionamentos do Grindr e, para análise das discursividades presentes nos elementos que compõem os perfis dos/as usuários/as, criamos uma conta gratuita com o nickname “Gab” no dia 20 de novembro de 2022. Além do nickname, a conta também informava a idade da pesquisadora (25), sendo estes os elementos que o perfil trazia. A escolha do nome se deu na intenção de transmitir certa indistinção quanto à identidade de gênero da pesquisadora, ou seja, para não se revelar mulher pesquisadora dentro do Grindr. Isto se deve a uma possível dificuldade em permanecer no aplicativo, compreendendo, conforme Larissa Pelúcio e Tiago Duque (2020PELÚCIO, Larissa; DUQUE, Tiago. 2020. ““Cancelando” o cuier”. Contemporânea - Dossiê Queer caboclo. Abril de 2020. Vol. 10, n° 01, p. 125-151.), que existe um regime discursivo em que o outro3 3 Neste caso, uma mulher cisgênero heterossexual em um aplicativo que não é destinado a esse público. A partir do momento em que o perfil sofresse bloqueio dos usuários, não poderíamos mais visualizar o perfil bloqueador, portanto, não teríamos acesso a seus dados para posterior análise, limitando o campo de pesquisa. não opera, conferindo deslegitimação à fala de quem não pertence ao grupo, acompanhado de uma certa política de cancelamento, como bem descrevem Gabriela Montecio e Marcelo da Rosa (2022).

Como a intenção não era de captar usuários/as para interações com mensagens diretas ou taps4 4 O tap é um mecanismo que, ao ser utilizado, notifica o perfil da pessoa de interesse, sem a necessidade de estabelecer um diálogo inicial (Montecio; Rosa, 2022). , não foram preenchidas quaisquer outras informações a respeito da conta que criamos para capturar printscreens5 5 Printscreens são capturas de telas que permitem registrar o conteúdo que aparece na própria tela do dispositivo utilizado - neste caso, um smartphone -, e print é a forma abreviada da palavra printscreen. dos perfis. Os prints obtidos foram salvos em um drive privado e, em seguida, cada perfil foi analisado em busca de informações sobre a pandemia. O levantamento destes foi feito em Campo Grande/MS, inicialmente na região urbana Bandeira, variando os horários entre manhã, tarde e noite.

Posteriormente, com o intuito de explorar as demais regiões que compreendem o perímetro urbano de Campo Grande, valemo-nos do mapa das regiões urbanas e bairros e da delimitação dos perímetros de Campo Grande - 2017, da Agência Municipal de Meio Ambiente e Planejamento Urbano (Planurb)6 6 Mapa das regiões urbanas e bairros, apresentado no Sistema Municipal de Indicadores de Campo Grande/MS (SISGRAN). Disponível em: <https://sisgranmaps.campogrande.ms.gov.br/>. [Acessado em 25.12.2022]. , já que atualmente a cidade é composta por 79 bairros que integram sete diferentes regiões. Entre os dias 20 de novembro de 2022 e 25 de dezembro de 2022, transitamos entre os bairros e as demais regiões que antes não foram alcançadas, resultando em mais de 920 prints de 320 perfis distintos. A captura dos perfis foi variada, ou seja, sem serem selecionados com base em um critério predefinido em relação ao que descreviam de si ou à quantidade de informações que disponibilizavam. Cada print foi transferido para um drive e renomeado com o nickname do usuário/a, sendo este o recurso que melhor se adequou à demanda da pesquisa.

No perfil do aplicativo, informações como nickname/idade, tags7 7 Tag em inglês quer dizer etiqueta. A versão do aplicativo utilizada (8.22.0) permite a utilização dessas tags para compartilhar interesses, que acabam funcionando como palavras-chave. , emoji8 8 Foi copiado da internet e colado o mesmo emoji que a pessoa utilizou em seu perfil, seja ele no nickname ou na opção “O que descreve”. , descrições9 9 Lacuna destinada à escrita de uma biografia, onde é possível ao/à usuário/a incluir informações sobre ele/ela, seus interesses, condições, entre outros. , altura, peso, etnia, porte físico, gênero, posição, pronomes, tribos, relacionamento atual, preferências, local de encontro, aceitação de fotos NSFW10 10 Sigla da expressão em inglês “Not Safe for Work”, que traduzida significa “Não seguro para o trabalho”. Este termo funciona como indicativo de alerta para conteúdos impróprios, como é o caso de fotos que contenham nudez explícita. , status HIV, último exame, redes sociais e vacinas podem ser preenchidas. Nem todos completam todas as seções, pois não há obrigatoriedades. Cada perfil é personalizado pelo/a usuário/a, refletindo uma variedade de elementos escolhidos. De início, concentramos os esforços na observação e obtenção de elementos sobre a pandemia de Covid-19 e, concomitantemente, dos efeitos e resultados que a envolvem, como é o caso da vacinação, por exemplo. Isto posto, do total de perfis provenientes do campo, separamos todos os que citaram algo relacionado à pandemia em suas descrições, como também aqueles que adicionaram a informação Covid-19 no item vacina do app, e nesse processo obtivemos o total de 40 perfis.

Em janeiro de 2023, exploramos o site oficial do Grindr11 11 Disponível em: Grindr: The World’s Largest Social Networking App for LGBTQ People. , nosso segundo artefato cultural midiático, e realizamos a captura dos dados referentes à pandemia. Nele, fizemos prints das informações presentes na aba “Central de Ajuda” > “Segurança e Privacidade” > “Privacidade” > “Privacidade de informações médicas”12 12 Disponível em: Privacidade de informações médicas - Central de Ajuda (grindr.com) . Também na aba “Central de Ajuda”, realizamos prints das informações presentes no tópico “Recursos para a Comunidade” > “Perguntas frequentes sobre saúde sexual”13 13 Disponível em: Perguntas frequentes sobre saúde sexual - Central de Ajuda (grindr.com) , a fim de explorar informações pertinentes sobre o assunto.

