No Instituto Médico Legal de São Paulo, de maio de 1985 a maio de 1989, foram realizadas 126 necrópsias de indivíduos portadores de AIDS cujo óbito foi motivo de investigações policiais. 119 eram do sexo masculino e 17 do sexo feminino e o pico de incidência etária foi dos 20 aos 30 anos. Foram observadas 54 mortes em estabelecimentos penais, 29 suicídios, 17 homicídios dolosos, 17 mortes suspeitas, 5 homicídios culposos e 4 corpos em putrefação. Os presidiários, à exceçáo de um que foi estrangulado, faleceram do curso natural da doença. Chamou atenção nas perícias a alta incidência de micobacteriose extra pulmonar. Os suicídios se procederam das mais diferentes formas e as vítimas, em sua maioria, apresentavam o quadro inicial da doença. As mortes suspeitas e os corpos encontrados em deterioração resultaram do abandono dos pacientes pelos familiares. Nos homicídios, a morte quase sempre ocorreu tardiamente nos hospitais e a doença contribuiu certamente para o agravamento das lesões. Os autores chamam atenção sobre os problemas jurídicos e sociais que envolvem as vítimas da AIDS e realçam esses últimos como um obstáculo a um controle efetivo da epidemia.