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Scientiae Studia, Volume: 10, Número: 3, Publicado: 2012
  • Editorial

    Mariconda, Pablo Rubén; Videira, Antonio Augusto Passos; Mendonça, André Luís De Oliveira
  • Pluralismo metodológico, incomensurabilidade e o status científico do conhecimento tradicional Artigos

    Lacey, Hugh

    Resumo em Português:

    Os valores culturais podem ter um impacto construtivo nas práticas científicas e levar a variações culturais legítimas nas abordagens sobre as mesmas. Segue-se que o conhecimento tradicional ou indígena não precisa opor-se ao conhecimento científico, e somente a investigação caso-a-caso pode estabelecer se as credenciais cognitivas de itens particulares do conhecimento tradicional são adequadas ou deficientes. Com base em uma análise de como as estratégias metodológicas podem tanto competir quanto complementar umas às outras, eu argumento que o que há de defensável na noção de incomensurabilidade de Thomas Kuhn e a possibilidade da solidez do status científico do conhecimento tradicional compartilham da mesma fonte.

    Resumo em Inglês:

    Cultural values may constructively have impact on scientific practices, and lead to legitimate culture-based variations in approaches to them. It follows that traditional or indigenous knowledge need not stand opposed to scientific knowledge, and only investigation on a case-by-case basis can establish whether or not the cognitive credentials of particular traditional knowledge claims are adequate or deficient. Building on an analysis of how different methodological strategies may both compete and complement one another, I argue that what is defensible about Thomas Kuhn's notion of incommensurability, and the possibility of the sound scientific status of traditional knowledge, have the same source.
  • Valores e incomensurabilidade: meditações kuhnianas em chave estruturalista e laudaniana Artigos

    Bezerra, Valter Alnis

    Resumo em Português:

    Neste artigo, são colocados em perspectiva e reinterpretados dois temas que ocupam lugar de destaque dentro da imagem kuhniana de ciência: (1) o papel dos valores e sua relação com a questão da subdeterminação metodológica; (2) a incomensurabilidade e seus dilemas. As teses de Kuhn a respeito desses temas são reavaliadas, seus desdobramentos são criticamente discutidos, e determinadas reinterpretações e reformulações são propostas. Isso é feito segundo duas perspectivas metacientíficas: a visão historiográfica-metametodológica de Laudan (nas variantes reticulacional e de solução de problemas) e a metateoria estruturalista iniciada por Balzer, Moulines e Sneed. Mostra-se que, desse modo, são removidas as principais dificuldades inerentes ao tratamento kuhniano dessas questões, ao mesmo tempo que se consegue preservar os traços mais interessantes e as intuições mais perspicazes de Kuhn a respeito.

    Resumo em Inglês:

    In this paper, two themes that figure outstandingly in the Kuhnian image of science are brought together, put into perspective, and re-interpreted: (1) the role of values in science and their relation with the issue of methodological underdetermination; (2) incommensurability and its dilemmas. Kuhn's theses concerning these themes are re-evaluated, how they unfold is critically discussed, and certain re-interpretations and reformulations are proposed. This is done according to two metascientific perspectives: Laudan's historiographic-metamethodological view (both in its problem-solving and reticulational variants), and the structuralist metatheory pioneered by Balzer, Moulines and Sneed. In this way, it is shown that the main difficulties inherent in the Kuhnian treatment of these questions can be removed, while at the same time being still possible to keep the most interesting features, as well as Kuhn's most insightful intuitions, concerning these issues.
  • Incomensurabilidade, comparabilidade e objetividade Artigos

    Tossato, Claudemir Roque

    Resumo em Português:

    Este artigo pretende mostrar que o termo "incomensurabilidade" utilizado por Kuhn fornece, juntamente com o conceito de "comparabilidade", as condições para uma escolha objetiva entre teorias. Procura-se defender que a filosofia de Kuhn não é uma filosofia relativista. Discutem-se as noções de incomensurabilidade em sentido amplo e de incomensurabilidade local. Apresenta-se um evento da história da astronomia ligado ao copernicanismo para ilustrar que a adequação empírica permite a comparação entre teorias localmente incomensuráveis.

