Resumo
Esta apresentação pretende situar o(a) leitor(a) num debate relativamente recente, mas já bastante complexo, ao mapear o campo da Sociologia da Tradução e apresentar suas principais perspectivas teórico-metodológicas, que são, a nosso ver, a tradução cultural; a Teoria Ator-Rede (TAR), de Bruno Latour; e a sociologia bourdieusiana da tradução. Tais linhas de pensamento e pesquisa podem, por um lado, contrapor-se umas às outras, mas, por outro, também podem ser conjugadas, ampliando o escopo analítico e demonstrando seu caráter interdisciplinar.
Palavras-chave tradução; sociologia da tradução; tradução cultural; Bruno Latour; Pierre Bourdieu
Abstract
This article is intended to situate the reader in a relatively recent though already quite complex debate, by mapping the field of sociology of translation and presenting its main theoretical-methodological perspectives, which are, in our view: cultural translation; the Actor-Network Theory, by Bruno Latour and Michel Callon; and bourdieusian sociology of translation. Such lines of thought and research can, on the one hand, contradict each other, but, on the other hand, they can also be combined, expanding the analytical scope and demonstrating its interdisciplinary character.
Keywords translation; sociology of translation; cultural translation; Bruno Latour; Pierre Bourdieu
A tradução é a condição para o diálogo, sem o qual só haveria barbárie.
Roger Chartier (2022)
[...] como aquilo que é profundamente diferente, pode ser profundamente entendido, sem se tornar menos diferente; ou ainda, de que maneira o extremamente distante pode tornar-se extremamente próximo, sem estar menos distante.
Clifford Geertz (2014)
I
O campo específico da Sociologia da Tradução, embora relativamente recente, tendo se constituído na virada dos anos 1990 para os anos 2000, segundo a literatura especializada (Araújo; Martins, 2018), conheceu desde então um desenvolvimento espetacular, sendo mais apropriado inclusive falarmos em “sociologias da tradução” (Wolf, 2007a) em virtude da variedade de abordagens teórico-metodológicas.1
Se quisermos ser ainda mais rigorosos(as), podemos recuar ainda mais no tempo, até a década de 1980, e observar dois momentos decisivos para o desenvolvimento dos estudos sociológicos da tradução: a chamada “virada cultural” (cultural turn) no interior da Antropologia e da Filosofia pós-modernas e a Teoria Ator-Rede de Bruno Latour – esta eminentemente sociológica, ao passo que a “virada cultural” afetou fundamentalmente outros campos do conhecimento, mas cujos efeitos se farão sentir também na Sociologia. A despeito de suas especificidades e idiossincrasias teórico-metodológicas, é possível observar nos dois casos como a “tradução” é encarada como processo social e, ao mesmo tempo, transformada em categoria reflexiva e interpretativa. Também em ambos a tradução ultrapassa os limites da tradução textual,2 permitindo afirmar, nesse sentido, que tais abordagens desenvolvem e apresentam concepções metafóricas de “tradução” (Wolf, 2007a). Por conseguinte, enquanto processo social e cultural, a tradução deixa de constituir uma “hermenêutica dos textos” e torna-se “uma forma de falar sobre o mundo” (Pym, 2017, p. 274). Pouco mais adiante nos debruçaremos com mais calma sobre cada uma dessas perspectivas.3
Se a tradução está inscrita em contextos históricos específicos, então ela não deixa de constituir uma prática social que sofre, em algum grau, determinações e constrangimentos das instituições que compõem determinada configuração social, ou seja, é uma prática definida por práticas e valores, até mesmo as traduções textuais. Portanto, a abordagem sociológica da tradução torna-se fundamental, pois as pesquisas nela amparadas e/ou inspiradas poderão demonstrar, por exemplo, como a tradução pode implicar o violento ato de apropriação do outro (Venuti, 2008), reproduzindo estruturas de dominação e violências simbólicas, ou, noutra direção, resistir a e romper com os exercícios violentos do poder, que podem agir até mesmo por meio das traduções textuais.
Se há uma Sociologia da Tradução que procurou romper com a dicotomia texto/contexto e demonstrar como essas dimensões estão imbricadas, foi a Sociologia da Tradução de inspiração bourdieusiana, um desdobramento da Sociologia da Literatura de Bourdieu que, a rigor, nunca tomou a tradução como um objeto de pesquisa (Gouanvic, 2005, 2007). Foi essa Sociologia que demonstrou que a literatura não constitui terreno isolado, completamente independente do social. Ao contrário, os textos literários resultam de um jogo social complexo de interações, alianças e disputas em torno do reconhecimento e prestígio, bens culturais que uma vez adquiridos conferem a quem os detém o monopólio e o poder de classificação dos(as) demais autores(as) e obras.4 Trocando em miúdos, a literatura não está imune aos efeitos do poder. Esse tipo de enquadramento explicativo-interpretativo foi absorvido pelos Estudos da Tradução justamente por demonstrar que o ato tradutório não é simples, tampouco completamente individual e individualizado, mas inserido num campo formado por agentes e instituições sociais (editoras, editores, agentes literários, escritores(as), os(as) próprios(as) tradutores(as) etc.) ora em concorrência, ora em cooperação, gerando um habitus5 específico que interfere nas escolhas de quem traduz durante o próprio processo de tradução.
Ainda que, em tese, seja possível construir uma Sociologia da Tradução a partir de um repertório sortido de referências,6 não é à toa que foi e é justamente a Sociologia de Pierre Bourdieu a principal influência nesse território de estudos e pesquisas (Bielsa, 2010; Araújo; Martins, 2018; Hernandez-Hernandez, 2020), pois ela parece ainda responder a contento problemas e questões encarados como centrais dos processos tradutórios,7 desde um plano mais abrangente, como as trocas literárias desiguais entre os países,8 até um mais particular, como a atuação de quem traduz no ato da tradução, como vimos acima. Diga-se de passagem, a Sociologia de Bourdieu, quando aplicada aos Estudos da Tradução, prova-nos o quanto é necessário romper com a falsa distinção entre micro e macrossociológico, instâncias sempre enganchadas e influenciando-se mutuamente.
São esses três ramos e seus desdobramentos, a tradução cultural, a Teoria Ator-Rede e a Sociologia de matiz bourdieusiano, que oferecem os fundamentos teóricos e metodológicos mais consistentes para os estudos e pesquisas no campo da Tradução e por isso são, atualmente, as principais referências mobilizadas e muitas vezes colocadas em diálogo – o que não descarta a priori, é claro, outras possibilidades de análise.
Procuraremos, a seguir, sintetizar cada uma dessas tradições de pensamento e pesquisa a fim de ambientar leitores e leitoras quanto às discussões, temas e problemas desenvolvidos nesse campo de estudo, constituindo uma espécie de antessala que prepara a entrada, aí sim, no dossiê que ora apresentamos.
II
Segundo Talal Asad (1992), a “linguagem” se tornou dominante no interior da Antropologia Social a partir da década de 1950 e, desde então, consequentemente, a noção de “tradução cultural” passou a ser recorrente entre os(as) antropólogos(as) e a gerar uma espécie de tradição no interior do campo. Logicamente, algumas críticas ao seu uso surgiram, como a de Ernest Gellner, para quem a tradução cultural acabava operando num registro por demais etnocêntrico, pois reduzia a cultura do outro aos termos da cultura do(a) antropólogo, quase como um tipo de “tradução literal” da cultura alheia, o que resultaria na afirmação dos esquemas de pensamento e percepção característicos da cultura do(a) próprio(a) antropólogo(a). Daí, segundo Gellner, a “excessiva generosidade” (excessive charity) da tradução cultural em relação a si mesma.
