COMUNICADOS
Ocorrência de queima foliar em árvores de Santa Bárbara (Melia azedarach) causado por Cercospora meliae
Daniel Dias RosaI,II,1 1 Autor para correspondência: Daniel D. Rosa, ddrosa@gmail.com ; Paola Jennifer BocardoI; Helenize Gabriela de SouzaI,III; Edson Luiz FurtadoI,II
IUniversidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências Agronômicas, Departamento de Produção Vegetal - Setor de Defesa Fitossanitária, CP 237, CEP: 18603-970 Botucatu, SP
IIBolsista do CNPq
IIIBolsista da FAPESP
Conhecida popularmente como árvore de Santa Bárbara ou cinamomo, a Melia azedarach L. é uma espécie arbórea de até 20 metros de altura que produz uma madeira de cor esbranquiçada a avermelhada, com veios castanhos. Pertencente a família Meliaceae, é originaria do sudeste asiático e apresenta-se esporadicamente nas Américas, no Mediterrâneo e na África. Atualmente, é muito utilizada para arborização urbana, pois apresenta flores aromáticas e tem folhagem caduca. Popularmente, é uma planta que apresenta uso inseticida, sendo que o extrato de suas folhas é utilizado na forma de pulverização sobre insetos pragas (Brunherotto & Vendramim, Neotropical Entomology 30:455. 2001).
No mês de março de 2007, observaram-se plantas de M. azedarach com manchas foliares irregulares de coloração parda, regiões necróticas e encarquilhamento (Figura 1A). Folhas foram coletadas e enviadas para a Clinica Fitopatológica, do Departamento de Produção Vegetal - Setor de Defesa Fitossanitária, da Faculdade de Ciências Agronômicas - FCA/UNESP de Botucatu para análise.
As folhas coletadas foram submetidas ao exame de diagnose em microscópio estereoscópico óptico e foi observado a formação de pontuações enegrecidas nas regiões necróticas. Na face abaxial das lesões, observou-se a presença de intensa esporulação enegrecida de um fungo (Figura 1B), cuja morfologia correspondia ao gênero Cercospora (Crous & Braun, Mycosphaerella e seus anamorfos. CBS. The Netherlands.2003).
Na análise em microscopia otica, observou-se que os conidióforos são agrupados em fascículos, de 3 a 15 conidióforos, hialinos, simpodiais, mostrando cicatrizes conidiais truncadas e espessadas (Figura 1D), medindo 22 ± 4 µm X 5,2 ± 1,2 µm, já os conídios apresentam cicatrizes truncadas, escuras e espessadas, medindo 90,8 ± 14 µm X 3,7 ± 0,8 µm, com 3 a 5 septos (Figura 1C), baseado nessas características identificou-se o fungo como sendo Cercospora meliae Ellis & Everh.(1887)(Ellis & Everhart, Journal of Micology 3:13. 1887) (sin. Cercospora leucosticta Ellis & Everh. 1888 ) (Note: Chupp (1953) pg. 385 (Chupp, C. 1953. Monograph of the fungus genus Cercospora. Ithaca, New York, 667 pages. (786)).
Para confirmação da patogenicidade efetuou-se a inoculação do patógeno, utilizando-se o inoculo obtido das folhas doentes, sendo então pulverizadas sobre as folhas de plantas sadias, numa concentração de 2,0 X 104 conídios/mL, e essas mantidas em câmara úmida por 24 horas, em temperatura ambiente e depois acondicionadas em estufa a 22ºC, com fotoperíodo de 12 hora de luz. Dez dias após a inoculação, observaram-se lesões necróticas somente nas folhas inoculadas, não sendo observados nas folhas que serviram de testemunhas. A partir das lesões resultantes, realizou-se o re-isolamento do patógeno, obtendo-se a cultura pura do fungo, confirmando-se assim a etiologia da doença. Atualmente, são conhecidas espécies de Cercospora em M. azedarach, são elas: Cercospora meliicola, na Índia e Argentina; Cercospora apii nos Estados Unidos, Cercospora subsessilis, na Argentina, China, Cuba, Republica Dominicana, Índia, Filipinas, Porto Rico, Sudão, Taiwan, Venezuela, Ilhas Virgens e nos Estados Unidos, Cercospora meliae, na África do Sul, Índia, China, Estados Unidos, Paquistão, Paraguai e Taiwan e Cercospora domingensis na Republica Dominicana, sendo este o primeiro relato de Cercospora meliae em Melia azedarach, no Brasil. Folhas doentes foram herborizadas e depositadas no herbário do Laboratório de Patologia Florestal, da Faculdade de Ciências Agronômicas - FCA/UNESP em Botucatu (HPF-350).
Data de chegada: 10/07/2007.
Aceito para publicação em: 27/05/2008
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
26 Maio 2009 -
Data do Fascículo
Fev 2009