Resumo
Em que medida a proposta de uma nova ética para a civilização tecnológica, elaborada por Hans Jonas, possuiria o condão de convocar os cientistas para o efetivo exercício de sua responsabilidade perante à natureza ameaçada? O esclarecimento, que sua obra pretende levar a termo a respeito dos crescentes perigos associados ao progresso técnico-científico, não procura fundamentalmente refrear, em caráter emergencial, a cega compulsão de aplicação tecnológica, com os perversos efeitos associados à tecnolo gização e à mercantilização da ciência em nossos dias? Com efeito, sua crítica da ideologia legitimadora do progresso tecnocientífico procura, em última instância, debelar o processo compulsivo de aplicações tecnológicas, considerado perverso em si mesmo, não se permitindo considerar de que outra forma o progresso tecnocientífico poderia vir a desenvolver-se, de modo a tornar-se efetivamente capaz de atender valores humanos, sociais e ambientais. A partir da explicitação dos impasses a que conduz a proposta de Jonas, respaldamo-nos nos estudos de Hugh Lacey para apresentar uma forma alternativa de estru turação das atividades científicas. Visando suplantar esses impasses, procuramos investigar em que medida o desejável acolhimento de valores morais, sociais e ambientais, por parte das práticas científicas e tecnológicas vigentes, poderia estar conjugado com uma experiência propriamente estética capaz de propiciar a abertura à alteridade e o acolhimento de valores alheios. A investigação do concurso de uma experiência deste teor é realizada à luz de motivos de pensamento presentes nas obras de Theodor Adorno e Herbert Marcuse.
Palavra-chave Jonas; Dominação da natureza; Tecnociência; Controle; Valores; Experiência estética; Mímesis; Lacey; Adorno; Marcuse