Open-access Ensino sobre idoso e gerontologia: visão do discente de enfermagem no Estado de Minas Gerais

Teaching on elderly people and gerontology: the nursing student view in the State of Minas Gerais

La enseñanza a cerca del anciano y la gereontología: una visión del estudiante de enfermería en el Estado de Minas Gerais

Resumos

O objetivo deste estudo foi descrever os conceitos de idoso e de gerontologia e a contribuição do ensino da gerontologia para a vida profissional, na perspectiva dos discentes de enfermagem das instituições públicas do Estado de Minas Gerais. Os dados foram coletados através de entrevista semi-estruturada. Submeteu-se o conteúdo das questões à análise temática e as variáveis quantitativas foram descritas através da freqüência simples. A amostra foi composta por 55 discentes, dos quais 73% estavam na faixa etária entre 20 e 25 anos e 65,5% cursavam o oitavo período. Após a análise dos dados, emergiram as seguintes categorias temáticas: conceito de idoso, representação social do idoso, conceito de gerontologia, ensino enquanto possibilidade de mudança. Através da perspectiva do discente de enfermagem, pode-se inferir que o ensino da gerontologia nos cursos de graduação é primordial para estimular a formação de recursos humanos especializados na área.

Educação em enfermagem; Geriatria; Idoso; Enfermagem geriátrica; Envelhecimento


This study aims at describing from a nursing student's viewpoint the concept of elderly people and of gerontology, as well as the professional contribution of teaching gerontology. These students were from public institutions of the state of Minas Gerais, Brazil. Data was colleted through semi-structured interviews. The content of the questions was subjected to thematic analysis, and the quantitative variables were described through the simple frequency. The sample consisted of 55 students, of which 73% were between 20 to 25 years old; 65,5% were enrolled in the eighth term of the nursing undergraduate program. After analyzing the data, the following thematic categories have arisen: concept of the elderly, social representation of the elderly, concept of gerontology, teaching as a possibility for change. In the nursing student's view, it is possible to infer that teaching Gerontology in undergraduate courses is important to stimulate preparation of specialized human resources in the area.

Nursing education; Geriatrics; Aged; Geriatric nursing; Aging


El objetivo de este estudio fue describir el concepto de anciano y de la gerontología, y la contribución de la enseñanza de la gerontología para la vida profesional, según la perspectiva de los discentes de enfermería de las instituciones públicas del Estado de Minas Gerais. Los datos fueron recolectados mediante la encuesta semiestructurada. El contenido de las cuestiones se sometió al analisis temática y las variables cuantitativas fueron descritas por medio de la frecuencia simple. La muestra fue compuesta por 55 discentes, de las cuales el 73% correspondian al grupo etario entre 20 y 25 años y el 65,5% cursaban el octavo período. Después del analise de los datos emergieron las siguientes categorías temáticas: concepto de anciano, representación social del anciano, concepto de gerontología, enseñanza como una posibilidad de cambio. Mediante la perspectiva del discente de enfermería, se puede inferir que la enseñanza de la gerontología en los cursos de graduación es esencial para estimular la formación de recursos humanos especializados en el área.

Educación en enfermería; Geriatría; Anciano; Enfermería geriátrica; Envejecimiento


ARTIGO ORIGINAL

PESQUISA

Ensino sobre idoso e gerontologia: visão do discente de enfermagem no Estado de Minas Gerais

Teaching on elderly people and gerontology: the nursing student view in the State of Minas Gerais

La enseñanza a cerca del anciano y la gereontología: una visión del estudiante de enfermería en el Estado de Minas Gerais

Liciane Langona MontanholiI; Darlene Mara dos Santos TavaresII; Gabriela Ribeiro de OliveiraIII; Ana Lúcia de Assis SimõesIV

IEnfermeira Voluntária Homewood Health Centre, Guelph on Canada. Voluntária ST Joseph Healph Centre Guelph, Guelph on Canadá

IIDoutora em Enfermagem. Professora Adjunto do Departamento de Enfermagem em Educação e Saúde Comunitária do Centro de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), MG

IIIEnfermeira do Programa de Saúde da Família da Secretaria Municipal de Saúde de Patos de Minas, MG

IVDoutora em Enfermagem. Professora Adjunto do Departamento de Enfermagem da Assistência Hospitalar do Centro de Graduação em Enfermagem da UFTM

Endereço Endereço: Liciane Langona Montanholi R. Brás Cubas, 392 18.681-140 - Parque Residencial São José, Lençóis Paulista, SP E-mail: licianelangona@yahoo.com.br

