DE FLORENCE NIGHTINGALE À PANDEMIA COVID-19: O LEGADO QUE QUEREMOS

RESUMO

Objetivo:

refletir sobre o futuro da profissão de enfermagem a partir do impacto da pandemia COVID-19 sobre as metas da campanha Nursing Now e sobre a celebração do bicentenário de Florence Nightingale.

Método:

análise reflexiva apresentada em dois tópicos centrais: o primeiro trata de Florence Nightingale - precursora do empreendedorismo na enfermagem; o segundo trata da pandemia COVID-19, a consequente reviravolta da campanha Nursing Now e o revigoramento da enfermagem enquanto profissão de valor.

Resultados:

no primeiro tópico apontamos os aspectos fundamentais da trajetória de Florence Nightingale como criadora da enfermagem moderna em todo o mundo através de avanços, inovações, cientificidade e correlação de seus princípios com a atualidade. No segundo tópico, refletimos historicamente sobre a atuação da enfermagem nas grandes guerras e epidemias até o momento presente, correlacionando as práticas e o modo como a enfermagem constitui-se como profissão. Apontamos as metas da campanha Nursing Now e seu significado pós pandemia, assim como a ampliação da visibilidade da enfermagem e constituição de uma nova identidade profissional.

Conclusão:

reflete-se, enfim, acerca da importância de as enfermeiras continuarem se empenhando em dar visibilidade à sua expertise, em todos os campos de trabalho e de conhecimento, fortalecendo a identidade e a imagem profissional que desejamos fixar na sociedade e manter para o futuro.

DESCRITORES
Enfermagem; História da enfermagem; Inovação; Tecnologia; Pandemias; COVID-19; Identidade profissional

ABSTRACT

Objective:

to reflect on the future of the nursing profession based on the impact of the COVID-19 pandemic on the goals of the Nursing Now campaign and the celebration of Florence Nightingale's bicentennial.

Method:

reflexive analysis presented in two central topics: the first deals with Florence Nightingale-precursor of entrepreneurship in nursing; the second deals with the COVID-19 pandemic, the consequent turnaround of the Nursing Now campaign and the strengthening of nursing as a valuable profession.

Results:

in the first topic, we point out the fundamental aspects of the trajectory of Florence Nightingale as the creator of modern nursing worldwide through advances, innovations, scientificity and correlation of its principles with the current reality. In the second topic, we historically reflect on the activities of Nursing in the great wars and epidemics up to the present, correlating the practices and the way nursing is constituted as a profession. We point out the goals of the Nursing Now campaign and its significance post-pandemic, as well as the expansion of nursing visibility and the constitution of a new professional identity.

Conclusion:

finally, we reflect on the importance of nurses pursuing their efforts to grant visibility to their expertise in all fields of work and knowledge, strengthening the identity and the professional image we want to anchor in society and maintain for the future.

DESCRIPTORS
Nursing; History of nursing; Innovation; Technology; Pandemics; COVID-19; Professional identity

RESUMEN

Objetivo:

reflexionar sobre el futuro de la profesión de enfermería a partir del impacto de la pandemia COVID-19 sobre las metas de la campaña Nursing Now y sobre la celebración del bicentenario de Florence Nightingale.

Método:

análisis reflexivo presentado en dos tópicos centrales: el primero trata de Florence Nightingale - precursora del espíritu emprendedor en la enfermería; el segundo trata de la pandemia COVID-19, el consecuente giro de la campaña Nursing Now y la revitalización de la enfermería como profesión valiosa.

Resultados:

en el primer tópico, señalamos los aspectos fundamentales de la trayectoria de Florence Nightingale como creadora de la enfermería moderna alrededor del mundo a través de avances, innovaciones, cientificidad y correlación de sus principios con la actualidad. En el segundo tópico, reflexionamos históricamente sobre la actuación de la enfermería en las grandes guerras y epidemias hasta el presente, correlacionando las prácticas y el modo como la enfermería se establece como profesión. Apuntamos las metas de la campaña Nursing Now y su significado post-pandemia, así como la ampliación de la visibilidad de la enfermería y la constitución de una nueva identidad profesional.

Conclusión:

se reflexiona finalmente sobre la importancia de que las enfermeras siguen empeñándose en dar visibilidad a su experiencia, en todos los campos de trabajo y de conocimiento, fortaleciendo la identidad y la imagen profesional que deseamos fijar en la sociedad y mantener para el futuro.

