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A agricultura familiar na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), Ceará

Resumo

Este texto objetiva ampliar as discussões em torno da atividade agropecuária em municípios metropolitanos. Nossa reflexão recai especificamente sobre a Região Metropolitana de Fortaleza, no Ceará, e nos permitiu avançar no entendimento da sua agricultura familiar. Para isso, analisamos um conjunto de dados primários e secundários a respeito do perfil do produtor, dos estabelecimentos agropecuários e da produção de alimentos na região metropolitana em análise. Essa abordagem multifacetada nos ajudou a identificar questões-chave relacionadas à produção e aos sistemas alimentares na RMF, bem como mostrou a importância de agenda de pesquisa que busque avaliar o potencial da agricultura familiar nesse contexto específico. A pesquisa menciona as estratégias de produção adotadas, os desafios enfrentados e as oportunidades identificadas pelos agricultores familiares. Discutir a agricultura nos espaços metropolitanos pode articular várias lutas de natureza socioespacial e socioambiental, além de sugerir a elaboração de políticas públicas intersetoriais. Ao oferecer uma visão abrangente, este estudo visa informar a formulação de políticas eficazes, promovendo a sustentabilidade e a resiliência da agricultura familiar em contextos metropolitanos. Esperamos que a reflexão sobre as agriculturas realizadas neste espaço e sua caracterização em contextos municipais e metropolitanos, seja útil aos pesquisadores, gestores e operadores de políticas públicas, bem como demais agentes e instituições interessados na agricultura familiar (e urbana).

Palavras-chave:
Agricultura urbana familiar; Atividade agropecuária Periurbano

Abstract

This article aims to deepen the discussion about agricultural activity in metropolitan cities. Our analysis focuses specifically on the Fortaleza Metropolitan Area (FMA), State of Ceará, Brazil, and allows us to further understand family farming in that area. For this purpose, we reviewed a set of primary and secondary data regarding the profile of the producers and agricultural and food processing establishments in the metropolitan area under analysis. This multifaceted approach helped us identify key issues related to production and food systems in the FMA, and showed the importance of a research agenda focused on evaluating the potential of family farming in this specific context. This study presents the production strategies adopted, the challenges faced and the opportunities identified by family farmers. Discussing agriculture in metropolitan areas help us connect socio-spatial and socio-environmental problems, in addition to enabling us to suggest the development of cross-sectoral public policies. By offering a comprehensive overview, this study aims to contribute to effective policy making, promoting the sustainability and resilience of family farming in metropolitan contexts. We hope that the reflection on agriculture developed in such areas and its characteristics in local and metropolitan scenarios will be helpful to researchers, managers and those responsible for the implementation and execution of public policies, as well as other agents and entities interested in family (and urban) agriculture.

Keywords:
Family urban agriculture; Agricultural activity Periurban

INTRODUÇÃO

A necessidade por informações cada vez mais detalhadas sobre a atividade agrícola nas regiões metropolitanas espalhadas pelo mundo tem sido objeto de atenção constante nos diversos espaços de debate. Os dados existentes ainda apresentam ampla lacuna e, assim, vários desafios se apresentam para sua utilização em estudos e pesquisas e, consequentemente, para o desenvolvimento de políticas públicas. No caso de uma produção agrícola vinculada a agricultura familiar e/ou agricultura urbana (familiar ou não-familiar) e a agroecologia, os entraves para o levantamento e apresentação dos dados são ainda maiores.

A expansão urbana acelerada e a larga demanda por alimentos incrementam um multifacetado sistema de produção, comercialização e abastecimento, que gera, inclusive, grande quantitativo de empregos e renda. O abastecimento e o consumo de alimentos nos espaços metropolitanos e, em especial, nas cidades podem afetar de maneira bastante significativa a viabilidade econômica, a sustentabilidade ambiental, a saúde pública e a qualidade das comunidades (Wiskerke, 2015WISKERKE, J. S. C. Urban food systems. In: ZEEUW, H de; DRECHSEL, P. (org.). Cities and Agriculture: Developing Resilient Urban Food Systems. [S. l.]: Routledge, 2015. cap. 1. https://doi.org/10.4324/9781315716312.
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). O complexo sistema alimentar mencionado dá vida aos circuitos espaciais produtivos (Santos, 1996SANTOS, M. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: Hucitec, 1996.) ao movimentar os alimentos de lugares cada vez mais distantes, a partir dos interesses e vantagens que os conglomerados empresariais alimentares obtêm nessas transações. As metrópoles se apresentam como o destino de grande parte dos alimentos produzidos em outras regiões ou países. Certamente, são grandes polos consumidores, contudo o fato novo é que tem, particularmente nas últimas décadas, relevante papel na organização das formas de comercialização, mas também de produção de alimentos. Smit et al. (1996SMIT, J.; NASR, J.; RATTA, A. Urban Agriculture: Food, Jobs and Sustainable Cities, New York: The Urban Agriculture Network, Inc., 1996.) estimaram ainda no final do século XX, que entre 15 e 20 por cento da produção global de alimentos já era cultivada nas cidades e em seus espaços periurbanos.

