Resumo
Como resultado de um instigante esforço de investigação, ocorrido de 2017 a 2019, no livro Não existe almoço grátis, Leonardo Ostronoff nos apresenta os meios pelos quais os sistemas de vigilância presentes em supermercados, que observam coisas e pessoas, fornecem pistas analíticas instigantes sobre a dinâmica do roubo de carga no Brasil. Valendo-se de um inventário exaustivo do funcionamento das estratégias de controle de mercadorias em lojas, centros de distribuição e dos meios de transporte, a pesquisa ata os laços da relação entre atores aparentemente desconexos, nomeadamente o estado (polícias), as empresas (segurança privada) e o crime envolvidos no mercado de cargas líticas e ilícitas. É a partir desse lugar, opaco porque borra as circunscrições normativas usualmente atribuídas a esses sujeitos e/ou espaços, que o autor nos convida a refletir sobre as implicações da segurança dita “pública” no Brasil, onde o interesse privado sobrepõe, ou se confunde, com a gestão pública da ordem. O mercado de segurança transforma em ativo o que antes era monopólio do estado, o uso legítimo da violência.
Palavras-chave crime; vídeo vigilância; roubo de cargas; polícia; metodologia