DESCRIPTORES
Enfermería; Historia de la enfermería; Innovación; Tecnología; Pandemias; COVID-19; Identidad profesional

INTRODUÇÃO

A ideia de escrever acerca do bicentenário de Florence Nightingale articulada à campanha Nursing Now nasceu há alguns meses, quando recém iniciava-se a pandemia denominada COVID-19, acrônimo de Coronavírus SARS-CoV-2. Naquele momento, não se tinha ideia do impacto que isto representaria para a profissão de Enfermagem, justamente no ano em que estamos comemorando os 200 anos de Florence Nightingale, intitulado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e Organização Pan-americana da Saúde (OPS), como "O Ano Internacional de Profissionais de Enfermagem e Obstetrícia".1

A ideia é traçar um marco no sentido de reconhecer o trabalho feito pelos profissionais de Enfermagem e parteiras em todos os países, além de concretizar o movimento de empoderamento destes profissionais, assim como, melhorar as suas condições de trabalho, educação e desenvolvimento profissional.1

Na mesma linha, nesta “caprichosa coincidência” de momentos, a pandemia COVID-19 fez com que a Enfermagem ocupasse a linha de frente, em termos de visibilidade de sua atuação, dedicação e competência. O resultando foi o reconhecimento de sua importância para além dos muros dos ambientes de cuidado. Nem Florence Nightingale, nem os criadores da campanha global Nursing Now criada em 2018 imaginariam que a luta empreendida em prol das enfermeiras e enfermeiros em todo o mundo, na busca pela valorização da profissão pela sociedade, assumiria papel de protagonismo tão intenso e significativo, atingindo objetivos muito além do que a própria campanha havia traçado, no combate desta terrível pandemia.

Florence Nightingale criou a primeira escola de Enfermagem, com currículo próprio e com direção exclusiva por enfermeiras. Posteriormente difundiu este modelo para os demais países. Ela tinha a intenção de mudar o status de uma prática leiga, desestruturada e sem formação específica para destravar o potencial de profissão e protagonismo que a Enfermagem deveria ter.2 E obteve sucesso, considerando especialmente que em várias partes do mundo, inclusive no Brasil, este modelo foi adotado como padrão, até que as escolas passassem a criar os seus próprios padrões.

Apesar disso, percebe-se ainda na prática profissional que as enfermeiras em geral parecem não ter forças para sair do status de subalternidade, invisibilidade e não reconhecimento da importância de seu trabalho, tanto pelos usuários dos serviços de saúde quanto pelos demais profissionais de saúde, assim como, pela sociedade como um todo. Mesmo as Universidades - que possuem o papel formador de profissionais competentes, comprometidos com o cuidado e com a ciência da Enfermagem e com o desenvolvimento de novas lideranças e futuros cientistas, não têm sido possível reverter esta situação, especialmente nos serviços privados de saúde.3

A Enfermagem é uma profissão que vem construindo bravamente sua história ao longo do tempo, questionando, enquanto ciência, as razões que levam a uma atuação ainda subalterna e invisível no cotidiano da prática profissional. A Enfermagem precisa estar continuamente lutando por espaços de reconhecimento de sua importância pela equipe multiprofissional e pela sociedade como um todo, por uma identidade profissional calcada na expertise e na cientificidade de suas ações e para a redução do fosso que ainda existe entre a teoria e a prática.4

A partir desta realidade, em 27 de fevereiro de 2018 foi lançada a campanha mundial denominada Nursing Now, com duração de três anos, cuja missão é promover a Enfermagem em primeiro plano. Por isso, a realização da campanha estaria aderente às celebrações dos 200 anos de Florence Nightingale. A campanha Nursing Now foi implementada em colaboração entre o International Council of Nurses (ICN) e a Organização Mundial de Saúde (OMS), com o apoio do Burdett Trust for Nursing, em conjunto com a união de um grupo de enfermeiras e outros apoiadores.5 Atualmente há 587 grupos ativos do Nursing Now espalhados por 117 países, incluindo o Brasil.

Outrossim, com o advento da pandemia COVID-19, pode-se dizer com certeza, que o mundo ficou exposto a situações imprevisíveis de risco principalmente na área da saúde. Tudo o que foi planejado na virada de 2019 para 2020 sofreu grandes transformações. A geração atual, desde as mais jovens até as mais idosas, nunca conviveu com algo semelhante, com brutal letalidade em curto espaço de tempo, talvez comparável apenas com a "Gripe Espanhola" de 1918 a 1920 que infectou cerca de 100 milhões de pessoas em todo o mundo e levou à morte entre 17 e 50 milhões de vidas, tornando-a uma das epidemias mais letais da história.6

Apesar das experiências anteriores com pandemias como da Gripe Espanhola e posteriormente com a gripe H1N1 e com o vírus Ebola (este último a poucos países da África), os países não se prepararam para potenciais novas epidemias globais. Foram adotadas medidas que “paralisaram” a dinâmica da sociedade global, e assistimos bestificados ao colapso dos sistemas de saúde, ao despreparo dos governos e das equipes de saúde para atuar em uma pandemia deste porte. Iniciou-se uma busca desenfreada dos cientistas por entender a doença na busca por uma vacina para atenuar o impacto da COVID-19 e prevenir a sua disseminação. Nesta linha, os ensaios clínicos experimentais passaram a ser publicados imediatamente após seus primeiros resultados, sem necessariamente ter evidências suficientes para a sua aceitação. Entretanto, possibilitavam que outros cientistas pudessem dar continuidade aos estudos ou mesmo refutar seus resultados. Com isto, os preceitos de ciência aberta adquiriram uma amplitude inesperada, mas ao mesmo tempo necessária, e forte aliada para chegar-se próximo da descoberta de uma vacina capaz de vencer a batalha contra a COVID-19.