Ampliam-se as agendas de pesquisa e políticas públicas direcionadas para os temas dos sistemas alimentares urbanos e agricultura local. Para além de uma preocupação voltada apenas para o tipo de produção e a quantidade produzida de alimentos, as novas abordagens reconhecem que, apesar de sua relevância, outras interações no sistema afetam diretamente a alimentação das populações metropolitanas e produzem diversos impactos socioambientais (FAO, 2018FAO. Sustainable food systems: Concept and framework. [S. l.]: FAO, 2018. Disponível em: http://www.fao.org/policy-support/tools-and-publications/resources-details/en/c/1160811/. Acesso em: 21 jan. 2024.
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). Desse modo, assimilar quais alimentos são produzidos, como e onde são produzidos, como chegam até o consumidor e, sobretudo, qual a relação específica das populações residentes nas regiões metropolitanas e, em especial, em seus espaços urbanos com sua alimentação e agricultura passa a ser prioridade.

A proposta deste artigo consiste em caracterizar a agricultura familiar na Região Metropolitana de Fortaleza (CE), no Ceará, com ênfase nos desafios relacionados à produção de alimentos neste espaço. Para alcançar esse objetivo, utilizamos uma abordagem teórico-metodológica que envolveu a coleta de dados primários por meio da realização de entrevistas com produtores agrícolas nos municípios da RMF, com representantes de todas as Secretarias de Agricultura Municipais, bem como da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará (EMATER), entre outros atores relevantes à temática em debate.

Também realizamos uma análise de um conjunto de dados secundários obtidos junto ao Censo Agropecuário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que abrangem o perfil dos produtores, características dos estabelecimentos agropecuários e informações sobre a produção de alimentos na região metropolitana em estudo. Esses dados secundários forneceram subsídios adicionais para compreendermos o contexto da agricultura familiar na RMF.

A combinação de dados primários e secundários nos permitiu uma análise de parte dos desafios enfrentados pelos produtores de alimentos na região metropolitana. Essa abordagem multifacetada nos ajudou a identificar questões-chave relacionadas à produção e aos sistemas alimentares na RMF, bem como mostrou a importância de agenda de pesquisa que busque avaliar o potencial da agricultura familiar nesse contexto específico.

Entre tantas questões, acredito que uma deve ser central neste texto: Em que medida a agricultura familiar desenvolvida nas grandes aglomerações urbanas ou em seus perímetros poderia subsidiar o abastecimento alimentar de suas populações? As reflexões sobre o caso da metrópole cearense, serão o foco deste artigo que está organizado em duas partes, além desta introdução e das considerações finais. Na primeira parte realizamos uma breve discussão sobre a atividade agrícola no contexto metropolitano e na segunda parte uma caracterização da Agricultura Familiar na Região Metropolitana de Fortaleza.

A atividade agrícola em municípios metropolitanos

Debater o tema da agricultura desenvolvida nos espaços metropolitanos é algo particularmente complexo. Ainda mais quando a questão envolve suas diversas agriculturas, e, em especial, a familiar. Trata-se, sem sombra de dúvida, de uma realidade multifacetada em que precisamos estar atentos ao fato de que embora a agricultura não esteja relacionada somente ao meio rural, ela ainda é sobremaneira rural.

Ao abordar a temática do espaço rural dentro das metrópoles, Travassos e Portes (2018TRAVASSOS, L. R. F. C.; PORTES, B. C. N. Rural metropolitano: caracterização e regulação na Região Metropolitana de São Paulo (Brasil). Revista de Geografia e Ordenamento do Território, [s. l.], n. 14, p. 359-380, 2018. https://doi.org/10.17127/got/2018.14.015.
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) destacam vários elementos que acrescem complexidade a essa análise. Os autores nos convidam a discutir o fenômeno da periurbanidade. Ele é primariamente resultado da variedade de modos de utilização do solo e da sua mutabilidade ao longo do tempo, o que frequentemente conduz a uma caracterização morfológica fragmentada. Essa morfologia incorpora atributos que evocam a essência rural desse espaço, enquanto também revela elementos que evidenciam seus traços urbanos.

O desafio inerente à descrição desse espaço torna-se evidente tanto devido à alta complexidade intrínseca aos padrões de uso do solo, quanto à constante transitoriedade que caracteriza esses usos. Essa dinâmica confere-lhe a designação de "periurbano". Adicionalmente, não se pode subestimar a dualidade das políticas associadas a essas áreas, as quais buscam equilibrar tanto a proteção ambiental quanto a promoção de usos urbanos, conforme destacado por Pereira (2013PEREIRA, A. S. Análise das tendências de aplicação do conceito de periurbano. Terr@Plural, Ponta Grossa, v. 7, n. 2, p. 287-304, 2013. https://doi.org/10.5212/TerraPlural.v.7i2.0007.
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).

Na atualidade, o obstáculo é entender em que medida a agricultura desenvolvida em áreas próximas a grandes aglomerações urbanas pode abastecê-las de forma sustentável. Quais seriam os principais desafios da produção e dos fluxos de alimentos nas regiões metropolitanas? Qual o perfil dos produtores e dos estabelecimentos agropecuários metropolitanos? Seria a produção da agricultura familiar metropolitana um potencial ainda subdimensionado? Ela tem sido invisibilizada nas análises econômicas regionais? Quanto aos produtores, eles produzem para comercializar, para autoconsumo ou são apenas moradores rurais? Como as grandes cidades tem alimentado suas populações, sobretudo, com alimentos frescos? Parte destas questões, neste material apresentam-se apenas como agenda de pesquisa e, portanto, como um convite para que pesquisadores possam colaborar com este esforço incial e um recorte específico.