RESUMO

O objetivo deste estudo foi descrever os conceitos de idoso e de gerontologia e a contribuição do ensino da gerontologia para a vida profissional, na perspectiva dos discentes de enfermagem das instituições públicas do Estado de Minas Gerais. Os dados foram coletados através de entrevista semi-estruturada. Submeteu-se o conteúdo das questões à análise temática e as variáveis quantitativas foram descritas através da freqüência simples. A amostra foi composta por 55 discentes, dos quais 73% estavam na faixa etária entre 20 e 25 anos e 65,5% cursavam o oitavo período. Após a análise dos dados, emergiram as seguintes categorias temáticas: conceito de idoso, representação social do idoso, conceito de gerontologia, ensino enquanto possibilidade de mudança. Através da perspectiva do discente de enfermagem, pode-se inferir que o ensino da gerontologia nos cursos de graduação é primordial para estimular a formação de recursos humanos especializados na área.

PALAVRAS-CHAVE: Educação em enfermagem. Geriatria. Idoso. Enfermagem geriátrica. Envelhecimento.

ABSTRACT

This study aims at describing from a nursing student's viewpoint the concept of elderly people and of gerontology, as well as the professional contribution of teaching gerontology. These students were from public institutions of the state of Minas Gerais, Brazil. Data was colleted through semi-structured interviews. The content of the questions was subjected to thematic analysis, and the quantitative variables were described through the simple frequency. The sample consisted of 55 students, of which 73% were between 20 to 25 years old; 65,5% were enrolled in the eighth term of the nursing undergraduate program. After analyzing the data, the following thematic categories have arisen: concept of the elderly, social representation of the elderly, concept of gerontology, teaching as a possibility for change. In the nursing student's view, it is possible to infer that teaching Gerontology in undergraduate courses is important to stimulate preparation of specialized human resources in the area.

KEYWORDS: Nursing education. Geriatrics. Aged. Geriatric nursing. Aging.

RESUMEN

El objetivo de este estudio fue describir el concepto de anciano y de la gerontología, y la contribución de la enseñanza de la gerontología para la vida profesional, según la perspectiva de los discentes de enfermería de las instituciones públicas del Estado de Minas Gerais. Los datos fueron recolectados mediante la encuesta semiestructurada. El contenido de las cuestiones se sometió al analisis temática y las variables cuantitativas fueron descritas por medio de la frecuencia simple. La muestra fue compuesta por 55 discentes, de las cuales el 73% correspondian al grupo etario entre 20 y 25 años y el 65,5% cursaban el octavo período. Después del analise de los datos emergieron las siguientes categorías temáticas: concepto de anciano, representación social del anciano, concepto de gerontología, enseñanza como una posibilidad de cambio. Mediante la perspectiva del discente de enfermería, se puede inferir que la enseñanza de la gerontología en los cursos de graduación es esencial para estimular la formación de recursos humanos especializados en el área.

PALABRAS CLAVE: Educación en enfermería. Geriatría. Anciano. Enfermería geriátrica. Envejecimiento.

INTRODUÇÃO

Os avanços da ciência e a melhoria das condições sanitárias são os principais responsáveis pela transição demográfica e epidemiológica, que tem como conseqüência o aumento absoluto e relativo da população idosa. Nos países em desenvolvimento como o Brasil, esta transição está ocorrendo rapidamente, tornando necessária à reorganização dos serviços de saúde de forma a melhorar a assistência prestada a esta crescente população.1

A esse respeito, aponta-se para a contradição observada na sociedade moderna. De um lado, defronta-se com o crescimento da população de idosos e, de outro, se adota atitudes preconceituosas em relação a eles e ao processo de envelhecimento, retardando, assim, a implementação de medidas para melhorar a qualidade de vida dos idosos.2

A velhice ainda é apresentada como um fenômeno que provoca muitas contradições, sendo importante que os profissionais e a população se conscientizem de que os problemas vividos pelas pessoas idosas são, na sua maioria, provocados por ações advindas do próprio ambiente em que estas vivem.3

Os profissionais da saúde, em especial os enfermeiros, devem abordar o idoso considerando todas as especificidades decorrentes do envelhecimento. É preciso que os profissionais estejam devidamente preparados para prestar cuidados ao idoso, pois esta faixa etária apresenta uma instalação muito rápida dos processos patológicos, podendo facilmente muda-lo de independente para dependente.4

Porém, os profissionais da saúde geralmente não visualizam o idoso como um indivíduo que apresenta necessidades diferentes dos demais adultos e, conseqüentemente, os estudantes não são estimulados a aplicar conhecimento e conceitos específicos relacionados à gerontologia em sua dinâmica assistencial.5 Torna-se necessário, então, que se desenvolvam atividades acadêmicas que não apenas informem a respeito do envelhecimento, mas que formem profissionais que respeitem os limites e as peculiaridades decorrentes do envelhecimento, tornando-os capazes de reconhecer as modificações físicas, emocionais e sociais do idoso.