A Enfermagem assumiu um protagonismo ímpar em todos os campos de trabalho e, especialmente, nos hospitais públicos, privados, e nos hospitais de campanha, atuando ativamente no cuidado aos doentes internados devido a pandemia COVID-19. Esses profissionais assumiram riscos à sua própria saúde considerando a falta e/ou insuficiência e/ou deficiência de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) existentes, distanciando-se assim de suas famílias dos doentes, e colocando-se na linha de frente para o combate da doença, no cuidado holístico às pessoas internadas. No campo das instituições de ensino, as enfermeiras têm sido exemplares na criação e na inovação de tecnologias de cuidado, em pesquisas sobre o tema, tais como criação de protocolos, confecção de faceshields e, campanhas de vacinação, visando qualificar o cuidado de Enfermagem.

Estas ações e o impacto da pandemia COVID-19 na vida da população mundial propiciaram uma mudança do olhar da sociedade sobre a equipe de saúde de um modo geral e da Enfermagem, em particular. A Enfermagem finalmente adquiriu a visibilidade que sempre buscou, tanto na TV como nos jornais, nas redes sociais (Facebook, Instagram, Twitter), nas revistas, nas janelas das casas nos momentos em que pessoas batiam palmas, desde anônimos até inúmeras celebridades como presidentes, a rainha da Inglaterra, e até mesmo o Papa Francisco, que manifestaram publicamente os seus agradecimentos e reconhecimento do trabalho de todos os profissionais de saúde.

A partir desta reflexão inicial, cabe a pergunta: como potencializar a visibilidade da profissão de Enfermagem adquirida devido a pandemia COVID-19? Para que não se transforme em passado esquecido após o término da pandemia?

Este texto então tem por objetivo refletir sobre o futuro da profissão de Enfermagem a partir do impacto da pandemia COVID-19 sobre as metas da campanha Nursing Now e da celebração do bicentenário de Florence Nightingale.

Florence Nightingale - precursora do empreendedorismo na Enfermagem

Nascida em 12 de maio de 1820, Florence Nightingale completa em 2020 o bicentenário de seu nascimento e mais de 150 anos de um legado histórico. Ela agiu como mulher que se negou a repetir os padrões esperados na Inglaterra Vitoriana, indo além e revolucionando as práticas de cuidado aos doentes, criando uma profissão, a Enfermagem. Apesar de ter obtido maior projeção de seu trabalho a partir de sua atuação como voluntária na Guerra da Criméia, no período de 1854 a 1856, as suas principais contribuições para a construção de uma nova profissão deram-se a partir de seu trabalho na criação da primeira escola de Enfermagem profissional do mundo contemporâneo, e através de seus textos escritos após o término da guerra, quando passou a demonstrar exemplos da interligação entre pesquisa, teoria e prática.7

Nightingale entendia a Enfermagem como uma arte, e para exercê-la em sua plenitude, as futuras enfermeiras deveriam passar por um treinamento organizado, prático e científico; e deveriam ser pessoas capacitadas a servir aos doentes em primeiro lugar.8 Um dos legados deixados por Florence Nightingale foi dar "voz ao silêncio daqueles que prestavam cuidados de Enfermagem, que provavelmente não percebiam a importância dos rituais que seguiam, que já indicavam uma prática profissional organizada",9:662 porém não sistematizada (como as irmãs de caridade de São Vicente de Paulo, na França e; as diaconisas de Kaiserswerth, na Alemanha). Ao institucionalizar em 1860 a Enfermagem como profissão, a partir da criação da Nightingale Training School for Nurses at Saint Thomas Hospital, ela acreditava que o ensino da Enfermagem deveria ser vinculado ao hospital, e defendia o ideal da Enfermagem como uma vocação, que demandava dedicação exclusiva e árdua preparação.9^-10 A iniciativa serviu como semente de um novo status para a Enfermagem como profissão, e para a criação de inúmeras outras instituições de ensino espalhadas pelo mundo, fundadas por ex-alunas, implantando o chamado Sistema Nightingaleano de Ensino de Enfermagem, inclusive no Brasil.

Em seu livro mais famoso publicado em 1860 e intitulado Notes on Nursing: what it is and what it is not,11 traduzido para vários idiomas, e também em português por iniciativa da ABEn Nacional em 1989, como "Notas sobre Enfermagem - o que é e o que não é",12 Florence Nightingale nos brinda com princípios de cuidado que muitos assumem como bases para uma teoria, a Teoria Ambientalista.13^-14 Neste livro cuja pretensão seria tornar-se um manual de Enfermagem, seu conteúdo tratava de instruções seminais de saúde pública, tão condizentes e apropriadas no século XIX como para o atual momento que vivemos.