Compreender a produção de alimentos em áreas metropolitanas é essencial para avaliar a sustentabilidade do sistema alimentar. Isso envolve considerar a viabilidade econômica das agriculturas desenvolvidas neste espaço, inclusive considerando a eminentemente urbana, também o acesso à terra e outros elementos tais como o financiamento da agricultura sustentável. Por outro lado, é importante dar visibilidade às demandas do espaço rural nas políticas públicas e na gestão metropolitana.

A gestão nas regiões metropolitanas tem se concentrado principalmente no ambiente urbano. No entanto, é essencial equilibrar a ênfase às demandas e necessidades do espaço rural. Cintra e Bazzotti (2014CINTRA, A. P. de U.; BAZOTTI, A. O rural na metrópole: a importância da agricultura familiar na região metropolitana de Curitiba. In: COSTA, M. A.; PANTOJA, I.; MARGUTI, B. O. (org.). Relatos e estudos de caso da gestão metropolitana no Brasil. Rio de Janeiro: Ipea, 2014. cap. 5. Disponível em: https://repositorio.ipea.gov.br/handle/11058/3291. Acesso em: 1 fev. 2024.
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, p. 106) ressaltam a importância de reconhecer e valorizar a presença da agricultura na Região Metropolitana (RM) como parte fundamental do debate sobre o desenvolvimento econômico, ambiental e social nesse território.

Os autores destacam a necessidade de considerar a agricultura e suas especificidades no processo de planejamento e governança metropolitana. Reconhecer a diversidade de agriculturas presentes na RM, bem como suas particularidades e possíveis tipologias, é um passo fundamental nesse sentido. É necessário compreender a contribuição dessas atividades agrícolas para a sustentabilidade e a dinâmica socioeconômica da região. Nesse contexto, é pertinente iniciar a discussão abordando uma dessas tipologias no contexto brasileiro, a fim de explorar e compreender as suas características e contribuições específicas para o desenvolvimento da agricultura metropolitana.

No Brasil, ao falarmos de agricultura familiar urbana sabemos que ela não está amparada por uma legislação própria, mas por um conjunto de diferentes legislações, que podem fornecer diretrizes e incentivos para o desenvolvimento dessa prática. Para compreendermos as principais legislações que apoiam a agricultura familiar urbana no país, precisamos organizá-las quase como um mosaico, pois ora elas dizem respeito especificamente a dinâmica do espaço oficialmente reconhecido como urbano, ora ao rural.

É importante ressaltar que algumas legislações e políticas relacionadas à agricultura familiar podem variar entre os estados e municípios, já que algumas questões são de competência local. Portanto, é recomendável consultar as legislações específicas do local onde se desenvolve a agricultura familiar e, mais especificamente a agricultura familiar urbana.

Toda essa complexidade, nos impulsiona a levantar outras questões relevantes. Por exemplo, como podemos avaliar o potencial dessa agricultura para a sustentabilidade do sistema alimentar das cidades? A agricultura familiar realizada nos espaços metropolitanos é capaz de contribuir para a segurança alimentar e nutricional nas cidades? Houve um aumento na produção de alimentos nos espaços metropolitanos nas últimas duas décadas? Neste momento, nosso foco de reflexão inicial, decorrente de uma pesquisa em andamento, é a Região Metropolitana de Fortaleza, no Ceará.

A Agricultura Familiar na Região Metropolitana de Fortaleza

A Região Metropolitana de Fortaleza apresenta algumas características semelhantes a outras regiões metropolitanas brasileiras, ou seja, a expansão da metrópole; a transformação da base produtiva industrial e o aumento significativo da terceirização; a formação de áreas voltadas ao abrigo de sedes de empresas transnacionais, aos empreendimentos imobiliários e a investidores nacionais e estrangeiros.

Como podemos observar no Figura 1, a seguir, a Região Metropolitana de Fortaleza conta com poucos núcleos urbanizados, restritos praticamente aos distritos-sedes dos municípios, apresentando um vasto território de características predominantemente rurais. Até mesmo a capital, Fortaleza, que tem sido a protagonista do processo de urbanização da metrópole, ainda apresenta áreas não-urbanizadas dentro do seu perímetro, como a região leste da cidade e o extremo sul.

Figura 1
Estabelecimentos Agropecuários na Região Metropolitana de Fortaleza, Ceará, 2017.

