Neste trabalho, defende-se uma concepção filosófica acerca de duas dimensões distintas do conhecimento científico, mas estreitamente interligadas. A primeira é uma visão de conhecimento que, partindo de uma crítica aos pressupostos da análise tripartida clássica, incorpora a justificação epistêmica de tipo coerentista e também os valores de maneira orgânica e constitutiva, afastando-se de uma imagem inferencial-dedutiva, proposicional e realista de ciência. Em segundo lugar, propõe-se uma visão de racionalidade científica, dita covariante, que também incorpora a justificação coerentista (sob a forma "macroscópica" do equilíbrio reflexivo), bem como atribui um papel central para os valores. Essa visão, juntamente com o alargamento do horizonte axiológico, permite encontrar um compromisso adequado entre contingência e invariância, mostrando-se apta a modelar uma racionalidade em fluxo, sem pontos fixos. Os elementos estruturais e dinâmicos de ambas as dimensões da concepção aqui exposta são compatíveis com os modelos de Hugh Lacey, Larry Laudan e com a metateoria estruturalista, de modo que os elos principais de ligação entre a epistemologia e a racionalidade residem na coerência e nos valores, tendo como pano de fundo uma imagem não dedutiva da ciência.
Racionalidade científica; Justificação epistêmica; Coerência; Inconsistência; Equilíbrio reflexivo; Metateoria estruturalista; Lacey; Laudan; Imagem não dedutiva de ciência