Ela escreveu que "toda enfermeira deve ter o cuidado de lavar suas mãos frequentemente ao longo do dia. Lavar-se o rosto também, ainda melhor".11^:24 Destacava o ambiente como fator determinante para as condições de saúde e doença. O ambiente precário favorece ao indivíduo determinadas doenças, comuns à maioria da população desassistida. Além disso, destacava a importância da água, do ar, da alimentação e do regime geral para alcançar a cura.11

Nightingale afirmava que “o que a Enfermagem tem a fazer [...] é manter o paciente nas melhores condições possíveis, a fim de que a natureza aja sobre ele”.8:146 Para ela, o principal objetivo da Enfermagem é o de dar oportunidade ao ser humano as melhores condições de forma que o poder vital possa ser potencializado, e com isto promover a saúde e prevenção de doenças, proporcionando conforto, apoio e educação.

Implementava na prática da escola, e posteriormente nos hospitais, tudo aquilo que havia contribuído para salvar vidas na guerra da Criméia e que, segundo ela, "deveria significar emprego apropriado de ar puro, luz, calor, limpeza, quietude, e a adequada escolha e administração da dieta - tudo com o mínimo gasto da força vital do paciente".11:87

Além disso, graças à ela, os hospitais passaram a oferecer água quente para o banho dos doentes, sendo que até então este era um privilégio das classes mais abastadas de Londres. Também implantou a “bandeja com medicamentos”, utilizada até hoje, como um modo de otimizar o trabalho da Enfermagem. Ela também entendia que as anotações sobre os pacientes, denominadas posteriormente de prontuários médicos, deveriam ficar à beira do leito, para consulta pelos profissionais de saúde. Com essas inovações/invenções podemos inferir que além de tudo, Florence Nightingale pode ser considerada a inventora na profissão de Enfermagem.

Vale destacar, que seus conhecimentos advinham de suas viagens, anotações, leituras técnicas, contato com cientistas como John Venn, (matemático inglês com quem desenvolveu seu aprendizado sobre estatística) e Ignaz Semmelweis que posteriormente seria considerado o criador do conceito de infecção hospitalar, por conta das medidas básicas de higiene das mãos no cuidado às parturientes. De qualquer modo, era um conhecimento novo e arrojado para a época. Ao longo do tempo, Nightingale escreveu vários livros e artigos, entre eles: Notes on matters affecting the health, efficiency, and hospital administration of the British Army: founded chiefly on the experience of the late war (1858), Notes on Hospitals (1858), Notes on the Sanitary State of the Army in India (1871), J. Life on Death in India (1974).10

Muitas práticas de cuidado à saúde foram influenciadas por Florence Nightingale, dentre elas a reforma sanitária na Índia, as práticas de saúde dos aborígenes da Austrália, a melhora no controle da infecção e no estudo da propagação das doenças nos hospitais, que serviram de embasamento para a Enfermagem moderna. Com isso, pode-se afirmar que ela revolucionou as práticas de saúde nos hospitais militares, além de influenciar a criação de novas escolas de Enfermagem pelo mundo, formação de enfermeiras e também de médicos que atuariam nos hospitais militares.

Expert em estatística e imagens, ela se tornou precursora no uso e aplicação de gráficos para ilustrar os dados epidemiológicos de forma tangível, para que todos pudessem compreender o seu significado. Criou o chamado "diagrama da rosa" e o utilizou para representar graficamente as taxas de mortalidade durante a guerra da Criméia, e convencer o exército da necessidade de medidas de prevenção relacionadas à higiene visando reduzir os índices de morbidade e mortalidade.15^-17 Com isso, ela cristalizou a ideia de que fenômenos sociais podem ser submetidos à lógica matemática e, usando dados estatísticos, demonstrou graficamente a necessidade de reforma sanitária.18 Florence Nightingale foi a primeira mulher a integrar a Sociedade Real de Estatística em Londres.

Seu legado, hoje amplamente utilizado, mostra como é possível “achatar a curva” de disseminação da COVID-19 por meio do distanciamento social e dos dados e gráficos epidemiológicos que auxiliam a tomada de decisões acerca da prevenção da doença, assim como do relaxamento de medidas de isolamento social. Nightingale acreditava que os ambientes familiares eram o espaço crucial para intervenções de prevenção de doenças. Entendia que neste local, a maioria das pessoas contraía e sofria de doenças infecciosas.12 Este fenômeno é verdadeiro também no presente: na pandemia de coronavírus em Wuhan, China, entre 75% e 80% das transmissões foram reportadas nos núcleos familiares, a partir de estudos analisados cientificamente.19

Finalmente, e não por acaso, Florence é reconhecida pelo fato de a Enfermagem ter se tornado uma profissão e uma ciência, e não apenas uma ocupação assistencial. É entendida como a pioneira no que se refere ao pensamento filosófico, estético, científico e ético para a Enfermagem, podendo ser considerada a primeira pesquisadora de Enfermagem no mundo.10^,20^-21

Para preservar a sua história, desde 1989 uma área do Hospital Saint Thomas é dedicada ao Museu Florence Nightingale. E, foi exatamente neste mesmo hospital que o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, permaneceu internado após ter sido diagnosticado com COVID-19. A relevância da equipe de Enfermagem ficou patente em sua fala após receber alta: “Espero que [os demais profissionais] não se importem de eu mencionar dois enfermeiros em particular que estiveram a meu lado por 48 horas quando as coisas poderiam ter tomado uma direção diferente. São Jeny, da Nova Zelândia, (...) e Luís, de Portugal, de perto do Porto. O motivo de o meu corpo começar a receber oxigênio suficiente foi porque eles ficaram de olho em mim a cada segundo durante a noite e porque estavam preocupados em fazer tudo o que eu precisava”.22^-23