Em pesquisas sobre a difusão do agronegócio na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) e seus impactos econômicos, sociais e territoriais (Elias, 2020ELIAS, D. A região metropolitana como recorte espacial para estudos sobre o agronegócio: questões de método e metodologia. Boletim Goiano de Geografia, Goiânia, v. 40, n. 1, p. 1-28, 2020. https://doi.org/10.5216/bgg.v40i01.63448.
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; Leitão, 2021LEITÃO, F. R. O agronegócio globalizado na Região Metropolitana de Fortaleza - Ceará. 2021. Dissertação (Mestrado em Geografia) - Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, 2021. Disponível em: https://siduece.uece.br/siduece/trabalhoAcademicoPublico.jsf?id=103059. Acesso em: 2 fev. 2024.
https://siduece.uece.br/siduece/trabalho...
; Elias et al., 2022ELIAS, D.; PEQUENO, R.; LEITÃO, F. R. O que há de agrário na Região Metropolitana de Fortaleza? GeoTextos, Salvador, v. 18, n. 1, p. 31-61, 2022. https://doi.org/10.9771/geo.v18i1.49491.
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), Elias et al. (2022ELIAS, D.; PEQUENO, R.; LEITÃO, F. R. O que há de agrário na Região Metropolitana de Fortaleza? GeoTextos, Salvador, v. 18, n. 1, p. 31-61, 2022. https://doi.org/10.9771/geo.v18i1.49491.
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, p. 32) apresentam evidências que confirmam uma de suas principais hipóteses trabalhadas, isto é, “a de que a agropecuária é uma atividade de grande destaque na economia e na produção do espaço da RMF”. Os autores dizem ainda o seguinte:

A RMF é uma região extremamente heterogênea, marcada por diferenças consideráveis entre os municípios que a compõem, incluindo distintos níveis de urbanização. Para além da diversidade entre os municípios, tratando-se de uma região metropolitana, a RMF apresenta especificidades bastante sui generis, como a forte presença do setor rural e das atividades agropecuárias, que caracterizam predominantemente o uso e a ocupação do território de alguns municípios (Elias et al., 2022ELIAS, D.; PEQUENO, R.; LEITÃO, F. R. O que há de agrário na Região Metropolitana de Fortaleza? GeoTextos, Salvador, v. 18, n. 1, p. 31-61, 2022. https://doi.org/10.9771/geo.v18i1.49491.
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, p.40).

Inserido nesta discussão, afirmamos de início que o ponto legal da categorização da terra como urbana ou rural, tem sido um verdadeiro entrave ao reconhecimento das práticas agrícolas na RMF. No caso de Fortaleza, pesquisas anteriores que investigaram a realização de atividades agrícolas no espaço urbano, como a que foi realizada pelo Cearah Periferia (1997CEARAH Periferia. Agronomia urbana na Região Metropolitana de Fortaleza: inventário de práticas populares e projetos. Fortaleza: [s. n.], 1997.), apontam que a transformação de áreas rurais em urbanas influenciou diretamente na perda de espaços agrícolas nesta cidade, uma vez que, com o aumento da tributação, as atividades agrícolas são consideradas pouco rentáveis para os proprietários de terra.

No caso de Fortaleza, é notável que as áreas não-urbanizadas coincidem com regiões bastante precárias e vulneráveis do ponto de vista socioeconômico (Pequeno, 2009PEQUENO, R. Estrutura intraurbana socioocupacional & condição desigual de moradia na Região Metropolitana de Fortaleza. In: COSTA, M. C. L.; DANTAS, E. W. C. (org.). Vulnerabilidade socioambiental na Região Metropolitana de Fortaleza. Fortaleza: Edições UFC, 2009. p. 55-98. Disponível em: http://www.ppggeografia.ufc.br/images/vulnerabilidadesocioambiental.jpg. Acesso em: 2 fev. 2024.
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). Nesse sentido, entende-se que impulsionar a agricultura periurbana nessas áreas possui um valor de dinamização de áreas social e economicamente precárias. Embora, por outro lado, a especulação imobiliária mereça atenção especial ao discutirmos este tema.

Também é importante pontuar que a permanência de práticas agrícolas na cidade, mesmo com o avanço da urbanização, é uma característica histórica marcante da metrópole. Do ponto de vista cultural, portanto, pode-se dizer que a agricultura é uma atividade com potencial na RMF, entre outras razões, devido à familiaridade que a população possui com estas práticas, pois muitas famílias as mantêm em suas casas, quintais ou em terrenos baldios, de maneira informal e espontânea.

Ao levantarmos as primeiras informações e dados quantitativos dessa agricultura no espaço da RMF, o que nos chama atenção de cara é a importância da agricultura familiar. Na realidade, isso se estende ao Estado como um todo. De todos os estabelecimentos agropecuários do Ceará, 75,5% são da agricultura familiar. Deste número, a RMF possui 6,8% do total de estabelecimentos da agricultura familiar do Ceará. Se pensarmos no total municipal, podemos afirmar que praticamente todos possuem mais da metade de seus estabelecimentos agropecuários, como pertencentes a esta tipologia, como mostra a Tabela 1.

Tabela 1
Número de Estabelecimentos Agropecuários Total e da Agricultura Familiar no Ceará e Região Metropolitana de Fortaleza, 2017.

Com base em dados mais específicos, que podem ser observados na Tabela 2 a seguir, é possível identificar a variação percentual do total de estabelecimentos agropecuários, tanto da agricultura familiar quanto da não-familiar, no período de 2006 a 2017. Durante esse intervalo, houve uma redução de mais de vinte por cento no número de estabelecimentos da agricultura familiar na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), enquanto os estabelecimentos que não se enquadram nessa categoria apresentaram um aumento de quase cento e cinquenta por cento.