A Política Nacional do Idoso propõe modificações curriculares que têm como objetivos produzir conhecimento e discutir o processo de envelhecimento, eliminando preconceitos.6

A enfermagem gerontológica possibilita o desenvolvimento qualificado da atenção à saúde do idoso. Dessa forma, observa-se que a enfermagem, parte integrante da equipe de saúde, deve habilitar-se para poder atuar de forma mais adequada e especializada na assistência ao idoso. Para isso, é preciso que o discente de enfermagem tenha a oportunidade de repensar possíveis atitudes desfavoráveis em relação ao idoso, assim como perceber que esta etapa da vida corresponde a um período de desenvolvimento e de bem estar apesar de poderem estar presentes limitações inerentes à idade.5

Observa-se que os discentes que ainda não tiveram, em seus currículos, disciplina relacionada ao envelhecimento, apresentaram atitudes desfavoráveis em relação ao idoso, modificando-as no decorrer do curso, quando obtiveram conhecimentos nesta área.3

Assim, o enfermeiro pode atuar de forma a melhorar a qualidade de vida no envelhecimento. O papel do enfermeiro em relação ao idoso é abrangente, englobando a educação em saúde, a gerência de recursos humanos e de materiais e a realização da assistência qualificada.7

Posto isso, verifica-se a necessidade de formar profissionais qualificados para atender a crescente população de idosos de forma global e individualizada, considerando todos os aspectos do envelhecimento. Conhecer a visão dos discentes sobre a temática proposta, bem como a contribuição do estudo da gerontologia para o desenvolvimento da prática profissional contribuirá para a discussão e reflexão nos currículos das Escolas de Enfermagem, visando adequar o perfil profissional às necessidades sociais. Dessa forma, será possível formar recursos humanos cada vez mais interessados, críticos e qualificados para o cuidado dos idosos.

Neste sentido, os objetivos desta pesquisa foram: descrever o conceito de idoso e de gerontologia, na visão dos discentes dos cursos de graduação em enfermagem das instituições públicas do Estado de Minas Gerais, bem como as mudanças conceituais ocorridas, após cursar o conteúdo sobre enfermagem gerontológica; verificar a contribuição do referido conteúdo para a vida profissional e identificar a participação dos discentes em atividades de pesquisa e extensão na área de gerontologia.

METODOLOGIA

Trata-se de estudo descritivo-exploratório, realizado com discentes graduandos em enfermagem nas instituições públicas do Estado de Minas Gerais, descritas a seguir: Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Escola de Farmácia e Odontologia de Alfenas (EFOA), Faculdades Federais Integradas de Diamantina (FAFEID), Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) e Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG – Campus de Passos). Não participou da pesquisa: Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES), porque, segundo informação verbal, não foi possível coletar os dados.

Critérios de inclusão: 20% dos discentes que freqüentavam o último ano de graduação em enfermagem, escolhidos aleatoriamente entre aqueles que estavam em sala de aula, no dia da aplicação do questionário, e que concordaram em participar da pesquisa. Foram escolhidos os discentes do último ano de graduação, pois nesta etapa já cursaram disciplina relacionada à enfermagem gerontológica, além disso, já tiveram contato com idosos durante o ensino clínico e estágios curriculares.

Os dados foram coletados através de entrevista semi-estruturada contendo questões referentes ao idoso, que foram previamente testadas através de um estudo piloto. Foram enviados questionários para as oito instituições referidas anteriormente, com data de devolução estipulada. Entrou-se em contato telefônico com a coordenação dos cursos de graduação em enfermagem visando à adesão à pesquisa e garantindo a confiabilidade na coleta dos dados. Os coordenadores e professores específicos de disciplina relacionada ao idoso ficaram responsáveis pela coleta dos dados. É oportuno informar que todos os participantes receberam e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, garantindo-se a confidencialidade e o anonimato das informações.