O COVID-19, a reviravolta da campanha Nursing Now e o renascimento da Enfermagem enquanto profissão de valor

Tratar do presente sem uma contextualização histórica seria o mesmo que esquecer nossas origens, desconsiderar que o passado nos constrói enquanto sociedade, enquanto produto histórico. Na reflexão acerca da profissão de Enfermagem, estabelecer esta ponte entre o passado e o presente é libertador, porque permite (re)pensar e (re)construir a nossa identidade profissional.

Baseado nessa crença, podemos inferir que a Enfermagem sempre esteve na linha de frente em guerras, catástrofes, epidemias e pandemias, seja nos espaços de cuidado ou seja no apoio aos cuidados. A hora da Enfermagem sempre foi o "agora" ao longo do tempo, quando sua expertise se fez necessária. Vamos citar algumas destas situações para ilustrar esse pensamento até chegarmos ao momento atual e seus potenciais desdobramentos.

Vale lembrar que a história até o final do século XIX foi na sua maioria escrita por homens, numa perspectiva positivista, dando protagonismo aos grandes feitos e aos grandes líderes, e considerando a exclusão dos espaços públicos para as mulheres. A invisibilidade de práticas como a Enfermagem, vistas como de menor valor, ou como sendo um trabalho caritativo e de amor ao próximo. Há poucos relatos do passado e como suas ações chegaram ao tempo presente. Por isso, ao falar de guerras, enfocamos aqui, primeiramente, na Guerra da Criméia, já comentada no item anterior e que deu visibilidade ao trabalho da Enfermagem, na figura de Florence Nightingale e seu papel na redução da mortalidade entre os feridos, além de todos os outros feitos já relatados e que culminaram na criação da chamada "Enfermagem moderna" no mundo. Interessante reportar duas outras personalidades na mesma guerra, mas que não foram tão vangloriadas e reconhecidas em sua atuação, como as Irmãs de Caridade de São Vicente de Paulo, francesas, e que de certo modo, influenciaram o Ministro da Guerra inglês a convocar Florence para modificar a condição dos soldados ingleses na guerra. As Irmãs de Caridade mantiveram-se na invisibilidade, embora tenham salvo muitas vidas e serem também responsáveis pelo aprendizado de Florence Nightingale acerca das práticas de cuidado, durante suas viagens pelo mundo.9

Outra personalidade presente na mesma guerra, mas que do mesmo modo não teve seu trabalho reconhecido como enfermeira e empreendedora foi Mary Seacole, jamaicana, negra, que segundo a história, ofereceu-se para atuar com Florence na Criméia, mas que não foi aceita no seu grupo. Mesmo assim, não satisfeita com a resposta e determinada a realizar seu objetivo, angariou fundos para promover a sua viagem para Scutari, local onde ficavam as voluntárias, e atuou como tal, alugando inclusive um hotel para prestar assistência aos feridos. Vários livros e textos foram escritos a seu respeito, procurando resgatar a sua importância.24^-26

Outro exemplo de atuação na linha de frente em guerras é o de Ana Justina Ferreira Nery (Anna Nery), brasileira, que prestou cuidados aos feridos na Guerra do Paraguai, em 1860, sendo-lhe atribuído o título de "primeira enfermeira brasileira". Ela recebeu várias homenagens, e seu nome batizou a primeira escola de Enfermagem moderna no Brasil, a Escola de Enfermeiras Dona Anna Nery, depois Anna Nery.27 Além de Anna Nery, podemos citar a atuação das Enfermeiras da Cruz Vermelha na Primeira Grande Guerra, assim como as Enfermeiras já tituladas como tal, na Segunda Grande Guerra. Em outras guerras mais recentes, como na Coréia, no Vietnam e no Afeganistão, onde houve também enfermeiras na linha de frente, ajudando a salvar vidas, mas quase todas, sem exceção, ficaram conhecidas apenas em teses de doutorado, dissertações de mestrado, artigos publicados, mas continuaram invisíveis ao grande público.

Na maioria das vezes, as enfermeiras se ofereceram para ir à guerra, corajosas, deixando suas famílias, o conforto de sua casa e dispondo-se a cuidar dos soldados nos hospitais e nos campos de batalha, oferecendo sua capacidade cuidadora em benefício do outro. Do mesmo modo, esta atuação fez-se presente, mesmo antes da profissionalização da Enfermagem, nas grandes epidemias, como cólera e febre amarela no século XIX, e na gripe espanhola em 1918, que matou milhares de pessoas em todo o mundo sendo que no Brasil acarretou 35.000 mortos, inclusive do Presidente da República à época, Rodrigues Alves. Desde o início do século XX e até a presente data, as enfermeiras fizeram-se presentes em campanhas de vacinação de febre amarela, Ebola, H1N1, Zika, dentre outras, atuando corajosamente e sendo protagonistas na prevenção das doenças, nas orientações às famílias, nos domicílios, enfrentando barreiras e desafiando os perigos sem desistir ou recuar.