Não nos cabe aqui reproduzir com minúcias o debate entre Asad e Gellner,9 mas, seguindo nossos propósitos, apontar, de acordo com o primeiro, os equívocos dos argumentos do segundo, uma vez que, ao fazê-lo, conseguiremos explicitar alguns princípios importantes da tradução cultural.
A tradução cultural, explica Asad (1992), não se limita a combinar lógica e coerentemente, de acordo com os parâmetros da língua e cultura-alvo, conjuntos de sentenças e enunciados, como imaginava Gellner, mas, sim, relacionar as sentenças e enunciados às práticas sociais enraizadas em determinados modos de vida. Ou seja, a linguagem não consiste numa estrutura independente, completamente autônoma em relação às práticas sociais informadas pela cultura. Em suma, as declarações sociais são socialmente situadas. A premissa da tradução cultural, portanto, parafraseando Walter Benjamin (2018), não é tentar transformar, por exemplo, o chinês, o alemão ou o guarani em português, mas, ao contrário, tornar o português guarani, alemão ou chinês, permitindo, destarte, a expansão da língua e da cultura portuguesas, segundo o nosso exemplo. O(A) antropólogo(a)-tradutor(a)-crítico(a) deve “[...] testar a tolerância de sua própria língua ao assumir formas incomuns” (Asad, 1992, p. 157).10 E testar a tolerância de sua própria língua gera efeitos mais amplos, que afetam a cultura e o próprio conhecimento do(a) cientista social.
Asad (1992) situa e concentra seus argumentos no âmbito da Antropologia funcionalista anglo-saxã. No entanto, um autor que consideramos central no campo da tradução cultural e que não se situa no interior do Funcionalismo é Clifford Geertz, tido frequentemente como um dos iniciadores da Antropologia pós-moderna.
Num livro publicado originalmente em 1973 a partir de pesquisas realizadas em Bali, no final da década de 1950, A interpretação das culturas, Geertz afirma que o trabalho do antropólogo se assemelha, em boa medida, ao do crítico literário, uma vez que: “[f]azer a etnografia é como tentar ler um manuscrito estranho [...]” (Geertz, 1978, p. 20). A interpretação antropológica constrói uma leitura do que acontece, por isso não é possível divorciá-la do que acontece, e aquilo que acontece corresponde a uma espécie de discurso socialmente situado – como vimos acima com Asad (1992). O etnógrafo, nos termos de Geertz (1978, p. 29), “inscreve” o discurso social, “ele o anota”; no entanto, o que é inscrito não é o discurso social bruto, mas aquela parcela que os(as) informantes podem levar a compreender. Noutros termos, à medida que o(a) antropólogo(a) descreve um determinado fenômeno social, já o vai traduzindo e interpretando de modo a torná-lo inteligível a uma outra cultura.11 Por essa razão, a descrição antropológica, tal como proposta pelo autor, é densa, pois, ao mesmo tempo, é muito mais e muito menos do que um retrato da cultura alheia. Logo, os textos antropológicos são traduções e interpretações que jamais corresponderão fielmente à cultura traduzida e interpretada. Daí a famosa formulação de Geertz: “[o]s antropólogos não estudam as aldeias [...], eles estudam nas aldeias” (Geertz, 1978, p. 31, destaque do autor).
Geertz (2014) argumenta que é possível entender a imaginação de outros povos e outras épocas tão bem quanto se pode entender algo que não é nosso, uma vez que a interpretação e a tradução, momentos cognitivos e reflexivos a rigor inseparáveis de algo que nos é estranho pode ser realizada de maneira relativamente exitosa: se uma cultura não é inteiramente decifrável, ao menos não é completamente impenetrável. Um comentário de Roger Chartier (2022) acerca da tradução textual pode muito bem ser aplicado à tradução cultural: se é impossível traduzir a poesia clássica chinesa, podemos ao menos sugerir o que ela é, portanto, o intraduzível passa a ser inteligível. O conhecimento antropológico – assim como aquele produzido pelo conjunto das Ciências Sociais e Humanas, podemos supor – tem, pois, como objetivo ético “o alargamento do universo do discurso humano” (Geertz, 1978, p. 24) graças ao esforço de tradução-interpretação. Instaura-se, com a tradução cultural realizada pelos(as) etnógrafos(as), uma “ética do discurso transcultural” (Pym, 2017, p. 282).
Observamos que a tradução cultural – assim como a tradução textual, como procuraremos argumentar um pouquinho mais adiante nesta apresentação – é marcada, ou até mesmo definida, por uma dialética cuja dinâmica supõe movimentos incessantes de distanciamento e aproximação que jamais tocam explícita e diretamente o(a) Outro(a), seja uma cultura como um todo, seja um texto em particular; no máximo a tradução o(a) tangencia; roça e acaricia o(a) estranho(a)12 sem se confundir ou fundir-se a ele(a). Nesse sentido, sempre resta algo de intraduzível, o que não impede a aproximação, a decifração e a comunicação.
A oscilação entre o familiar e o estranho produz uma espécie de “entre-lugar”, de “terceiro espaço”, sugere Homi Bhabha; um espaço onde estão inscritos os processos de diferença cultural em perpétua negociação de “diferenças incomensuráveis”, criando assim uma tensão “peculiar às existências fronteiriças” (Bhabha, 1998, p. 300). A diferença, segundo ele, não é nem o Um, nem o Outro, mas um elemento intersticial diferente do Um e do Outro, um ser e uma cultura híbridos, cuja identidade é indeterminada. O terceiro espaço constitui, afirma o filósofo e crítico cultural indiano, um lugar de blasfêmia, de heresia, de violação dos sistemas hegemônicos e consagrados de nomeação, enfim, conforma-se como um espaço de contestação discursiva que produz efeitos concretos.
Para Bhabha (1998, p. 309-310), esta liminaridade da experiência migrante e diaspórica é mais um fenômeno tradutório que transicional, pois não implica a simples transição de um lugar a outro, a passagem de um território geográfico e cultural a outro, tampouco a mera adaptação a uma outra cultura, um deixar-se assimilar, por um lado, ou defesa intransigente da suposta pureza das origens, por outro, e sim um reposicionamento, uma reinscrição que transgride tanto aquilo que se deixou para trás quanto do que se encontra à nossa frente, apostando então num futuro que não se encontra predeterminado, mas que se deve construir a todo momento,
Se hibridismo é heresia, blasfemar é sonhar. Sonhar não com o passado ou o presente, e nem com o presente contínuo; não é o sonho nostálgico da tradição nem o sonho utópico do progresso moderno; é o sonho da tradução, como sur-vivre, como “sobrevivência”, como Derrida traduz o “tempo” do conceito benjaminiano da sobrevida da tradução, o ato de viver nas fronteiras. Rushdie traduz isto como o sonho de sobrevivência do migrante: um interstício iniciatório; uma condição de hibridismo que confere poder; uma emergência que transforma o “retorno” em reinscrição ou redescrição; uma iteração que não é tardia, mas irônica e insurgente
(Bhabha, 1998, p. 311, destaques do autor).
A tradução vai além dos binarismos – permanência x integração – e pressupõe a indeterminação, alguma incerteza e imprecisão que não atrapalham a comunicação e o entendimento, antes constituem sua condição. A tradução cultural – e textual, insistimos – revela uma falta que permite a complementaridade pelo diálogo; quer dizer, só há diálogo e interação porque há falta, ausência, permitindo, assim, a criação de algo novo.