Tabela 2
Número de Estabelecimentos Agropecuários Total e da Agricultura Familiar no Ceará e RMF, 2006-1017

Ao considerarmos a representatividade dos Estabelecimentos da Agricultura Familiar do total de Estabelecimentos agropecuários, podemos dizer que a grande maioria dos municípios diminuiu seu percentual. Apenas Chorozinho, Fortaleza, Horizonte e Paracuru aumentaram este valor entre os anos de 2006 e 2017. Quanto ao valor de toda Região metropolitana, em 2006, tínhamos 84,7% de Estabelecimentos Agropecuários da Agricultura Familiar, se comparados ao Número de Estabelecimentos Agropecuários Total, sendo que diminuímos este percentual para apenas 57,16% em 2017. Isso significa que tivemos uma diminuição significativa de estabelecimentos da Agricultura Familiar na Região Metropolitana de Fortaleza, ao considerarmos o valor de Estabelecimentos Agropecuários Total.

O município de São Gonçalo do Amarante foi o que registrou a maior perda de estabelecimentos agropecuários da agricultura familiar. Por sua vez, Itaitinga teve o maior aumento no total de estabelecimentos. No caso de São Gonçalo do Amarante, acredita-se que a instalação do Complexo Portuário do Pecém tenha sido um fator que contribuiu para a diminuição do número de estabelecimentos agrícolas. Já em Itaitinga, a expansão da zona rural da cidade, que anteriormente abrangia apenas cerca de 1% da área total, para 53% após a aprovação de um novo zoneamento rural pela Câmara dos Vereadores, beneficiou algumas comunidades produtoras, como Caracanga, Carapió, Gereraú, Barrocão e Riachão (informações obtidas junto à Prefeitura Municipal de Itaitinga).

No entanto, além das informações sobre o quantitativo de estabelecimentos, é necessário avaliar o valor de sua produção. O valor total da produção dos estabelecimentos agropecuários da Região Metropolitana de Fortaleza, em 2017, alcançou mais de 1 milhão e meio de reais (exatamente R$ 1.623.889,00). Desse valor, a agricultura familiar (AF) foi responsável por apenas 11,1%, enquanto a agricultura não familiar (ANF) foi responsável por 88,9%.

Com base no valor total de produção dos estabelecimentos agropecuários da RMF (valor de produção), pode-se notar que em apenas 4 municípios há predominância (mais de 50% do valor de produção) da Agricultura Familiar, e os outros 15 apresentam maior participação da Agricultura Não Familiar. A Figura 2, a seguir, mostra o detalhe desses valores. Podemos notar a contribuição para cada um dos municípios da agricultura familiar e da não familiar em termos de valor bruto da produção agropecuária e como se situam em cada um dos universos mais representativos.

Figura 2
Valor da produção dos estabelecimentos agropecuários da Agricultura Familiar e Não Familiar na Região Metropolitana de Fortaleza, 2017.

A seguir, mencionamos os dados que indicam especificamente a distribuição dos estabelecimentos agropecuários e do valor da produção por estratos de área e classes de valor da produção Tabela 3. De um total de 27.300 mil estabelecimentos agropecuários existentes na Região Metropolitana de Fortaleza em 2017, 97,5% tinham menos de 50 hectares e respondiam por 48,5% do valor total da produção agropecuária. Os estabelecimentos agropecuários com mais de 50 hectares representavam 2,5% dos estabelecimentos e 51,5% do valor declarado da produção agropecuária, indicando uma significativa concentração do valor da produção nos estabelecimentos com mais de 50 hectares, especialmente naqueles com mais de 200 hectares, que apesar de representarem apenas 0,7% do total dos estabelecimentos foram responsáveis por 32,8% de tudo o que foi produzido em 2017.

Tabela 3
Número de estabelecimentos agropecuários com produção e Valor da produção dos estabelecimentos agropecuários da Agricultura Familiar e Não-familiar, 2017.

Figura 3
Valor da produção dos estabelecimentos agropecuários por Grupos de Área na RMF, 2017.

É fundamental destacar que a diversidade de agriculturas nos espaços metropolitanos nos faz acreditar que os valores mencionados acima não desqualificam a importância da agricultura familiar e urbana, sobretudo ao tratarmos da questão da segurança alimentar das famílias produtoras. Do mesmo modo, também deve ser considerados um excedente desta produção que merece atenção quanto a promoção de renda para estas famílias, bem como a possibilidade de oferta de alimentos frescos e produzidos a menores distâncias dos consumidores.

Estas agriculturas abrangem uma gama diversa de atividades que vão desde a pecuária, o extrativismo, a pesca, o beneficiamento de vários produtos etc. Não devemos, portanto, desconsiderar as especificidades dos municípios metropolitanos, com a diversidade de práticas agrícolas destes territórios e o papel da produção local para o abastecimento local e regional (UFMG, 2022UFMG. Anuário das Agriculturas Metropolitanas 2020/2021: Uma publicação sobre a Região Metropolitana de Belo Horizonte. Belo Horizonte: UFMG, 2022. Disponível em: https://aueufmg.wordpress.com/anuario-das-agriculturas-metropolitanas-primeira-edicao/. Acesso em: 5 fev. 2024.
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).