Ainda na “Central de Ajuda”, no período analisado, havia um ícone chamado Grindr + Covid, que nos redirecionou à página Sex and Covid14 14 Disponível em: Sex & COVID - BHOC (bhocpartners.org) . Ela se encontra originalmente em inglês, porém existe a possibilidade de traduzir a página para outros idiomas através do recurso “Página Traduzida” do próprio navegador, sendo este o recurso utilizado para tradução da página. Nele foi possível encontrar prescrições para perguntas, tais como: há obrigatoriedade em compartilhar informações médicas no aplicativo com demais usuários? Quem são as pessoas que podem ter acesso a essas informações? Por que o Grindr está coletando essas informações? Essas informações serão compartilhadas com anunciantes? O que o Grindr está fazendo para garantir a proteção das minhas informações médicas?

Na seção “Perguntas frequentes sobre saúde sexual”, encontramos quinze links diferentes que direcionam para páginas específicas abordando temas como vacinação contra Covid-19 e varíola dos macacos, PrEP, PEP e HIV. Esta seção oferece informações sobre o uso de medicamentos para o HIV, PEP ou PrEP em pessoas transgêneros que fazem uso de hormônios, abrangendo diversas questões relacionadas à saúde sexual. Ao acessar “Grindr + Covid”, fomos redirecionados para bhocpartners.org, site do Building Healthy On-line Communities15 15 Em tradução livre significa Construindo Comunidades On-line Saudáveis. (BHOC) que apoia a prevenção do HIV e DSTs16 16 Esta é a sigla usada pelo site e refere-se a Doenças Sexualmente Transmissíveis, porém a denominação adotada pelo Ministério da Saúde desde 2016 é Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST). on-line, contando com parcerias das redes de saúde pública e privada. O site fornece informações cruciais sobre o tema e uma delas é que

Cada vez mais pessoas estão se conectando digitalmente e isso afeta a saúde sexual de uma maneira totalmente nova. Building Healthy On-line Communities é um lugar onde profissionais de Saúde Pública e proprietários de aplicativos trabalham juntos para apoiar a saúde dos homens gays que atendem às realidades atuais17 17 Increasingly more and more people are connecting digitally and that affects sexual health in an entirely new way. Building Healthy Online Communities is a place where Public Health professionals and app owners work together to support gay men’s health meeting current-day realities. (Bhoc, 2023BHOC, Partners. Building Healthy Online Communities. Disponível em: https://bhocpartners.org/ [Acessado em 22.01.23].
https://bhocpartners.org/...
, tradução nossa).

Por se voltar a determinadas prescrições de saúde contemporâneas da comunidade LGBTQIA+, especialmente, de homens que se relacionam com homens e à difusão de informações seguras, o site se vincula ao Grindr por destacar a importância da vacinação contra Covid-19 e de seus protocolos de biossegurança e por responder a outras doze questões acerca da pandemia, vacinação e outros.

Após explorar o site, suas ferramentas, informações e parcerias, prosseguimos para nosso terceiro momento, a análise do artefato Instagram, plataforma na qual o Grindr tem um perfil. A partir desse perfil, obtivemos acesso aos posts e reels18 18 Reel é uma funcionalidade presente nas plataformas Instagram e Facebook, por exemplo. Trata-se de uma ferramenta de criação e compartilhamento de vídeos curtos e dinâmicos. sobre variados assuntos, porém nos ativemos aos que se relacionaram à pandemia. Checamos essas informações por meio das postagens que se iniciaram em janeiro de 2023 até alcançar janeiro de 2020, ou seja, seguindo a ordem decrescente de conteúdos publicados nessa rede social. Como essa rede está totalmente em inglês, separamos as palavras-chave “pandemic”, “Covid”, “isolation”, “vaccine”, “quarantine”, “mask” e “social distance” para funcionarem enquanto filtro dos conteúdos.

Dessa forma, no ano de 2023, não foram obtidas postagens referentes ao tema com uso das palavras-chave aplicadas. Seguidamente, chegamos a um primeiro reels, uma das únicas publicações referentes à pandemia, este feito em 03 de outubro de 2022. Nele havia um print do novo recurso do app, a tela de vacina. Em 2021, no Instagram verificado19 19 Trata-se de uma conta que foi oficialmente autenticada pela plataforma. Essas contas exibem um selo azul de verificação ao lado do nome do usuário, indicando sua autenticidade e oficialidade. A verificação é concedida a celebridades, figuras públicas, marcas e organizações, visando aumentar a credibilidade, além de distinguir uma conta autorizada de uma que seja falsa. do Grindr, somaram-se três postagens ao longo de todo o ano, sendo a primeira de 14 de janeiro de 2021 que trata de um vídeo sobre o uso da máscara. O segundo post refere-se a uma pesquisa feita pelo Grindr, anunciado com a frase “#ÚLTIMA HORA: o romance não está morto. Perguntamos a 10.000 usuários do Grindr como seus comportamentos e expectativas mudaram desde o início da pandemia [...]”20 20 #BREAKING: romance isn’t dead we asked 10,000 Grindr users about how their behaviors and expectations have changed since the pandemic’s onset [...] . A última publicação deste ano trouxe uma pesquisa sobre o ressurgimento da prática sexual em locais públicos durante a pandemia.

No que se refere ao ano de 2020, obtivemos publicações que apresentaram alternativas à vivência na quarentena. O primeiro post no Instagram nesse ano que trouxe diretamente informações sobre a pandemia foi publicado em 25 de março, o qual veremos adiante. Ao final, de janeiro de 2023 a janeiro de 2020 obtivemos prints de 33 publicações nesta plataforma.

Em seguida, o artefato Facebook21 21 Disponível em Grindr | Facebook foi outro tema análise de dados, apresentando uma duplicação das publicações do Instagram. Apesar de ser originalmente em inglês, o Facebook oferece o recurso de tradução de legendas, eliminando a necessidade de plataformas de tradução externas. Ao final, realizamos capturas de tela das 33 publicações identificadas, avançando para o próximo artefato.

No quinto momento, ao explorarmos o artefato Twitter, utilizamos as mesmas palavras-chave que usamos no Instagram e analisamos os conteúdos em ordem decrescente na timeline22 22 Timeline é uma palavra em inglês que significa “linha do tempo” que, por sua vez, segue uma sequência de eventos em ordem cronológica. . Entre janeiro de 2023 e março de 2021, identificamos seis publicações sobre a pandemia. O Twitter (2023TWITTER. Central de Ajuda: Ajuda com tweets ausentes. Ajuda com Tweets ausentes [on-line]. Disponível em: Ajuda com Tweets ausentes (twitter.com). [Acessado em 26.01. 23].
twitter.com...
) esclarece que há restrições na exibição de tweets na timeline devido à capacidade de indexação, garantindo recuperação instantânea de informações e pesquisa. Em outras palavras, tweets mais antigos não estão perdidos, mas podem não ser exibidos sempre, limitando nossa amostragem até 14 de março de 2021.