E por que falamos desse tema? Porque no momento presente, diante da pandemia do COVID-19, as enfermeiras e as equipes de Enfermagem foram finalmente tiradas da invisibilidade em que se encontravam, embora tenham atuado tanto e tantas vezes em situações semelhantes, mas também de grandes crises sanitárias ou guerras.

Em favor do reconhecimento da Enfermagem há a expansão e abrangência da mídia eletrônica, seja por TV, Jornais, Revistas, redes sociais, que trazem a informação instantânea e imediata por todo o mundo. A gravidade e a letalidade da pandemia e o desconhecimento de sua evolução, malignidade e cadeia genética, colocou o mundo em situação de pânico, e os cientistas chegaram em seu início a uma única conclusão: enquanto não se conhece a dinâmica de atuação do vírus, o modo mais eficaz de prevenir a sua incidência e disseminação deve ser o chamado "isolamento social", uso de medidas básicas de higiene das mãos, dos ambientes e o uso de máscaras em lugares públicos e de aglomeração. Medidas estas já conhecidas da Enfermagem há quase dois séculos, quando se enfocava nos princípios da Teoria Ambientalista de Florence Nightingale. E mais ainda, o álcool gel, que se tornou elemento presente em todos os ambientes, tendo sido descoberto que o mesmo havia sido inventado por uma enfermeira, chamada Lupe Hernandez em 1966, durante seu curso de Mestrado nos EUA.

A pandemia, então, obrigou os governos a tomarem medidas urgentes e necessárias para evitar o maior número de contaminações e mortes, considerando a grande letalidade do vírus. As pessoas foram colocadas para dentro de casa, em quarentena. Dentre os que não pararam, não fecharam as portas, ao contrário, adentraram ambientes hospitalares e de atenção básica para cuidar e tentar conter a doença estavam os profissionais de saúde e afins, e a Enfermagem finalmente, saiu de seu papel secundário, silencioso, invisível e assumiu o protagonismo das ações que exerceu durante toda a história da profissão.

As enfermeiras, heróis de branco, azul e verde, nas charges de cartunistas, nas fotos dos jornalistas, nas capas de revistas, em roupas de super heróis, nos cartazes nos dizendo "fiquem em casa" e "estamos aqui para cuidar de vocês"... Ficou evidente o quanto a Enfermagem faz a diferença em qualquer serviço de saúde. Nenhuma novidade para os profissionais de Enfermagem, mas uma grande descoberta para a população em geral.

O protagonismo da Enfermagem durante a pandemia, não pode e não deve se manter apenas durante este ano de 2020, para não perder a visibilidade de quão importante é esta profissão. O desenvolvimento da autoestima coletiva também vai contribuir para a (re)construção da identidade profissional que necessita constante reafirmação, e para a formação de uma consciência crítica da realidade.

Considerando esta visibilidade e tornando reais as reivindicações da Enfermagem, configura-se um momento político importante para a profissão que não pode ser perdido, quando a pandemia finalmente for contida. O momento é propício para o resgate e para a luta por melhores condições de trabalho em todos os ambientes, tornando os espaços de Enfermagem adequados, turnos de trabalho condizentes com a saúde do trabalhador, materiais e EPIs de qualidade, e principalmente um piso salarial digno do trabalho que desenvolvemos.

O empoderamento proposto pela Campanha Nursing Now fez-se presente pela pandemia que se abateu sobre a sociedade mundial, e mais do que nunca, gerou créditos ao cuidado de Enfermagem como mola mestra da saúde. Retomando à criação da Campanha Nursing Now que foi pensada a partir do relatório acerca de uma avaliação de Enfermagem no âmbito mundial iniciada em 2015 pelo All-Party Parliamentary Group on Global Health.3 Este relatório foi intitulado Triple Impact, e indicou que os desafios das enfermeiras eram semelhantes, independente de qual parte do mundo. O relatório apontou que as enfermeiras podem desempenhar um papel central na mudança do foco para a promoção da saúde e a prevenção de doenças, além de melhoria da igualdade de gênero, considerando as diferenças salariais e de liderança entre homens e mulheres, e na construção de economias mais fortes.5