Com relação à produção agrícola nos municípios que compõem a Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), alguns estudos realizados desde o final da década de 1990 têm destacado a produção de espécies hortícolas de curto ciclo e fácil cultivo, como coentro, cebolinha e alface (Cearah Periferia, 1997CEARAH Periferia. Agronomia urbana na Região Metropolitana de Fortaleza: inventário de práticas populares e projetos. Fortaleza: [s. n.], 1997.; Gomes, 2018GOMES, A. C. A. Potencialidade da agricultura urbana na recuperação das áreas de risco à inundação do baixo curso do Rio Coaçú: o caso da comunidade São Miguel do Brejo, Fortaleza, CE, Brasil. 2018. Dissertação (Mestrado em Geografia) - Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, 2018. Disponível em: http://siduece.uece.br/siduece/trabalhoAcademicoPublico.jsf?id=85139. Acesso em: 3 fev. 2024.
http://siduece.uece.br/siduece/trabalhoA...
; Rodrigues, 2012RODRIGUES, A. S. Ruralidades na periferia oeste de Fortaleza: paisagens, lugares e práticas rurais no cotidiano da metrópole. 2012. Dissertação (Mestrado em Geografia) - Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, 2012. Disponível em: https://siduece.uece.br/siduece/pesquisarItemPublico.jsf;jsessionid=2633518BBEE617EC7C3788D7DC51D504. Acesso em: 25 jan. 2024.
https://siduece.uece.br/siduece/pesquisa...
; Santandreu; Lovo, 2007SANTANDREU, A.; LOVO, I. C. Panorama da agricultura urbana e periurbana no Brasil e diretrizes políticas para sua promoção. Belo Horizonte: MDS; [s. l.]: FAO, 2007. Disponível em: https://www.agriculturaurbana.org.br/textos/panorama_AUP.pdf. Acesso em: 1 fev. 2024.
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). Essas culturas são conhecidas por sua rápida maturação e demandam menos tempo e espaço para produção, o que as torna viáveis para agricultores familiares e urbanos. Além disso, essas hortaliças são amplamente consumidas na região e têm uma demanda constante, o que incentiva sua produção local.

Essas hortaliças, podem ser comumente encontradas nos quintais produtivos das residências no Ceará. De acordo com o último Censo Agropecuário do IBGE, municípios como Aquiraz, Cascavel, Fortaleza, Maranguape, Pindoretama e Caucaia apresentam números significativos na produção dessas hortaliças. Vale ressaltar que os municípios se destacam não apenas na produção dessas hortaliças, mas também de outras espécies como batata doce, macaxeira, maxixe, milho verde, entre outros. Esses dados demonstram a importância dessas culturas para a agricultura familiar e urbana na Região Metropolitana de Fortaleza (IBGE, 2017IBGE. Censo Agropecuário 2017. Rio de Janeiro: IBGE, 2017.).

Com base na análise dos dados da Tabela 4, podemos observar as proporções da produção realizada na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) em relação ao estado do Ceará. Para a agricultura familiar, a proporção da RMF em relação ao estado é de 10% para lavouras temporárias, 22% para horticultura e 23% para lavouras permanentes.

Tabela 4
Quantidade produzida (toneladas) das principais produções associadas à agricultura familiar no Ceará e RMF, 2017.

Em termos da produção total na RMF, as proporções para cada tipo de produção são as seguintes: 45% para lavouras temporárias, 39,3% para lavouras permanentes e 15,7% para horticultura. Destaca-se que a produção de lavouras temporárias é a mais significativa na RMF, sendo caracterizada por culturas de curta duração que exigem o replantio após a colheita. Dentre as lavouras temporárias, a produção de mandioca se destaca, representando 45,8% da produção analisada.

As lavouras permanentes ocupam a segunda posição em termos de amplitude produtiva na RMF. Elas são caracterizadas pelo uso fixo da terra para o cultivo de determinados gêneros alimentícios. Destaca-se a produção de coco-da-baía, que está vinculada a circuitos espaciais produtivos que incluem a exportação quando beneficiada. A produção familiar na RMF é responsável por mais de 60% da produção total do estado de coco-da-baía, e o Ceará é líder na exportação de água de coco no país, de acordo com estudo realizado pela FIEC (2018FIEC - FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO DO CEARÁ. Especial Setorial Bebidas. [Fortaleza]: FIEC, 2018. Disponível em: https://arquivos.sfiec.org.br/sfiec/files/files/05%20MAI%202018%20-%20Bebidas.pdf. Acesso em 3 fev. 2024.
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).

A produção horticultora é uma das atividades econômicas mais características da agricultura familiar, especialmente em municípios onde os estabelecimentos agropecuários familiares possuem áreas menores em relação à área total dos municípios Tabela 5, como é o caso de Fortaleza e Eusébio.

Tabela 5
Área (hectares) dos Estabelecimentos Agropecuários no Ceará e RMF, em relação a área total dos municípios

Os principais alimentos produzidos nesta modalidade produtiva são: Cebolinha (45%) e Coentro (45,5%), a união desses dois alimentos forma um produto muito conhecido chamado localmente de cheiro-verde. Apesar de muito tradicional, a presença de horticultura no espaço intraurbano, nesta análise, tornou-se um indicativo de um potencial produtivo menor, que pode estar associado a fatores como: alta concentração de áreas urbanas, finalidade da produção mais voltada para consumo próprio, receita associada a outras formas que não a venda da produção etc. (Marques, 2020MARQUES, G. A. O desenvolvimento sócio-espacial da Agricultura Urbana e Periurbana (AUP) na cidade de Fortaleza: entre a prática popular e o planejamento urbano, 2020. Dissertação (Mestrado em Geografia) - Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2020. Disponível em: http://repositorio.ufc.br/handle/riufc/55997. Acesso em: 2 dez. 2023.
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). A exemplo temos o município de Fortaleza, que se destaca nessa modalidade.