Para a análise dos dados, submeteu-se o conteúdo das questões abertas à análise temática, contemplando as seguintes fases: pré-análise, através da organização do material coletado, da sistematização das idéias e da realização de leitura exaustiva do conteúdo; exploração do material, processo da análise propriamente dita, realizando a codificação, a categorização e a quantificação das unidades de registro; e, finalmente, o tratamento dos resultados, fase em que os dados brutos foram transformados em resultados categorias temáticas.8

As questões fechadas foram analisadas através da distribuição de freqüência simples.

As categorias temáticas serão apresentadas, discutidas e exemplificadas através de verbatins, que foram agrupados por Instituição de Ensino (i1; i2; i3; i4; i5; i6; i7).

Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, sob protocolo número: 4888.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Características demográficas da população estudada

A amostra foi composta por 55 discentes, dos quais 73% estavam na faixa etária de 20 25 anos e 81,8% eram do sexo feminino. Dado este esperado, visto que na enfermagem a maioria dos profissionais são mulheres.

Cursavam o sétimo período de graduação em enfermagem 34,5% dos discentes e 65,5% estavam no oitavo período. Na tabela 1, apresentada a seguir, verifica-se a distribuição dos discentes por instituição.

Como se pode observar na Tabela 1, não foi possível atingir a amostra proposta no início do trabalho. Os responsáveis pela coleta, nas instituições, alegaram dificuldade para entrar em contato com os alunos, visto que a maioria estava em estágio no período da coleta dos dados.

Categorias temáticas

Através da análise do conteúdo das entrevistas realizadas, foram descritas 232 unidades de registro, das quais emergiram as categorias temáticas, apresentadas no Quadro 1, abaixo:

Quadro 1
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A categoria "Ensino", enquanto possibilidade de mudança, representou 38,8% das unidades de registro e reuniu os relatos dos discentes que atribuem ao ensino da gerontologia a possibilidade de mudança na concepção de idoso, favorecendo a atenção à saúde dos idosos, em especial ao relacionamento interpessoal. Está constituída por cinco subcategorias: relacionamento interpessoal; visão estereotipada do idoso; assistência de enfermagem; perspectiva profissional e acréscimo de conhecimento.

A subcategoria "Relacionamento interpessoal" apresentou freqüência de 22%, agrupando as unidades de registro que abordam mudanças no relacionamento interpessoal com o idoso, após cursar disciplina acadêmica.

[...] passei a prestar mais atenção nas pessoas idosas, no modo de tratá-las, nas suas necessidades, como ajudá-las (i7). Aprendi a valorizá-lo, estimulá-lo e a respeitá-lo com suas limitações (i2); [...] pude ver o quanto é gratificante estar com eles e quanto eles gostam de ser respeitados e lembrados pelas pessoas (i5).

Como pode ser observado nas falas acima, o estudo sobre gerontologia no currículo de graduação em enfermagem possibilita a construção de atitudes positivas com relação ao idoso.9

A subcategoria "Visão estereotipada do idoso", apresentando uma freqüência de 19% em relação à categoria, agrupa as unidades de registro em que os discentes discorrem sobre a mudança de sua concepção sobre o idoso proporcionada pela disciplina acadêmica.

[...] aprendi a olhar com outros olhos a situação do idoso, principalmente, no nosso contexto (Brasil) onde há tanto preconceito, desrespeito e discriminação (i6); [...] consegui rever os meus preconceitos (i3); [...] pude observar que este é um ser dotado de potencialidades e que, apesar de suas limitações, tem muita sabedoria [...] (i1).

Muitos trabalhos publicados no Brasil no período de 1975 a 1996 sustentam um predomínio de preconceitos negativos em relação ao idoso.10 Fato este observado neste estudo, em que os discentes relatam que, através do ensino da gerontologia, foi possível rever seus preconceitos em relação ao idoso. O contato com o idoso desempenha papel fundamental na (re)elaboração dos conceitos e atitudes acerca do envelhecimento. Contudo, tanto os alunos que cursaram quanto os que não cursaram o conteúdo de Gerontologia podem representar o idoso associado à imagem de exclusão e de inutilidade, relacionando-os como indivíduos desrespeitados e desvalorizados. Tal fato leva a autora a inferir que estas representações estão ancoradas socialmente.9

Dessa forma, é preciso estimular discussões e promover interações entre discentes e idosos no sentido de modificar a visão estereotipada e os valores que muitas vezes são impostos pela sociedade. A construção de novos valores é o ponto fundamental e primordial para que os futuros profissionais da saúde possam planejar e prestar uma assistência de saúde adequada e digna aos idosos.