A perspectiva de Bhabha, aponta Anthony Pym (2017), entende que as circulações de pessoas, textos e quaisquer outros bens culturais cruzam as fronteiras previamente estabelecidas e as questionam, ou melhor, mais que isso, duvidam da própria preexistência de tais fronteiras, absolutamente artificiais, que servem apenas para legitimar poderes, fixar identidades de maneira duradoura e distanciar culturas e povos. Portanto, o etnógrafo-tradutor e o tradutor-etnógrafo13 jamais podem presumir uma diferença cultural radical, nem uma identidade absoluta.14
O título desta apresentação, aliás, é inspirado por esse movimento dialético, pendular, que procuramos expressar a partir da combinação de fragmentos textuais: lost in translation faz menção não ao filme de 2003 dirigido por Sofia Coppola, mas ao poema de James Merrill, cujo título a cineasta toma emprestado. Para Merrill, a vida é uma tradução persistente na qual estamos todos(as) perdidos(as). E é precisamente porque estamos perdidos(as) que podemos nos encontrar com o(a) Outro(a) e também nos reencontramos conosco; e cada (re)encontro pode oferecer a oportunidade de nos recriarmos. Perdemo-nos para nos (re)encontrarmos, para nos perdermos novamente em seguida, e assim sucessivamente. Perdemo-nos na tradução para descobrirmos e sermos descobertos na tradução: found in translation! Que é a frase de abertura da seção III do livro O saber local, de Clifford Geertz.
Um dos problemas que poderíamos levantar em relação à tradução cultural é o de que a noção de “tradução” seria metafórica, pois o que ocorre é uma tradução sem textos. Bem, se em algum momento tal avaliação fez sentido, rapidamente se desfez.
Kwame Anthony Appiah, em 1993, e Gayatri C. Spivak, nos começos de 2000, demonstraram que as traduções textuais correspondem igualmente a traduções culturais. Appiah, em seu artigo “Thick translation”, afirma que a tradução deve ser, muitas vezes, infiel em relação ao texto original, i.e., a tradução não se resume a reproduzir “perfeitamente” o texto original, o que seria impossível, mas com ele guardar uma relação próxima e produzir não uma cópia do original, mas a sua compreensão. Bem se vê nessa postura de Appiah uma semelhança evidente com a Antropologia de Geertz: traduzir é interpretar e interpretar é condição para a compreensão e a comunicabilidade.15
Observamos o mesmo imperativo ético em Gayatri C. Spivak (2021), para quem a tradução pode se converter num ato de violência, pois, por meio dela, pode se dar o apagamento, o silenciamento do(a) Outro(a) a partir da redução e submissão da linguagem desse(a) outro(a). Assim, domar a outra linguagem significa colonizá-la, reduzi-la completamente à linguagem – e por conseguinte à cultura – de quem traduz. A tradução textual como tradução cultural supõe, escreve Spivak (2021, p. 320), escrever e inscrever o(a) outro(a) em mim, torná-lo(a) parte de mim sem subsumi-lo(a), sem dissolvê-lo(a): “A tarefa do(a) tradutor(a) é facilitar este amor entre o original e sua sombra [...]” (Spivak, 2021, p. 321).16 A imagem é bela e poderosa: o texto original (a outra cultura) é uma sombra que me acompanha e da qual jamais conseguirei me desvencilhar; a sombra é parte de mim, mas não sou eu... A tradução estabelece pontes entre textos e culturas, por isso constitui um ato de solidariedade, segundo a autora (Spivak, 2021, p. 330).
As discussões éticas e epistemológicas desenvolvidas por Appiah e Spivak fundamentam os procedimentos tradutórios de ambos, servindo como uma espécie de guia para uma “tradução densa” responsável e comprometida com uma política do reconhecimento.
III
O conceito de tradução aparece também na Sociologia de Bruno Latour, que poderia ser classificada como uma Sociologia da Ciência ou, talvez mais apropriadamente em função da articulação e mobilização de vários saberes ao mesmo tempo, ser chamada de Estudos Sociais da Ciência e da Tecnologia.
Embora, como veremos, o conceito seja central em seu modelo teórico-metodológico, ainda assim não poderíamos classificar a abordagem de Latour como uma Sociologia da Tradução, que remeteria ao objeto analisado, mas como uma Sociologia de tradução, em referência ao método de análise empregado, como propõe Anthony Pym (2017).
Bruno Latour e Michel Callon, provavelmente os principais nomes desse campo de estudos, utilizam o modelo da tradução para tentar explicar como ocorrem e como se formam as negociações entre os agentes, humanos e não-humanos (natureza e artefatos técnicos), a partir de processos tão complexos, as redes.
Desde seus primeiros estudos, realizados na Costa do Marfim durante o serviço militar, sobre as relações entre empresários franceses e empregados marfinenses, passando pelo seminal Vida de Laboratório: a produção dos fatos científicos, publicado em 1979 em conjunto com Steve Woolgar (Almeida et al., 2022, p. 144-145), até seus ensaios filosóficos mais recentes, Latour esforçou-se por demonstrar como as relações e processos sociais são extremamente dinâmicos, em fluxo constante, mutáveis, envolvendo inúmeros atores em constante negociação, impossíveis de serem “congelados” por qualquer pesquisa e que extrapolam as dicotomias simples e simplistas que orientaram em boa medida inúmeras teorias: natureza(a) x sociedade(s), humanos x não-humanos, objetividade x subjetividade, e assim por diante, desenhando cadeias heterogêneas de associações compostas por atores (chamados por Latour de actantes) diversos em dimensões micro e macrossociológicas. Seres humanos, animais, plantas e/ou artefatos técnicos se encontram todos em relações simétricas, i.e., a despeito da distribuição desigual do poder, os atores são igualmente importantes, ativamente participantes na produção do conhecimento científico e das tecnologias, na resolução de problemas e na criação e solução de controvérsias (temas de pesquisa centrais em Latour). Baseado em seus estudos de laboratório, da observação etnográfica da “ciência em ação”, o autor extravasou os argumentos e demonstrou como os mundos sociais e naturais são criados a partir dessa rede intricada de interações/associações que se encontra em permanente, ininterrupta construção.
É importante alertar que, para Latour – assim como para todos/as pesquisadores que comungam a TAR –, a formação das redes não antecede a dos atores e vice-versa, mas ambos se formam ao mesmo tempo, conjuntamente, durante os próprios processos de interação, que correspondem a processos de intensa negociação, somente possível graças à tradução:
O contrato social é apenas um caso do fenômeno mais geral conhecido como tradução. Por “tradução” entendemos um conjunto de negociações, intrigas, atos de persuasão, tramas, atos de violência em que um ator ou uma força assume ou se permite ser levada a assumir a autoridade de falar ou agir em nome de outro ator ou força: “seus interesses são nossos interesses”, “faça o que eu quero”, “você não pode obter sucesso sem mim”. A partir do momento em que um ator diz “nós”, ele ou ela traduz outros atores para uma única aspiração [volonté], da qual ela ou ele se torna o guia ou porta-voz
(Callon & Latour, 1981, p. 279)17.