Com relação a área total dos estabelecimentos agropecuários, a agricultura familiar representa cerca de 40% da área ocupada na RMF e no âmbito estadual compõe apenas 2,54% da área representativa dos estabelecimentos da agricultura familiar, o que pode indicar uma conformidade com a Lei 11.326 de 24 de julho de 2006, que diz que uma propriedade rural da agricultura familiar deve medir até 4 módulos fiscais, portanto apresentam de maneira geral estabelecimentos com menor extensão territorial.

Em relação ao perfil dos produtores, os estudos mencionados ainda no final da década de 1990 (Cearah Periferia, 1997CEARAH Periferia. Agronomia urbana na Região Metropolitana de Fortaleza: inventário de práticas populares e projetos. Fortaleza: [s. n.], 1997.) reforçam, juntos aos dados recentemente levantados, a tese de que se trata normalmente de grupos unifamiliares autônomos, de baixa renda, baixa escolaridade, de caráter fortemente informal, muitos deles com uma grande conexão com o ambiente e práticas rurais. Segundo o IBGE, há uma taxa de analfabetismo de 36,20% entre os produtores de Estabelecimentos Agropecuários (E.A.) da RMF. Foram identificados poucos registros de experiências comunitárias ou multifamiliares e a maioria entendida como iniciativas governamentais pontuais ou promovidas por organizações da sociedade civil.

Os dados do Censo Agropecuário do IBGE (2017IBGE. Censo Agropecuário 2017. Rio de Janeiro: IBGE, 2017.) revelaram informações adicionais sobre o perfil da produção agrícola na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), assim como os resultados de entrevistas aplicadas a agricultores familiares e com instituições municipais.

De acordo com o Censo Agropecuário, mais de 95% dos estabelecimentos agropecuários (E.A.) na RMF possuem pessoal ocupado com laços de parentesco com o produtor. Isso reforça nossa afirmação de que a atividade agrícola na região tem um caráter predominantemente familiar. No entanto, quando se trata do pessoal ocupado nos E.A. sem laços de parentesco com o produtor, apenas 50,93% deles na RMF são empregados permanentes. Isso sugere uma considerável informalidade nos vínculos de trabalho. É importante notar que essa proporção pode variar significativamente entre os diferentes municípios. Por exemplo, em Fortaleza, cerca de 95% dos empregados nos E.A. são permanentes, enquanto em Chorozinho esse número é de apenas 10%.

Esses dados destacam a importância da mão de obra familiar na agricultura familiar da RMF e indicam a presença de trabalhadores informais nos estabelecimentos agropecuários da região. A variação nos índices de empregados permanentes entre os municípios reflete diferentes realidades socioeconômicas e estruturas agrícolas presentes na RMF.

Os dados do IBGE (2017IBGE. Censo Agropecuário 2017. Rio de Janeiro: IBGE, 2017.) reforçam o caráter familiar e de subsistência da produção agrícola na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). De acordo com esses dados, em 77,83% dos estabelecimentos da RMF, o produtor principal reside no mesmo terreno em que ocorre a produção. Isso indica uma estreita ligação entre a residência e a atividade produtiva, evidenciando o caráter familiar da agricultura na região.

Além disso, mais da metade dos estabelecimentos agropecuários na RMF (64,03%) têm como principal finalidade o consumo próprio. Isso significa que a produção agrícola desempenha um papel fundamental na garantia da segurança alimentar e nutricional das famílias produtoras, contribuindo para a subsistência e a autossuficiência alimentar.

No entanto, é importante ressaltar que há diferenças significativas entre os municípios da RMF. Em Fortaleza, por exemplo, a finalidade principal da produção agrícola é a comercialização, representando mais de 90% dos estabelecimentos. Nesse caso, a atividade produtiva desempenha um papel essencial como fonte de renda para as famílias produtoras.

Essas informações corroboram os dados institucionais e os resultados das entrevistas, reforçando a importância do consumo próprio e da comercialização na agricultura familiar da RMF. Esses dados indicam a relevância da produção agrícola local tanto para o sustento das famílias produtoras quanto para a geração de renda por meio da venda dos produtos agrícolas.

O levantamento do Censo Agropecuário (IBGE, 2017IBGE. Censo Agropecuário 2017. Rio de Janeiro: IBGE, 2017.) mostra, ainda, que todos os municípios da RMF apresentam um baixíssimo índice de E.A. que recebem assistência técnica, numa média de apenas 6,20%. Dados que corroboram com as informações colhidas em campo.

Também são baixos os índices de estabelecimentos cujo produtor possui o Cadastro Nacional da Agricultura Familiar (CAF) substituto da Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP), que o possibilita entrar nos programas de apoio à produção familiar. Na RMF, apenas 31,88% dos E.A. estão vinculados ao CAF, e em municípios mais urbanizados esse índice é ainda mais baixo, a exemplo de Fortaleza, que apresenta um valor de 5%. Observa-se, ainda, pouca vinculação dos E.A. a cooperativas ou entidades de classe. Na RMF como um todo, são apenas 23,40% dos E.A., valor que chega próximo aos 0% em municípios mais urbanizados, como Aquiraz, Eusébio e Fortaleza (IBGE, 2017IBGE. Censo Agropecuário 2017. Rio de Janeiro: IBGE, 2017.).