A subcategoria "Assistência de enfermagem" agrupou 28% das unidades de registro que descrevem o ensino enquanto suporte para o desenvolvimento da assistência de enfermagem ao idoso. Os relatos exprimem, principalmente, o planejamento da assistência, como pode ser observado: [...] proporciona embasamento para a programação das intervenções (i6); [...] despertou a necessidade da prevenção tanto das doenças quanto da preservação do corpo e da mente (i7); [...] conhecer as peculiaridades desta idade: hábitos de vida, doenças, psicologia, ambiente em que mora, dentre outros, e assim poder atuar de forma mais segura junto a ele (i4).

Estudo realizado em quatro cursos de graduação em enfermagem, do Estado de Santa Catarina, observou o aumento do interesse dos discentes de enfermagem pelo cuidado ao idoso, após ter sido ministrado o conteúdo relativo ao envelhecimento e, especialmente, após contato com o idoso nos estágios e ensinos clínicos.3

A subcategoria "Perspectiva profissional", representada por 9% das unidades de registro, demonstra o interesse do futuro profissional em enfermagem gerontológica.

[...] me ajudou a ver que hoje com o envelhecimento da população brasileira e o aumento da expectativa de vida, está havendo uma necessidade muito grande de profissionais que se voltem para o idoso, o que por enquanto ainda acontece muito pouco. (i3); Na minha vida profissional, procurarei cuidar do paciente idoso, procurando proporcionar o seu bem estar geral (i5).

O ensino de gerontologia promove uma maior conscientização dos acadêmicos em relação ao processo do envelhecimento. Desta forma, é possível aumentar o interesse do aluno pela área e assim qualificar recursos humanos para o cuidado do idoso.9 No presente estudo, pode-se observar o aumento do interesse pela área do envelhecimento. Os discentes visualizam oportunidades de trabalho com os idosos.

A esse respeito, acrescenta-se que o estudo do envelhecimento nos cursos de graduação em enfermagem possibilita que os alunos sejam propagadores do conhecimento, podendo transmiti-lo para cuidadores e familiares, de modo a formar sujeitos melhor preparados para atender as necessidades dos idosos.11

Na subcategoria "Acréscimo de conhecimento", com 22% das unidades de registro, agruparamse as frases e parágrafos que denotam o acréscimo do conhecimento proporcionado pela disciplina acadêmica, verificado nos relatos: [...] antes não conhecia as mudanças ocorridas fisicamente no idoso, após ter cursado, consigo distinguir se algumas mudanças são naturais ou há algo acontecendo de patológico (i2). Após ter a matéria saúde do adulto e do idoso [...] pude perceber que essa idade tem suas peculiaridades [...] (i4).

É preciso buscar as causas determinantes das atuais condições de saúde e de vida dos idosos e principalmente conhecer as alterações decorrentes do envelhecimento, para que haja um planejamento adequado da assistência prestada ao idoso.2 O acréscimo de conhecimento citado pelos discentes mostra o quanto foi importante o ensino da gerontologia. Sabe-se que o conhecimento científico é a base de um bom planejamento visualizando o todo, ou seja, percebendo o idoso como sujeito que apresenta uma série de alterações fisiológicas, emocionais e sociais.

A categoria "Conceito de gerontologia", composta por 26,3% das unidades de registro, expressa os entendimentos acerca da gerontologia na perspectiva dos discentes. Está constituída por três subcategorias: ciência; ramo da medicina e disciplina acadêmica.

Com o maior percentual das unidades de registro (90%), a subcategoria "Ciência" agrupa as falas que expressam a gerontologia como uma ciência que estuda o processo do envelhecimento humano, normal e patológico, multidimensional, propondo intervenção multiprofissional, como pode ser visualizado: estudo do idoso e do processo de envelhecimento em todos os seus âmbitos: orgânico, social, econômico, ambiental [...] (i1); [...] área de estudo dos cuidados ou pesquisa em enfermagem, fisioterapia, odontologia, psicologia que especializa no idoso (i7).

Gerontologia é a "área de conhecimento científico voltado para o estudo do envelhecimento em sua perspectiva mais ampla, levados em conta os aspectos clínicos, biológicos, condições psicológicas, sociais, econômicas e históricas".12:66 Neste estudo, observa-se que grande parte dos discentes aborda o aspecto multidimensional da gerontologia, ou seja, considera as variáveis que envolvem o processo de envelhecimento.