Do Triple impact nasceu o Nursing Now, com cinco objetivos a serem atingidos até o final de 2020, em princípio de modo abrangente e ambicioso. São eles: a) maior investimento na melhoria do ensino, do desenvolvimento profissional, das normas, dos regulamentos e das condições de emprego das enfermeiras; b) mais enfermeiras em cargos de liderança e oportunidades de desenvolvimento em todos os níveis; c) maior influência das enfermeiras nas políticas de saúde nacional e global, como parte de esforços mais amplos para garantir que as forças de trabalho da saúde estejam mais envolvidas na tomada de decisões; d) maior e melhor disseminação de práticas eficazes e inovadoras em Enfermagem e e) maior investimento na melhoria da educação, desenvolvimento profissional, normas, regulação e condições de trabalho para os profissionais da Enfermagem".28^:1 No Brasil, a campanha foi conduzida pelo Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) e pelo Centro Colaborador da Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS) para o desenvolvimento da pesquisa em Enfermagem, vinculado à Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (EERP/USP),29 tendo sido lançada em 2019 nos 27 estados brasileiros e no Distrito Federal, com três grandes metas: (i) investir no fortalecimento da educação e desenvolvimento dos profissionais de Enfermagem com foco na liderança; (ii) investir na melhoria das condições de trabalho dos profissionais de Enfermagem e (iii) disseminar práticas efetivas e inovadoras de Enfermagem com base em evidências científicas, em âmbito nacional e regional".29^:1

Todas estas metas tinham como objetivo final propiciar o empoderamento das enfermeiras, das equipes de Enfermagem e da obstetrícia até 2020, como o "O ano internacional de profissionais de Enfermagem e Obstetrícia". Com o enfrentamento da pandemia pelo coronavírus 2019 (COVID-19), a campanha viu estas metas tomarem uma proporção inimaginável em termos da visibilidade da Enfermagem e do grau de necessidade destes profissionais em todo o mundo.

O informe Situación de la enfermería en el mundo 2020: invertir en educación, empleo y liderazgo, lançado pela Organização Mundial de Saúde (OMS),28 aponta que há aproximadamente 28 milhões de profissionais de Enfermagem em todo o mundo, sendo que 8,4 milhões (30%) estão na região das Américas, representando cerca de 56% da força total de trabalhadores de saúde. Em nível mundial, o informe indica um déficit de 5,9 milhões de profissionais. Traçando-se um paralelo com o Brasil, que tem uma população aproximada de 209 milhões de habitantes, para um total de 2,3 milhões profissionais de Enfermagem, sendo 565.458 mil enfermeiras.30 "As Enfermeiras representam a maior força de trabalho em saúde, correspondendo a mais de 50% dos profissionais da área. No entanto, a escassez desses profissionais na maioria dos países analisados compromete a meta global de alcançar saúde para todos até 2030".3^:24

A pandemia COVID-19 apontou a fragilidade dos serviços de saúde em termos de número de leitos de UTI, número de hospitais, EPIs, respiradores, e até mesmo medicamentos essenciais para o cuidado dos doentes. Revelou também a inexistência de protocolos internacionais de atendimento a pandemias e a ausência de condições de trabalho dignas para todos os profissionais. Como exemplo, pode-se citar os espaços de descanso dos profissionais de Enfermagem. Enquanto os médicos têm quarto próprio para repouso, durante longas horas de trabalho, a Enfermagem, na maioria dos ambientes hospitalares, adequa um "cantinho no vestiário" para o mesmo descanso. A pandemia também escancarou o déficit apontado acima em termos de profissionais de Enfermagem preparados e em número suficiente para enfrentar o problema na linha de frente.31

Dentre as metas do Nursing Now, aquela que trata do enfoque na formação de líderes para ocupar posições estratégicas de decisão, seja nos hospitais, nas Universidades, e também em cargos públicos de decisão acerca das políticas públicas de saúde, é um dos grandes desafios para os tempos pós pandemia. As Universidades possuem um papel essencial nesta formação de lideranças, com as devidas competências políticas e de gestão para que possam assumir papéis chaves nas decisões relativas à saúde. As novas modalidades de ensino, especialmente a distância, assumiram amplitude gigantesca durante a pandemia, e com certeza vieram para ficar, na forma de videoconferências, aulas online, lives em plataformas como Youtube e Instagram. Todos os níveis de ensino estão obrigados a se adaptarem, aprendem e desenvolvem métodos e técnicas criativas de interlocução com os estudantes.

As enfermeiras têm assumido o protagonismo em campanhas de levantamento de recursos para adquirir EPIs para os hospitais de ensino, materiais de higiene para os doentes internados, e para os moradores de rua. Ações, na sua maioria invisíveis, porém essenciais para o apoio às populações vulneráveis, vítimas da pandemia.

Outra meta importante e que tem estado em evidência nesta pandemia é a necessidade de coletar mais evidências relativas à prática clínica. Tem sido observada a imensa variedade de protocolos de cuidado e de prevenção sendo criados e direcionados para todo o ciclo vital, orientando a população em geral e as equipes de Enfermagem sobre a prática cotidiana. Essas orientações e cuidados incluem: como lavar as mãos, como se prevenir contra o COVID-19, realização de cuidados domiciliares com e sem a contaminação pelo vírus, o cuidado de idosos, crianças, pessoas com câncer, moradores de rua, como apoiar os profissionais de saúde em tempos de pandemia, e o desenvolvimento de tecnologias de cuidado para poder oferecer aos doentes uma melhor qualidade de atuação. Decorrentes do conjunto de necessidades da população no controle dessa pandemia estudos há estudos em desenvolvimento no sentido de apoiar, compreender e ajudar a lidar com os fatores emocionais e de saúde mental vividos pelos profissionais de Enfermagem durante esta pandemia, entre outros.