Concomitantemente, após esse processo, fomos ao encontro de nosso último tópico entre os artefatos: obter dados no TikTok, que fez sua primeira postagem no dia 20 de abril de 2021 - portanto, não há nesta plataforma a produção de conteúdo durante o ano de 2020. Desde janeiro de 2023 até a data da primeira publicação não foram encontrados nos vídeos e/ou legendas menções à pandemia de Covid-19.

Diante das lacunas percebidas nos meios de comunicação analisados, buscamos produzir algumas reflexões acerca das estratégias usadas pelo Grindr no qual uma abordagem mercadológica em relação à pedagogia da saúde, minimizando a menção à pandemia, tenha se manifestado nos desdobramentos do exercício do cuidado de si de seus/suas usuários/as.

A combinação entre interesse econômico e controle biopolítico revela como as estruturas de poder se sobrepõem à vida humana em momentos de crise em prol da lucratividade. Trata-se, conforme o filósofo camaronês Achille Mbembe (2016)MBEMBE, Achille. 2016. “Necropolítica”. Arte & Ensaios: revista do ppgav/eba/ufrj. Dezembro de 2016. Vol. 2, nº 32, p. 123-151., de exercer controle sobre a mortalidade, subjugando a vida ao poder da morte (necropolítica), ao passo que as relações entre resistência e renúncia se reconfiguram profundamente, como veremos em análises adiante.

Currículo de possibilidades e limites: um olhar acerca da pedagogia da saúde no Grindr

Foi possível observar que de janeiro de 2023 a janeiro de 2020 mais de 90 menções à pandemia do novo coronavírus foram feitas, fossem elas diretas às atenções e ponderações a respeito da temática, como o uso de máscara, ou indiretas, com publicação de novas músicas e/ou artistas anunciados/as na quarentena. Desse total, 22 menções foram dedicadas, pontualmente, à pandemia, à vacinação, ao uso da máscara, aos cuidados, às guias de ajuda e/ou suporte sobre o tema.

Nas redes sociais no ano de 2020, encontramos uma publicação que trouxe informações diretas sobre os cuidados da pandemia. As demais publicações (27) usavam a quarentena para promover interação com os/as usuários/as. Neste sentido, durante o ano de 2020, a preocupação e os esforços do Grindr foram, em nível majoritário, vertidos em indicações de programas de tv, músicas, artistas, séries de tv, bibliotecas on-line, festas on-line, salas de bate-papo, entrevistas, OnlyFans23 23 Serviço de conteúdo por assinatura, muitas vezes de caráter sexual e erótico que pode incluir imagens, vídeos, textos e outros tipos de mídia. Tanto o Grindr quanto o Onlyfans são espaços onde a expressão da sexualidade é valorizada e muitas vezes incentivada. , “dicas” para namoro na quarentena, “dicas de autocuidado”24 24 O termo com aspas identifica sua utilização pelo Grindr nas plataformas analisadas. A leitura que fazemos, conforme anteriormente exposto, é o cuidado de si a partir dos estudos de Foucault, porém o Grindr usa o termo em suas publicações e foi transferido dessa forma, tanto para a citação direta quanto para os momentos em que o texto faz menção à leitura do Grindr sobre cuidado. na quarentena, shows para acompanhar on-line e previsões de signos na quarentena.

Uma informação pontual sobre a pandemia foi feita em 25 de março de 2020. Esta publicação trouxe uma sequência de duas recomendações em forma textual. O texto da primeira diz:

FIQUE EM CASA

FIQUE CONECTADO

A melhor maneira de retardar a propagação do coronavírus e proteger a sua comunidade é ficar em casa e evitar encontros presenciais. Em alguns lugares, isto é uma exigência, mas é uma boa ideia para todos.

Ficar seguro em casa ainda pode ser sexy. Você é o seu melhor parceiro sexual, então reserve um tempo para praticar o autocuidado 😉

Além de você, especialistas em saúde dizem que seus próximos parceiros mais seguros são aqueles com os quais você já mora25 25 STAY HOME. STAY CONECCTED. The best way to slow the spread of coronavirus and protect your community is to stay home and avoid meeting up in-person. In some places, this is requirement, but it’s a good idea for everyone. Staying safe at home can still be sexy. You are your own best sex partner, so take some time to practice self-care 😉. Besides yourself, health experts say your next safest partners are the ones you already live with. (Grindr, 25 de março, 2020, tradução nossa).

A imagem seguinte provê continuidade no discurso e sugere maneiras de vivenciar a quarentena ao dizer,

ISOLADO,

MAS NÃO SOZINHO

[...] Aqui estão algumas maneiras de se conectar durante o surto:

* Encontre-se virtualmente com fotos, áudio, bate-papo por vídeo, e bate-papo em grupo

* Flerte e conheça pessoas no aplicativo: discuta livros, filmes, carreiras e defeitos

* Entre em contato com outro usuário do Grindr para obter suporte se você está se sentindo sozinho ou com medo, ou apoie alguém que é

* “Agora Mesmo” pode esperar - em vez disso, faça planos para se encontrar no futuro26 26 ISOLATED, BUT NOT ALONE. Being isolated doesn’t mean being alone. Here are some ways to connect during the outbreak: * Meet up virtually with photos, audio, video chat, and group chat. * Flirt and get to know people on the app: discuss, books, movies, careers, and kinks. * Reach out to another Grindr user for support if you’re feeling lonely or scared, or support someone who is. * “Right Now” can wait - make plans to meet up in the future instead. (Grindr, 25 de março, 2020GRINDR. Fazer a sua parte para combater a pandemia global de coronavírus significa ficar em casa. 2020. Elaborada por: Instagram; @grindr. Disponível em: https://www.instagram.com/p/B-KrZC4n4eV/ [Acessado em 15.03.23].
https://www.instagram.com/p/B-KrZC4n4eV/...
, tradução nossa).