A subcategoria "Ramo da medicina", com 5% das unidades de registro, elencou as frases e parágrafos que apresentavam o entendimento da gerontologia como uma especialidade médica, como pode ser ilustrada: [...] ramo da medicina que cuida dos idosos (i2); [...] especialidade médica que cuida de idosos visando a prevenção de doenças (i6).

Observamos que pequena parcela dos discentes confundiu o termo gerontologia com geriatria. Geriatria é definida como "ramo da ciência médica voltado à promoção da saúde e o tratamento de doenças e incapacidades na velhice".12:66

Verificou-se também, na subcategoria "Disciplina acadêmica", representada por 5% das unidades de registro, a gerontologia compreendida como uma disciplina que aborda o conteúdo sobre o processo de envelhecimento, exemplificado a seguir: [...] disciplina que tem seu estudo voltado para o envelhecimento dos idosos, a velhice [...] (i4); [...] disciplina que estuda os idosos (i3).

Alguns discentes confundiram os termos gerontologia e disciplina acadêmica, no entanto, observamos na literatura uma diferença significativa entre eles. A disciplina acadêmica é a fragmentação do saber na organização curricular, assim cada fragmento forma uma disciplina distinta.13

Estudo realizado com 71 cursos de graduação em enfermagem observou que apenas 19,7% abordavam o conteúdo sobre forma de disciplina específica.5

A categoria "Conceito de idoso" representou 20,7% das unidades de registro e reuniu frases e parágrafos que descreviam a definição multidimensional do idoso, com ênfase no aspecto cronológico. Esta categoria foi composta por duas subcategorias, descritas a seguir.

A subcategoria "Concepção cronológica" correspondeu a 71% das unidades de registro, que reuniu as falas que definem o idoso de acordo com sua idade, como ilustrado: [...] indivíduo com idade igual ou maior que 60 anos (i2); [...] pessoa que cronologicamente está com 65 anos ou mais (i5).

Do ponto de vista cronológico, é considerado idoso o indivíduo com 60 anos ou mais em países em desenvolvimento e com 65 anos ou mais em países desenvolvidos.12 Esta diferença está relacionada com a maior expectativa de vida nos países desenvolvidos, devido ao maior acesso da população aos serviços de saúde e às melhores condições de vida.

É necessário destacar que a maioria dos autores classifica o idoso do ponto de vista cronológico, especialmente em estudos demográficos em que é preciso estabelecer um ponto de corte para a classificação desta parcela da população.

Na subcategoria "condição funcional/biológica/social/econômica", composta por 29% das unidades de registro, foram agrupadas as frases e parágrafos que estavam relacionados às alterações no desenvolvimento das funções orgânicas, às mudanças sociais e econômicas relacionadas ao processo de envelhecimento, como se pode destacar: [...] vem experimentando ao longo de sua vida mudanças biológicas..sociais...econômicas (i1); [...] fase da vida em que diversas alterações fisiológicas estão ocorrendo [...] (i7).

Sabe-se que o processo de envelhecimento é permeado por transformações em todos os aspectos da vida do sujeito e por isso não é possível ter um único conceito para definir o idoso. Torna-se necessário, então, conceituá-lo abordando todos esses aspectos, sejam eles biológicos, sociais, econômicos ou culturais.

As definições de idoso são descritas a partir dos diferentes pontos de vista, a saber: biológico, demonstrando que o envelhecimento ocorre desde a puberdade ou até mesmo desde a concepção; social referindo ao quadro cultural e social como influência no processo do envelhecimento; econômico a partir do momento em que o sujeito deixa o mercado de trabalho e, finalmente, funcional, quando o idoso torna-se dependente para cumprir suas necessidades básicas.1

A Política Nacional do Idoso afirma que a maioria das doenças crônicas que acometem o idoso tem na própria idade um fator de risco, porém a presença de uma doença crônica não significa que o idoso não possa gerir sua própria vida. A maioria dos idosos é capaz de decidir sobre seus interesses e se organizar sem nenhuma necessidade de ajuda.6

Quanto às mudanças sociais e econômicas, o aposentado é entendido como um sujeito que sofre discriminação, levando à inatividade e o retorno à sua casa, determinando uma troca de papéis na estrutura familiar e social, submetendo-o a uma sociedade que prega a eficiência, a produção e a estética como valores essenciais.7

O sistema capitalista, que privilegia a produção, tende a desvalorizar o sujeito quando este pára de produzir. É muitas vezes este sistema que faz persistir valores que desrespeitam o idoso, não levando em consideração tudo o que contribuiu e o que poderá contribuir para a sociedade.