A equipe de Enfermagem, e mais especificamente as enfermeiras têm tomado parte das decisões sobre como lidar com a dor dos familiares, a solidarizarem-se de um modo mais sensível e afetuoso com estes, e fortalecerem-se na tomada de decisões sobre quem deve ou não ocupar um leito de UTI. A promoção de um ambiente de afeto junto aos pacientes, oferecendo tablets, celulares, para que estes possam se comunicar com suas familias, lendo cartas de apoio que são endereçadas aos pacientes oferecendo um alento naqueles momentos de solidão e isolamento são práticas que também são adotadas.

O texto aqui reproduzido foi escrito em 2019, quando celebrava-se a campanha Nursing Now e procurava-se atingir as suas metas, sendo pertinente traze-lo à tona nesse momento, pela sua pertinência: "Então, com o mundo fazendo fila para celebrar as enfermeiras e nos dar o nosso momento no centro das atenções, capitalizaremos, verdadeiramente, essa oportunidade sem precedentes? Ou apenas nos parabenizamos, desfrutamos do brilho imediato do reconhecimento e voltamos às nossas maneiras características de envolvimento com as questões de Enfermagem. Espero sinceramente que possamos avançar coletivamente para enfrentar nossos desafios (políticos, relacionais, estruturais, atitudinais ou probatórios) e usar esse incrível alinhamento das estrelas como catalisador da ação da Enfermagem”.32^:2

A pandemia do COVID-19 pode ter sido uma surpresa em seu início, obrigando-nos a uma adaptação forçada às novas condições do viver no mundo, porém também apontou a necessidade da ampliação de profissionais de saúde e de Enfermagem, tanto em número quanto em condições de trabalho (incluindo EPIs, trabalho em equipe e educação continuada). Os profissionais de Enfermagem tem um papel crucial na melhoria do acesso e na qualidade dos cuidados de saúde, considerando-se o protagonismo deste momento e a necessidade de aproveitar o cenário atual, para lutar pela melhoria das condições de trabalho e educação em Enfermagem, o que resultará em importantes conquistas para a cobertura universal de saúde e acesso a saúde das populações menos favorecidas.33^,-34

Implicações de curto prazo ainda são incógnitas para todos, mas temos uma clara certeza: teremos um "novo normal" em todos os âmbitos de nossas vidas. Haverá uma "nova Enfermagem" também? Mais empoderada? Mais lutadora pelos seus direitos? Não mais aceitando o silêncio e o papel secundário que sempre desempenhou nas instituições de saúde? Com certeza são questões difíceis de responder neste momento, porém um aspecto é essencial: não se deve deixar que as autoridades em todos os níveis esqueçam porque os sistemas de saúde precisam da Enfermagem.

CONCLUSÃO

É importante que como profissionais de saúde estejamos atentos aos sinais de nossos tempos. Como enfermeiras que se empenham em mostrar suas expertises, em todos os campos de trabalho e de conhecimento, fortalecendo nossa identidade e a imagem profissional que desejamos fixar na sociedade e manter para o futuro.

Com isso, a história será reescrita retirando do imaginário o "anjo de branco", ou mesmo o super-herói, mas sim profissionais competentes, comprometidos com a prática, com o ensino, com a pesquisa, e atentos em fazerem-se presentes nos meios de comunicação de amplo espectro, apontando a Enfermagem como profissão essencial para tratar da saúde, e portanto, devendo ser valorizada e reconhecida nas adequadas condições de trabalho e salários dignos.

As enfermeiras devem continuar a serem, sim, parte da solução dos desafios de saúde que a sociedade enfrenta, indo ao encontro de suas vozes individuais, tornando-as coletivas e vivendo literalmente o conceito do Nursing Now para além da campanha. Deste modo, a expertise poderá ser utilizada em prol de um benefício maior para as lutas da profissão, e que o reconhecimento da sociedade não se perca. A história continuará a ser a nossa referência, e os preceitos de Florence Nightingale e outros modelos fortalecerão o nosso compromisso como o conhecimento, com a nossa identidade profissional para melhor enfrentar as mudanças globais, e suas implicações para a saúde pública

E por último, deixa-se a mensagem do quão importante e necessário é para a Enfermagem o fortalecimento de nossas entidades organizativas, como ABEn, COFEn, Sindicatos, nas lutas de classe, e que as enfermeiras se coloquem também na linha de frente em cargos de representação política, seja institucional, ou mesmo em governos municipais, estaduais ou federais.

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NOTAS

• AGRADECIMENTO

  Ao CNPq pelo apoio e confiança nesta pesquisadora 1A por todos estes anos.

• FINANCIAMENTO

  Apoio financeiro do CNPq, como pesquisadora 1A daquele orgão.

Editado por

EDITORES

Editores Associados: Gisele Cristina Manfrini, Mara Ambrosina de Oliveira Vargas, Monica Motta Lino Editor-chefe: Roberta Costa

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  25 Nov 2020
• Data do Fascículo
  2020

Histórico

• Recebido
  08 Jul 2020
• Aceito
  17 Ago 2020