Anterior e posteriormente a esta publicação, não encontramos mais menções específicas sobre os riscos da pandemia e seus protocolos de segurança durante o ano de 2020. Acrescentamos que, conforme a pesquisa de Castro (2021)CASTRO, Rosana. 2021. “Necropolítica e a corrida tecnológica: notas sobre ensaios clínicos com vacinas contra o coronavírus no Brasil”. Horiz. Antropológicos. Abril de 2021. Vol. 27, nº 59, p. 71-90., o vírus (Sars-CoV-2) avançou rapidamente sobre diferentes continentes, passando de um agente infeccioso supostamente local para uma ameaça epidemiológica global e, para a contenção dos danos humanitários e econômicos associados ao vírus, teve início uma corrida em busca de uma vacina que, no Brasil, foi oferecida somente em 2021.

Desse modo, compreendemos que o isolamento social em 2020 foi tido/lido como importante fator de contenção da pandemia, o que torna compreensível por que o Grindr se concentrou nos segmentos que surgiram durante a quarentena, ao passo que prescrever “Fique em casa - Fique conectado” implica, além do cuidado, um sentido mercadológico vantajoso a empresa que não pode deixar “perder” seus/suas usuários/as.

Com isso, entendemos que esta publicação, realizada no início da pandemia, traz consigo um caráter informativo e pedagógico, sendo um exemplo do currículo possibilitador, por desenvolver as noções de cuidado de si proposto pelo Grindr, que não deixou de pensar as relações entre sexualidade e Covid-19, ao passo que ser a única publicação e prescrever “Fique conectado” nos remete aos tensionamentos entre as informações de cuidado e a viabilização de ganhos financeiros para a empresa, por exemplo.

Durante os dois anos seguintes, encontramos quatro menções precisas à pandemia nas redes sociais do Grindr. A primeira foi feita em 14 janeiro de 2021, a outra em 12 fevereiro e a terceira, neste mesmo ano, foi publicada em 9 de abril. A última publicação, feita em 3 de outubro de 2022, fala sobre a vacinação e a atualização do aplicativo de relacionamentos que incluiu o item “vacinas”.

Essas publicações têm, de modo geral, um caráter informativo e/ou investigativo sobre comportamentos, práticas e hábitos que se reformularam durante a pandemia. Em resultados de uma enquete compartilhada pelo Grindr em abril e dezembro de 2021 é possível observar que a prática sexual, apesar das limitações provenientes da pandemia e suas circunscrições, foi mediada dentro de um currículo possibilitador de cuidado por meio do cruising, que consiste na prática de sexo em locais públicos e de maneira quase sempre anônima, e na pandemia, com o uso de máscaras em lugares abertos, como parques.

Os autores Adriel Christ e Inês Hennigen (2022CHRIST, Adriel Giordani; HENNIGEN, Inês. 2022. “Apenas um perfil no Grindr? Montando um corpo marcado”. Sexualidad, Salud y Sociedad - Revista Latinoamericana. Julho de 2022. N° 18, p. 2-22.), ao refletirem acerca da produção de corpos e os modos de subjetivação presentes no aplicativo de relacionamentos Grindr, compreendem o aplicativo como um vetor do dispositivo da sexualidade, pensado por Michel Foucault em História da Sexualidade por acionar processos que promovem a produção de corpos marcados, de modo que exista, sobre o sujeito, incessantes constituições de verdades, o que acaba conduzindo suas condutas. Os autores explicam que, ao utilizar o Grindr, é necessário criar um perfil, que tem a finalidade de representar o/a usuário/a, com destaque para seu corpo. Contudo, os corpos são marcados social, simbólica e materialmente, tanto pelo próprio sujeito como pelos outros, através dos mecanismos de produção e edição do perfil, por meio das ferramentas e das funcionalidades disponibilizadas pelo app.

No contexto do compartilhamento da pesquisa sobre cruising, a lógica de categorização e classificação dos/as usuários/as pode ser entendida como uma forma de exercício de poder, que busca controlar e regular as interações e as relações estabelecidas fora da plataforma, revelando que existem possibilidades de encontros, mesmo que estas ocorram através de estratégias de controle e vigilância. Com o ressurgimento do cruising, alinhado às novas práticas sexuais de seus/suas usuários/as, nota-se, baseado no estudo de Miguel Escalante e Guillermo Noriega (2021ESCALANTE, Miguel Angel Esparza; NORIEGA, Guillermo Núñez. 2021. “Motivaciones, significados y riesgos en los encuentros sexuales de hombres gays de la Ciudad Autónoma de Buenos Aires en el contexto del covid-19”. Sexualidad, Salud y Sociedad - Revista Latino-Americana. 2021. N° 37, p. 2-21.), que a pandemia foi incorporada a um extenso contexto em que a prática sexual entre homens fora caracterizada por sentimento de culpa, medo, vergonha, estigma e, sobretudo, clandestinidade. Os autores reiteram que o campo do sexo e da sexualidade, constituído histórico e culturalmente, veicula, de forma majoritária, sentidos tradicionais de “normal e anormal”, “proibido e permitido”, entre outros, limitando estrategicamente as práticas.

Dito isto, consideramos o impacto da Covid-19 na relação indivíduo-sociedade para, conforme Esmael Oliveira, Marcos Silva e Ceres Víctora (2019OLIVEIRA, Esmael Alves de; SILVA, Marcos Aurélio da; VÍCTORA, Ceres Gomes. 2019. “Nos contornos do corpo e da saúde: entre temas, problemas e perspectivas”. Aceno: Revista de Antropologia do Centro-Oeste. Dezembro de 2019. Vol. 12, nº 6, p. 11-14.), pensarmos que as políticas de saúde - e aqui incluímos também o fenômeno pandêmico, suas possibilidades de cuidado de si, saúde e existências - impulsionaram modos de subjetivação tanto adesistas como dissidentes, manifestados, por exemplo, no ressurgimento do cruising, lido como uma forma “proibida” e, portanto, clandestina, ao passo que reflete a produção de novos delineamentos das condutas mediante a pandemia, que lhe confere um sentido de resistência.