A política de desenvolvimento nos países industrializadas enfatiza a atenção materno-infantil.2 Além disso, a atenção à saúde do idoso deve ser vista como uma obrigação da sociedade para aqueles que contribuíram com a formação da população jovem.2

Referente à categoria "Representação social do idoso", com 14,2% das unidades de registro, reuniu-se as falas que descrevem a percepção social do discente de enfermagem em relação ao idoso. Está composta pelas subcategorias: experiência de vida; etapa vulnerável da vida e valorização do Idoso.

A subcategoria "Experiência de vida", representada por 60,6% das unidades de registro, agrupou as frases e parágrafos em que se observou a descrição do idoso como um sujeito que acumula experiência no decorrer de sua vida e, portanto, pode contribuir com a sociedade, como pode ser verificado nas seguintes unidades de registro: [...] são pessoas amadurecidas com muita experiência de vida. (i4); [...] que pode ( se lhe for permitido) trazer grande contribuição a sociedade (i6).

Os aspectos positivos decorrentes do envelhecimento são: o acúmulo de experiência de vida, ampla compreensão da existência humana e contribuição na construção da história da sociedade.5 Assim, valorizar o idoso é valorizar o desenvolvimento do ser humano, sua trajetória de vida, atribuir um significado positivo à existência humana. Caso contrário seria buscar a evolução humana sem mesmo saber o porquê.

Na subcategoria "Etapa vulnerável da vida" foi agrupada 24,2% das unidades de registro da categoria e expressam uma visão de fragilidade. O envelhecimento é visto como um momento do ciclo vital que, por suas especificidades, o torna mais predisposto a doenças, necessitando de cuidados especiais. As unidades de registro são apresentadas a seguir: [...] devido a idade está mais susceptível a determinadas doenças por alterações fisiológicas e psíquicas (i2). Idoso é uma fase da vida em que se necessita de cuidados especiais, atenção redobrada (i7).

O processo fisiológico do envelhecimento se manifesta pelo declínio paulatino das funções dos diversos órgãos, levando à diminuição da reserva funcional o que compromete o sistema imunológico, alterando a capacidade de adaptação do idoso às modificações do meio interno e/ou externo.2

Em condições normais um organismo envelhecido pode sobreviver normalmente, mas quando é submetido ao estresse tanto físico quanto emocional, pode apresentar desequilíbrio de sua homeostase, gerando uma sobrecarga funcional que pode resultar em processos patológicos.14

O envelhecimento saudável depende especialmente do estilo de vida, dos laços afetivos, do otimismo, da tolerância ao estresse e da auto-estima.14

A diminuição fisiológica da função cognitiva pode significar ameaça ao bem estar e à auto-estima do idoso. Porém, esta perda neurológica não impede a capacidade mental e psicológica do idoso.14 Desta forma, o idoso pode e deve continuar administrando sua vida e fazendo suas atividades diárias da maneira mais independente que conseguir. Muitas vezes, pelo que pode ser observado no contato com o idoso, quanto maior a ocupação e a responsabilidade delegadas ao idoso, mais preservada será sua habilidade mental. Assim, como foi mencionado pelos discentes, os idosos precisam de uma atenção especial e cabe à equipe multidisciplinar, à família e aos cuidadores auxiliar na adaptação dos idosos frente às perdas, de modo que possam manter contato constante com o meio em que vivem.14

Na subcategoria "Valorização do idoso", com freqüência de 15,2% das unidades de registro, agregam-se frases e parágrafos relacionados aos valores atribuídos aos idosos pelos discentes de enfermagem. Nesta subcategoria, os discentes abordam temas como a atenção e o respeito ao idoso, direitos garantidos pelo Estatuto do Idoso.

[...] é uma pessoa como qualquer um, que tem os mesmos direitos e que deve ser respeitado como qualquer cidadão independente da idade (i5); [...] que possui direitos os quais hoje são assegurados pelo Estatuto do Idoso (i2).

Neste estudo, pudemos observar que alguns discentes demonstraram respeito e consideração pelos idosos e este é o primeiro passo para formar recursos humanos capacitados e comprometidos com o envelhecimento. O mesmo foi observado com os discentes de enfermagem que atribuem uma conotação positiva à longevidade, proporcionando experiências e provendo sabedoria, além disso, os alunos que tiveram conhecimento na área do envelhecimento, passaram a perceber os idosos como sujeitos que podem ajudar e ensinar.11

Para se compreender o estado emocional do idoso é preciso atentar para sua história de vida, relacionando-a com as reações emocionais que apresenta.14 Conhecer e respeitar a vivência dos idosos é valorizar a vida que se desenvolve há tantos anos e que certamente, deixará muitas contribuições para as outras vidas que nascem a cada dia.