    Resumo em Inglês:

    The article aims to show that the term, "incommensurability", used by Kuhn provides, together with the concept of "comparability", conditions for an objective choice between theories. It defends that Kuhn's philosophy is not a relativist. I discuss the notions of incommensurability in the broad sense and of local incommensurability. I make use of an event in the history of astronomy connected with Copernicanism to illustrate that the empirical adequacy allows comparison between locally incommensurable theories.
  • Thomas Kuhn e seus modificadores intercontinentais Artigos

    Tuchanska, Barbara

    Resumo em Português:

    Discuto algumas dificuldades nos escritos de Imre Lakatos, Larry Laudan e Michael Friedman, nas quais - no esforço de chegar a uma nova enunciação da normatividade metodológica e da racionalidade da ciência - eles modificam, complicam e expandem a concepção kuhniana do desenvolvimento da ciência, substituindo seu conceito de paradigma por um conceito mais rigoroso, ou complementando-o com vários conceitos de metaparadigmas. Não é claro que qualquer uma das substituições propostas por eles para "paradigma" seja mais (metodologicamente) racional, melhor (logicamente) desenhada e menos monopolística e dogmática. Apresento também mais amplamente a concepção de Stefan Amsterdamski dos ideais de conhecimento e minhas próprias ideias, elaboradas, em alguns casos, há muitos anos, de modo a melhorar a visão de Kuhn. Introduzo o conceito de "tradição intelectual" como uma estrutura de múltiplos níveis, contendo uma camada metafísica e (várias) camadas científicas, a ideia de hierarquia de realizações científicas baseada em sua significação cognitiva diferenciada e um esboço de uma história narrativa da ciência como um processo de autoconstituição.

    Resumo em Inglês:

    I discuss some difficulties in writings by Imre Lakatos, Larry Laudan and Michael Friedman, where - in efforts to reinstate methodological normativity and the rationality of science - they modify, complicate, and expand Kuhn's conception of the development of science by replacing his concept of paradigm with a more rigorous one, or by supplementing it with various concepts of meta-paradigms. It is not clear that any of their proposed replacements of "paradigm" are more (methodologically) rational, better (logically) designed, and less monopolistic and dogmatic. I also present more broadly Stefan Amsterdamski's conception of the historical ideals of knowledge and my own ideas, elaborated, in some cases many years ago, in order to improve Kuhn's view. I introduce a concept of an "intellectual tradition" as a multi-level structure, containing a metaphysical layer and (several) scientific layers; the idea of a hierarchy of scientific achievements based on their differentiated cognitive significance; and an outline of a narrative of the history of science as a self-constituting process.
  • O legado de Thomas Kuhn após cinquenta anos Artigos

    Mendonça, André Luis de Oliveira

    Resumo em Português:

    Neste artigo, analiso o pensamento de Thomas Kuhn à luz da ideia de que sua obra desencadeou um processo de rediscussão acerca das relações entre ciência e sociedade. De fato, A estrutura das revoluções científicas, publicado em 1962, causou um impacto que deixou marcas indeléveis nos debates arrolados sobre a prática científica. Dois efeitos colaterais decorreram desse acontecimento: um possibilitou o surgimento - talvez a concretização de uma tendência - de questões extremamente técnicas e, em alguma medida, estéreis; o outro acirrou os ânimos da querela acerca do lugar que a ciência ocupa, ou deveria ocupar, na sociedade. O argumento central desenvolvido neste artigo é o de que o segundo efeito foi engendrado por Kuhn de forma inconsciente. Em outras palavras, Kuhn pode ser visto como tendo propiciado uma liberação involuntária, no sentido de ter recolocado o debate em torno da interface entre a ciência e a sociedade, embora a sua revelia. Dessa forma, ele pode ser apontado como a grande fonte de inspiração para o programa forte e os subsequentes science studies. É necessário, portanto, uma reavaliação das suas teses principais, a fim de que se possa lançar luz sobre a questão da interação entre os fatores racionais e os valores sociais.

    Resumo em Inglês:

    In this article I analyze the thought of Thomas Kuhn in the light of the idea that his work has reopened discussions on the relationship between science and society. In fact, his work The structure of scientific revolutions, published in 1962, had an impact that left indelible marks on the debates about scientific practice. As a consequence, two side effects arose: One of them leading the way to extremely technical matters and, somehow, unproductive. The other intensified the discussion concerning the place that science has - or should have - in society. My main argument is that the second effect was originated unconsciously by Kuhn. In other words, Kuhn can be seen as the generator of an involuntary liberation, because, regardless of his wishes, he reopened discussion of the science/society relationship. Thus, he can be pointed to as the major source of inspiration for the strong program and, subsequently, for science studies. Therefore, it is important to reevaluate his main theses in order to cast light on issues related to the interaction between rational factors and social values.
  • O relativismo de Kuhn é derivado da história da ciência ou é uma filosofia aplicada à ciência? Artigos

    Oliva, Alberto

    Resumo em Português:

    Está longe de ser fácil qualificar uma concepção ou um pensador de relativista. Como Kuhn rejeita ser tachado de relativista, discutiremos o que em sua obra dá ensejo a assim caracterizá-lo. Abordaremos três relativismos em Kuhn - o epistêmico, o ontológico e o linguístico - com o intuito de avaliar se o relativismo em Kuhn é fruto da aplicação de uma filosofia à compreensão da ciência ou se é derivado de uma fidedigna reconstrução histórica da ciência. Entendemos ser fundamental diferenciar o caso em que se emprega uma variante de relativismo filosófico na reconstrução da ciência do caso em que o relativismo é extraído de como a ciência vem sendo praticada. Tentaremos, operando com a distinção entre relativismo filosófico e relativismo metacientífico, demonstrar que as teses basilares de Kuhn são, quando muito, parcialmente apoiadas pela história da ciência. E também advogaremos que o relativismo kuhniano deve fundamentar-se em última análise em explicações psicológicas e sociológicas para ser solidamente defendido. Kuhn reconhece isso, mas questiona a capacidade explicativa das teorias até aqui forjadas pelas ciências sociais. E se Kuhn não é capaz de mostrar como e em que extensão os fatores sociais atuam sobre a racionalidade científica, então seu relativismo pode ser apropriadamente visto como fruto da aplicação de determinada epistemologia, ontologia e filosofia da linguagem à compreensão da ciência.

    Resumo em Inglês:

    Although Kuhn rejects being labeled a relativist, I will discuss what in his works justifies so characterizing him. I will explore three kinds of relativism in Kuhn - epistemic, ontological and linguistic - in order to assess whether his relativism is the result of applying a philosophy to the understanding of science, or whether it is derived from an accurate historical reconstruction of science. It is essential to differentiate between a variant of philosophical relativism being employed in the reconstruction of science, and relativism simply deriving from the way science has been practiced. Operating with the distinction between philosophical and metascientific relativism, I will try to show that Kuhn's basic theses are at best partially supported by history of science, and contend that, in the final analysis, kuhnian relativism must be grounded on psychological and sociological explanations in order to be firmly sustained. Kuhn recognizes this, but he questions the explanatory capacity of the theories so far forged by social sciences. And if Kuhn is unable to show how and to what extent social factors act upon scientific rationality, then his relativism may properly be seen as the product of applying a certain epistemology, ontology and philosophy of language to the understanding of science.
  • Sistemática filogenética hennigiana: revolução ou mudança no interior de um paradigma? Artigos

    Santos, Charles Morphy Dias; Klassa, Bruna

    Resumo em Português:

    A sistemática filogenética, método de reconstrução de árvores evolutivas criado por Willi Hennig em 1955 e ampliado em 1966, é frequentemente considerada um novo paradigma que revolucionou as classificações biológicas quando comparado às escolas de sistemática anteriores, como a taxonomia evolutiva. Tal abordagem da história da sistemática é baseada principalmente na visão de Kuhn sobre o progresso do conhecimento científico. No entanto, podemos questionar a validade desse status revolucionário - na visão kuhniana - atribuído à filogenética hennigiana. Aqui, discutimos os atributos compartilhados pela sistemática filogenética e taxonomia evolutiva, ambas profundamente relacionadas à teoria evolutiva de Darwin-Wallace, e porque o método de Hennig é de fato um desenvolvimento da proposta para as classificações biológicas de Mayr e Simpson, explícita na teoria sintética da evolução dos anos 1930 e 1940. Nesse sentido, elas ajustam-se à visão popperiana de "seleção natural" das hipóteses científicas. Mais ainda, a sistemática filogenética é um método científico robusto e objetivo, características que lhe permitem "sobreviver" na luta pela existência com outras escolas de sistemática.

    Resumo em Inglês:

    Phylogenetic Systematics, a method to reconstruct evolutionary trees created by Willi Hennig in 1955 and expanded in 1966, is often considered a new paradigm that revolutionized biological classifications when compared to former schools of systematics such as evolutionary taxonomy. Such an approach to the history of systematics is mainly based on Kuhn's view of the progress of scientific knowledge. However, we can question the validity of the revolutionary status - in the Kuhnian view - attributed to Hennigian phylogenetics. Herein, we discuss the shared attributes of phylogenetic systematics and evolutionary taxonomy, both deeply rooted in Darwin-Wallace's evolutionary theory, and why Hennig's method is a development of Mayr's and Simpson's proposals for biological classification, explicit in the synthetic evolutionary theory of the years 1930 and 1940. In this sense, they adjust to the popperian vision of a "natural selection" of scientific hypothesis. Yet, phylogenetic systematics is a robust and objective scientific method, thus having characteristics that allow it to "survive" in the struggle for existence with other schools of systematics.
  • Paradigmas, comunidades científicas e os físicos brasileiros Notas E Críticas

    Videira, Antonio Augusto Passos
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