Acessibilidade / Reportar erro

Tradição e autenticidade em um mundo pós-convencional: uma leitura durkheimiana1 1 Os temas abordados aqui refletem o trabalho de pesquisa sobre a teoria durkheimiana, realizada pelos autores por mais de 14 anos, em diferentes trajetórias. O trabalho de Rosati esteve centrado sobre o tema da religião, enquanto Weiss dedicou-se especificamente à moral. As distintas tarjetórias finalmente se cruzaram, em outubro de 2012, durante a celebração do centenário da publicação de "Les Formes Elementaires de la Vie Religieuse", de Durkheim, em Porto Alegre. Era o início de uma amizade profunda, que começou com a promessa de trabalhar juntos no futuro. A oportunidade surgiu com a organização deste dossier e a escrita deste artigo, cuja preparação começou em novembro de 2013, como o primeiro de uma longa lista de projetos que pretendíamos realizar juntos. No mês seguinte, iniciamos um intenso diálogo que resultou no esboço geral do artigo. Infelizmente, em 30 de janeiro de 2014, Massimo Rosati nos deixou, aos 44 anos. Finalizar sozinha um trabalho iniciado em cooperação pareceu um desafio quase insuperável, especialmente por saber que nunca seria o mesmo que se escrito em conjunto, porque - como disse Durkheim - um grupo é sempre algo qualitativamente diferente da soma dos indivíduos que o compõe, uma vez que a interação cria algo completamente novo. Este trabalho, portanto, representa o esforço máximo de honrar a memória de Rosati e nossa parceria intelectual, recriando cada ideia discutida entre nós. Também tentei incluir de forma coerente cada fragmento textual escrito por Rosati como parte do manuscrito. Qualquer imprecisão, no entanto, é de minha total responsabilidade. Finalmente, agradeço, entre outros, a Alessandro Ferrara, que me ajudou ao longo de todo o caminho, fornecendo referências ausentes, discutindo ideias de Rosati, com uma profundidade que só uma amizade que durou mais de 20 anos permitiria, e revisando o manuscrito, a fim de me tranquilizar de que nenhuma sentença estaria em contradição com seus pressupostos teóricos.

Tradition and Authenticity in Post-Conventional World: a Durkheimian Reading

Neste artigo pretendemos demonstrar por que a teoria durkheimiana ainda é relevante para os debates contemporâneos sobre moral e como a sociologia poderia lidar com a mesma. De certa forma, é um esforço para estabelecer as bases do que seria, hoje, uma sociologia durkheimiana da moral ou, melhor, de como poderíamos conceber uma sociologia contemporânea da moral de inspiração durkheimiana. Para isso, vamos primeiramente reconstruir os elementos ontológicos implícitos à sua visão da moral, destacando uma dimensão que é precisamente a que essa teoria é acusada de negligenciar: uma discussão sobre a natureza humana e as condições para a constituição do eu. Em um segundo movimento, apresentamos algumas considerações "operacionais" sobre o que esta sociologia durkheimiana da moral poderia ser hoje, apontando para o nível de análise com que ela pode lidar, para o que ela pode pretender explicar e - por que não? (acrescentando um toque weberiano) - entender. A etapa final nos leva ao território de uma teoria social normativa, que consiste em uma discussão crítica de moralidades patológicas, do ponto de vista do sofrimento que elas podem infligir ao indivíduo, e dos desafios trazidos pela modernidade tardia, caracterizada por uma multiplicidade de objetos sagrados que habitam o mesmo espaço.

Sociologia moral; Moral e religião; Sagrado; Self


Programa de Pós-Graduação em Sociologia - UFRGS Av. Bento Gonçalves, 9500 Prédio 43111 sala 103 , 91509-900 Porto Alegre RS Brasil , Tel.: +55 51 3316-6635 / 3308-7008, Fax.: +55 51 3316-6637 - Porto Alegre - RS - Brazil
E-mail: revsoc@ufrgs.br