Desse modo, procuramos observar como a produção dos conteúdos tende tanto ao engendramento de uma pedagogia da saúde com currículos de limites quanto uma do cuidado de si, viabilizando novas formas de existências, regulações e condutas, alçando as práticas sexuais de seus/suas usuários/as, ou seja, produzindo um currículo de possibilidades e limites que se entrecruzam. Este cenário, que implica saúde consoante Ruann Ruani, Dilton Couto Junior e Ivan Amaro (2021RUANI, Ruann Moutinho; COUTO JUNIOR, Dilton Ribeiro; AMARO, Ivan. 2021. “Na quarentena, o tesão pode ser o pior inimigo: conversando com homens usuários do grindr sobre namoro e ‘pegação’ em tempos de pandemia”. Textura: Revista de Educação e Letras. Setembro de 2021. Vol. 23, nº 55, p. 215-234.), concede margem à construção de novas linguagens, expressões e relações, por evidenciar a necessidade de manutenção acerca das interações sociais e sexuais. Assim, incitam-se produções às diferentes formas de composições, estilização dos corpos e discursos, os quais posteriormente serão lidos por outros usuários (Montecio; Rosa, 2022MONTECIO, Gabriela Alencar; ROSA, Marcelo Victor da. 2022. “‘Aqui reina o respeito, mas...’: as dimensões pedagógicas do aplicativo Grindr em Campo Grande, MS”’. Série-Estudos - Periódico do Programa de Pós-Graduação em Educação da UCDB. Dezembro de 2022. Vol. 27, n° 61, p. 141-164.).

Na medida em que, em diferentes artefatos culturais midiáticos, o Grindr tenha se preocupado com as questões da Covid-19, principalmente com a inclusão do item “vacinas” como possibilidade de informação à composição de um perfil, a divulgação dos procedimentos de biossegurança nos meios de comunicação analisados não se mostrou majoritariamente assídua, e neste sentido buscamos pensar se (ou quanto) esse currículo dialogou, dialoga e cruza com as experiências e as produções de discursos e performances no aplicativo de relacionamentos do Grindr.

Dos 320 perfis obtidos na pesquisa, 40 adicionaram informação sobre a vacina, fosse ela no próprio item do app, nickname e/ou descrições do perfil, o que representa 12.5% do total de perfis; assim, 87.5% não consideraram a informação importante e/ou relevante para a construção de um perfil na plataforma. Consideramos também que o Grindr disponibilizou, no aplicativo de relacionamentos, o recurso “vacinas” no final do ano de 2022, cerca de 21 meses após a mobilização mundial para a vacinação, iniciada em 2021, como mencionado na introdução.

O tempo entre a instauração da vacina como principal procedimento contra o novo coronavírus e a atualização do aplicativo nos mostra como o currículo de limites ensinou tanto quanto o das possibilidades, posto que a dilatação entre os eventos supracitados tenha favorecido a não utilização do recurso. Outro ponto que pode ter favorecido a não adesão a essa opção se relaciona ao imaginário social em que todas as pessoas já estariam vacinadas e, portanto, seguras.

Para pensarmos os 12.5% de adesão à informação “vacinas”, acrescentamos, consoante com a leitura de Castro (2021)CASTRO, Rosana. 2021. “Necropolítica e a corrida tecnológica: notas sobre ensaios clínicos com vacinas contra o coronavírus no Brasil”. Horiz. Antropológicos. Abril de 2021. Vol. 27, nº 59, p. 71-90., que as falas oficiais do então presidente Jair Bolsonaro se distanciaram da realidade da doença e passaram a produzir mais sistematicamente uma narrativa de negação da gravidade do novo coronavírus, acusando certas mídias de espalhar “pânico” e causar “histeria” na população, além de chamar governadores e prefeitos que adotaram medidas de “confinamento em massa” de “irresponsáveis”. Não o bastante, o ex-presidente também chamou a Covid-19 de “gripezinha” (Castro, 2021CASTRO, Rosana. 2021. “Necropolítica e a corrida tecnológica: notas sobre ensaios clínicos com vacinas contra o coronavírus no Brasil”. Horiz. Antropológicos. Abril de 2021. Vol. 27, nº 59, p. 71-90.).

Conforme Ruani, Teixeira e Couto Junior (2022)RUANI, Ruann Moutinho; TEIXEIRA, Marcelle Medeiros; COUTO JUNIOR, Dilton Ribeiro. 2022. “‘ISSO JÁ PASSOU, TÁ GERAL SE PEGANDO JÁ’: investigando os usos do grindr em tempos de pandemia”. Redoc: Revista Docência e Cibercultura. Abril de 2022. Vol. 6, nº 2, p. 134-149., as falas do então chefe do Executivo nacional contribuíram para uma retórica negacionista que alimentava a banalização da doença e a naturalização das mortes. Neste ínterim, para Couto, Barbieri e Matos (2021)COUTO, Marcia Thereza; BARBIERI, Carolina Luisa Alves; MATOS, Camila Carvalho de Souza Amorim. 2021. “Considerações sobre o impacto da COVID-19 na relação indivíduo-sociedade: da hesitação vacinal ao clamor por uma vacina”. Saúde e Sociedade. Março de 2021. Vol. 30, nº 1, p. 1-11., o posicionamento contrário às medidas de enfrentamento da Covid-19 se relacionou com a forma como vivenciamos, como sujeitos historicamente situados, a recusa e o descrédito às medidas de isolamento, distanciamento e/ou imunização. Essa problemática se relaciona, fundamentalmente, com a negação do bem comum como lógica societária. Pelo que se apresenta, as teorias conspiratórias se deslocaram do lucro das indústrias farmacêuticas para o “vírus chinês” e o “chip na vacina”27 27 Durante a pandemia de Covid-19, as expressões ganharam destaque devido a teorias da conspiração. “Vírus chinês” foi utilizado por algumas pessoas para se referirem à pandemia do novo coronavírus devido à sua origem em Wuhan, na China, e as menções normalmente reverberavam discursos estigmatizadores e xenofóbicos. “Chip na vacina” refere-se à alegação infundada de que as vacinas contra a doença continham dispositivos de rastreamento, alimentando teorias sobre controle populacional. Ambas as expressões foram desacreditadas pela comunidade científica (Conceição, 2021). e se fortificaram nos discursos de desimportância da doença, que a reduziam a uma “gripezinha” e, como vimos, possivelmente é um motivo para compreendermos a baixa adesão ao preenchimento do item relacionado à vacina na construção de um perfil no aplicativo que analisamos.