Os(As) agentes se aproximam e se associam, provavelmente, para encontrar solução para um problema que os afeta a todos(as), mas não da mesma maneira. Nessa interação, cada um(a) dos(as) participantes vai traduzir os interesses, as necessidades, as demandas, os valores, as normas e os conhecimentos de cada um(a) em seus próprios termos, i.e., de acordo com seus próprios interesses, demandas, necessidades etc. – por isso a negociação é tensa e pode se desfazer em algum ponto. Ao efetuar a tradução, os(as) agentes envolvidos(as) realizam igualmente a interpretação18 dos dados e informações disponíveis, das circunstâncias e dos fatos que se mostram. Traduzir, para Latour, significa: “[...] transcrever, transpor, deslocar e, portanto, transportar transformando” (Latour, 2016, p. 30); por esta razão, o autor muitas vezes prefere o termo “translação” ao invés de “tradução”, pois a palavra possui, a um só tempo, o significado linguístico (Latour, 2011, p. 183) de tradução, ou seja, transposição de uma língua para outra, e um sentido geométrico, i.e., transposição de um lugar para outro. Segundo ele: “[t]ransladar interesses significa, ao mesmo tempo, oferecer novas interpretações desses interesses e canalizar as pessoas para direções diferentes” (p. 183).
Similar à tradução cultural, Latour entende a tradução como uma forma de mediação entre os atores que gera composições que não descartam desvios e controvérsias, pois os processos sociais não são lineares, determinados, planos, como muitas vezes as explicações científicas das Ciências Sociais fazem parecer ser; ao contrário, são labirínticos, multifacetados, prismáticos, intersticiais e ricamente plurais. Só os processos de mediação/tradução seriam capazes de criar, em meio a um turbilhão de contatos, interesses, necessidades, fatos, circunstâncias e artefatos, as interações sociais,19 como nos lembra Anthony Pym (2017, p. 286), a tradução, em Latour, torna-se o alicerce das relações sociais.
A associação entre atores humanos e não-humanos (artefatos e natureza) é gestada a partir da sua influência mútua permitida justamente pela tradução, pois ela autoriza o “[...] deslocamento, [o] deslize, [a] invenção, [a] mediação, a criação de uma conexão que não existia antes e que, em algum grau, modifica os dois elementos ou agentes” (Santaella; Cardoso, 2015, p. 170), ou vários(as) deles(as), envolvidos(as) no processo tradutório, tornando-se eles(as) também atores/atrizes híbridos(as).
Além dos estudos empíricos de Latour, vale a pena apresentar a abordagem de Michel Callon, outro autor central da TAR, para iluminar um pouquinho mais como se dá o tratamento sociológico do conceito de “tradução” por esta corrente de pensamento.
Sua pesquisa sobre o declínio da população de vieiras demonstrou que a necessidade de desenvolver uma estratégia de conservação de tal população colocou em associação vários atores diferentes – as próprias vieiras, os pescadores e os cientistas – que, ao longo de um curso marcado por muitas controvérsias e negociações, participaram em conjunto da formulação de um conhecimento científico necessário para a solução do problema (Callon, 1984, 1986). Tanto Latour quanto Callon empregam o método etnográfico porque seu intuito é observar esse processo a partir de dentro, como esses atores e atrizes tomam suas decisões e interagem até garantir um resultado.
Segundo o autor, não havia nesse encontro talvez inusitado qualquer ponto de vista privilegiado na interpretação dos fenômenos e processos sociais, tampouco qualquer interpretação foi censurada; as narrativas eram todas válidas, o que criava, e não poderia ser diferente, controvérsias em torno das explicações, que eram discutidas, negociadas, questionadas, rejeitadas ou aceitas devido à tradução.
A tradução permitia a continuidade dos deslocamentos, transformações e ajustamentos de interesses, objetivos, saberes e necessidades dos actantes humanos e não-humanos:
Traduzir é deslocar: [...]. Mas é também expressar em sua própria linguagem o que os outros dizem e querem, por que eles fazem do modo como fazem e como se associam entre si: é estabelecer a si mesmo como um porta-voz. Ao final do processo, se exitoso, somente as vozes em uníssono são ouvidas
(Callon, 1984, p. 223).20
O resultado foi bem-sucedido porque, a despeito dos confrontos, discórdias, enfrentamentos, foi possível a construção de um consenso em virtude das negociações e ajustes que os actantes realizaram dos saberes, valores, interesses etc. uns dos outros em seus próprios termos. A tradução permitiu a comunicação entre os atores e atrizes envolvidos(as): “[o]s três cientistas falam em nome das vieiras, dos pescadores e da comunidade científica. No começo, estes três universos estavam separados e não havia qualquer meio de comunicação entre eles” (Callon, 1984, p. 223).21 É a tradução que estabelece as pontes e permite o diálogo entre “universos” tão distintos e aparentemente tão distantes uns dos outros22 e a construção de sentidos, interesses e necessidades comuns que visam conquistar objetivos individuais e sociais a partir de um envolvimento que é sempre coletivo.
A nosso ver, Callon pretende demonstrar que os possíveis desequilíbrios nas balanças de poder não resultam apenas em dominação, ou que a dominação não enfrenta resistência e oposição, logo, a distribuição desigual do poder não impede a participação ativa de atores e atrizes híbridos, a produção de consensos e resultados que jamais estão previamente garantidos.
É como se Latour e os(as) autores(as) que participam e compartilham da Teoria-Ator-Rede, como Callon, por exemplo, nos alertassem para o fato de que não há, porque não é possível haver, fronteiras sociais prévia e inabalavelmente estabelecidas, pois a realidade social é puro movimento, devir, fluxo (Santaella; Cardoso, 2015, p. 171). Mais do que fronteiras, são rotas, conexões e nós, o que encontramos nesses intensos processos de interação. Para falar como Homi Bhabha, o que há é uma miríade de “terceiros espaços”, de “entrelugares”, zonas sociais de contato que fazem e se desfazem todo o tempo. Ou seja, não estamos para sempre aprisionados(as) em classes sociais, partidos políticos, sindicatos ou qualquer outro agrupamento social que nos defina aprioristicamente, o que não quer dizer que não existam. Não é isso! Mas todos os grupos sociais são igualmente o resultado de encontros, desencontros, controvérsias, negociações e traduções.
Ao procurar romper fronteiras, Latour pensa (e propõe) um mundo em comum, pensado e construído por uma gama variada de atores e atrizes, revelando assim que sua Sociologia não separa ciência, política, ética e epistemologia. Por isso acreditamos que não há exagero algum em afirmar que ela configura um tipo de Filosofia – sem abandonar o enfoque sociológico.
Embora o conceito de “tradução”, como acabamos de constatar, seja indispensável para a TAR, ficou igualmente escancarado que se trata de uma tradução sem textos propriamente ditos. Problema contornado pela pesquisadora canadense Hélène Buzelin, que utiliza o repertório latouriano em seus estudos empíricos realizados em três editoras comerciais canadenses (Buzelin, 2005, 2007) a propósito da tradução literária, de biografias e de textos da área de Ciências Humanas e Sociais.23
Assim como Latour pesquisou a “ciência em ação”, Buzelin empenhou-se em estudar a “tradução em ação”, os bastidores da manufatura da tradução literária, realizando o que ela mesma chamou de uma “etnografia do texto”, procurando captar “o objeto movediço em construção” (moving object under construction) (Buzelin, 2007, p. 143). O procedimento etnográfico orientado pela Teoria Ator-Rede de Bruno Latour permite perceber a importância dos agentes – tradutores(as), escritores(as), editores(as) etc. – em processos tradutórios que pressupõem estratégias, negociações, disputas e alianças. Em suma, uma extensa e complexa rede de interações que a noção bourdieusiana de campo, segundo ela (Buzelin, 2005), não seria capaz de captar, principalmente porque esta última perspectiva sociológica, via de regra, acaba produzindo análises marcadamente externalistas que desconsideram a tradução como uma forma de reescrita. Etnografar a “cozinha” da tradução significa realizar uma verdadeira “descrição densa” das relações entre os(as) vários(as) atores(as) envolvidos(as), assim como as articulações entre as decisões linguísticas, estilísticas, editoriais e comerciais (2007, p. 147), documentando o trabalho editorial e de revisão realizados sobre o próprio documento. Isso não seria possível, lembremos, a partir da Sociologia de Pierre Bourdieu, de acordo com a própria autora (2005, p. 210-211).