Certamente, alguns destes dados são reflexo da incompatibilidade institucional entre usos agrícolas e urbanos, que impossibilita a realização de apoio técnico e financeiro e, consequentemente prejudica a capacidade de produção, comercialização e continuidade das atividades dos produtores.

É imprescindível o destaque para o fato de que acreditamos que parte dos dados de produção, sobretudo associados à agricultura familiar, são subdimensionados. Isso significa dizer que o potencial produtivo pode ser muito maior do que se apresenta oficialmente e, o que temos registrado em imersões de campo na RMF é o fato das políticas públicas não alcançarem o pequeno produtor que poderia produzir muito mais, caso o acesso à terra, a assistência técnica, o reconhecimento institucional e, sobretudo, o apoio ao escoamento para atender aos mercados fossem maiores. Tem sido recorrente ouvirmos dos pequenos produtores que programas como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) não conseguem atender/alcançar a todos. A população de nossas cidades poderia ter acesso a alimentos muito mais saudáveis e frescos, caso isso fosse possível.

Em relação à condição legal das terras, a maior parte dos estabelecimentos da RMF (76%) se encontra em áreas próprias. Em Fortaleza, mais uma vez, este dado apresenta especificidades (a quantidade de E.A. em terras próprias representa apenas 57%), com uma quantidade considerável de estabelecimentos em terrenos arrendados de terceiros, o que mostra o acesso à terra como um problema maior na capital. Nesse ponto, é importante recuperar a problemática do alto valor do solo urbano e da especulação sobre ele, o que dificulta seu acesso por parte dos produtores.

Assim, os dados do IBGE confirmam um perfil familiar, de baixa renda e baixa escolaridade dos produtores; cuja produção se dá em bases informais, com pouco ou nenhum apoio externo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Discutir as diversas formas de agricultura nos espaços metropolitanos pode articular várias lutas de natureza socioespacial e socioambiental, além de sugerir a elaboração de políticas públicas intersetoriais. As expressões, termos, conceitos e ideias que acompanham esse debate são necessários e instigantes, pois permitem abordar dicotomias como cidade-campo, indústria-agricultura, urbano-ambiental, bem como questões relacionadas à administração pública brasileira. É surpreendente a falta de ferramentas políticas e de desenvolvimento adequadas para lidar com os novos paradigmas que definem essas áreas periurbanas, rurais e urbanas e suas interseções (Travassos; Portes, 2018TRAVASSOS, L. R. F. C.; PORTES, B. C. N. Rural metropolitano: caracterização e regulação na Região Metropolitana de São Paulo (Brasil). Revista de Geografia e Ordenamento do Território, [s. l.], n. 14, p. 359-380, 2018. https://doi.org/10.17127/got/2018.14.015.
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). O periurbano, presente nas metrópoles brasileiras, não é considerado de forma visível nas políticas rurais ou urbanas, sendo geralmente visto apenas como uma reserva de terras para urbanização ou proteção ambiental. Compreender tudo isso nos leva a refletir sobre a necessidade de ampliar o olhar para além das iniciativas de agricultura urbana, mas ainda periurbana, incluindo a agricultura familiar e outras práticas agrícolas que fazem parte do esforço de entender a relação entre o urbano e o rural nas regiões metropolitanas.

Da mesma forma, é importante refletir sobre a inclusão do urbano nas discussões sobre as novas configurações dos sistemas agroalimentares, visando desenvolver uma "governança democrática da alimentação" e uma "nova geografia alimentar" baseadas na "reterritorialização dos sistemas alimentares", como afirmam Petersen e Monteiro (2020PETERSEN, P.; MONTEIRO, D. Agroecologia ou Colapso (3). [S. l.: s. n.], 2020. Disponível em: https://outraspalavras.net/crise-civilizatoria/agroecologia-ou-colapso-3/. Acesso em: 20 jan. 2024.
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). A disposição dos novos modelos de produção e consumo de alimentos nos grandes centros urbanos pode ser indispensável em momentos de contingências, como vivenciamos com a atual crise sanitária (desencadeada pela pandemia da COVID-19) e climática, e para evitar futuras situações semelhantes.

Para realizar esta pesquisa, partimos de alguns pressupostos: o primeiro é o fato de que a produção agrícola nos espaços urbanos e periurbanos não é uma atividade nova, mas precisa ser constantemente repensada. Além disso, é importante discutir a agricultura familiar, também a urbana e periurbana, que alimenta uma grande quantidade de pessoas nos espaços urbanos, especialmente nas áreas metropolitanas. Também é válido lembrar que todas essas discussões convergem para práticas e conceitos como agroecologia, periburbanização, segurança alimentar e nutricional, sistemas alimentares sustentáveis e resilientes, e circuitos curtos de comercialização, sendo temáticas distintas com níveis de amadurecimento diferenciados.

AGRADECIMENTOS

À equipe responsável pelo banco de dados cartográfico, composta por Antonio Elton Brito e Francisco Regis Capistrano. Ao Bolsista de Iniciação Científica Fernando Carlos Barbosa de Sousa pela organização das tabelas.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    02 Set 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    01 Set 2023
  • Aceito
    29 Nov 2023
  • Publicado
    08 Fev 2024
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