Dito isto, podemos olhar para o aplicativo Grindr como uma plataforma que também se utiliza de um dispositivo que opera relações de poder que incidem nos corpos, nas sexualidades, nas subjetivações, principalmente em tempos pandêmicos, no qual saber quem se vacinou ou quem procurava encontros sexuais permitiam um conhecimento fundamental para os múltiplos efeitos de poder nas relações ali estabelecidas.

No contexto desta pesquisa, apontamos que esse espaço delimitado de observação dos comportamentos humanos potencializa a vigilância, a disciplina e, logo, a punição das condutas, estando relacionado ao panoptismo descrito por Foucault (2004)FOUCAULT, Michel. 2004. Vigiar e punir: nascimento da prisão. 29ª edição. Petrópolis: Vozes.. Em Foucault, mais do que um esquema de vigilância, o panoptismo implica as relações de poder que resultam na docilização das subjetividades e na produtividade dos corpos e, no âmbito desta pesquisa, associamos esses efeitos do poder, por exemplo, aos/às usuários/as que infringiram as medidas governamentais de restrição de circulação, como o lockdown para a prática do cruising.

Para Castro (2021)CASTRO, Rosana. 2021. “Necropolítica e a corrida tecnológica: notas sobre ensaios clínicos com vacinas contra o coronavírus no Brasil”. Horiz. Antropológicos. Abril de 2021. Vol. 27, nº 59, p. 71-90., a concretude de trajetórias precarizadas de acesso a equipamentos básicos à vida digna se configura mediante dispositivos e operações necropolíticas sanitárias, acionando ferramentas de seleção sobre quem merece viver. Ao analisarmos como certas vidas foram expostas ao risco de morte de forma deliberada, o Grindr, interseccionado ao lockdown e ao cruising, pôde evidenciar a vulnerabilidade de dada prática sexual.

A partir das contribuições de Michel Foucault (1999FOUCAULT, Michel. 1999. História da sexualidade 1: a vontade de saber. 13ª edição. Rio de Janeiro: Edições Graal., 1998FOUCAULT, Michel. 1998. História da sexualidade 2: o uso dos prazeres. 8ª edição. Rio de Janeiro: Edições Graal., 2005FOUCAULT, Michel. 2005. História da sexualidade 3: o cuidado de si. 8ª edição. São Paulo: Edições Graal.), investigamos como essas práticas relacionadas à contenção e à minimização da pandemia dizem respeito a uma formulação, a partir da ciência, de dispositivos - e neste caso, biopolíticos - que regulamentaram e regulamentam códigos, normas, procedimentos, regras, saberes e verdades que vão, perenemente, nos subjetivando. Neste sentido, lembramos do conceito foucaultiano de subjetivação, que implica não somente como o sujeito é formado, mas também como o sujeito se torna capaz de se formar. Para Foucault, em História da Sexualidade (1999, 1998, 2005), os regimes de verdade que vão sendo colocados em funcionamento passam a ser aceitos como verdades; em contrapartida, elas não operam de maneira fixa e imutável, mas sim provisórias e históricas.

A provisoriedade, neste caso, intrínseca à história e, portanto, dentro do contexto pandêmico estudado, tem seu sentido denotativo no caráter impermanente e, por muito, não adesista do uso da categoria “vacinas” do aplicativo, que, como vimos, se trata na verdade de um complexo engendramento de discursos, práticas, retóricas e verdades. Em Foucault (1999FOUCAULT, Michel. 1999. História da sexualidade 1: a vontade de saber. 13ª edição. Rio de Janeiro: Edições Graal., 1998FOUCAULT, Michel. 1998. História da sexualidade 2: o uso dos prazeres. 8ª edição. Rio de Janeiro: Edições Graal., 2005FOUCAULT, Michel. 2005. História da sexualidade 3: o cuidado de si. 8ª edição. São Paulo: Edições Graal.), as escolhas, as atitudes, os posicionamentos, as ações e os discursos que constituem os sujeitos se dão na vivência/existência em sociedade.

Dito isto, destacamos que os procedimentos pelos quais os sujeitos exercem controle sobre si próprios e a maneira pela qual se pode estabelecer a plena soberania sobre si seguem uma norma social, nesse viés, proposta pela pedagogia da saúde, que estabeleceu formulações discursivas próprias, mas que também imbrica o desenvolvimento dessa arte da existência foucaultiana, visto que os/as usuários/as, quanto à adesão do item “vacinas” na descrição do perfil, deram importância maior à sua não utilização, a partir do momento em que algumas possibilidades existiram.

Uma delas foi a de não haver sentido comunicar estarem vacinados/as, já que houve essa dilatação do tempo entre o ápice da vacinação e a instauração da atualização do aplicativo, que ocorreu muitos meses depois. Outro ponto se refere aos elementos que denotam e remontam essa negação de direitos à saúde, o caráter político da não vacinação vetorizada pelo negacionismo ou simplesmente de o/a usuário/a não ter percebido que o aplicativo sofreu uma atualização e que, com isso, houve a inclusão do item.

Considerações finais

Assim, compreendemos os currículos limitadores e possibilitadores como produção, segundo o Grindr, por meio dos artefatos analisados, no sentido de conceder margem à promulgação de uma pedagogia da saúde, mas também como produto, por se engendrar às novas práticas, às estratégias e aos processos de subjetivação que refletem dinamicamente as relações de poder e controle social oriundas do cenário pandêmico. Ou seja, compreendendo o currículo não apenas como um conjunto de conhecimentos, mas também como um processo culturalmente construído e em constante diálogo com as dinâmicas sociais, políticas e econômicas.

Concomitantemente, a produção de discursos por parte do Grindr borra a fronteira entre saúde e doença por viabilizar novas possibilidades do cuidado de si, que desafiam os discursos hegemônicos e suas prescrições, como, por exemplo, a orientação do lockdown ser negociada para a prática do cruising com uso da máscara como equipamento de segurança.

