A importância de agentes infecciosos na patologia humana aumentou significamente após a constatação da participação destes agentes em fenômenos auto-imunes, além da indução de processos sépticos primários. Os mecanismos pelos quais microorganismos induzem manifestações de auto-imunidade, como a artrite, tem sido investigados, especialmente os que envolvem as micobactérias como agente etiopatogênico. No modelo experimental de artrite por adjuvante e em algumas doenças inflamatórias articulares humanas, por exemplo na artrite reativa, comprovou-se o envolvimento de linfócitos T e em alguns casos da micobactéria no desencadeamento da artrite. Foi verificada reação cruzada entre a proteína de 65 quilodaltons (kD) de micobactéria e proteoglicanos da cartilagem, evidenciando um possível mecanismo na produção de artrite. A ativação de células B foi também comprovada na doença micobacteriana humana, as quais participam, da produção crônica de citocinas ou como células apresentadoras de antígeno. Em pacientes portadores de hanseníase por nós estudados, artrite periférica de padrão crônico, não relacionada a estados reacionais (eritema nodoso hansênico e reação reversa) e em pacientes considerados com hanseníase inativa foi diagnosticada. O quadro inflamatório articular estava presente em todas as formas de hanseníase inclusive nas paucibacilares. Os mecanismos que poderiam levar à artrite crônica em pacientes com hanseníase são aqui discutidos.