Ademais, a pesquisa de Buzelin assinala outros três aspectos dos processos tradutórios que os recursos teórico-metodológicos latourianos permitem apanhar e analisar: i) o uso cada vez mais frequente da tecnologia (dictafones, softwares, dicionários eletrônicos etc.) na tradução, produzindo um entrelaçamento nada simples entre mediadores humanos e não-humanos; ii) as traduções coletivas, que envolvem vários(as) tradutores(as) de um único texto ao mesmo tempo, visando, comumente, agilizar os processos tradutórios e antecipar o mais rápido possível a tradução de um determinado texto; iii) as coedições e coproduções, cujo principal intuito é baratear o custo da produção dos livros.
Entretanto, ao final de sua pesquisa junto às três editoras canadenses, Buzelin reconhece que há um limite na abordagem de Latour a partir da qual não é possível seguir: “[...] agora acho extremamente difícil concordar com a reivindicação de Latour de que não há estrutura preexistente, pois o que há são simplesmente redes e atores que se desenvolvem e mudam” (Buzelin, 2007, p. 165).24 A pesquisadora canadense assegura que o caso empírico analisado demonstra o quanto os governos, a partir de políticas públicas de incentivo à tradução e publicação de autores(as) e livros nacionais em outros países, e os intercâmbios literários internacionais desempenham papéis decisivos na difusão cultural, que privilegia determinadas línguas, literaturas e culturas em detrimento de outras, estabelecendo um mercado internacional profundamente desigual.
Nesse sentido, a autora não propõe abandonar Latour, mas aproximá-lo de um “aliado inesperado” (unexpected ally)... Pierre Bourdieu! A proposta de Buzelin é ousada e frequentemente impensada, uma vez que as sociologias de Bourdieu e Latour são geralmente encaradas como antípodas, inconciliáveis.
A autora apresenta a proposta, mas, infelizmente, não a desenvolve. De todo modo, admite o quanto a Sociologia de Bourdieu ainda constitui referência incontornável nos Estudos da Tradução (Wolf, 2007a; Brisset, 2008; Bielsa, 2010).
IV
Embora este dossiê organize e apresente trabalhos que desenvolvem justamente uma sociologia da tradução ancorada em Pierre Bourdieu, não nos eximiremos de realizar uma breve introdução a essa perspectiva pois a julgamos necessária, uma vez que discute alguns aspectos desse tipo de abordagem que o dossiê não abrange.
Os estudos sociológicos da tradução de fisionomia bourdieusiana nada mais são que o desdobramento de sua sociologia da literatura, que, por sua vez, insere-se em sua sociologia da cultura mais ampla. Portanto, alguns de seus conceitos nucleares são transferidos para os estudos da tradução, como os de “campo”, “habitus” e “capital” (social, econômico e simbólico). Contudo, caso se queira aplicar a sociologia de Bourdieu ao fenômeno social da tradução, é preciso se perguntar, antes, se a tradução constitui, em si, um campo. Alguns autores (se) fizeram tal questionamento e chegaram à conclusão de que não (Wolf, 2007a; Gouanvic, 2007; Fouces; Monzó, 2020). O campo da tradução não constitui um campo próprio, específico, porque os textos traduzidos estão inscritos em várias configurações sociais que os fazem pertencer a diferentes campos específicos: o científico, o literário, o jurídico, o religioso, o econômico e tantos outros (Wolf, 2007a; Gouanvic, 2007).
Por essa razão, Michaela Wolf (2007b) propõe que o espaço social da tradução corresponde a um espaço de mediação que não aceitaria um elevado grau de autonomização, justamente porque as regras e padrões que orientam a prática tradutória provêm de inúmeros outros campos. Se tal prática se insere num espaço de mediação, então, provavelmente, trata-se de um espaço em contínua reconfiguração, que abriga agentes e instituições sociais de muitos campos possíveis. Por conseguinte, uma zona de contato transitória que produz agentes e culturas híbridos, capaz de desafiar, muitas vezes, o poder dominante, afirma Wolf (2007b). Para a autora, o espaço da tradução se assemelha ao “terceiro espaço” de Homi Bhabha. No entanto, como ainda é igualmente um espaço de disputa e conflitos, com distribuição desigual de poder entre os agentes e agências que ali se instalam, mesmo que momentaneamente, a autora não descarta o uso das ferramentas analíticas oferecidas por Bourdieu (Wolf, 2007b). No fundo, ela propõe a aproximação entre Bourdieu e Bhabha.
Talvez fosse mais apropriado, preciso mesmo, falar e admitir não uma “Sociologia da Tradução”, mas uma “Sociologia dos Estudos da Tradução” como um campo de pesquisa particular, que conta com a formação de associações profissionais e de investigação, com a criação de jornais e revistas especializados, com a realização de congressos nacionais e internacionais, um campo, enfim, que promove a institucionalização dos Estudos da Tradução (Wolf, 2007a; Gouanvic, 2007) e a formação de um homo academicus dos Estudos da Tradução (Simeoni, 2007). Nesse sentido, a “Sociologia da Tradução” se comporta como uma espécie de guarda-chuva que pode cobrir, encampar, várias perspectivas e possibilidades analíticas.
Entretanto, restaria o problema de enxergar e tratar tal Sociologia como um subcampo da sociologia bourdieusiana da cultura, com todas suas possibilidades e limites. Um desses limites, já apontado na sociologia da literatura de Bourdieu, é que os textos não são tomados como objetos de análise. Destarte, é como se tivéssemos uma sociologia da literatura sem literatura, uma vez que a análise se debruçaria sobre os elementos externos ao texto, como a trajetória social do(a) autor(a), seus pertencimentos sociais e suas redes de sociabilidade. Consequentemente, no que tange à “Sociologia dos Estudos da Tradução”, o mesmo problema se repetiria e nos depararíamos com uma pesquisa sobre a tradução sem tradução: os estudos sociológicos da tradução inspirados em Bourdieu tenderiam a analisar as condições externas que regem a produção e a circulação das traduções, logo, uma dos textos sem textos limitada a uma “sociografia dos tradutores” (Brisset, 2008, p. 21).
Nenhuma das críticas hoje se sustenta.25 No domínio dos estudos sociológicos da tradução, Jean-Marc Gouanvic (2005, 2007) demonstra, a partir da atuação de três importantes tradutores na constituição de um campo da literatura de ficção científica na França – Maurice-Edgar Coindreau, Marcel Duhamel e Boris Vian –, que a “pulsão por traduzir” (pulsion de traduire) depende da aquisição de um certo habitus que se dá durante a formação e o exercício profissional do(a) tradutor(a). A incorporação de um conjunto de normas e valores sociais participa da formação de uma illusio que se encontra na base da libido translatandi e orienta as escolhas, estratégias e decisões durante a própria prática tradutória, uma instrumentação objetiva daquilo que foi subjetivado, escreve Gouanvic (2007). A socialização ocorrida em determinados campos sociais permite a internalização de um habitus que motiva o(a) agente a agir sobre o texto, ou seja, o texto não se encontra protegido em relação ao habitus incorporado, mas é seu resultado. Por isso a tradução não deixa de ser uma espécie de “reescrita”.