Para além de uma perspectiva moralizante, dialogamos, teorizamos e analisamos currículos que, em meio ao caos, envolvem o atravessamento das questões de gênero e sexualidade junto à saúde, como foi o caso da pandemia e pós-pandemia de Covid-19, e como essas práticas e esses discursos que fazem parte de cotidianos diversos, inclusive para entender (e admitir) seus limites e possibilidades, foram importantes na constituição de contextos particulares de existências e experiências para seus/suas consumidores/as e/ou usuários/as.

O Grindr como prolongamento do campo sexual passa pela concepção de novos espaços políticos, modalidades e regulamentações, códigos, comportamentos e relações que vão, constantemente, sendo articulados a determinados grupos e sujeitos. Isto posto, por mais que nas relações exista um jogo de moral, condutas e ética que se reproduz e se desloca entre tempos, é certo que existe no entremeio desses valores e normas um jogo complexo que concede aos sujeitos diversas maneiras de compromisso ou fuga.

Dos 320 perfis obtidos em nosso campo no aplicativo de relacionamentos do Grindr, dois informam na descrição de seus perfis, respectivamente, “CADÊ OS MAMADORES? 100% VACINADO [...]” e; “vacinado! defenda o SUS28 28 Sistema Único de Saúde. [...] Acredito na ciência e no SUS”, enquanto os outros 318 perfis provenientes da pesquisa não consideraram informações sobre a pandemia, vacinação, máscara, entre outros, como elementos para compor a lacuna destinada à escrita de uma biografia em seu perfil no app.

Outra questão, abordada no decorrer da escrita, refere-se à falta de adesão ao item “vacinas”, que pode ser atribuída a diferentes razões engendradas nas práticas do cuidado de si e assujeitamento, influenciadas por construções sociais e discursivas específicas. Apesar de haver por parte do Grindr preocupações com a saúde pública, os interesses comerciais da empresa se sobrepuseram à promoção da segurança de seus/suas usuários/as, como foi o caso da atualização tardia do aplicativo, por exemplo.

Em seguida, a baixa adesão ao item sugere que a percepção dos/as usuários/as sobre a relevância da vacinação estava diminuída, o que pode ter ocorrido devido à influência de crenças e desconfianças em relação às instituições e autoridades em saúde, pandemia e vacinação, ressaltando como questões políticas e ideológicas atuam nas escolhas individuais e coletivas em relação à saúde.

Para Foucault (1998)FOUCAULT, Michel. 1998. História da sexualidade 2: o uso dos prazeres. 8ª edição. Rio de Janeiro: Edições Graal., o indivíduo determina sua posição em relação aos preceitos que respeita, construindo um modo de ser que representa sua realização moral. Para alcançar este objetivo, ele age sobre si mesmo, busca conhecer-se, exercendo controle, submetendo-se a testes, aprimorando-se. Assim, a ação moral não se dissocia dessas formas de atividades sobre si ou dos sistemas de valores, de regras e de interdições.

Tendo em vista que a pandemia de Covid-19 encadeou um cenário inédito de isolamento físico, as possibilidades de encontros pareciam impróprias, mas, como já frisamos, as realidades nas quais as relações se constituem são muito complexas. Se, por um lado, contemplamos a produção de discursos e práticas engendradas ao currículo possibilitador, como a investida do site em parcerias com a Building Healthy Online Communities veiculando informações seguras sobre HIV, IST e Covid-19, por outro, vimos operar os limites da pedagogia da saúde proposta pelo Grindr em seus artefatos analisados, como a pouca atenção dada ao Twitter e ao TikTok como significativos veículos de informações, visto que estas são plataformas de grande alcance e se encontram entre as 16 redes mais usadas no mundo29 29 https://resultadosdigitais.com.br/marketing/redes-sociais-mais-usadas-no-brasil/ .

Analisando as pesquisas realizadas pelo Grindr e suas “dicas de autocuidado” para redução dos riscos de contágio durante um encontro casual na pandemia, com base em Castro (2021)CASTRO, Rosana. 2021. “Necropolítica e a corrida tecnológica: notas sobre ensaios clínicos com vacinas contra o coronavírus no Brasil”. Horiz. Antropológicos. Abril de 2021. Vol. 27, nº 59, p. 71-90., concluímos que houve um reforço na relação entre capitalismo e necropolítica tendo em vista que promover-se como plataforma atraente para consumo/uso, mesmo durante a pandemia, nos mostra que, em cada artefato, delimitações, conhecimentos, condições e negociações são possibilitadas nas quais, tensões entre a pedagogia da saúde e seus currículos emergem.

Por mais que o Grindr pareça se empenhar na implementação de medidas de cuidado diante da pandemia, ele também identifica uma oportunidade de mercado. Isto acontece porque as pedagogias são um complexo campo de aprendizado, onde informar e omitir operam como formas distintas de ensinar e aprender.

Neste sentido, a informação fornecida instrui tanto quanto a desinformação e esse cenário pedagógico, tensionado à mercantilização da morte e ao direito à vida, nos possibilita examinar como o poder se exerce através da gestão da morte e da exposição à morte por meio das políticas governamentais que trouxemos para a escrita, bem como através das informações presente nas plataformas do Grindr e as escolhas que os/as usuários/as fazem ao se inserirem no aplicativo.

Olhando para o mesmo cenário com a potência da pedagogia da saúde aqui analisada e seus currículos, concluímos que o Grindr se preocupou em fornecer possibilidades a seus/suas usuários/as que, com base em suas pesquisas, não deixaram de manter os encontros presenciais, agenciando assim um currículo atravessado por possibilidades e limites facultados na complexa realidade em que a pandemia de Covid-19 nos colocou.