Por outro lado, temos que atentar para o fato de não ser justo e nem humano somente prolongar a vida dos idosos, quando não lhes damos condições para uma sobrevivência digna.2

Participação em atividades de pesquisa e extensão

Participam de atividades de pesquisa ou de extensão relacionadas ao idoso, 14,5% dos discentes, sendo que 3,6% não responderam a esta questão.

Dentre os que participam, 62,5% referem desenvolver atividades de extensão e 37,5% de pesquisa. As atividades de extensão são desenvolvidas em asilos e em Unidades de Saúde da Família.

Estudo realizado com 64,1% das Instituições Nacionais de Ensino Superior mostrou que 13,8% desenvolvem trabalhos sobre a temática do envelhecimento, sendo a maioria em atividades de extensão.15

Foi possível verificar que as pesquisas realizadas pelos discentes do presente estudo abordam temas como: cuidadores de idosos, atendimento hospitalar ao idoso e o ensino curricular de gerontologia em enfermagem.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com este estudo, foi possível descrever o con ceito de idoso na visão dos discentes. A definição do ponto de vista cronológico foi a mais citada. Esta classificação é a mais utilizada em estudos demográficos e na sociedade em geral. Porém, também foi descrita a classificação sob o aspecto multidimensional do idoso. Desta forma, podemos inferir que os discentes, ao classificarem o idoso sob tais aspectos, consideram o envelhecimento um processo multidimensional.

Pode-se descrever também o conceito de gerontologia na visão dos discentes, sendo que a maioria entende gerontologia como ciência que estuda o processo de envelhecimento humano, normal e patológico, multidimensional, propondo intervenção multiprofissional. Desta forma, observamos que os discentes consideram os múltiplos aspectos do envelhecer abordados pela gerontologia. No entanto, a minoria confundiu o termo gerontologia com disciplina acadêmica e geriatria.

Os discentes relataram mudanças conceituais e possibilidade de rever preconceitos em relação ao idoso, após cursar o conteúdo de enfermagem gerontológica. Dentre estas mudanças, destaca-se a melhora no relacionamento interpessoal com idosos. Este fator, somado à empatia entre profissional e idoso, muitas vezes é o diferencial na assistência à saúde, podendo ser responsável pela adesão e pelo sucesso no tratamento. Quanto à mudança na visão em relação ao idoso, os discentes discorreram sobre a percepção do idoso de forma positiva, atribuindo respeito, consideração à experiência de vida do idoso, bem como a sua contribuição para com a sociedade. Dessa forma, observa-se que discussões sobre temas relacionados ao envelhecimento e interações entre discentes e idosos modificam crenças, conceitos e valores, favorecendo a assistência à saúde desta população.

Quanto à contribuição do estudo sobre gerontologia para a vida profissional, os discentes relataram acréscimo de conhecimento e suporte teórico/prático para o desenvolvimento da assistência de enfermagem ao idoso. Desse modo, percebe-se que os discentes valorizam o conhecimento científico e o consideram base para um bom planejamento da assistência. Além disso, os alunos relataram aumento do interesse pela área do envelhecimento e visualizam a perspectiva profissional com idosos. Assim, observa-se que o estudo da gerontologia contribui para qualificar recursos humanos para o cuidado do idoso.

Verificou-se que há pouca participação em atividades de pesquisa e extensão na área de gerontologia. Sendo que, dentre os discentes, a maioria participa de atividades de extensão. Este dado atentanos para o fato de que, sendo emergente a formação de recursos humanos capacitados para o atendimento em gerontologia se faz necessário, cada vez mais, estimular a participação dos discentes em atividades relacionadas ao envelhecimento.

Assim, através da perspectiva do discente de enfermagem, pode-se verificar que o estudo do envelhecimento é uma das principais ferramentas para a formação de profissionais e, especialmente cidadãos, compromissados com o envelhecimento que possam ser educadores e transformadores da realidade social do idoso.

Recebido em: 06 de dezembro de 2005

Aprovação final: 26 de outubro de 2006

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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      22 Nov 2007
    • Data do Fascículo
      Dez 2006

    Histórico

    • Aceito
      26 Out 2006
    • Recebido
      06 Dez 2005
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