Como a sociologia de Pierre Bourdieu ocupa-se e preocupa-se, como mencionamos na seção I desta apresentação, com a (re)produção dos mecanismos de dominação e violência simbólicos, parte considerável dos estudos sociológicos da tradução que toma esse sociólogo francês como ponto de partida investiga a hierarquização dos espaços transnacionais de produção e circulação cultural, principalmente quanto aos textos de Literatura, Filosofia e da área de Ciências Humanas e Sociais.
Não nos estenderemos mais na apresentação de uma sociologia da tradução inspirada em Bourdieu porque o(a) leitor(a) encontrará adiante, em nosso dossiê, justamente um conjunto de artigos que partilham de tal perspectiva e procuram desenvolver argumentos, abordagens teóricas, discussões epistemológicas e métodos que procuram apreender e compreender o trânsito internacional de textos e a geografia da exportação e importação cultural, em boa medida definidos por uma balança desigual de poder e o papel da tradução como instância de legitimação e consagração de uma certa forma de dominação cultural.
* * * *
Os autores que compõem este dossiê, sustentados na “virada sociológica” dos Estudos da Tradução, analisam diversas facetas do fenômeno da tradução do ponto de vista sociológico: esmiúçam o mercado mundial das traduções a partir dos fluxos de tradução entre pares de países – Argentina-França, Brasil-França, Espanha-França –, as relações de intradução e extradução entre línguas e autores traduzidos, bem como a influência do soft power sobre essas trocas. Mobilizam igualmente conceitos e autores de variadas abordagens, que vão de Pierre Bourdieu e Antonio Gramsci aos contemporâneos Helène Buzelin, Johan Heilbron e Gisèle Sapiro, passando por Bruno Latour, Giddens e Even-Zohar, num trânsito que circula entre diferentes nacionalidades.
Abrindo este dossiê de Sociologia da Tradução, os pesquisadores Marta Pragana Dantas, da Universidade Federal da Paraíba, e Artur Perrusi, da Universidade Federal de Pernambuco, compartilham suas Considerações temporárias sobre um problema permanente: sociologizando a tradução. A partir da pergunta norteadora sobre o que seria a tradução como objeto sociológico, os autores interrogam-se sobre como sociologizar a prática tradutória. Para discutir a tradução como prática inscrita em um conjunto de relações sociais e ordenamentos e não como fruto puramente de uma operação entre dois textos e duas línguas, dialogam com algumas perspectivas da chamada “virada sociológica” nos Estudos da Tradução, que se desenvolveu principalmente a partir do final da década de 1990.
O artigo da socióloga Gisèle Sapiro, da École des Hautes Études em Sciences Sociales e do Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS), Americanização das Ciências Humanas e Sociais francesas? Cartografia das traduções do inglês, alemão e italiano para o francês (2003-2013), faz um mapeamento dos fluxos de tradução das Ciências Humanas e Sociais, na França, no decênio 2003-2013, a partir das três línguas mais traduzidas na área – inglês, alemão e italiano. Com o objetivo de averiguar a existência de uma americanização da área, a pesquisadora compara tais fluxos a partir de uma análise quantitativa e qualitativa, que esquadrinha a evolução da relação de hegemonia intelectual entre tradições nacionais e também as relações de força entre campos editoriais nacionais e entre intermediários interculturais. Para fundamentar sua leitura das relações intelectuais de força entre nações, trazidas pelos dados, Sapiro apoia-se neste estudo nos conceitos de hegemonia de Gramsci e de violência simbólica de Bourdieu.
Os pesquisadores Gustavo Sorá, do Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas e da Universidad Nacional de Córdoba, Alejandro Dujovne, igualmente do mesmo CONICET e da Universidad Nacional de San Martín, e a doutoranda Paula Molina Ordoñez, do Instituto de Antropología de Córdoba, abordam as relações culturais entre a França e a Argentina em termos de tradução de livros no artigo Libros híbridos vs libros de mercado en las traducciones de obras de ciencias sociales y humanidades entre Francia y Argentina (1990-2018). O exame dessas relações lhes permite construir um modelo estrutural que opõe livros de mercado – que respondem aos procedimentos padrão dos mercados dos bens simbólicos –, exemplificado pela tradução para o espanhol de obras francesas de Ciências Humanas e Sociais, e livros híbridos, cujas publicações no exterior são iniciativa dos próprios autores argentinos e seus pares.
Seguindo a mesma trilha, a pesquisadora Patrícia Chittoni Ramos Reuillard, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, apoiada na abordagem sociológica da tradução professada por Johan Heilbron e Gisèle Sapiro, interpela o mercado mundial das traduções e esquadrinha, no artigo Fluxos de tradução entre Brasil e França em Ciências Humanas e Sociais: estudo exploratório, os fluxos de extradução e intradução, entre 2010 e 2022, entre esses dois países. Buscando estabelecer um panorama dessas relações, a autora compartilha os dados iniciais coletados em pesquisa documental, em bases nacionais e internacionais e sites institucionais, e informações colhidas junto a editores comerciais e universitários sobre a aquisição e cessão de direitos de tradução entre os mercados editoriais francês e brasileiro.
Ao examinar os programas de apoio à tradução estatais para escritores e livros brasileiros, portugueses e demais autores de língua portuguesa no exterior, no artigo Apoiar a tradução em língua portuguesa no exterior, os pesquisadores Fernando Antonio Pinheiro Filho, Julio C. B. Santos e Marcello G. P. Stella, da Universidade de São Paulo, pretendem demonstrar que esses programas, criados pelos Estados nacionais para divulgar e promover suas literaturas, autores e línguas pelo mundo, não afetam somente a dinâmica de circulação literária de um país, mas também toda a área linguística em que eles se situam. Nessa luta por visibilidade no mercado editorial internacional, os autores concluem pela existência de efeitos também regionais e locais.
A partir de uma comparação entre os fluxos de tradução de livros infantojuvenis entre a França e a Espanha, a professora Delia Guijarro Arribas, da Universidade de Liège, examina a estrutura, as dinâmicas e a distribuição do capital simbólico específicos desse mercado no texto A circulação internacional de livros infantojuvenis. Estudo de caso a partir das traduções na França e na Espanha. A análise comparativa, baseada no estudo das estratégias dos autores e dos editores, indica que esse gênero, que cresce em importância no sistema mundial de traduções, reconfigura igualmente as áreas de atuação dos agentes literários.
Em se tratando de um dossiê que aborda o fenômeno da tradução, não podemos deixar de mencionar o trabalho de tradução do artigo de Delia Guijarro Arribas para o português, efetuado pela bacharelanda Débora Fialho Goulart, pelo qual agradecemos.
Esperemos que este dossiê auxilie tanto os estudiosos da Tradução quanto os sociólogos a observarem seu objeto de estudo sob um outro prisma.
-
1
Para uma reconstituição da história da formação do campo da Sociologia da Tradução, ver, entre outros: Wolf (2007a), Araújo e Martins (2008), Bielsa (2011, 2010), Hernandez-Hernandez (2020).