  • 1
    O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (Capes) - Código de Financiamento 001.
  • 2
    Tais como a mídia de massa (jornais, revistas, rádio e televisão, assim como as formas digitais, como redes sociais, blogs e plataformas de streaming), o cinema, a música, a publicidade e os jogos digitais, por exemplo.
  • 3
    Neste caso, uma mulher cisgênero heterossexual em um aplicativo que não é destinado a esse público. A partir do momento em que o perfil sofresse bloqueio dos usuários, não poderíamos mais visualizar o perfil bloqueador, portanto, não teríamos acesso a seus dados para posterior análise, limitando o campo de pesquisa.
  • 4
    O tap é um mecanismo que, ao ser utilizado, notifica o perfil da pessoa de interesse, sem a necessidade de estabelecer um diálogo inicial (Montecio; Rosa, 2022MONTECIO, Gabriela Alencar; ROSA, Marcelo Victor da. 2022. “‘Aqui reina o respeito, mas...’: as dimensões pedagógicas do aplicativo Grindr em Campo Grande, MS”’. Série-Estudos - Periódico do Programa de Pós-Graduação em Educação da UCDB. Dezembro de 2022. Vol. 27, n° 61, p. 141-164.).
  • 5
    Printscreens são capturas de telas que permitem registrar o conteúdo que aparece na própria tela do dispositivo utilizado - neste caso, um smartphone -, e print é a forma abreviada da palavra printscreen.
  • 6
    Mapa das regiões urbanas e bairros, apresentado no Sistema Municipal de Indicadores de Campo Grande/MS (SISGRAN). Disponível em: <https://sisgranmaps.campogrande.ms.gov.br/>. [Acessado em 25.12.2022].
  • 7
    Tag em inglês quer dizer etiqueta. A versão do aplicativo utilizada (8.22.0) permite a utilização dessas tags para compartilhar interesses, que acabam funcionando como palavras-chave.
  • 8
    Foi copiado da internet e colado o mesmo emoji que a pessoa utilizou em seu perfil, seja ele no nickname ou na opção “O que descreve”.
  • 9
    Lacuna destinada à escrita de uma biografia, onde é possível ao/à usuário/a incluir informações sobre ele/ela, seus interesses, condições, entre outros.
  • 10
    Sigla da expressão em inglês “Not Safe for Work”, que traduzida significa “Não seguro para o trabalho”. Este termo funciona como indicativo de alerta para conteúdos impróprios, como é o caso de fotos que contenham nudez explícita.
  • 11
    Disponível em: Grindr: The World’s Largest Social Networking App for LGBTQ People.
  • 12
    Disponível em: Privacidade de informações médicas - Central de Ajuda (grindr.com)
  • 13
    Disponível em: Perguntas frequentes sobre saúde sexual - Central de Ajuda (grindr.com)
  • 14
    Disponível em: Sex & COVID - BHOC (bhocpartners.org)
  • 15
    Em tradução livre significa Construindo Comunidades On-line Saudáveis.
  • 16
    Esta é a sigla usada pelo site e refere-se a Doenças Sexualmente Transmissíveis, porém a denominação adotada pelo Ministério da Saúde desde 2016 é Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST).
  • 17
    Increasingly more and more people are connecting digitally and that affects sexual health in an entirely new way. Building Healthy Online Communities is a place where Public Health professionals and app owners work together to support gay men’s health meeting current-day realities.
  • 18
    Reel é uma funcionalidade presente nas plataformas Instagram e Facebook, por exemplo. Trata-se de uma ferramenta de criação e compartilhamento de vídeos curtos e dinâmicos.
  • 19
    Trata-se de uma conta que foi oficialmente autenticada pela plataforma. Essas contas exibem um selo azul de verificação ao lado do nome do usuário, indicando sua autenticidade e oficialidade. A verificação é concedida a celebridades, figuras públicas, marcas e organizações, visando aumentar a credibilidade, além de distinguir uma conta autorizada de uma que seja falsa.
  • 20
    #BREAKING: romance isn’t dead we asked 10,000 Grindr users about how their behaviors and expectations have changed since the pandemic’s onset [...]
  • 21
    Disponível em Grindr | Facebook
  • 22
    Timeline é uma palavra em inglês que significa “linha do tempo” que, por sua vez, segue uma sequência de eventos em ordem cronológica.
  • 23
    Serviço de conteúdo por assinatura, muitas vezes de caráter sexual e erótico que pode incluir imagens, vídeos, textos e outros tipos de mídia. Tanto o Grindr quanto o Onlyfans são espaços onde a expressão da sexualidade é valorizada e muitas vezes incentivada.
  • 24
    O termo com aspas identifica sua utilização pelo Grindr nas plataformas analisadas. A leitura que fazemos, conforme anteriormente exposto, é o cuidado de si a partir dos estudos de Foucault, porém o Grindr usa o termo em suas publicações e foi transferido dessa forma, tanto para a citação direta quanto para os momentos em que o texto faz menção à leitura do Grindr sobre cuidado.
  • 25
    STAY HOME. STAY CONECCTED. The best way to slow the spread of coronavirus and protect your community is to stay home and avoid meeting up in-person. In some places, this is requirement, but it’s a good idea for everyone. Staying safe at home can still be sexy. You are your own best sex partner, so take some time to practice self-care 😉. Besides yourself, health experts say your next safest partners are the ones you already live with.
  • 26
    ISOLATED, BUT NOT ALONE. Being isolated doesn’t mean being alone. Here are some ways to connect during the outbreak: * Meet up virtually with photos, audio, video chat, and group chat. * Flirt and get to know people on the app: discuss, books, movies, careers, and kinks. * Reach out to another Grindr user for support if you’re feeling lonely or scared, or support someone who is. * “Right Now” can wait - make plans to meet up in the future instead.
  • 27
    Durante a pandemia de Covid-19, as expressões ganharam destaque devido a teorias da conspiração. “Vírus chinês” foi utilizado por algumas pessoas para se referirem à pandemia do novo coronavírus devido à sua origem em Wuhan, na China, e as menções normalmente reverberavam discursos estigmatizadores e xenofóbicos. “Chip na vacina” refere-se à alegação infundada de que as vacinas contra a doença continham dispositivos de rastreamento, alimentando teorias sobre controle populacional. Ambas as expressões foram desacreditadas pela comunidade científica (Conceição, 2021CONCEIÇÃO, Wellington da Silva. 2021. “Quarenteners e Cloroquiners: pandemia e moralidades em disputa”. Fronteiras Plurais. Janeiro/julho de 2021. Vol. 03, nº 1, p. 74-85.).
  • 28
    Sistema Único de Saúde.
  • 29

Referências bibliográficas

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    » https://bhocpartners.org/
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    » https://www.instagram.com/p/B-KrZC4n4eV/
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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    21 Jun 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    20 Nov 2023
  • Aceito
    02 Jan 2024
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