-
2
Aqui não tomamos a expressão “tradução textual” como tradução palavra por palavra, mas remetemos à tradução dos textos propriamente ditos, seja qual for o gênero.
-
3
Nas próximas seções demonstraremos que tanto a tradução cultural no âmbito da Antropologia e da Filosofia pós-modernas quanto a Teoria Ator-Rede de Latour fornecem subsídios éticos, políticos e epistemológicos para as traduções textuais, principalmente, mas não exclusivamente, no âmbito da literatura.
- 4
-
5
Sobre a noção de habitus, dentre as muitas referências possíveis, indicamos: Bourdieu (1998a) e Wacquant (2017). Sobre o habitus específico de tradutores(as): Gouanvic (2005, 2007) e Simeoni (2007).
-
6
Não há nenhum empecilho teórico para que se tente construir uma Sociologia da Tradução a partir de Giddens, Lahire ou Goffman, por exemplo. Para confirmar o argumento, é preciso informar que já se desenvolve uma Sociologia da Tradução a partir do aporte teórico-metodológico de Niklas Luhmann. Em relação a esta última, consultar: Hermans (2007).
-
7
Veremos, mais à frente, que algumas autoras apontam os limites da abordagem bourdieusiana e propõem soluções para que sua sociologia aplicada aos estudos da tradução não seja completamente descartada, mas sim atualizada.
-
8
Ver, a respeito, o artigo seminal de Heilbron e Sapiro (2002).
-
9
Para o(a) leitor(a) interessado(a) nos meandros desse debate, ler: Asad (1992).
-
10
No original: “[...] test the tolerance of her [his] own language for assuming unaccustomed forms”. Aqui, as traduções deste autor são nossas.
-
11
“A ideia básica aqui é que, quando os etnólogos propõem-se a descrever culturas distantes (tecnicamente tornando-se, assim, etnógrafos, os que registram descrições), eles estão na verdade traduzindo as culturas para a sua própria linguagem profissional” (Pym, 2017, p. 282). Resta dizer que traduzir uma cultura, seja ela qual for, para sua própria linguagem profissional equivale a torná-la inteligível a uma outra cultura e, além disso, interpelar, questionar e tensionar o vocabulário e a gramática antropológicos.
-
12
As metáforas táteis e sensuais da tradução cultural e textual são bastante utilizadas e exploradas por Gayatri C. Spivak (2021).
-
13
Serpa e Camargo (2017) argumentam que o tradutor não deixa de ser um cientista social e o(a) cientista social, acrescentamos, comporta-se, muitas vezes, como uma espécie de tradutor(a).
-
14
Roger Chartier (2022) nos lembra que o encontro com o(a) Outro(a) cultural não se realiza simplesmente no espaço geográfico, mas também no tempo, na história, i.e., a partir do contato e mesmo da tradução de textos mais antigos escritos em nossa própria língua nos deparamos com uma alteridade histórica, um(a) Outro(a) localizado no interior da mesma cultura, mas temporalmente distante.
-
15
A aproximação com Geertz já começa com o título do artigo, pois “Thick translation” (em português “Tradução densa”) faz uma alusão direta ao método etnográfico geertziano, a “descrição densa”.
-
16
No original: “The task of the translator is to facilitate this love between the original and its shadow […]”. Aqui, as traduções desta autora são nossas.
-
17
No original: “The contract, however, is merely a specific instance of a more general phenomenon, that of translation. By translation we understand all the negotiations, intrigues, calculations, acts of persuasion and violence, thanks to which an actor or force takes, or causes to be conferred on itself, authority to speak or act on behalf of another actor or force: ‘Our interests are the same’, ‘do what I want’, ‘you cannot succeed without going through me’. Whenever an actor speaks of ‘us’, s/he is translating other actors into a single will, of which s/he becomes spirit and spokesman. As traduções de Callon & Latour e de Callon nossas.
-
18
Nota-se que Latour manuseia a noção de tradução como interpretação de modo bastante semelhante ao de Clifford Geertz, insinuando um certo parentesco entre a tradução cultural e a TAR.
-
19
Não é à toa que Latour chega a afirmar que coisas e pessoas vivem num pluriverso e não num universo, cuja unidade, ou melhor, unidades, constrói-se contraditoriamente (Latour, 2016, p. 185).
-
20
No original: “To translate is to displace: […]. But to translate is also to express in one’s own language what others say and want, why they act in the way they do and how they associate with each other: it is to establish oneself as a spokesman. At the end of the process, if it is successful, only voices speaking in unison will be heard”.
-
21
No original: “The three researchers talk in the name of the scallops, the fishermen, and the scientific community. At the beginning these three universes were separate and had no means of communication with one another”.
-
22
Não há, mais uma vez, como não reparar as semelhanças com as propostas, preocupações e abordagens da tradução cultural.
-
23
O fato de a Sociologia de Bruno Latour ter se debruçado sobre a ciência e tecnologia não cria barreiras para que outros(as) pesquisadores(as) se inspirem nesse autor e mobilizem e empreguem seu arcabouço teórico-metodológico na pesquisa e análise de outros fenômenos sociais, como, de resto, já tem sido feito. Numa busca rápida pelo Google Scholar podemos encontrar trabalhos que utilizam o enquadramento teórico-metodológico de Latour nos campos da psicologia, enfermagem, direito, educação, entre vários outros.
-
24
No original: “[...] I now find it extremely difficult to go along with Latour's claim that there is no pre-existing structure, there are simply networks and actors that develop and change”. Tradução nossa.
-
25
Basta consultar alguns trabalhos de Sociologia da Literatura que partem dos princípios de Bourdieu e os levam adiante, produzindo uma análise sociológica dos textos literários a partir de e contra Bourdieu, postura bourdieusiana par excellence: Passiani (2003), Miceli (2018, 2022).
Referências
- 1ALMEIDA, Jalcione; CAMANA, Ângela; FLEURY, Lorena C.; DAVID, Marília Luz; PRATES, Camila D.; COELHO, Gabriel B. Em favor das associações: uma homenagem à sociologia de Bruno Latour (1947-2022). Sociologias, v. 24, n. 61, p. 142-168, 2022.
- 2 APPIAH, Kwame Anthony. Thick translation. In: VENUTI, Lawrence (Ed.). The translation studies reader Nova York: Routledge, 2021.
- 3 APPIAH, Kwame Anthony. Thick translation. Callaloo, v. 16, n. 4, p. 808-819, 1993.
- 4 ARAÚJO, Lana Beth A. F. de; MARTINS, Marcia A. P. Um olhar sociológico sobre a tradução. Revista Brasileira de Literatura Comparada, n. 34, p. 2-11, 2018.
- 5 ASAD, Talal. The concept of cultural translation in British Social Anthropolgy. In: CLIFFORD, James; MARCUS, George E. (Eds.). Writing culture The poetics and politics of Ethnography. Berkeley: University of California Press, 1992.
- 6 BENJAMIN, Walter. A tarefa do tradutor. Tradução de João Barrento. In: BENJAMIN, Walter. Linguagem, tradução, literatura (filosofia, teoria, crítica) Belo Horizonte: Autêntica, 2018.
- 7 BHABHA, Homi K. Como o novo entra no mundo: o espaço pós-moderno, os tempos pós-coloniais e as provações da tradução cultural. In: BHABHA, Homi K.. O local da cultura Tradução de Myriam Ávila, Eliana L. de L. Reis, Gláucia Renate Gonçalves. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1998.
- 8 BIELSA, Esperanza M. Some remarks on the sociology of translation: A reflection on the global problem and circulation of sociological works. European Journal of Social Theory, v. 14, n. 2, p. 199-215, 2011.
- 9 BIELSA, Esperança M. The sociology of translation: outline of an emerging field. MonTI, n. 2, p. 153-172, 2010.
- 10 BOURDIEU, Pierre. A génese dos conceitos de habitu e campo; tradução de Fernando Tomaz. In: BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998a.
- 11 BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas simbólicas Tradução de Sergio Miceli, Silvia de A. Prado, Wilson C. Vieira. São Paulo: Perspectiva, 1998b.
- 12 BOURDIEU, Pierre. As regras da arte Tradução de Maria Lucia Machado. São Paulo: Cia. das Letras, 1996.
- 13 BOURDIEU, Pierre. Campo intelectual e projeto criador. In: POUILLON, Jean et al. Problemas do estruturalismo Tradução de Rosa Maria R. da Silva. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1968.
- 14 BRISSET, Annie. Courants sociologiques de la traduction. Les Nouveaux Cahiers Franco-Polonais, n. 7, p. 9-30, 2008.
- 15 BUZELIN, Hélène. Translations “in the making”. In: WOLF, Michaela; FUKARI, Alexandra (Eds.). Constructing a sociology of translation Amsterdã: John Benjamins Publishing Company, 2007.
- 16 BUZELIN, Hélène. Unexpected allies. How Latour’s network theory could complement Bourdieusian analyses in translation studies. The translator, v. 11, n. 2, p. 193-218, 2005.
- 17 CALLON, Michel. Éléments pour une sociologie de la traduction. La domestication des coquilles Saint-Jacques et des marin-pêcheurs dans la baie de Saint-Brieuc. La Année Sociologique, n. 1, p. 169-208, 1986.
- 18 CALLON, Michel. Some elements of a sociology of translation: domestication of the scallops and the fishermen of St. Brieuc Bay. The Sociological Review, v. 32, n. 1, p. 196-233, 1984.
- 19 CALLON, Michel; LATOUR, Bruno. Unscrewing the big Leviathan: how actors macro-structure reality and how sociologists help them to do so. In: KNORR-CETINA, Karen; CICOUREL, Aaron V. (Eds). Advances on social theory and methodology Toward an integration of micro-and macro-sociologies. Londres: Routledge, 1981.
- 20 CHARTIER, Roger. Escrever o outro: tradução e intraduzível. In: CHARTIER, Roger. Editar e traduzir Tradução de Mariana Echalar. São Paulo: Ed. Unesp, 2022.
- 21 FOUCES, Oscar D.; MONZÓ, Esther. Como seria uma sociologia aplicada aos estudos da tradução? Tradução de Talita Serpa e Paula Tavares Pinto. Cad. Trad., v. 40, n. 1, p. 440-455, 2020.
- 22 GEERTZ, Clifford. “Descoberto na tradução”: a história social da imaginação moral. . In: GEERTZ, Clifford. O saber local: novos ensaios em antropologia interpretativa. Tradução de Vera Mello Joscelyne. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014.
- 23 GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas Tradução de Fanny Wrobel. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1978.
- 24 GOUANVIC, Jean-Marc. Objectivation, réflexivité et traduction. Pour une re-lecture bourdiesienne de la traduction. In: WOLF, Michaela; FUKARI, Alexandra (Eds.). Constructing a sociology of translation Amsterdã: John Benjamins Publishing Company, 2007.
- 25 GOUANVIC, Jean-Marc. A Bourdieusian theory of translation, or the coincidence of practical instances. The Translator, v. 11, n. 2, p. 147-166, 2005.
- 26 HEILBRON, Johan; SAPIRO, Gisèle. La traduction littéraire, un objet sociologique. Actes de la Recherche en Sciences Sociales, n. 144, p. 3-5, 2002.
- 27 HERMANS, Theo. Translation, irritation and resonance. In: WOLF, Michaela; FUKARI, Alexandra (Eds.). Constructing a sociology of translation Amsterdã: John Benjamins Publishing Company, 2007.
- 28 HERNANDEZ-HERNANDEZ, Tania Paola. From universal literature classics to social sciences: mapping three intranslation projects in Mexico. Cad. Trad., v. 40, n. 2, p. 77-97, 2020.
- 29 LATOUR, Bruno. Cogitamus: seis cartas sobre as humanidades científicas. Tradução de Jamille P. Dias. São Paulo: Ed. 34, 2016.
- 30 LATOUR, Bruno. Reagregando o social: uma introdução à teoria Ator-Rede. Tradução de Gilson César C. Sousa. Salvador: Edufba, 2012.
- 31 LATOUR, Bruno. Ciência em ação: como seguir cientistas e engenheiros sociedade afora. Tradução de Ivone C. Benedetti. São Paulo: Ed. Unesp, 2011.
- 32 MICELI, Sergio. Sonhos da periferia São Paulo: Todavia, 2018.
- 33 MICELI, Sergio. Lira mensageira: Drummond e o grupo modernista mineiro. São Paulo: Todavia, 2022.
- 34 PASSIANI, Enio. Na trilha do Jeca: Monteiro Lobato e a formação do campo literário no Brasil. Bauru, SP: Edusc, 2003.
- 35 PYM, Anthony. Tradução cultural. In: PYM, Anthony. Explorando teorias da tradução Tradução de Rodrigo B. de Faveri, Claudia B. de Faveri e Juliana Steil São Paulo: Perspectiva, 2017.
- 36 SANTAELLA, Lúcia; CARDOSO, Tarcísio. O desconcertante conceito de mediação técnica em Bruno Latour. MATRIZes, v. 9, n. 1, p. 167-185, jan. 2015.
- 37 SERPA, Talita; CAMARGO, Diva C. de. Ciências sociais e estudos da tradução baseados em corpus: interdisciplinaridades de uma sociologia da tradução. Intersecções, v. 24, n. 3, p. 55-74, 2017.
- 38 SIMEONI, Daniel. Between sociology and history. Method in context and in practice. In: WOLF, Michaela; FUKARI, Alexandra (Eds.). Constructing a sociology of translation Amsterdã: John Benjamins Publishing Company, 2007.
- 39 SPIVAK, Gayatri C. The politics of translations. In: VENUTI, Lawrence (Ed.). The translation studies reader Nova York: Routledge, 2021.
- 40 VENUTI, Lawrence. The translator’s invisibility A history of translation. Londres: Routledge, 2008.
- 41 WACQUANT, Löic. Habitus (verbete). In: CATANI, Afrânio M. et al (Orgs.). Vocabulário Bourdieu Belo Horizonte: Autêntica, 2017.
- 42 WOLF, Michaela. Introduction: The emergence of a sociology of translation. In: WOLF, Michaela; FUKARI, Alexandra (Eds.). Constructing a sociology of translation Amsterdã: John Benjamins Publishing Company, 2007a.
- 43 WOLF, Michaela. The location of the “translation field”. Negotiating borderlines between Pierre Bourdieu and Homi Bhabha. In: WOLF, Michaela; FUKARI, Alexandra (Eds.). Constructing a sociology of translation Amsterdã: John Benjamins Publishing Company, 2007b.
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
28 Abr 2023 -
Data do Fascículo
2023
Histórico
-
Recebido
15 Mar 2023 -
Aceito
22 Mar 2023